16 de maio de 2012

Futebol é paixão


A “Grande Resenha Facit”, melhor mesa-redonda sobre futebol até hoje apresentada na TV brasileira, começou na TV Rio com o nome de” Grande Revista  Esportiva”, em 1963.

Portanto, quem está abaixo dos 40 anos (admitindo-se que antes dos 10 anos ninguém assiste debate esportivo), não assistiu e perdeu.

A “Resenha” era ancorada por Luiz Mendes, recentemente falecido (era o último sobrevivente da composição inicial da mesa-redonda), e tinha como debatedores João Saldanha, Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, Vitorino Vieira, José Maria Scassa e Ademir Menezes.

Tirante o Armando Nogueira, que embora assumidamente torcedor do Botafogo procurava manter uma certa neutralidade, os demais defendiam seus clubes do coração. Assim é que o Nelson Rodrigues, como é sabido tricolor apaixonado, defendia o Fluminenese; o João Saldanha o seu Botafogo; o José Maria Sacassa era rubro-negro e o Ademir (ex-jogador) e o Vitorino Vieira defendiam o Vasco da Gama.

Era um timaço de comentaristas e os debates, embora acalorados, eram de bom nível, em face da cultura geral e esportiva dos participantes.

Pois bem, descrito o cenário e apresentados os personagens, posso a explicar o porquê do título.

O Nelson não era, primordialmente, um cronista esportivo. Ele TAMBÉM escrevia (belas) crônicas sobre futebol, além de ser um apaixonado pelo esporte.

Por vezes até ameaçava um cochilo durante o programa.

Certa noite, depois de um FLA x FLU, ele manifestou uma opinião que contrariou o Scassa. Este, então, irritado e grosseiramente, dirigiu-se ao Nelson dizendo “Nelson, você não entende nada de futebol”.

Ao que este, de imediato e com aquele jeito arrastado, de boca mole, retrucou: “Scassa, eu sou um dramaturgo, e futebol é paixão, portanto entendo mais do que você”.

Foi a primeira vez que ouvi esta expressão hoje tão corriqueira: futebol é paixão.

E que paixão. E por todos os títulos. Que outra atividade, no planeta, desperta tanta paixão?

E tantas emoções e surpresas. Tanta dramaticidade.

Vejamos como exemplo a última rodada da Campeonato Inglês, a chamada “Premier League”.

Duas equipes, coincidentemente da mesma cidade de Manchester, separadas por um ponto de diferença na classificação, poderiam conquistar o título.


De um lado, dependendo apenas de seu próprio resultado, a equipe do Manchester City, que conquistou apenas três títulos em sua história na liga principal, sendo a última há quarenta e quatro anos. De outro lado, o Manchester United, com dezenove títulos, atualmente considerado o Clube mais rico e valioso do mundo, ultrapassando o Real Madrid, da Espanha.

Quem não sabe fica sabendo que os dois times dividem a torcida na cidade de Manchester, assim como Grêmio e Internacional em Porto Alegre, Milan e Internazionale, em Milão, Ponte Preta e Guarany em Campinas, etc.

O "City of Manchester"  (antigo nome do
estádio do Manchester City)
A metade azul da cidade torce pelo City, e são conhecidos como ‘citizens”, a outra metade, vermelha, torce pelo United e são chamados de red devils. A torcida do City entoa em uníssono, nas partidas de sua equipe, no Etihad Satdium, a canção “Blue Moon” formando um coral de arrepiar. Da mesma forma como a torcida do Liverpool faz, cantando “You’ll never walk alone”.

Mas vamos à dramática última rodada. Jogando em sua casa, seu estádio, com a torcida pronta para comemorar um título após mais de quarenta nos, o City sai na frente no placard mas logo depois fica em desvantagem no marcador. O adversário – Queens Park Rangers - embora time pequeno, lutava pelo não rebaixamento para a segunda divisão (de onde viera nesta temporada), e virou o jogo para 2x1.

Em outra cidade, o Manchester United, que estava um ponto atrás do líder Manchestar City, ganhava a partida contra o Sunderland e seria campeã com a derrota do rival City.

