19 de julho de 2012

Complexo de Peter Pan ?


Por
RIVA




Senhores passageiros, lancha VITAL BRAZIL é  nossa próxima saída para a Pça. XV, às 8:35h ....


Vou usar aquela louca técnica de escrever sem parágrafos, ou com poucos, e etc ....
 

Levou um tempo até minha ficha cair .... Vital Brazil ? Sim, é uma das antigas ainda navegando. Não hesitei. Parti em direção à Vital Brazil, quando percebi que muitas pessoas saíam, mas paravam repentinamente, e ficavam como que esperando outra saída. Dentro do meu estilo curioso e anárquico e cara de pau, perguntei a um deles : não vai embarcar nessa viagem por que ? Resposta : porque o catamarã que ainda vai atracar chegará antes na Pça. XV !! Ah, tá, respondi, e pensei ....... demora mais um pouco e isso significa mais uns preciosos minutos para a minha leitura .... e fui para a Vital Brazil.

Gente, não atravessava nela há um tempo, até porque só tenho ido ao Rio pelas Charitas. Que conforto ! Que fabulosos 45 decibéis, ao contrário dos 95 que registro nas travessias por Charitas ! (meu iPhone tem um decibelímetro (rsrsrs). 

Sentei confortávelmente, esticando as pernas, abri meu livro, e curti maravilhosos 25 minutos de travessia às antigas ... aliás, que livro ! Estou lendo TREM NOTURNO PARA LISBOA, de Pascal Mercier .... super recomendo ... para ser lido entre taças de Cabernet Sauvignon ....

Consegui dar uma "viajada" nessa travessia, pois é impossível não associar sons e cheiros às travessias da década de 60 e 70 .... e por que estou tocando nesse assunto ? Porque esse livro que estou lendo, pelo menos até agora, fala justamente dessas coisas que passamos a perceber depois de uma certa idade, mas que são totalmente vulgares e imperceptíveis na nossa juventude.

Foi uma viagem, literalmente, essa travessia na VITAL BRAZIL .... vou parafrasear Pascal Mercier, e citar MARCO AURÉLIO, nesse meu post :

" Força-te, força-te à vontade e violenta-te, alma minha ; mais tarde, porém, já não terás tempo para te assumires e respeitares. Porque de uma vida apenas, uma única, dispõe o homem. E se para ti esta já quase se esgotou, nela não soubeste ter por ti respeito, tendo agido como se a tua felicidade fosse a dos outros ... Aqueles, porém, que não atendem com atenção os impulsos da própria alma são necessariamente infelizes."

Concordo 100% com Marco Aurélio, e atendo com total atenção os impulsos da minha alma ... na verdade, sempre os atendi, mas há quem diga que sofro de Complexo de Peter Pan ...... mas não é, ou se é, me faz bem. Desconfio que um dia vou envelhecer ......




Nota do Editor: O livro "Trem Noturno para Lisboa" (Nachtzug nach Lissabon), de Pascal Mercier - pseudônimo de Peter Bieri - foi publicado originalmente em 2004.

14 comentários:

Jorge Carrano disse...

Woody Allen tem razão. Como sugerido no filme "Meia Noite em Paris" sempre tendemos a achar melhor o tempo passado.
Será que as décadas de 1960/1970 foram melhores?
Psicólogos e psicanalistas de plantão, por favor expliquem porque associamos cheiros e sons da infância e juventude quando nos deparamos com situações prazerosas no presente.
Valeu, Riva, obrigado pela colaboração.
Abraço

Anônimo disse...

Até que enfim mudaram o assunto. Ultimamente só falaram de futebol e mulher. Nada contra, mas o blog não é de generalidades?

Anonimous disse...

Se o blog é de generalidades, então vamos abordar o Golpe de 64.
Tá assim de generais, hoje de pijama e sem poder de canhão.
Fica a sugestão, embora março/abril esteja longe pra se comemorar ou censurar.
Isso aí: general+idades !!!

Jorge Carrano disse...

