Já tentou dar um bom dia a um estranho? Já viu como reage a
caixa do mercado quando você pega seu cartão de volta e agradece? Ou
simplesmente elogiou um cachorrinho com sua dona caminhando na rua? Se você for
uma pessoa corajosa arrisque-se, caso contrário, nem tente. Corre o risco de
ser ridicularizado ou mal interpretado. Não se dá o que não se tem. Não se
cobra o que não se conhece...
Regrinhas básicas de educação saíram da moda: por favor,
obrigada, dá licença, ou simples bom dia foram substituídos pelo silêncio,
empurrão, cara fechada, mau humor.
Não me refiro a instrução formal pertencente a escola e sim a
educação do lar, para a vida. Aquela da mãe e pai, de madrinha e avó, até da
tia da cantina da escola, da zeladora que dedurava se ficávamos horas brincando
no elevador. Falo dessa educação, baseada na cinta e no duro olhar da mãe. No
relho do pai ou na vara de marmelo da avó...
Bom senso, noções de civilidade são resultados de uma boa
educação. Sabíamos que se jogar lixo na rua, certamente entupiria bueiros, um
simples exemplo. Sabíamos que se parar em vaga de deficientes, fila dupla,
acarretaria problemas para um todo. Disse certo: sabíamos!
Hoje podemos até
ainda saber, mas esse saber foi substituído por respostas prontas como: “Ah,
todo mundo faz, porque eu não posso fazer? Ou: É só um minutinho”. Apenas desculpismos.
As pessoas perderam a noção de educação, portanto, como esperar que um jovem
venha tê-la, se sua base toda se corrompe?
Sei que os tempos são outros. Principalmente para as mulheres
que antigamente eram vistas como simples donas de casa e as responsáveis pela
educação de seus filhos. Antes, se um jovem estava desalinhado, a culpa era da
mãe. Hoje em dia a culpa é do usuário da roupa, no caso de notarem o seu
desalinho...
Anteriormente o objetivo da família era o fortalecimento do
núcleo familiar e garantia de futuro para os filhos. Hoje em dia o objetivo é
simplesmente adquirir bens materiais e obter prazer pessoal. Ninguém quer abrir
mão do futebol nas quartas feiras com os amigos, nem o salão de beleza aos
sábados. Muito menos deixar de verificar as vitrines dos shoppings, assistir o
noticiário da tv para em troca de ouvir seus filhos.
É mais prático trocar de celular uma vez ao ano, do que
investir em um bom curso de línguas ou música. É mais prático pagar um pacote
de tv a cabo, do que sentar e ouvir seus sonhos, conhecer seu mundo, seus
amigos. Sem falar o quanto é chique dizer que seu filho faz análise. Os pais
saem no lucro, pois terceirizam suas obrigações.
E aí, chegamos ao ponto crucial do post: a falta da educação
da base. A falta do contato familiar, de sentar com o filho, rever lição, ouvir
suas queixas, ouvir seu progresso e saber do seu rendimento, é responsável por
esse despreparo dos jovens para a vida.
Porque perder tempo estudando as lições com seus filhos se
você tem dinheiro para pagar explicadores?
Hoje não há espaço para diálogos longos. A internet tomou uma
proporção danada e danosa em nossas vidas de tal maneira, que mesmo sob o mesmo
teto, o diálogo existe através de redes sociais. Hoje educa-se os filhos com a
ajuda de quadrinhos edificantes do “facebook” com cunho de orientação social e
espiritual, sem falar no lado cômico, embora nem sempre compreendido pelos
jovens.
E graças a essa evolução é que a família substituiu a velha educação
pelo resumido e apressado mundo virtual. E se digo graças, é porque ainda nos
resta um pouco de educação...
Existe um progresso que segundo o conceito antigo de família,
é na verdade um retrocesso.
Não me venham culpar a mulher porque saiu de casa para
trabalhar. O filho foi feito pelos dois: pai e mãe. Os dois tem que olhar na
mesma direção e não para o seu umbigo.
Esse assunto costura-se muitas camisas inteiras, não somente
mangas... o aparecimento dos “nem-nem” (assunto já abordado por mim aqui em
outra ocasião, http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/08/geracao-nem-nem-nem-tanto-assim.html,
a gravidez na adolescência, a criminalidade infantil, a sexualidade exacerbada,
a deterioração do gosto musical, ih...
