13 de janeiro de 2013

Não restará pedra sobre pedra




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)










Recebi mais um e-mail semanal da B&H Photovideo, uma das maiores revendas de material fotográfico do mundo e sediada em New York, apresentando-me ao novo cartão de memória Lexar SDXC de 256GB, ao preço de 399 dólares.

A capacidade de armazenamento dos cartões de memória vem aumentando e não vemos limite superior. A tecnologia de miniaturização de circuitos evolui e a cada  ano somos surpreendidos com mais e mais gigabytes (1GB = 1 bilhão de bytes) sendo confinados num invólucro tão pequeno que se bobeamos desaparece no meio da papelada da pasta ou da nossa mesa, se formos meio desorganizados. 

O e-mail da B&H me transportou imediatamente a anos atrás, quando eu ainda era chefe da manutenção do Centro Telex do Rio de Janeiro, onde se encontrava uma das 4 maiores centrais do país, um dos nós principais da finada Rede Nacional de Telex. Inaugurada em 1974 e gerenciada pela Embratel, a chamada RNTx existiu por vinte e poucos anos antes de ser desativada, engolida pelas redes de dados e internet. 

A central Siemens EDS ocupava um andar inteiro do edifício de 18 andares duplos na esquina da R. Senador Pompeu com R. Alexandre Mackenzie. Dentre os equipamentos que dela faziam parte, o mais sensível era o sistema de armazenamento de informações. Dotado de 3 enormes (fisicamente) unidades de disco magnético com capacidade individual de 29MB (1MB = 1 milhão de bytes) e que eram duplicadas por segurança, armazenava 87MB de dados de sistema e tarifação. Essas 6 unidades ficavam numa sala especialmente vedada, dotada de sistema próprio de ar condicionado com filtros hospitalares, o qual estava instalado em sala à parte.

As unidades de disco eram alimentadas por equipamento de energia AC especial, dotado de proteção no-break e bancos de baterias em flutuação, também instalados em suas salas individuais. Cada um desses equipamentos (discos, ar, energia, baterias) tinha seu próprio pessoal de manutenção especializado e a Embratel ainda mantinha um contrato com firma externa só para lavagem e limpeza periódica dos discos magnéticos.

Eis que a B&H Photovideo me apresenta a um cartãozinho com o tamanho aproximado de um negativo de foto (alguém ainda sabe o que é isso?) com 256 gigabytes de memória. OK, muito interessante, pensei eu. QUANTO??!

Gente, os equipamentos por mim descritos nos parágrafos iniciais tinham capacidade para armazenar 87MB (eu disse MEGA bytes) e ocupavam uma boa parte do andar em que eu trabalhava e esse ridículo pedacinho de plástico tem 256 GIGA bytes de capacidade??

Não pude deixar de fazer umas contas. 256GB divididos por 87MB dá 2.942,5. Matemática é fria, vamos dar volume aos números. O ridículo cartãozinho armazena o mesmo que quase 3.000 conjuntos de salas que ocupavam boa parte do andar em que eu trabalhava? Naquela época, para ter essa capacidade de armazenagem de informação a Embratel teria ocupado um bairro inteiro!!

E não é só isso! Esqueça custos associados a ( 2.942 ) equipes de manutenção de unidades de discos, de ar condicionado, de energia AC e DC, mais respectivos plantões, fora prédios e logística associada. Esqueça tudo e pegue o cartãozinho de 400 dólares. Deu defeito? Joga fora e compra outro.

Sim, amigos, com a chegada da era da informática não restará pedra sobre pedra da sociedade que conhecemos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bem oportuna esta matéria num momento em que a palavra de ordem é inovação em todas as organizações comerciais.
E a ênfase é na inovação tecnológica, conforme entrevista que estou lendo na revista semanal.

Jorge Carrano disse...

Freddy,
Há alguns anos o Peter Drucker já sentenciara que "tudo que existe já está superado".
Esta frase se transformou numa verdade comprovada pelos fatos.
Abraço.

Gusmão disse...

Inimaginável antever onde vamos parar, não é Freddy?

Como disse o Carrano, repercutindo o Drucker, o que está na prancheta já ficou superado. NO campo da informática então, dos chips, iremos superar a mais mirabolante ficção científica dos gibis de antigamente.

Você compra um aparelho de Tv hoje, última novidade no mercado, e daqui a três meses já surge um outro com muito mais recursos.
Abraços