Acabou a partida, e o Juiz do jogo do Manchestar City resolveu dar quatro minutos de prorrogação.

A metade vermelha da cidade já comemorava seu vigésimo título nacional, pois quem poderia imaginar uma reviravolta. Nem mesmo se empatasse, nos quatro minutos da prorrogação, o City seria campeão. Só a vitória garantiria a conquista do título. E faltavam apenas quatro minutos da prorrogação.

E o que ocorreu? Aos 46 minutos, portanto um minuto da prorrogação, o Manchester City empatou a partida. E aos 49, fez o gol da vitória colocando 3x2 no marcador. E o Campeonato tão esperado, na sua história.

É por isso que o futebol, como já decretara o Nelson Rodrigues, é e desperta tanta paixão.

24 comentários:

Gusmão disse...

O Flamengo realmente é um clube estranho. Usa urubu como símbolo. É conhecido como bonde sem freio. E tinha na Mesa Redonda o cara mais chato: o Scassa. Ou seja, urubu, bonde e Scassa é demais.
É a segunda maior torcida do Brasil. A primeira é a dos "contra o Flamengo".
Abraço

Freddy disse...

Carrano, não lembro do programa mas lembro dos comentaristas, que ainda se mantiveram na ativa por longo tempo.

Sobre a conquista do Manchester City, foi quase magia. Improvável ao extremo, mas com a força da paixão foi possível.

Sobre o urubu, reservo um comentário específico a seguir.
Abraço
Freddy

Freddy disse...

Lembro-me vagamente que o Urubu nasceu de comentários pejorativos acerca da cor da maioria da torcida do Flamengo no Rio (fazendo parêntesis, por que de vez em quando maiorias são chamadas de minorias?). Henfil, que fazia charges para o Jornal dos Sports, foi introduzindo o personagem, que dividia espaço com o saltitante “Pó de Arroz”, com o irritante “Cri-Cri” (popularmente o chato que dá no saco do chato) e o gordo e bigodudo “Bacalhau”, o portuga dono do bar que servia de pano de fundo para muitos dos desenhos que ele fazia.

Assim sendo, o Urubu teria passado de ofensa a símbolo, coisa que aconteceu com o Bacalhau mas não com os outros dois. Sim, pó-de-arroz ainda é símbolo, mas encarado com certa reserva pelos próprios tricolores por motivos óbvios.

Em tempo, para não perder a piada: quando vencem o Vasco, dizem que vão comer bacalhau. Que azar nós temos, não? Quando vencemos o Flamengo já pensou encarar um urubu ao molho pardo? Argh!

Abraço
Freddy

Ricardo dos Anjos disse...

É tanta paixão, e descompensação, que, se vivo fosse, o belfo Nelson Rodrigues diria, referindo-se hoje aos flamenguistas e botafoguenses, que resta a eles sentarem-se no meio-fio pra "chorar lágrimas de esguicho". Não descartando que isso pode acontecer também aos tricolores e vascaínos na Libertadores.

Jorge Carrano disse...

E não mencionei a decisão da Liga Europa, ocorrida também na semana passada, entre duas equipes da Espanha.
O Atlético de Madrid venceu o Athletic Bilbao por 3x0, sagrando-se campeão da Liga. O Athletic jamais conquistou título continental.
Os jogadores do Athletic, ao final do jogo, choravam copiosamente ( maioria deles), neste caso, não só em razão da paixão pelo futebol, senão também pela paixão nacionalista. Os bascos, como sabemos, não se consideramm espanhois e desde há muito vêm tentando, até por meios inidôneos, como terrorismo, obter sua independência.
Foi comovente ver de um lado estampados sorrisos nos rostos do vencedores e, de outro, as lágrimas dos perdedores.Pura paixão, pura emoção.

Riva52 disse...

