21 de setembro de 2016

A contundência de uma palavra

Por
GUSMÃO




Era normal conhecer toda a vizinhança. Principalmente a mais próxima. E algumas vizinhas eram cobiçadas pelos dotes físicos.

Eu e minha turma, na faixa entre 14 e 17 anos, em nossas conversas “reservadas”, trocávamos opiniões sobre quais das mulheres de nossa rua eram mais atraentes, mais apetitosas.

Dona Marina era uma unanimidade. Casada com um bancário (do Banco do Brasil), não tinham filhos. Mulher discreta, elegante. Seus trajes, sempre sóbrios, não revelavam as curvas de seu corpo. Portanto tínhamos que imaginar como seriam aqueles 1,75 m de mulher trajando uma camisola. A altura era presumida, comparando com o Ariovaldo.

Observem que tratei a vizinha de “dona” Marina por causa do respeito que lhe era devido; ela jamais deu sinais de aceitar mais liberdades, mais intimidades.

Nossa regra, mera tradição oral, nos obrigava expressamente a manter à distância e fora das conversas  nossas mães e nossas irmãs. Para nós eram homens. Admito, entretanto, que a mãe do Sidney foi homenageada devidamente, algumas vezes, durante meus banhos de final de tarde.

As empregadas domésticas, que estavam fora do acordo tácito, eram hipóteses consideradas, assim como primas  do interior que vinham durante férias para alguns dias na capital. Niterói era a capital do Estado do Rio de Janeiro.

Todos ficavam jogando verde para cima daqueles em cujas casas havia doméstica. E aí, já comeu?  O medo de admitir era maior do que a vontade de contar vantagem sobre o que fez e aconteceu com aquela menina jeitosa que atendia pelo nome de Esmeralda.

O risco era que a confissão de que Esmeralda gostava de brincar de médico, acabasse por gerar uma chantagem com a pobrezinha. Aquela velha chantagem: ou dá para mim também ou conto para todo mundo.

Orlando tinha uma priminha que morava em Carangola, que todos pensávamos  inocente e pura, mas que era da pá virada.  Deixava todos nós muito loucos. Topava aquelas preliminares básicas, para as quais demonstrava particular vocação. Não permitia, entretanto, nem com oferecimento de um mimo ou outro, e promessa de sigilo absoluto, a consumação do ato carnal.

Ariovaldo, o mais velho dentre nós, e que dizia já ter ido à zona, embora seus 17 anos, levado por irmão mais velho que ele, era o mais pragmático e direto nas conversas sobre que vizinha seria desfrutável, ou aquela que valeria correr qualquer risco de uma cantada rechaçada com vigor. O filme ficaria queimado, mas o prêmio, se obtido, valeria a pena. Ele dizia, usando o vocabulário corrente entre nós e da forma  direta que chocaria os ouvidos mais sensíveis, naquela época: Dona Marina deve ser um fodão!

11 comentários:

Jorge Carrano disse...

AVISO:
Este post do Gusmão terá sequência e saberemos mais detalhes sobre os personagens mencionados. Amanhã e depois serão publicados.
Grato Gusmão.

Riva disse...

Confesso que quando li o título do post, imaginei um contexto diametralmente oposto (rsrs). Pensei que fosse algo relacionado a "coisas ditas, e que não adianta se arrepender, já foram ditas, e ninguém mais apaga". E às vezes machucavam muito, às vezes para a vida inteira.

Toda a descrição do Gusmão para essa fase em nossa adolescência bate 100% com o que ocorreu comigo e minha tchurma. Muitas homenagens, muitos banhos demorados (naquela época não se ligava para o consumo de água), muitos sonhos e devaneios, muita admiração por algumas "mães" e empregadas domésticas (pode escrever assim, ou é preconceito?)da vizinhança.

Vem mais detalhes por aí ?


Jorge Carrano disse...

Riva,
Como já antecipei haverá desdobramentos. Os texto já chegaram e estão editados.

Gusmão estava reocupado se a última palavra passaria na censura. Quando informei que sim pois estava inserida no contexto, ele resolveu mudar o título.

Kayla disse...

Ora quem diria. Vai rolar uma confissão erótica. Ashuashuashua
Tá na hora de liberar um conto do Freddy. Ashuashuashua

Riva disse...

Haja água !! huashuashaushaushuash

Jorge Carrano disse...

Durante um curto espaço de tempo, participei de um restrito grupo de jovens (meninos e meninas) que se reuniam na esquina das ruas Santa Clara e Visconde de Itaboraí. Estudávamos no mesmo colégio: Doraly, Manoelzinho, Ada, Isa e eu.
Os meninos tínhamos sim intenções inconfessáveis, mas limitadas as bolinagens. As meninas não sei, embora a Ada, mais alta, loura e mais descontraída, fizesse provocações.
As brincadeiras e provocações eram tentar tirar de dentro dos bolsos alguma coisa neles colocada de propósito. Isso propiciava, vez ou outra, uma roçadinha aqui e ali. Nós, nos bolsos da calça e elas no da blusa.
Riamos mais do que conversávamos. Aliás que estou rindo intimamente agora com tanta ingenuidade.
Ninguém transou com ninguém. Eramos, mesmo, meio "inocentes" e "imaturos". Quem sabe respeitosos?
Estou falando do início da década de 1950.

Com Doraly, vez ou outra, troco e-mails. Manoelzinho tinha uma ótica, mas nunca nos encontrávamos. Por meu cunhado me enviava saudações. Faleceu.
As meninas nunca mais soube delas.

Isa tinha um pai muito conhecido, popular mas respeitado. Era um dos condutores do bonde Ponta D'Areia. Todos morávamos neste bairro.

Freddy disse...

Por conta da nossa diferença de idade, pessoas citadas no comentário do Carrano não devem ser as mesmas. Mas não deixa de ser curiosa a coincidência. Conheci - estudamos juntos no pré-vestibular - uma Ada que era loura, alta e simpática, falante, social. Ada Lobato Quatrino, se não me falha. Fez PUC no mesmo ano que eu, mas em outra especialidade.
<:o)

Freddy disse...

Se vier a publicar algo de minha autoria nesse espaço, Carrano corre o risco de ser processado por pornografia.
=8-)
De qualquer maneira, assim que minha vida voltar a uma relativa normalidade (ou seja, conseguir sair desse hospital) pode ser que tente reeditar um de meus contos de modo a poder participar da ala apimentada do Pub.
<:o)

Jorge Carrano disse...

Freddy,
Muito provavelmente são Adas diferentes, assim como a Isa não é a que nós conhecemos. (rs).
Todavia, trabalhei, na Fiat Lux, subordinado a um engenheiro italiano de nome Luigi Quattrino, que poderia ser parente da Ada que você conhece.
Vai aber, né?

Kayla disse...

Estou aguardando sua historinha Freddy. Com pimenta tudo fica mais gostoso. Asuashuashua

Riva disse...

Kayla, Kayla ...... rsrsrs