Não haverá, provavelmente, melhor oportunidade do que esta
para minha mulher aprender um pouco sobre futebol.
Afinal estão rolando na TV, direto, desde a manhã até o final
da noite, diariamente, quatro competições, a saber: Eurocopa, Copa América, Brasileirão da série “A” e Brasileirão da série “B”, que assisto por causa do Vasco (sim, é
vício).
Por que assisto, então a série “A” do Campeonato Brasileiro?
Para torcer contra o Flamengo. Sou como o falecido pai de meu amigo Castelar
(também falecido), que comemorava a vitória do Vasco com euforia comedida (ôba!),
mas comemorava com extremo alarde a derrota rubro-negra (com hurras e vivas).
Mas voltemos a Wanda e seu aprendizado sobre futebol.
Evidentemente que ela não está no nível daquela da piada do
Chico Anysio, que mal sentou na arquibancada do Maracanã perguntou ao namorado
quem era bola.
Mas está no nível de dúvidas muito, por assim dizer, primárias,
inocentes demais, inusitadas. Querem um exemplo? O jogador se aproxima da área
e fica frente a frente com o goleiro adversário. Chuta afobado em cima do
goleiro. Ao lado corria, livre e solto, um companheiro da equipe.
Com a jogada bisonha do atacante, que chutou onde estava o
goleiro, minha mulher com o ar decepcionado pergunta, “ele não poderia ter
passado a bola para o colega que estava do lado?”
Diante de minha incredulidade com a pergunta, insiste com a maior
inocência: “podia?”
Perceberem a dificuldade?
Bem, pelo menos ela conhece a bola e sabe que ela, a bola, é peça
fundamental do jogo, embora para alguns dos jogadores seja detalhe irrelevante.
Eles sabem dar pontapé e são uns trogloditas. Botinudos mais perigosos do que
um pit bull enfurecido.
A dificuldade para compreensão de algumas regras é muito grande.
E escolhi para inicio de conversa uma das mais controvertidas, combatida e que
alguns entendem que deveria ser abolida: impedimento.
Explico com calma: entre a bola e a baliza tem que ter, pelo
menos, dois jogadores adversários. Se não houver a jogada é interrompida e é
assinalado o impedimento. Entendeu? Sim, entendi. “Em qualquer lugar que a bola
esteja?”
Não, pelo amor de deus, somente quando o objetivo é fazer o gol no adversário.
Dois lances depois, para minha provação, houve um gol e não
havia dois jogadores da defesa contrária entre a bola e a meta.
Ela cobrou logo, “ué o bandeirinha não marcou o impedimento.
Ele errou?”
Não, queriiiida, ele não errou, é porque o bola veio até o autor
do gol, tocada pelo zagueiro adversário.“Ah! Então tem exceção?”
Tem sim, hesitei em dar exemplo, para
não confundir mais, mas querendo mostrar erudição futebolística, mencionei que
havia outra exceção: se o atacante está em seu próprio campo ele não fica impedido,
pode, mesmo estando sozinho, correr em direção ao gol e assinalar.
Abri parêntesis para explicar que baliza, meta ou trave são a
mesma coisa. Foi mais fácil do que explicar que escanteio pode ser chamado de corner, que vem do inglês, onde inventado
o esporte.
Nunca pensei ser tão difícil ensinar e explicar futebol.
No jogo do Vasco o Madson, na cobrança de uma lateral cedido
pelo time do Náutico, arremessou a bola próximo da grande área e o Andrezinho
chutou e fez o gol.
Ela, incrédula, perguntou se valeu. Claro que sim, respondi. “Mas
ele é o goleiro do Vasco?” Não, respondi em meio a comemoração. “Então por que
pode jogar com as mãos?”
É duro gente, por hoje é só. Só sobre regras, porque tenho
outras pérolas para contar.
Em campo as seleções da Suíça e da Romênia. Pergunto, para
puxar assunto, para quem ela vai torcer. Pensei com meus botões que ela
escolheria alguma equipe pela cor do uniforme, ou pelos jogadores mais bonitos.
Afinal durante a execução dos hinos, quando as câmeras de TV focalizam, em close cada um dos jogadores dos dois
times ela fica avaliando: “bonito”, “bonito”,
“feio” e assim sucessivamente.
Mas qual o que, ela comentou que torceria pela Suíça –
perguntando qual das duas equipes era a do país da fondue.
Informei e minha mulher explicou que a torcida se
deveria ao fato deles fazerem um queijo melhor do que o romeno, fabricarem melhores
relógios e serem os escolhidos para a guarda papal.
Faz sentido, não? Tem muita lógica, não acham?
11 comentários:
Por que o Chile perdeu para a Argentina e não foi eliminada e o Brasil perdeu para o Peru e foi eliminado?