Caro Anonimous,
Já demos uma pincelada aqui neste espaço, no chamado (por alguns) Golpe de 64 ou Revolução de 64 (por outros tantos).
Com direito, inclusive, a poema de Ricardo dos Anjos, o que não é pouco.
Veja em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/03/31-de-marco-de-1964.html
Como você é novo nestas plagas virtuais, não participou dos debates.
Abraço

Gusmão disse...

Riva,
Provavelmente ao embarcar nas lanchas, nas décadas mencionadas, você passou por mim e alguns amigos, na proa, jogando balufa (purrinha), disputando o cafèzinho (era assim que se grafava)nos Cafés Central ou Sul América, na Praça Arariboia.
Abraço

Riva disse...

Gusmão, que legal .... eu costumava sempre ir e voltar lá na frente da lancha, principalmente em 1970 e 1971, na turma da purrinha .... se bobear, jogamos inúmeras vezes sem saber que nos encontraríamos virtualmente em 2012 !!! sensacional isso !

E realmente a viagem na Vital Brazil trouxe muitas, muitas recordações .... e deu até uma certa tristeza de saber que não tem jeito, temos que abandonar as velhas lanchas e usar esses catamarãs barulhentos internamente, sem ar condicionado no verão, com janelas projetadas na altura errada, o que nos impede de apreciar a beleza da travessia.

Retorno a Pascal Mercier : É um engodo achar que momentos decisivos de uma vida, em que seus rumos habituais mudam para sempre, sejam necessariamente acompanhados de uma dramaticidade ruidosa e estridente, acompanhada de grandes surtos. Esta é uma imagem batida inventada por jornalistas bêbados, diretores de cinema ávidos por flashes e escritores cuja cabeça é a imagem e semelhança dos pasquins de terceira categoria. Na verdade, a dramaticidade de uma experiência decisiva para a vida é de uma natureza inacreditavelmente silenciosa. Tem tão poucas afinidades com a explosão, a labareda e a eclosão vulcânica que, muitas vezes, nem é percebida no momento que acontece. ........ é nessa falta de alarde que reside sua nobreza especial.

Pois então, nobreza especial ..... acho que poderia escrever um livro somente com as verdades que silenciosamente me passaram na cabeça nessa travessia de 25 minutos. Muito especial, mas só meu, só minhas.

E então veio o tranco da atracação ..... acorda, Peter Pan, hora de trabalhar !!! rsrsrsrs

Sds TRIcolores ... hoje tem sofrimento com acarajés.

Incógnita disse...

A psicologia explica a associação de sons e cheiros ao prazer e a dor. O russo Pavlov fez estudos neste sentido. Procure no Google.rs
Quanto a travessia na Vital Brasil, nos idos de 1969 eu era assídua na lancha das 06 e meia, rumo ao bairro do Caju, onde estagiava. Não jogava na proa: dormia durante a viagem de ida e volta .

Freddy disse...

1 - Na minha opinião, ter saudades de tempo passado significa que neles vivemos coisas muito boas, provavelmente melhores que as de hoje. Por isso mesmo bato de frente com Riva em nossas lembranças comuns do passado pois, diferente dele e de muitos outros, não tenho saudade alguma de minha infância/adolescência - a não ser de um único aspecto dela.

2 - Nesses dias que tenho ido ao Rio de catamarã (depois de 6 anos de saudável aposentadoria e vagabundagem), tenho visto a Vital Brazil. Lembro-me então, pois prestava atenção a isso, que ela foi a PRIMEIRA das "novas" barcas da época em que eu estudava na PUC, sendo seguida pela Martim Afonso, Santa Rosa, Ingá, Icaraí, Itapetininga, Ipanema, Urca, Boa Viagem (esqueci alguma?). O tempo de viagem eram exatos 13 minutos, que se tornavam cerca de 15 por conta da manobra de virar de frente para seguir viagem.

