9 de julho de 2012

Confusão mental


Quase todo mundo já ouviu falar do “Samba do Crioulo Doido”, sátira por vezes mal interpretada como sendo preconceituosa, de autoria do jornalista, cronista do cotidiano, escritor e mulherólogo Sergio Porto, há muito falecido, e que assinava suas matérias como Stanislaw Ponte Preta.


Pois muito bem. Neste samba o autor aborda a confusão que se instala na cabeça dos compositores de sambas de enredo, pelo fato de terem, a cada carnaval, que escrever letras de sambas sobre personagens e fatos da história do Brasil.

Em geral, estes compositores tinham pouca cultura formal, possuindo apenas a sabedoria da vida e inspiração poética congênita (inata).

O tal samba do Stanislaw retrata exatamente a mistura de personagens, datas e eventos.

Num determinado momento da minha vida, por coincidência, vi-me às voltas com atividades novas para mim, em termos mais aprofundados.

Assim é que, usuário de recursos de informática, ainda ao tempo do CP500 que tínhamos na empresa, e bebedor de vinho ocasional (degustador mais tarde), precisei comprar um cachorro.

Estava mudando para São José de Imbassaí e ter um cão era importante sob os aspectos de segurança e companhia para nós.

Antes de me decidir por esta mudança de residência, havia concluído um curso de informática e programação (Basic).

Na mesma época meu filho Jorge me convida para participar, com ele, de um curso de Sommelier que era ministrado na ABS, no Rio de Janeiro. A ideia era que aprendêssemos o básico, para evitarmos gafes grosseiras.

De repente, não mais que de repente (isto dá poema)*, vi-me às voltas com muito vocabulário estrangeiro, francês, inglês, etc, que não fazia parte de meu dia-a-dia. Na área de informática, de castas viníferas e  cachorros.

Lembrei do Samba do Crioulo Doido e escrevi uma croniqueta que não sei onde foi parar (provavelmente se perdeu com um HD corrompido), coisa mais ou menos corriqueira em minha vida de uns tempos a esta parte.

E porque lembrei? Fiquei imaginando meu vizinho, já mencionado aqui no blog, novo rico, mas inculto e semialfabetizado  tendo que conversar sobre raças caninas, vinhos e processamento de dados, com todos os termos e nomes, novos para ele que, se não manejava bem o português, em inglês ou qualquer outro idioma era mudo de pai e mãe.


A confusão mental instalada nos neurônios resultaria em coisas risíveis.

Uma frase sairia, mais ou menos, assim: “Levei meu gewürztraminer para vacinar e aproveitei para ir ao supermercado para comprar vinho feito com a uva schnauzer, que dizem ser bem  encorpado.”

Ou ainda:

“Comprei um computador e mandei instalar o beagle para poder ter acesso na internet”. Sabe que meu cachorro, aquele maior, o zinfandel quase mordeu o técnico que veio instalar?”

E eu diria que achei um ótimo vinho com boa relação custo-benefício, um corte de setter com shar-pei, mais frutado do que o ripping.” (juro que não diria, é só licença poética).

“Ou que o grenache é um sistema operacional melhor do que o carmenere ou o bedlington.”

A apache é uma uva e o grenache é um servidor web livre? Meu deus!!!

Rottweiler é uma casta que resulta em bons vinhos e gewürztraminer é uma raça de cachorro, de porte maior do que a viognier. E mais feroz do que a firewall.



Você não achou graça porque é culto e fluente em vários idiomas. Eu achei graça da minha ideia porque estava bem próximo de um  paroxismo tal de pânico, que pensei em trocar o cão por um gato, o vinho pela caipirinha e a internet pelo sinal de fumaça.



* Versos de soneto de Vinicius de Moraes



6 comentários:

RC disse...

Boa! Ditas com convicção, essas frases soam perfeitamente aceitáveis. ;-)

Anônimo disse...

Tive que ir ver no google o que significa aqueles nomes mencionados, pois só conheço de cachorro o SRD (famoso vira-lata). De vinho o moscatel rosado. E de informática o
windows 95.
Depois da pesquisa entendi e achei interessante.

Gusmão disse...

Para incrementar a situação, imaginemos que o cara estivesse lendo uma matéria sobre a descoberta da partícula de Higgs (partícula de Deus)e desse com novas palavras como prótons, nêutrons, quarks, elétrons, , bóson, fóton, múon e sigma.
Fundiria de vez a cuca.
Abraços

Freddy disse...

A propósito do bóson de Higgs, já deu o maior buchicho um comentário que eu postei no Globo no blog do César Baima tem uns 2 anos já. Fui chamá-lo de partícula de Deus e recebi porrada (virtual) de um monte de fanáticos religiosos. Pois agora até o Globo usa essa expressão!
A propósito, o Higgs já nem sabe mais pra que serve a partícula que ele mesmo definiu teoricamente anos atrás. A idade é uma m...
Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Parece, Freddy, que a comunidade científica também rejeita, com veemência, a expressão "partícula de Deus".
Abraço

Incógnita disse...

Me parece que esse fenômeno relatado (mistura de dados) é problema de formatação ou ocorre quando nosso cérebro é um processador Windows 95, com memória de 56 kb , baixando arquivos com informações do Google.
Trava o sitema realmente.
O Carlos tem razão : longevidade é uma m...