Hmmm ... vi os 2 últimos jogos do CITY ... sensacionais ! Acho que estavam empatados em pontos ganhos na última rodada, sem diferença. A diferença era no saldo de gols ...estou certo ou errado ?
Não importa .... importa que testemunhei aquilo !
Contra o Chelsea, um estádio inteiro chegou a levar o locutor à emoção, cantando Hey Jude ! Arrepiou meu mais íntimos pelos.
E no último e incrível jogo, a torcida cantando We are the champions !!!!
E a educação da torcida : invadiu o gramado pra comemorar, e depois saiu ordenadamente para a cerimônia final .... se fosse aqui, haveria mortos e feridos, pancadaria da PM, etc.

Sim, o futebol promove isso .... é paixão pura.

Quanto ao urubu, acho foi por causa de um urubu mesmo que levaram para o Maraca com uma bandeira do Fla nas pernas, e o bicho mal podia voar ....

Jorge Carrano disse...

Você está certo nos dois casos, Riva52.
A diferença era só no saldo de gols mesmo, a favor do City. Tanto que mesmo o empate daria o título ao United, e quanto ao urubu deu-se mesmo o episódio do bicho com a bandeira presa a um dos pés.
Não vou falar da Inglaterra para não ficar repetitivo. Quem me acompanha sabe de meu entusiamo. Vou só sintetizar em algumas palavras: civilização, educação, respeito, elegância, tradição, humor.

Jorge Carrano disse...

Só para complementar, Riva, acompanho o campeonato inglês pelos canais ESPN, que fazem ampla cobertura. Sábado e domingo fico diante da TV. Tenho até um time de coração, como já declinei aqui, o Arsenal, este ano terceiro colocado, mas com o artilheiro da competição, o holandês Van Persie.
Abraço

Freddy disse...

Depois de comentado, relembrei do episódio do urubu, mas não tenho certeza se uma coisa puxou a outra. Tipo: se tivesse sido uma galinha branca ou uma pomba da paz os flamenguistas teriam sido associados a ela?
OK, não há como saber.
Abraços
Freddy

Freddy disse...

Sobre a educação inglesa nos estádios: alguém me refresque a memória sobre os hooligans. Eles atuavam pela Inglaterra apenas no exterior ou também faziam arruaças domésticas?

Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Freddy, os hooligans foram uma realidade, interna e externamente. Mas são página virada na história da torcida inglesa. Há muito tempo. A torcida não tem mais do que dois metros separando-a do campo de jogo. Sem fosso, sem alambrado, sem cerca. Aliás, é mais uma demonstração de que eles conseguem superar e resolver problemas.Por isso e por outras razões é que os admiro.
Abraço

Riva disse...

Quanto ao Urubu, eis a história :
http://anacaorubronegra.blogspot.com.br/2008/01/histria-do-smbolo-do-flamengo-urubu.html

FLUi !!
Vascaínos, por favor matem essa Gambá hoje !!! 4x0

Luvanor Belga, MS disse...

Sr Carrano,
Aprecio quando o tema de seu blog é futebol. Paixão mesmo só pelo meu Corumbaense aqui e um pouco de admiração pelo Bangu, por razões já manifestas anteriormente. Mas, no Exterior, mais propriamente na Inglaterra, torceria pelo Manchester United, não só pelo futebol que os Red Devils apresentam, mas sobretudo pela figura simpática do seu técnico, o nobre Sir Alex Ferguson, sempre mascando chicles.

Mais uma vez, Sr.Carrano, auguro sucesso ao Vasco, dessa vez no prélio com o Corínthians.

Jorge Carrano disse...

Obrigado, Luvanor. Mas prélio?
Já no outro dia, em interessante comentário, você enxergou semelhança entre a atual primeira dama francesa com Greta Garbo. Vamos combinar que esta atriz é desconhecida das novas gerações o que me induziu a que o caro visitante virtual é tão idoso quanto eu.
Agora este "prélio" confirma as minha suspeitas(rsrsrs).
Abraço

Luvanor Belga, MS disse...

Sr. Carrano,
Exato, sua ilação é pertinente. Sou, como o Sr. proprio admite, sob sua foto neste blog, septuagenário. Com certeza.
Melhor idade também refuto. Prefiro "boa idade". Ou maturidade.
É mais consentâneo à tranquilidade desejada nesta quadra da existência.

