Por
GUSMÃO
Como já contado, nossa vizinha Marina era o sonho de consumo de dez entre dez dos adolescentes que morávamos
naquelas imediações.
O Ariovaldo dava bandeira porque olhava desavergonhadamente para ela ao se cruzarem e a comia com os olhos.
Ela devia imaginar, e certamente imaginava, pela razão que vou relatar agora.
Ney era quem morava mais próximo dela, casas quase lado a
lado. Havia apenas uma outra entre a
dele e a dela.
Embora quem morasse mais próximo fosse o Paulo Roberto, porque
os quintais faziam fronteira. Aliás abro parentesis para dizer que o Paulo Roberto
estava sempre espreitando por sobre o muro para ver se flagrava alguma
intimidade, mas nunca deu sorte.
O Ney chegava da escola, um pouco cansado e desalinhado
porque fora dia de educação física e jogara futebol naquela tarde. Ao passar
diante da casa da vizinha, esta varria sua porta. Naquela época e lá onde
moravam, não havia serviço público de limpeza urbana. Era cada um por si.
Mas voltemos ao que interessa. Ney passando diante da casa de
Marina que interrompeu a varrida e perguntou: - Tudo bem, Ney? Você parece
cansado hoje. – De fato, tô mesmo. –
Acabei de tirar um bolo do forno, está esfriando. Você quer provar?
Este diálogo fez os olhos de Ney brilharem. Empolgado ele
falou: - Vou em casa largar os livros, lavar o rosto e as mãos e volto. - Pode ser?
– Claro, te espero para o café. Ele com seus botões pensava: aí tem coisa, no
que será que vai dar?
Pouco tempo depois saberia, pois foi até sua casa num pé e
voltou no outro.
Tocou sem muita força com os dedos na porta de entrada e
ouviu: entra Ney. A mesa da sala estava posta e sobre ela o tal bolo, duas
xícaras e café ainda saindo fumaça pelo bico do bule.
Sentou e foi servido de bolo no pratinho diante dele com um
garfinho ao lado. – Está bom assim? Marina referia-se provavelmente ao tamanho
da fatia do bolo. – Você toma com muito ou pouco açúcar?
Abro outro parêntesis para esclarecer que esta conversa
rendeu muito e abordou vários assuntos. Até que, finalmente, Marina tocou no
ponto onde queria chegar e perguntou sobre o quê ele e os amigos tanto
conversavam na esquina até as 10 da noite quase todos os dias. Ney respondeu
que falavam de futebol, do filme da matinê de domingo, da prova de matemática,
estas coisas.
- E de namoradas, vocês não falam? – Sim falamos um pouco. –
Você tem uma, Ney? – Não, namorada mesmo não tenho não. – Você não gosta de
namorar? – Gosto, gosto ...
- E das vizinhas vocês não falam? Qual é a mais chata reclamando
do jogo de bola em sua porta, da mais simpática, essas coisas? – Falamos,
falamos sim. – E de mim o que falam? Diga a verdade, sou considerada
antipática?
- Não, de jeito algum, a senhora é até uma das mais queridas. –
Querida como? Ney ruborizou, gaguejou, mas conseguiu falar que ela era considerada
uma das mais bonitas. – É mesmo? Você gostaria de ter uma namorada como eu?
Ney, um pouco aflito com o rumo da conversa, respondeu que claro que gostaria. Marina, oferecendo mais
bolo comentou que o marido - Osni – estaria envolvido com o balanço, no
banco, e chegaria mais tarde em casa, por isso iria repetir o bolo porque o
jantar aquele dia seria mais tarde.
Ney certamente era, dentre todos os jovens ali daquela rua e
adjacências, o mais ingênuo, o menos experiente,
mas não era um palerma. Pensou com seus botões que talvez tivesse uma chance e avançar no assunto namorada poderia render alguma coisa.
Arriscou comentar: - e não sou só eu que gostaria de ter a senhora
como namorada. – Ah é? Como assim? - Todo mundo elogia muito sua beleza. – E que
mais dizem?
Ney ficou mudo, seu rosto ardendo e vermelhão. Marina
percebeu, claro, e perguntou de chofre, dando um cheque mate: - você gostaria
de me namorar, só por um dia, já que sou casada?
Cla ... cla... claro. Foi isso e assim que Ney respondeu.
Ela se aproximou, diminui o tom da voz, para caracterizar
cumplicidade e perguntou: - Você promete nada contar para ninguém? – Sim,
prometo. – Promete mesmo, olha lá, posso confiar?
O menino de 15 anos apenas balançou a cabeça pois não
conseguia mais articular uma palavra. Ela se levantou e pagando a mão de Ney
caminhou para o quarto. – Você já teve alguma namorada mais íntima? – Essa intimidade
assim, não. – Fique tranquilo, disse
Marina enquanto tirava o vestido.
Ela só de calcinha e sutiã falou para que ele tirasse a calça
e viesse para a cama.
Quando Ney tirou a calça, e, claudicante, o short que tinha
por baixo, cadê? Nem uma excitação, o medo, o pânico tomara conta dele, diante
daquela visão e da promessa do que iria acontecer. Ele estava trêmulo e o pênis
encolhido. Envergonhado ficou mais corado, mas isso é licença poética porque
não havia como.
Calmamente e com doçura na voz, Marina falou: - Fica
tranquilo, sabe aquele nosso pacto de lealdade e sigilo? Pois é, você não conta
nada a ninguém e guardarei entre nós este segredo.
Naquela noite Ney não conseguiu dormir direito torcendo para
que tivesse tido um sonho. Nada daquilo realmente ocorrera. Levantou, foi até o
banheiro, a casa às escuras, todo mundo dormindo, ele se possuiu.
7 comentários:
Dá-lhe Gusmão!
Agora sim o Pub vai esquentar de vez!
Ou fechar as portas de vez (rs).
Ah! Que disperdício. Ashuashuashua
Desculpe. Acho que errei o endereço. Estou procurando o blog GE. Espaço de troca de ideias sobre assuntos gerais e sempre preservando a moral e os bons costumes. Acabei entrando sem querer neste blog erótico tipo confissões de banheiro masculino. Como dizem meus netos - foi mal.
O comentário acima, embora de remetente não identificada é muito interessante, pois ironiza, com bom humor, a postura sempre muito discreta, pudica, conservadora, ortodoxa, ou quadrada como querem os mais novos.
Quero alertar a Incógnita, que não conheço pessoalmente, mas sei de quem se trata por informações que recebi em outras intervenções, que os limites se alargaram um pouco, mas ainda serão apertados. Não espere muitas liberdades ou licenciosidades.
Censura à vista!
Ainda falta o episódio 3.
Respeito o comentário da Incógnita, claro, mas sinceramente não achei "agressivo" o post em termos de moral e bons costumes. Vemos coisas muito piores na GLOBO em horário nobre.
Isso me remete aos anos 80, quando o Camisa de Vênus, banda de rock do Marcelo Nova, foi proibida de tocar no Chacrinha devido ao nome da banda. E hoje em dia ......
Muitas palavras no cotidiano não são mais consideradas palavrão, saem da boca de pessoas de qualquer gênero e idade. Muita coisa mudou, inclusive a falta de educação da população em geral, que piorou em progressão geométrica.
Somos iguais aos siris na lata, com a água esquentando aos poucos, até morrer ...
Mas de novo, gostei do conto, muito bem escrito e com muito humor. Seria conto mesmo ?
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