Quase todo mundo já ouviu falar do “Samba do Crioulo Doido”, sátira por vezes mal interpretada como sendo preconceituosa, de autoria do jornalista, cronista do cotidiano, escritor e mulherólogo Sergio Porto, há muito falecido, e que assinava suas matérias como Stanislaw Ponte Preta.
Pois muito bem. Neste samba o autor aborda a confusão que se instala na cabeça dos compositores de sambas de enredo, pelo fato de terem, a cada carnaval, que escrever letras de sambas sobre personagens e fatos da história do Brasil.
Em geral, estes compositores tinham pouca cultura formal, possuindo apenas a sabedoria da vida e inspiração poética congênita (inata).
O tal samba do Stanislaw retrata exatamente a mistura de personagens, datas e eventos.
Num determinado momento da minha vida, por coincidência, vi-me às voltas com atividades novas para mim, em termos mais aprofundados.
Assim é que, usuário de recursos de informática, ainda ao tempo do CP500 que tínhamos na empresa, e bebedor de vinho ocasional (degustador mais tarde), precisei comprar um cachorro.
Estava mudando para São José de Imbassaí e ter um cão era importante sob os aspectos de segurança e companhia para nós.
Antes de me decidir por esta mudança de residência, havia concluído um curso de informática e programação (Basic).
Na mesma época meu filho Jorge me convida para participar, com ele, de um curso de Sommelier que era ministrado na ABS, no Rio de Janeiro. A ideia era que aprendêssemos o básico, para evitarmos gafes grosseiras.
De repente, não mais que de repente (isto dá poema)*, vi-me às voltas com muito vocabulário estrangeiro, francês, inglês, etc, que não fazia parte de meu dia-a-dia. Na área de informática, de castas viníferas e cachorros.
Lembrei do Samba do Crioulo Doido e escrevi uma croniqueta que não sei onde foi parar (provavelmente se perdeu com um HD corrompido), coisa mais ou menos corriqueira em minha vida de uns tempos a esta parte.
E porque lembrei? Fiquei imaginando meu vizinho, já mencionado aqui no blog, novo rico, mas inculto e semialfabetizado tendo que conversar sobre raças caninas, vinhos e processamento de dados, com todos os termos e nomes, novos para ele que, se não manejava bem o português, em inglês ou qualquer outro idioma era mudo de pai e mãe.
A confusão mental instalada nos neurônios resultaria em coisas risíveis.
A confusão mental instalada nos neurônios resultaria em coisas risíveis.
Uma frase sairia, mais ou menos, assim: “Levei meu gewürztraminer para vacinar e aproveitei para ir ao supermercado para comprar vinho feito com a uva schnauzer, que dizem ser bem encorpado.”
Ou ainda:
“Comprei um computador e mandei instalar o beagle para poder ter acesso na internet”. Sabe que meu cachorro, aquele maior, o zinfandel quase mordeu o técnico que veio instalar?”
E eu diria que achei um ótimo vinho com boa relação custo-benefício, um corte de setter com shar-pei, mais frutado do que o ripping.” (juro que não diria, é só licença poética).
“Ou que o grenache é um sistema operacional melhor do que o carmenere ou o bedlington.”
A apache é uma uva e o grenache é um servidor web livre? Meu deus!!!
Rottweiler é uma casta que resulta em bons vinhos e gewürztraminer é uma raça de cachorro, de porte maior do que a viognier. E mais feroz do que a firewall.
Você não achou graça porque é culto e fluente em vários idiomas. Eu achei graça da minha ideia porque estava bem próximo de um paroxismo tal de pânico, que pensei em trocar o cão por um gato, o vinho pela caipirinha e a internet pelo sinal de fumaça.
* Versos de soneto de Vinicius de Moraes
6 comentários:
Boa! Ditas com convicção, essas frases soam perfeitamente aceitáveis. ;-)
Tive que ir ver no google o que significa aqueles nomes mencionados, pois só conheço de cachorro o SRD (famoso vira-lata). De vinho o moscatel rosado. E de informática o
windows 95.
Depois da pesquisa entendi e achei interessante.
Para incrementar a situação, imaginemos que o cara estivesse lendo uma matéria sobre a descoberta da partícula de Higgs (partícula de Deus)e desse com novas palavras como prótons, nêutrons, quarks, elétrons, , bóson, fóton, múon e sigma.
Fundiria de vez a cuca.
Abraços
A propósito do bóson de Higgs, já deu o maior buchicho um comentário que eu postei no Globo no blog do César Baima tem uns 2 anos já. Fui chamá-lo de partícula de Deus e recebi porrada (virtual) de um monte de fanáticos religiosos. Pois agora até o Globo usa essa expressão!
A propósito, o Higgs já nem sabe mais pra que serve a partícula que ele mesmo definiu teoricamente anos atrás. A idade é uma m...
Abraços
Freddy
Parece, Freddy, que a comunidade científica também rejeita, com veemência, a expressão "partícula de Deus".
Abraço
Me parece que esse fenômeno relatado (mistura de dados) é problema de formatação ou ocorre quando nosso cérebro é um processador Windows 95, com memória de 56 kb , baixando arquivos com informações do Google.
Trava o sitema realmente.
O Carlos tem razão : longevidade é uma m...
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