A impingem é uma micose que atinge a pele e geralmente é
causada por um fungo. Mais ou menos comum nas décadas de 40 e 50, entre crianças e adultos.
Hoje, se você for a um médico dermatologista, preocupado com
a mancha que apareceu em seu rosto, ele vai pedir um exame micológico cultural,
ou seja, faz a raspagem e envia para análise em laboratório.
Imagem obtida via Google |
Minha mãe, assessorada por uma benzedeira que morava no Morro
da Penha, aplicou tinta sobre a parte afetada em meu rosto, na testa, próximo
do olho direito. Tinta de escrita mesmo, provavelmente a Parker Quink.
Mas poderia ter sido azul de metileno ou violeta genciana. Qualquer
coisa com efeitos antissépticos, na cor escura.
Só que a tinta já tínhamos em casa pois era usada na caneta Parker-51 de meu pai, caneta esta que herdei e repassei para meu primogênito.
Sim, a aplicação da tinta era seguida de uma reza com um ramo
de erva-de-santa-maria. Curava a impingem.
Muitas vezes a infecção de garganta era curada com
pinceladas, feitas com pena de alguma ave, com um produto chamado Columbiazol,
hoje existente na versão spray. Sem uso de antibiótico. Violeta genciana também
resolvia, se a infecção não estava em estágio avançado.
Você alguma vez teve o desconforto de um cisco que caiu no
olho, e resolveu com uma simpatia? Minha avó fazia o sinal da cruz, três vezes, sobre a
vista afetada, dizendo: “Santa Luzia passou por aqui com seu cavalinho comendo
capim”. Pronto! Resolvido.
Nem vou me referir aos inúmeros chás e xaropes, caseiros, que
resolveram alguns problemas de tosse e rouquidão. O agora até industrializado xarope de mel com agrião tomávamos sempre que precisávamos expectorar. Minha mãe adicionava
folhas de guaco.
Ainda hoje fazemos em casa aos primeiros sinais de resfriado.
E fica agradável ao paladar. Não fui só eu que tomei bastante em criança,
também meus filhos tomaram. Ou seja, passou de geração.
Mas o caso real mais significativo de reza, feito por uma
benzedeira espírita, aconteceu comigo nos anos 1970.
Minha atividade profissional era muito angustiante,
estressante e mexia significativamente com o emocional. Era "Gerente de Recursos
Humanos" de uma multinacional, e responsável por carreiras, salários, empregos de
muita gente.
Decidir sobre a admissão de um candidato a emprego é muita responsabilidade.
Pode ser um chefe de família aflito porque está desempregado, pode ser um jovem
começando sua vida profissional e precisa de uma chance (exigem experiência
dele, mas ninguém dá a primeira oportunidade).
Claro que os testes psicotécnicos, então muito em moda,
ajudavam. Outros recursos como dinâmica de grupo, testes práticos, etc., permitiam
fazer uma avaliação e tornar menos pessoal a decisão, o que ocorria na
entrevista final.
Mas e nos momentos de redução do quadro para aliviar despesas?
Quem demitir? Vocês não avaliam o que é chamar um empregado, seu colega no
dia-dia, e comunicar que ele está sendo demitido.
Ele, com dificuldade de contar as lágrimas, olha fixo para você, e diz: “foram dezoito anos dedicados a esta companhia, não sei fazer outra
coisa, estou chegando aos 40 anos, como vou me virar? E como vou chegar em casa
e dizer para minha mulher que fiquei desempregado?”
Naquele momento você passa a ser a pessoa mais odiada do
mundo. E era duro, quando se tem um mínimo de sentimentos, não se
emocionar com a situação. Estamos falando das décadas de 1960 e 1970 do século
passado.
Tive todos os problemas de fundo emocional que a literatura
médica elenca. De um lado o dever profissional e de outro ter em mãos decisões
quanto a premiações, promoções de cargo e de salários, avaliação de desempenho,
punições, todas estas coisas envolvendo seres humanos, gente como eu.
Bem, em resumo, uma das coisas mais desagradáveis pelas quais passei foi uma colite. Médicos,
exames, remédios, chás, o escambau a quatro, e nada de ficar curado.
Um colega de empresa, também morador de Niterói, com o qual
tinha também relacionamento social, me falou de um irmão, médico,
gastroenterologista, e sugeriu uma consulta com ele.
Fez mais, levou-me num sábado, a casa do tal irmão médico.
Conversamos, fez perguntas e como certamente já tinha algumas informações dadas
pelo meu amigo (irmão dele), fez o seguinte comentário: “Olha, isso não vai ter
cura. Uma saída é você mudar de emprego, para minimizar os efeitos da colite.”
Caramba! Mudar de emprego, depois de promovido ao nível
gerencial, aos trinta anos de idade, com dois filhos pequenos, trabalhando numa
empresa séria?
Fora de questão. Foi aí que este tal amigo, ao sairmos da casa
de seu irmão, comentou: “ O Bobby (o médico chamava-se Robert) não sabe nada,
mamãe vai resolver isto”.
A mãe, uma senhora septuagenária, elegante, hígida, morava
num apartamento na Av. Roberto Silveira, que se chamava Estácio de Sá. Fomos lá
num domingo, num final de tarde. Ela me pegou pelas duas mãos, estremeceu um
pouco. Fez umas rezas silenciosas, sacudiu meus braços e deu por encerrado.
Recomendou que eu voltasse no domingo seguinte, independentemente
de ser levado pelo seu filho. Assim fiz e o ritual se repetiu, com a diferença
que desta feita ele não estremeceu tanto. Recomendou que eu agradecesse a
entidade (espírito de luz) responsável pela cura, com vela e preces. Mencionou
o nome, que aqui vou omitir porque não sei se devo mencionar (sou ignorante
nestas coisas).
Nunca mais tive problema com a colite. Se não fiquei curado,
pelo menos nunca mais tive os inconvenientes da tal inflamação do cólon. E olha que eram muitas as dores, um enorme desconforto, além da
dificuldade para me alimentar. Era comer e ter cólicas terríveis.
Assim, através de mulheres simples, eventualmente incultas,
de pouco saber e muita sabedoria, resolvi alguns problemas de saúde e bem
estar.
Foram a fé, as ervas, e as coisas que assim foram definidas por
Shakespeare: “Há mais coisas entre os céus e a terra do que supõe vossa vã filosofia”.
O autor e o amigo citado, no restaurante da empresa nos anos 1970 |
Notas do editor:
1) Esta postagem é, de certo modo, uma contunuação da publicada em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2016/06/medicos-curandeiros-rezadeiras-e.html
2) A empresa era a Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança. O amigo citado trabalhava na área de marketing, de nome Mauricio Francis Millar (de origem escocesa).
2 comentários:
Violeta genciana servia, também, para a incipiente infecção da garganta. Meus filhos que o digam. As pinceladas eram muito desagradáveis.
Era alternativa ao antibiótico. Assim como gargarejo com água morna e uma pitada de sal, nas inflamações em face inicial.
Alguns dos recursos citados eram usados também por médicos, tais como a violeta genciana, o azul de metilene, o permanganato de potássio.
Fantásticas mesmo eram as rezas e as simpatias. Minha avó, além da oração pra Santa Luzia, benzia dores musculares, articulações torcidas e outras mazelas. Com um pedaço de
tecido, agulga e linha, murmurava umas palavras cabalísticas e a dor aliviava.
É como dizem nossos hermanos latinos " no lo creo em brujas, pero que las hay las hay."
Postar um comentário