25 de junho de 2018

Cuidado com o que diz e escreve

Mário Quintana, poeta, frasista,
jornalista e tradutor
Há que ter cuidado com o que se diz e mais ainda com o que se escreve.

O feitiço pode virar contra o feiticeiro.

Lembro uma frase do poeta Mário Quintana, ora eternizada numa placa.

Quando pretenderam prestar-lhe uma homenagem em Alegrete, sua cidade natal, colocando um busto seu em praça pública, manifestou preocupação dizendo que "um engano em metal é um engano eterno".

As autoridades resolveram então substituir o busto por uma placa com a frase agora célebre.

E ainda tem o brocardo latino: “verba volant scripta manente.”

E o ditado matuto: “o peixe morre pela boca”.

E o aforismo: “se temos uma boca e dois ouvidos é porque devemos ouvir muito mais do que falar”.

Toda esta digressão foi preparatória para comentar situações que colocaram em calça curta, ou em cheque, ou desconfortáveis, juristas, consultores e professores.

São situações que abordarei de memória e como aconteceram há muito tempo, podem estar sujeitas a pequenos reparos. Mas vamos lá.

O advogado - Nélio Reis - professor universitário, autor de livros sobre Direito do Trabalho, foi contratado pela Cia. Fiat Lux, para defendê-la num caso de maior complexidade e grande reflexo financeiro na hipótese da companhia vir a perder uma ação trabalhista.

Em suma a tese que se discutiria no processo era quanto à legitimidade da empresa transferir de cidade, obrigando mudança de domicílio, os empregados de uma determinada fábrica que seria desativada.

Sabem o que aconteceu? O advogado dos empregados relutantes citou em sua peça acostada aos autos processuais, um texto doutrinário, extraído de uma obra de ninguém menos do que do doutor Nélio Reis.

A tese no livro era diametralmente oposta ao argumento utilizado no processo.

Consta que Mario Henrique Simonsen, economista, professor, enxadrista e cantor lírico diletante, hábil na engenharia financeira, sócio minoritário do “Banco Bozano, Simonsen”, que fundou com Júlio Bozano, foi contratado pela Cia. Souza Cruz (fabricante de cigarros) para dar um parecer sobre interpretação e aplicação de norma legal de natureza tributária.

Como "o tempo passa e a [Lusitana] roda", anos depois, na qualidade de ministro teve que rever seu conceito, e dar à aludida norma interpretação diferente da esposada no parecer do economista, coibindo a prática.

Para desmentir minha tese, chegando aos dias atuais,  verifico que a discurso de Lula no passado está se materializando: lugar de corrupto é na cadeia.

Ele profetizou, com a costumeira veemência.

Assistam:

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