Não
foi comprovada, em nossa experiência particular, uma possível discriminação artística,
no mundo das artes plástica.
A
tese que se revelou sem consistência era de que as mulheres não seriam tão
valorizadas quanto os homens no mercado de artes.
Conto
qual foi a origem da dúvida e como foi a experiência.
Estava
sentado na cadeirinha de praia ao lado do cavalete onde minha mulher expunha
suas telas, na Feira de Artesanato, do Campo de São Bento, em Niterói, como em
todo final de semana durante dois anos, entre 1996 e 1998.
Um
casal se aproximava de olhos fixos nas telas, e ao chegarem bem próximos de
mim, o homem perguntou, educadamente, “posso apreciar suas obras?” Lógico,
respondi, e acrescentei com sorriso nos lábios, estão aqui p’ra isso.
Porém não são minhas, são da minha
mulher, arrematei.
A
mulher, que já estava próxima o suficiente, fixou o olhar na parte inferior
direita, onde Wanda costuma assinar seus trabalhos, desde os primeiros
exercícios. E confirmou que não eram minhas as obras.
A
mudança de comportamento do casal foi imediata e estranha. A mulher, pegando e
puxando seu companheiro pelo braço, falou: “vamos, meu bem?”
Comentei
o fato com o vizinho expositor, um artesão que faz entalhe em madeira e tem
anos de janela no métier, o que lhe conferia a capacidade de antever certas situações,
como a que eu presenciara há uns dias.
Vinham em nossa direção (os trabalhos dele ficavam lado a lado com os da Wanda) duas mulheres. Ele, entre dentes, baixinho, comentou: “quer ver? Elas vão
comentar, bonitos trabalhos, parabéns ao artista.” E comprar, nada.
Dito
e feito, a mais velha delas, que parecia ser mãe da outra mulher, examinou
detidamente uma das talhas e comentou: “que trabalho bonito, meus parabéns”.
Apresentado
o personagem com quem comentei o episódio do casal que se desinteressou das
telas ao serem informados que eram de minha mulher, e a credencial dele para
fazer diagnóstico, conto o que ele disse: “realmente as mulheres têm menos
prestígio artístico do que os homens, e suas obras valem menos no mercado”.
Cabe
explicar que a partir do momento em que Wanda resolveu se candidatar a uma vaga
na feira citada, comecei a ler alguns dos livros, a maioria ilustrados, que ela
possui, para não fazer papel de ignorante total caso alguém puxasse conversa
comigo sobre pintura. Perspectiva, profundidade, luz e sobra, volume,
primitivismo, enfim alguns aspectos mais visíveis da técnica eu passei a
entender.
Berthe Morizot |
Li, também, biografias e observei obras mais significativas de alguns pintores e movimentos.
Assim, lembrei da Morizot, que foi primeiro modelo, antes de se tornar cunhada de Manet, um dos líderes do impressionismo, tornando-se ela mesma mestre no estilo que se afirmou no século XIX.
Djanira |
Tarsila |
Mas
seu nome não denunciava o sexo do artista, pensei com meus botões.
Lembrei, então, de Tarsila do Amaral, de Tomie Ohtaka, Djanira, Anita Mafaltti e outras famosas e mui merecidamente respeitadas pintoras que têm suas obras bem valorizadas no mercado de arte.
Lembrei, então, de Tarsila do Amaral, de Tomie Ohtaka, Djanira, Anita Mafaltti e outras famosas e mui merecidamente respeitadas pintoras que têm suas obras bem valorizadas no mercado de arte.
Ainda
assim, Wanda resolveu inovar e fazer um teste, passando a assinar Dawan, invertendo sílabas de seu nome, para camuflar a identidade feminina.
Conclusão
da experiência? Não vendeu nenhuma tela com esta assinatura.
Coincidência ou
não, a versão de que existe discriminação no mundo artístico é balela. O que
conta é a criatividade, a técnica, a inspiração e o quanto toca na
sensibilidade ou na emoção de quem admira a obra.
Ou, para exibicionistas, a extravagância da tela.
Quem
quiser saber mais sobre mulheres pintoras é só clicar em
4 comentários:
Um comportamento observvado, pelo menos em Niterói e Rio, particularmente: quem adquire obras de arte são, com honrosas exceções(que unem dinheiro ao bom gosto), os novos-ricos, que imitam os padrões da elite. Tipo comprar quadros pra, pura e simplesmente, decorar ambientes, salas, corredores e bibliotecas com livros a metro. E principalmente são as mulheres, mais sensíveis ou não, que comandam tais aquisições. A do empresário zoológico Turcão é(ou era, não sei se ainda vive) um exemplo. Em sua casa encontram-se expressivas obras do meu cunhado
paisagista.
As mulheres foram discriminadas em tudo. Hoje estão dando a volta por cima, às vezes até com exagero.
Wendy Carlos fez o primeiro disco de músicas de Bach (1969) tocadas em sintetizadores eletrônicos originais de Robert Moog (seu inventor) assinando WALTER Carlos. Em 2000 reeditou o disco usando sintetizadores mais modernos, e já pôde se identificar pelo seu nome verdadeiro.
Sarah McLachlan, cantora canadense, compositora, instrumentista, lançou um movimento chamado Lilith Fair para que as mulheres se impusessem no cenário musical norte-americano, onde eram discriminadas. Em 3 anos de apresentações com parceiras (97-98-99), 2 milhões de pessoas assistiram aos concertos.
Em 2010 tentou refazer o movimento mas não foi à frente, porque o cenário havia mudado, as mulheres já haviam conquistado espaço e não havia mais o impacto anterior.
Mesmo assim ainda há resistência. Em muitos setores. O mundo é machista desde que Deus precisou tirar uma costela de Adão para fazer a primeira mulher.
Abraços
Freddy
Li sua descrição da cena do casal 2 vezes, criei o cenário mentalmente, e para mim, amigo Carrano, o que vcs presenciaram fui uma simples e singela atitude de CIÚMES da dita cuja.
Ao identificar que realmente as obras eram da Wanda, ela se sentiu inferiorizada (por algum motivo que jamais saberemos), e não queria DE JEITO NENHUM que seu marido ficasse ali admirando o trabalho de OUTRA, que não ela, que certamente não deveria saber o que é um pincel.
Essa a minha conclusão.
Complexo de Inferioridade.
abrs, e seja o que Deus quiser !!
A benção, João de Deeeus , nosso povo te abraça !!!!!
É uma tese defensável, Riva.
Abraço
Postar um comentário