Não é necessário ser vítima de estelionato, conto do vigário, trapaça ou fraude
para aprender a ficar alerta, sempre desconfiando.
É balela de jurisconsultos, filósofos e poetas que devemos
confiar nas pessoas até prova em contrário. Não é conveniente aguardar prova em
contrário, é mais prudente agir ao contrário, ou seja, desconfiando antes.
Lembro o que disse certa feita um experiente sargento do 3º RI, onde
prestei serviço militar na primeira fase. Havia um posto de sentinela no alto
do morro. Um local sem iluminação e no meio do mato.
Antes que perguntem por que um posto de guarda em tal local,
já antecipo que era por causa dos chiqueiros onde eram criados e engordados os porcos
que iriam para a panela. Os chiqueiros eram lá.
O conselho do sargento foi que detectando algum movimento
suspeito, o sentinela deveria primeiro atirar e depois então indagar: quem vem
lá?
Mas vamos aos casos que circunstancialmente presenciei ou om os quais convivi.
Num 31 de dezembro, mais precisamente num dia primeiro do ano, pois já eram decorridas
quase duas horas do novo dia, deixei cair as chaves do apartamento no fosso do
elevador.
Retornamos (eu, minha mulher e dois filhos pequenos) ao
automóvel e sai a cata de um chaveiro para poder abrir a porta de casa. Havia
um, eu sabia, na Rua Barão do Amazonas. Ele morava no imóvel, que era uma
daquelas casas antigas, construída em terreno de pouca frente, mas uma boa
medida de frente aos fundos.
Bati na velha porta de madeira, uma, duas vezes, e nada.
Nervoso, irritado e ansioso, passei a espancar a porta. Até que uma voz no
interior da casa perguntou quem era.
Falei que era uma emergência. Perguntou onde eu morava. Respondi
acrescentando que duas crianças estavam dormindo no carro.
Finalmente abriu parcialmente a porta e espreitou a rua.
Pediu 10 minutos e voltou com uma bolsa com ferramentas e chaves virgens.
Durante o trajeto até o Ingá, onde morava, informou que todo
o cuidado era pouco, por isso a demora no atender, especialmente na madrugada.
E relatou o caso de um colega, também chaveiro, que
inadvertidamente foi atender um pedido e depois de aberta a porta da tal residência,
ficou sabendo que se tratava de um assalto.
Sabendo que os moradores estavam em viagem, o ladrão
dramatizou a perda das chaves, passando-se pelo proprietário.
Dois dias depois ficou sabendo pelos jornais que facilitara a
tarefa de assaltantes abrindo a porta sem barulho e sem emprego de força.
Segundo o relator do caso, o chaveiro que me atendia, seu
colega foi ao distrito policial onde registrado o assalto, porque a policia não
tinha nenhuma pista dos ladrões. Foi prestar informações para facilitar as
investigações e, claro, livrar logo sua cara.
Um outro caso ocorreu na banca de jornais que existia (ainda
esta lá, mas sem funcionamento), na esquina da quadra da rua onde moro.
Quando me aproximava para comprar o jornal, o jornaleiro estava
acabando de atender um sujeito, informando que lamentava não ter troco pois
acabara de abrir a banca e não vendera coisa alguma.
Quando o tal elemento se afastou um pouco o jornaleiro disse
para mim que se fosse eu com uma cédula de R$ 50,00 ele daria o troco, mas não
aquele sujeito, que nunca vira, e logo cedo, queria comprar dois pacotinhos
de figurinhas (em moda na época).
Ele deduziu que se tratava de assalto. Se ele revela ter
dinheiro na gaveta para fazer o troco, ficaria sem seu rico dinheirinho.
Não sei se foi um excesso de zelo do jornaleiro, mas “gato
escaldado de água fria tem medo”.
São muitos os perigos desta vida, já disse o
poeta.
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