Por
Jorge Carrano
(Original publicado em http://www.cavernaweb.com.br/?p=2582)
Quanto tinha apenas 14 anos, em 1840, o imperador Dom Pedro II foi seduzido pela fotografia. O aparelho que registrava as imagens, chamado Daguerreótipo, havia sido inventado no ano anterior pelo francês Louis-Jacques Daguerre (1787-1851).
Em 1888, surge a Kodak, fundada por George Eastman, o inventor do filme fotográfico. Durante o século 20, Kodak foi sinônimo de fotografia, e levou para as mãos de milhões de amadores a possibilidade de registrar momentos. Um aniversário, o Natal, a viagem de férias com a família, a chegada dos filhos e netos. O Kodachrome, a mais famosa película já produzida, ganhou até uma música, feita por Simon & Garfunkel.
Foi a popularização da fotografia que permitiu o surgimento do fenômeno “foto feliz”, que não existia no tempo em que o registro visual era feito pela pintura. Parece que o turista e a fotografia foram inventados no mesmo momento. Afinal, você não vai para Paris tirar foto com cara triste, certo?
Ao retornar, as pessoas colavam as fotos em álbuns, as espetavam em murais de cortiça e andavam com elas para mostrar aos amigos. Os problemas eram muitos: e se o filme acabasse? E se a foto ficasse ruim? Você só saberia quando voltasse para casa.
Com o tempo, as câmeras digitais, depois os celulares e tablets se encarregaram do papel de registrar momentos. E outros álbuns virtuais surgiram para dividir as imagens com os amigos: as redes sociais.
Resultado: o Instagram, fundado apenas em outubro de 2010, foi comprado pelo Facebook por um bilhão de dólares, e a Kodak não vale mais nada.
Mas a ditadura do sorriso, aquela sensação de estar num eterno comercial de margarina, é mais que um resultado da tecnologia. É um fenômeno social. Observe as imagens dos seus amigos no Facebook. Sempre sorrindo, ou fazendo alguma palhaçada. E as fotos de viagem? O sujeito nem desembarca no aeroporto e já está postando foto no seu perfil do Facebook.
A cultura do sorriso tornou-se obrigatória. Temos uma necessidade muito grande de sermos queridos, admirados, e por que não também “curtidos” e “comentados” ?
O sorriso nos tempos atuais acaba sendo mais o componente de um fenômeno de consumo rápido, para ser “compartilhado” em tempo real, do que parte de um momento de alegria a ser perpetuado.
3 comentários:
Eu já comentei isso, mas volto ao tema. Antigamente havia tempo para se fazer estudos acerca de como a sociedade se comportaria no futuro, que a cada dia se tornou mais próximo, até que hoje não temo afirmar que ninguém sabe como será o dia de amanhã.
Redes sociais, Instagram, sorrisos, informação abundante na mão de quem tiver paciência de pesquisar para dela fazer uso, mas que seja rápido porque amanhã o cenário já mudou...
Vivemos um videoclip à la MTV daqueles bem rápidos, onde não ser fixa imagem alguma, só se tem uma noção do geral, e mesmo assim bem fugaz. Sorrisos e caretas se misturam numa parafernália incompreensível.
Não, não sabemos como será a sociedade amanhã. Não gostaria, sinceramente, que os sorrisos se transformassem em esgares, gemidos e lágrimas, mas não vejo solidez nas estruturas e instituições, todas baseadas num modelo vetusto, falido.
Abraços
Freddy
Caro Freddy,
Como já comentei reiteradas vezes neste blog, não participo de nenhuma das redes sociais hoje existentes.
Gostei de sua comparação com videoclip à la MTV.
Abraço
A fragmentação é uma contante neste presente século.
Postar um comentário