Jorge Carrano disse...

Muito bem, Luvanor. Além da experiência de vida, da maturidade, do equilíbrio, você revela, também, boa intimidade com a língua portuguesa, utilizando com propriedade vocábulos que não fazem parte do cotidiano das pessoas.
Os mais assíduos neste blog, são, como eu, pessoas vividas.
Seja bem-vindo!
Abraço

Ricardo dos Anjos disse...

Luvanor e Carrano, ou vice-versa:
meu slogan é: "Exata Idade".

Quanto a Libertadores, opino:
VASCO 1 X 1 CORINTHIANS.

Jorge Carrano disse...

Só para constar, Ricardo, o jogo terminou 0x0, ou seja, você acertou o empate.
E o jogo em São Paulo, arrisca palpite?
Abraço

Ricardo dos Anjos disse...

Corínthians 2 X 1 Vasco. E, naturalmente, pênaltis pra decidir.

Riva disse...

Hmmm...vou entrar nessa dos palpites.
Boca 2x0 Flu
Velez 1x0 Santos, com Neymar expulso
Na volta :
Flu 2x0 Boca decisão nos penalties
Santos 1x0 Velez decisão nos penalties
Gambás 2x0 Vasco
La U 3x0 Libertad

Obs : prélio foi "forte" ...rsrsrs .... essa é do tempo do Scassa.

Luvanor Belga, MS disse...

Sr. Carrano,

Seu encômio ao meu estilo de escrever muito me sensibiliza, no que agradeço. Se trato com tradicional intimidade a nossa língua é porque ela me atraiu desde a tenra infância. E isso confiro a meu pai, um homem literalmente prolífico e dado a leituras. Uma curiosa mania dele era a busca incessante, quando tinha tempo, de palavras num Dicionário Lello ilustrado, que ele comprou no Rio de Janeiro. A grafia das palavras era na ortografia antiga,da década de 40/50, com ph de farmácia, etc. O que me atraia nele eram as gravuras e o papel bom, não era papel-bíblia não. Daí, talvez, no decorrer dos meus estudos com excelentes professores no primário e secundário, esse meu estilo de escrita detectado gentilmente pelo Sr.,a quem reitero meus agradecimentos.
Minhas escusas se dessa vez me excedi no comentário.

Jorge Carrano disse...

Riva,
Logo mais teremos resultados parciais, relativos a primeira partida entre os contendores, e ficaremos sabendo seus acertos e erros. Tomara que mais erros do que acertos, pois os brasileiros ficariam em situação desvantajosa.
E relativamenete ao jogo de volta do Vasco, vira essa boca para lá (rsrsrs).
Luvanor,
Não houve excesso. Ficou muito bem explicada a origem de seu cuidado no manejo da nossa lingua, com respeito à grafia, ao emprego adequado das palavraas e às concordâncias.
Apareça sempre. Por vezes alguns amigos que aqui comparecem são um tanto irreverentes, e não perdem a oportunidade de um chiste, uma pilhéria, mas, asseguro, são todos gente da melhor qualidade.
Abraço

Jorge Carrano disse...

Real Madrid:

http://espn.uol.com.br/noticia/544255_real-anuncia-faturamento-quase-igual-a-dos-20-times-mais-ricos-do-brasil-juntos

Jorge Carrano disse...


Andrey tranquiliza a torcida e garante que jamais cogitou se desvincular unilateralmente. Por amor ao Vasco, só deixará de vestir a Cruz de Malta profissionalmente um dia se isso representar uma vantagem financeira aos cofres do clube.

- Essa possibilidade nunca passou na minha cabeça, sou muito ao grato Vasco por tudo que o Vasco fez. Sei que o clube está passando por um momento difícil e eu sempre vou respeitar o Vasco, a sua camisa e a sua história. É o meu clube do coração, é o clube que eu amo. Sempre lutarei por esses cores. Só saio do Vasco se for para ajudar e para o Vasco também se beneficiar.