Estas e outras perguntas do gênero tenho que responder frequentemente, porque minha mulher confunde as competições e não tem noção do que sejam fases de grupos e mata-mata.
É comum, em jogos do campeonato brasileiro, perguntar o que acontece quando o Vasco perde ou empata, como aconteceu no jogo contra o Atlético Goianiense. Perguntou: "e agora o que acontece, o Vasco está eliminado?"
Por vezes me pergunto como posso estar casado há 51 anos com uma mulher que nada entende de futebol?
Deve ser porque ela faz o feijão costumeiro (Martinho da Vila)
Quá, quá, quá, quá
E você já aprendeu a fazer tricô e crochê ?
Jorge, apenas um registro. No gol do Andrezinho, foi duro ver o locutor e o "comentarista" em dúvida se ele estava impedido ou não!!!!!!!!!!!! (bola vindo de uma batida de lateral!!!!!!!!!!!!!!!!). Teve até "tira-teima"...
Paulo,
Sem querer (ou não) você me alertou sobre outra exceção que terei que explicar para minha mulher, nos casos de impedimento.
Eu já não explicara o caso da não participação do "impedido" na jogada, para não complicar.
Agora lascou!
Aproveita e explica também que se um jogador bater o lateral atrasando para o goleiro, e a bola entrar no gol sem ser tocada pelo goleiro, é escanteio.
Impedimento: infelizmente jamais verei um Fla FLU sem essa regra maldita, que não tem na praia, na pelada, no society, no salão. Cada um se vira pra marcar. Só serve para ser mal fiscalizada em campo, anulando belíssimos gols, e deixando a torcida irritada.
Mas como disse o Arnaldo certa vez para mim, numa entrevista ao vivo na Rádio Globo : a ira da torcida é uma das coisas bacanas no futebol, com marcação errada de impedimento.
Eu respondi ao vivo : vc fala isso porque sua mãe não senta numa arquibancada.
Me tiraram do ar .... lógico.
Pode ser que ela concorde com o Zé Vasconcelos: "Por quê não dão uma bola pra cada um?"
Uma coisa meio non-sense que aos poucos entra na cultura da avaliação e comentários são as estatísticas... Não sei quem começou, mas sinto cheiro ianque.
De que vale percentual de posse de bola, de passes certos, quantidade de faltas, impedimentos, escanteios, se a única coisa que vale é bola na rede? É o único dado que descreve ganhador e perdedor e o único que perdura na história dos confrontos.
<:o)
As regras do futebol são complexas mas creio que não mais que as de outros esportes. Ou são? =8-)
Eu confesso não entender nada de judô, para dar um exemplo. Ou como pontuar uma belíssima apresentação de patinação no gelo. Até hoje não sei por que tem um elemento na quadra de vôlei com uniforme diferente e que não pode mandar a bola para o adversário.
Ou seja, não me sinto tão diferente da Wanda quando se trata de outros esportes que não futebol <:o)
Por fim... Qual a explicação para o blog manager ser torcedor do Arsenal?
Nonsense é pouco, Freddy.
Estatística, scout, tudo uma chatice.
A explicação já foi dada em homeopáticas inserções em posts e comentários. Mas vamos a uma apertada síntese:
- devo ter alguma ignorada ligação com a Inglaterra em vidas passadas.
- respeito e admiro muito a história do país, suas tradições, sua cultura.
- o Arsenal era, ao tempo de minha infância, fase na qual se define a paixão clubística, um dos mais importantes times no mundo. Reverenciado a aclamado por todos.
- deu-se que o Arsenal veio ao Brasil, em excursão, e jogou contra o Vasco em São Januário, perdendo de 0x1 com gol de Nestor para o cruz-maltino.
- as cores do uniforme, as lendas e histórias sobre o clube me encantaram.
- cresci, o tempo passou, conheci a Inglaterra (parcialmente) e o clube ao tempo do "Highbury Stadium", antigo campo do Arsenal, localizado no norte da cidade de Londres.
- a simpatia pelo clube foi sedimentando até que virou quase amor (rsrsrs - lembra do bloco "Simpatia é quase amor"?)
A opção pelo Vasco ocorrera um pouco antes, aos 7 anos de idade mais ou menos.
Mais uma lição sobre estatística: Hungria teve quase 70% de posse de bola, o item mais valorizado pelo deposto treinador Dunga. Pois se não fosse um gol contra salvador nos estertores da partida, a Islândia teria vencido.
De que vale então a famigerada posse de bola?
Posse de bola como a da Espanha é uma coisa. Posse de bola como a do Brasil, rodando em seu próprio campo apenas para somar percentual na estatística é outra. Espero que esqueçam esse item de avaliação o mais rápido possível.
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