Afinal a culpa é de quem ou do que?
Notas do editor:
1) Esta é a postagem de nº 2000, deste blog, que foi construído/lançado em novembro de 2009.
2) Este tema deverá ter sequência.
3) As ilustrações foram obtidas pela autora na rede mundial.
16 comentários:
Depois de um período sabático Alessandra volta em grande estilo, tratando do assunto mais relevante para o país.
Valeu!
Não conhecia a Alessandra. Ela apareceu no Pub da Berê durante meu afastamento.
Parabéns pela visão que ela tem do problema.
Certa vez tive meu carrinho de compras empurrado com violência por um repositor do Extra Teresópolis. Questionei com o funcionário sobre o porquê do gesto e ele respondeu que lugar de velho era em casa.
Minha indignação foi tanta que procurei a gerencia para reclamar formalmente e, o gerente desolado desabafou que não sabe mais o que fazer. Cursos de treinamento não estão conseguindo corrigir atitudes já sedimentadas. Queixou-se ele que o problema era falta de educação, de base familiar. A alternativa seria a demissão do empregado, mas não aceitei esta solução pois que resultaria em mais um vagabundo revoltado nas ruas.
Por isso concordo com o exposto pela Alessandra.
Não sou do tempo da chinelada e do "relho" (tive que pesquisar no Google), mas reconheço que antes das leis de proteção aos menores, eles estavam mais protegidos.
Só quem enfrenta classe de ensino público sabe o que passamos. Por isso desisti de ensinar.
Vovó contou que no início do século XX os professores usavam palmatória. Quando voltar a autorização para, pelo menos, um puxão de orelha, eu volto pra escola.
O texto diz tudo.
Muitas professoras, que são mães, não podem impor aos seus alunos os limites e responsabilidades que são regras para seus filhos.
Alguns alunos reagem agressivamente, e os pais se queixam a direção da escola endossando, de certa forma, o comportamento rebelde e desrespeitoso de seu filho em relação à professora.
Há muita hipocrisia no meio dos formuladores de normas educacionais, tem muito teórico e pouca gente competente.
Hoje ouvi, de um ministro do STF (que nem goza de minha simpatia), um exemplo que devemos considerar. Contou o ministro Roberto Barroso que ouviu de um aluno de nível superior a seguinte afirmativa: "eu não quero mudar para novo país, eu quero um novo Brasil".
Isso só ocorrerá com mudança na educação. Inclusive no respeitante a orientação ideológica que foi implantada.
Não sofri palmatória, mas várias vezes fiquei depois da aula, escrevendo 100, 150 ou até 200 vezes "devo ser disciplinado em aula" só por uma bolinha de papel atirada ou uma conversa com o colega ao lado enquanto o professor falava.
Castigo físico, mesmo o adotado por pais em seus filhos, não aprovo (embora tenha usado nos meus), mas existem meios de impor deveres, regras, sem necessidade de palmatória.
"Eu não quero viver em outro pais, eu quero viver em outro Brasil".
Esta foi a frase mencionada por Roberto Barroso. Acabei de ouvir, de novo, no noticiário. Por isso corrijo.
Pessoa linda e cheia de inteligência! Gostei das palavras profundas e reais, me trouxe alertas que já estavam esquecidos e até conformados né. Parabéns Alessandra excelente contribuição!!!
Tenho 3 filhos na faixa entre 30-40 anos de idade. São pessoas maravilhosas, cidadãos exemplares, tudo isso graças à educação que tiveram conosco, e nós com nossos pais, e por aí foi. BASE FAMILIAR, com muita educação e informação.
No entanto, no meu ir e vir no dia a dia vejo coisas lamentáveis, realizadas por pessoas com a idade dos meus filhos.
Lembro do Carrano certa vez escrever alguma coisa por aqui sobre o fato das mães de hoje trabalharem fora, e por isso não ficarem em casa se dedicando à educação dos filhos, como acontecia há algumas décadas.
O fato é que tudo está em transformação. E a forma de se educar filhos também. Tem que se reinventar, ou, está sendo reinventada.
No nosso caso específico aqui, no que chamo de BRASIL BANDIDO, o nome é auto explicativo. ZERO de investimento em Educação.