Isso levanta dois aspectos. Um deles: porque ainda temos a Vital Brazil em forma e navegando quando outras foram relegadas ao ostracismo, sendo que a Icaraí afundou em pleno cais,abandonada? A primeira delas teria sido a mais bem construída?
Outro: elas trafegavam em 13 a 15 minutos, o que torna a alardeada velocidade dos atuais catamarãs sociais um mermo repeteco de performances já alcançadas por barcas convencionais em tempos em que eram jovens. Claro que se hoje demoram 25 minutos é por mera velhice dos seus motores mal conservados.

De qualquer maneira, fizeram parte de minha vida durante muitos anos. Dentro delas tive grandes emoções, pois estava dentro da Santa Rosa ao ser abalroada pela Martim Afonso em intenso nevoeiro (1970) e em outra oportunidade que não lembro a data - também choque em nevoeiro.
Conheci o Gentileza e o "Super-Homem", folclóricos personagens que perturbavam os passageiros com seus discursos ferinos ou apenas engraçados.

Boa lembrança essa de Riva.
Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Caro Freddy,
Se as lanchas ainda fizessem a travessia em 13 minutos, o Riva não poderia ler senão duas páginas do "Trem Noturno para Lisboa".
Benditos minutos acrescidos por conta da velhice dos motores.
Leitura é tudo de bom.
Abraços

Riva disse...

O Twitter está me fazendo mal, muito mal.... escrevi no post "exitei" ao invés de "hesitei" !!!!! Peço desculpas ....

:0(

Riva

Jorge Carrano disse...

Quem acessar o post a partir deste momento, encontrará a palavra corrigida.
Obrigado.

Ricardo dos Anjos disse...

Em se discorrendo sobre barcas & lanchas, lembro daquela utilizada como transporte alternativo: uma lancha grande da Marinha, branca, chamada Mocanguê... Era a tábua de salvação em tempo de greve comandada pelo sindicato dos marítimos. Mas tinha-se de tomar cuidado ao embarcar, sobretudo em tempo de mar agitado. Era um tal de "ehehehehehehêeeee..." quando o passageiro tinha de segurar a mão dos marinheiros pra entrar na embarcação, fossem homens, mulheres, jovens ou crianças. Vez por outra uma pessoa desavisada caia entre a lancha e o cais, mas era salva com presteza pelos marujos. Com os aplausos catárticos da plateia, após a expectativa do pior.
E vocês,lembram?

Jorge Carrano disse...

Se lembro, Ricardo.Eram embarcações da Marinha do Brasil, tipo "Rebocadores" e "Avisos", além do citado Mocanguê, o mais utilizado.
Mas eu sou do tempo da barca "Terceira", da agora extinta Companhia Cantareira. Parecia com aquelas do Rio Mississipi, com grandes rodas laterias.
Alguns anos mais tarde, antes das Vital Brasil, Martim Afonso, Santa Rosa, Ingá, Icaraí, Itapetininga, Ipanema, Urca, Boa Viagem, citadas pelo Freddy, tivemos as lanchas da "Frota Barreto", incendiadas pela turba enfurecida. Os nomes, se não me engano, eram Brasileirinha, Carioquinha e coisas que tais.
Abraço

Freddy disse...

Outro dia estava me lembrando dos avisos da Marinha. Confesso que não me lembrava do Mocanguê, mas sim do Biguá.

Já que é para desfilar nomes de barcas, vamos puxar minhas lembranças. Corrijam-me, se eu me enganar:

Da Frota Barreto lembro-me de Fonseca, Barreto e Alcântara, se não me engano corvetas adaptadas e bem velozes.

Maracanã, Lagoa e Neves eram de um tipo, Gávea e Leblon de outro um pouco menor, todas da Cantareira (alguns nomes estão sendo resgatados pelas Barcas SA nos catamarãs sociais).

Balsas de carros tinha a Piraíba e Pirajá, mais a Gragoatá e Cubango (que não precisavam manobrar). Não esquecendo das VALDA (Viação Atlântica Ltda, isso?): I, II, III, IV e a maior de todas, V. Essas saíam da Ponta da Areia.

As mais antigas, como Primeira, Segunda e Terceira, tipo Mississippi, mistas de carros e gente, cheguei a andar mas era pequeno demais para guardar detalhes.

Grande abraço
Freddy