Por
Carlos Frederico March
(Freddy)
Estranharam o título?
Pois não deviam. Já riram alguma vez de alguma piada que não focasse o defeito
de alguém, uma característica negativa, uma gafe, uma situação ridícula
qualquer? Pois bem, estamos na era do politicamente correto. Você pode ser processado
pela parte/classe atingida pela piada a cada frase ou gesto que disser ou fizer
(sim, eis aí uma área promissora: direito).
Ary Leite |
Um dos personagens
mais engraçados de programa de TV de décadas atrás era o Caqui, interpretado
pelo falecido Ary leite. Eu chegava a passar mal de tanto rir com as engasgadas
dele.
Hoje em dia é
impensável levar à telona uma piada em cima de um defeito de fala que aflige
milhares de pessoas, apesar de corrigível com fonoaudiologia.
Eu tive um colega gago
no Liceu, época do ginásio. Mas ele era um gago assumido, simpático e
humorista! E desenhava como ninguém, parece que seu caminho foi a Escola de
Belas Artes.
Já imaginaram uma
piada contada por um gago? A gente não sabia se ria da piada (que em geral era
boa), se dele contando, ou da conjugação de ambos os fatores, que ele
gerenciava com maestria! Impagável!
Jamais me esquecerei
de charge desenhada por essa figuraça, representando o povo de São Gonçalo
saindo de um ônibus para curtir a praia de Icaraí, já naquela época poluída.
Havia algumas línguas
negras na areia, pra quem ainda lembra dos despejos de esgoto não tratados.
Pois bem, tinha frango com farofa, um pão de forma semienterrado na areia, mas
o mais hilariante era um negrinho (quero dizer, um afrodescendente) sendo chutado
pra fora do ônibus por um amigo e, sorriso que era só dentes, voando todo arreganhado
em direção à areia escaldante. Essa charge seria impublicável hoje.
O Agildo Ribeiro tem
um texto, que ouvi há muitos anos, numa fita cassete, em que imita um perneta
num motel. Como assim sacanear um perneta? Que culpa tem o coitado de ter
perdido sua perna e ter de andar pra lá e pra cá (totok, totok, totok) pra satisfazer
os caprichos da dondoca antes dela se dar?
Como fazer piadas -
sem ser devidamente processado - sobre o orelha de abano, o fanho, o caolho, o
negão (o afrodescendente avantajado), o albino, o índio, o anão, o favelado, a
empregadinha gostosa, a bichona delirante? Como representar hoje o dentista
tarado, como o Jô Soares costumava fazer para deleite de todos, sem ter a
classe médica, o movimento feminista e os advogados (de novo eles) em cima de
você?
Sobre o gordão ainda
pode, idem aposentados, políticos, funcionários de empresas ligadas direta ou
indiretamente ao governo, ou seja, tudo que for tema de críticas do momento.
Isso faz de mim um alvo completo: ex-empregado da Embratel, aposentado e
gordo...
Sobre política, ainda
sobra muito assunto, tanto no humor falado como em charges ou cartuns. O dia
que a credibilidade se instalar na coisa pública, que tivermos governo, congresso
e senado íntegros e confiáveis, acho que secará o manancial de temas permitidos
à prática do humor e nem a memória nos restará, dado que será considerado politicamente
incorreto até relembrar (em texto ou vídeo) as piadas do passado.
Foto (Google): www.famososquepartiram.com
12 comentários:
Numa reunião familiar há 2 dias tive a oportunidade de conversar sobre esse tema com um amigo cartunista, que lida com humor em desenhos.
Há divergências na classe artística. Uma vertente acha que se deve dar atenção ao que é politicamente incorreto e evitá-lo. Outra opina que tudo depende de contexto, você pode destacar um defeito - humor sempre está ligado a sacanear alguém - sem no entanto chegar ao nível da humilhação generalizada.
Eu acho difícil. Fanho é fanho. Como escolher um contexto plausível para sacanear um fanho sem humilhar todos que sofrem desse defeito de fala?
Por outro lado, dá para usar termos relacionados à cor do cidadão ou apresentá-los em humor teatralizado, desde que colocado com cuidado. Só que é um assunto que está na ponta da agulha dos movimentos no Brasil, principalmente da raça negra.
Mas isso é outra briga, e é de cachorro grande.
Abraços
Fredddy
Humor na TV tem nome e sobrenome: Francisco Anysio de Paula. Secundado, à distância, pelo Jô Soares.
Felipão e o Banco do Brasil ..... kkkkkkkkk .....e o bicho pegou !
Quando eu tinha 17 para 18 anos, meu querido pai me "ofereceu" o Banco do Brasil, ao invés da Engenharia, o que foi prontamente recusado ! Antes tivesse ido ....
Sobre o tema do Freddy, com a palavra, os advogados, que no fundo, ganham uma grana com esses processos, e torcem para mais e mais casos assim, para aquelas coisinhas de danos morais.
Sorry, mas conheço um que realmente torce por qualquer coisa ruim (inclusive com ele mesmo), para faturar uma graninha.
Acho que não tem mais fanhos. Há anos não encontro um. A cirurgia e a fonoaudiologia resolveram o problema e contribuíram para a diminuição das piadas.
Abraço
Riv4,
Sua afirmativa, dois comentários acima, é injuriosa, caluniosa e difamatória, cabem, portanto, três processos indenizatórios, para reparação de danos morais.
Como ex-advogado em atividade, repilo com veemência a insinuação e a aleivosia.
Encerro com risos.
Pronto, me ferrei !!!!! rsrsrsrs
Freddy, vou botar na sua conta !!!
Riv4,
A hipótese é de litisconsórcio passivo, vai sobrar para o Freddy também.
Irei, finalmente, fazer minha viagem a Irlanda. A Guinness me espera. (rs)
Vamos negociar, amigo ! Façamos o seguinte : eu vou carregando as suas malas, e não cobro nada ! Nem a cervejinha !
Topas ? rsrsrs
Provavelmente você vai precisar de consultores. Um de cervejas, para tentar convencê-lo de que não existe apenas Guinness na Irlanda e outro para lhe mostrar as destilarias de whisky na Escócia.
A parte das cervejas deixa comigo, também não cobro nada. Mas vou exigir participação na visita às destilarias!
<:o) Freddy
Caro Freddy,
Há anos, mais de vinte, quando, morando em São Paulo, descobri o prazer de um bom vinho (confesso que não conhecia vinhos), deixei de tomar destilados, whisky no meio.
Já experimentei outras cervejas, de diferentes tipos, na Alemanha e até na república Tcheca, terra da pilsen, mas a Guinness continua sendo minha preferida.
Mas valeu pelo oferecimento.
A revista VEJA Rio, em seu nº 6, deste ano, publica na página 19 e seguintes uma reportagem sobre humor, humoristas e riso, fazendo uma retrospectiva do gênero.
Interessante.
Ary Leite não está citado, Freddy (rs).
Estarei captando um travo de crítica por ter citado Ary Leite em minha crônica, deixando de lado outros mais famosos?
Ele me pareceu perfeito exemplo de uso de defeito de fala para gerar humor, já que o uso do politicamente incorreto é o tema do post. Eu não pretendi em momento algum fazer um apanhado de grandes humoristas.
Se quiserem dar uma boa contribuição, façam-me um resumo de personagens politicamente incorretos representados por aqueles citados na Veja n. 6 deste ano.
Para dar um exemplo que me ocorre agora, acho que o dentista tarado do Jô Soares (Bocããão)seria um caso.
Boa semana a todos
Freddy
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