No centro do Rio de Janeiro os cursos estão se esvaziando devido à .... insegurança local. Os jovens trabalham de dia e só podem estudar à noite, mas não conseguem devido à violência.
Se formos falar da BASE FAMILIAR, ela existe, continua existindo, talvez numa nova configuração.
Mas o fato é que aumenta em progressão geométrica a quantidade de pessoas no Brasil com DNA do MAL. Isso é um fato devastador para a nossa sociedade.
Não é à toa que muitos que podem estão saindo do país para viver em sociedades mais justas. Conheço alguns que foram embora, incluindo um dos meus filhos.
Belo texto, Alessandra. Digno do nº 2.000.
Julgo esse tema por demais complexo.
O cenário no qual está inserida nossa sociedade ocidental (deixemos a oriental para outro dia) está totalmente dependente de tecnologia. Quem não seguir o fluxo é taxado de retrógrado.
Já temos inúmeros relatos de problemas envolvendo relacionamento intrafamiliar, com jovens viciados em smartphones, tablets, jogos na TV, e o pais sem saber como reprimir. Ou por que reprimir, já que todos estão indo pelo mesmo caminho, que ninguém sabe onde vai levar, que sociedade estará se formando... Canso de ver bebês esfregando o dedinho numa tela para brincar. Não demora, terá seu próprio smartphone e se não tiver será criticado pelos coleguinhas, e seus pais pelos amigos e vizinhos e parentes...
Vai daí, seguir em frente sozinho na multidão, insistindo em antigos métodos de educação, é só para os muito fortes e determinados. Por quem está disposto a investir no que julgamos ser a maneira correta de formar personalidades sólidas, conscientes. No entanto, pode ser que no futuro, apesar de todas as essas excelentes intenções, seus filhos ainda o critiquem por não tê-los inserido no mundo real, atual, digital, cibernético.
Muito difícil o tema, mas oportuno. A sociedade se degrada com rapidez.
Diria que é daqueles assuntos que mereceriam um debate presencial, em torno de uma boa mesa.
Abraço
Freddy
Sempre bom voltar Jorge e ser mto bem recebida!
Esse assunto abordado é bem complexo e terá sequência, uma vez que o intuito é relembrar o esquecido. Pequenos detalhes passam e nem percebemos. As declarações aqui dos seus leitores só me fazem crer nisso.
Mariana!!! Obrigada por suas palavras. Sei q me ouve "bater boca" vez em qdo na Faculdade, mas saiba que faço pelo nosso futuro.
Kayla, Gusmão. Novos por aqui? Bom ver sorriso novo.
Ana vc como sempre gentil.
Bjs e obrigada a todos!
Riva e Fredfy. Vivemos num mundo de valores mto invertidos. Quanto mais se tem, menos se adquiri. E nesse sentido, menos se sabe. Pra que saber n é mesmo? Um assunto longo como falou Freddy e acho q merece gdes debates, mesmo porque vem mais coisa por aqui...
Bjs p vcs!
Freddy.. corrigindo.. desculpe! Essas letrinhas aqui uma do lado da outra me fazem errar...(pra n dizer que foi culpa do "sistema")
A frase citada pelo Ministro Barroso já circula pelas redes sociais e foi exibida em cartazes nos protestos pró impeachment.
Engraçado que, mesmo sem ter recebido castigos físicos (apenas uma merecida vez)nós respeitávamos nossos pais e um simples olhar nos paralisava.
Graças a Deus meus sobrinhos, atualmente beirando os 50 anos, também são pessoas educadas e do bem. O mesmo acontece com os sobrinhos netos, mas somos uns abençoados, assim como a prole do Riva e Freddy.
O que tenho observado ao longo dos últimos anos e o que ouço no escritório é desolador.
Dante e sua inscrição na porta do inferno (Canto III):
"Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate".
Em português, seria:
"Deixai toda esperança, vós que entrais".
Estou me flagrando um cético em relação ao futuro do país. Perdão!
Estou lendo o livro "História do Futuro", interessante obra da jornalista Miriam Leitão.
Há um capítulo - Caminhos e tropeços da educação - com uma análise bem consistente e previsões que podem ser concretizadas.
Eu estou relendo BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO, de Bill Bryson.
Freddy iria ficar impressionado com os detalhes do super vulcão chamado ... Yellowstone, na California.
Bom FDS a todos !
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