8 de abril de 2014

NETOS


Não faz muito tempo aludi ao fato de ser o segundo no coração de minha mulher e dei-me por feliz por não ser o terceiro.

Estou à frente dos netos, que poderiam, e talvez devessem, estar no segundo lugar. Não estão, acho, nunca é possível penetrar no coração dos outros, por uma circunstância que, sob minha ótica, nada tem de desabonadora.

Não demos causa ao distanciamento, não por falta de amor.

O fato é que afastamos os netos com nossa intransigência quanto a comportamento. Nunca abri mão e Wanda, embora amenizasse, acabava por concordar que as crianças devem ter limites e responsabilidades, sobretudo limites.

E sempre impus os limites quando eles ficavam em nossa casa em finais de semana ou um ou outro dia em especial para que os pais pudessem ir a cinema, fazer compras, estas coisas.

E certamente eles se queixavam com os pais. Porque algumas vezes impunha castigo. Não o físico, inadmissível e impróprio. Mas ter que ficar quieto e sentado num lugar, por determinado tempo, até que fossem liberados. Castigo à moda antiga.

A desobediência era sempre o fator determinante do castigo. Nunca aceitei a desobediência. O ser criança, pura e simplesmente, não autoriza descumprir recomendações ou normas da casa e da família.

Para agravar o quadro, os pais entraram com uma boa dose de razões para que os netos não nos vissem com bons olhos. Imagino as recomendações que faziam quando vinham a nossa casa.

Lembrem-se que não podem ficar pulando no sofá, jogar bola dentro de casa, ficar gritando, e devem comportar-se à mesa. Esse devia ser o discurso dos pais.

Ou seja, ainda no terreno da especulação, as crianças viam a vinda a nossa casa como um castigo, com repressão o tempo todo, limitações e recriminações.

O fato é o seguinte, se desde a mais tenra idade a criança é orientada  de que certas coisas elas não podem fazer, irão se habituar. A plena liberdade, por filosofia, ou por não querer fazer papel de mau, é um mal que se faz.

Lembro que minha neta, ainda engatinhando, ia até a estante baixa (rack) e tirava das prateleiras todos os CDs e livros. Pior, rasgava as revistas e livros. E os pais (pelo menos o pai) toleravam.

Na minha casa era impossível fazer isto, até porque se o pai deles, meu filho, nunca fez, não há razão lógica, justificável, consistente, para que o neto faça.

Não sou, ao contrário da maioria dos avós, de achar que é vantajoso ser avô. Que é melhor do que ser pai, porque o avô pode deseducar. Fazer vontades de todos os tamanhos.

Acho que ser pai é muito melhor, por poder fazer o papel de espeque, que permite moldar o crescimento reto, no caráter e na educação que é fundamental para o convívio em sociedade.

Tenho dito.

6 comentários:

Jorge Carrano disse...

Você que é avô e não concorda comigo, não imagina o quanto o invejo.

Helga Maria disse...

Não se lamente. O tempo e a maturidade mostrarão aos netos quem você é ou foi.
Eles avaliarão com os próprios parâmetros. E outra visão do mundo.
Helga

Freddy disse...

Não tenho experiência com netos. Em princípio não desejo tê-los, mas não é uma opinião rígida.
Quanto a ter sido neto, não usufruí da condição, apesar de meus avós morarem em nossa casa. Talvez por ter sido super-ligado à minha mãe, quase não houve oportunidade de curti-los de perto.
=8-/
Freddy

Jorge Carrano disse...

Obrigado, Helga. Tomara que você esteja certa.

Tive uma relação bastante afetuosa e interesseira (confesso), com minha avó materna.
Explico o interesse: todo mês eu tinha como missão levar a casa dela (morava no Andaraí, Rio de Janeiro), uma bolsa com café em pó (Globo), espagueti (fidelinho), lata de pêssegos e outras poucas coisas que não me ocorrem.
Almoçava com ela e, na hora de voltar para casa, ela colocava em meu bolso uma moeda de dois cruzeiros ou de um mil reis, que eram parte da mesada que recebia das demais filhas.
Com este dinheiro eu fazia uma farra (cinema, Chicabom).
Bons e saudosos tempos. Seja por minha vosinha portuguesa, seja pelo preço do cinema e dos produtos da Kibon comprados nas carrocinhas amarelas.

Freddy disse...

Minha avó Carolina, a despeito de não ter quase nenhuma educação formal pois veio de uma aldeia muito pobre no interior de Portugal com 17 anos, era por mim considerada a pessoa mais lúcida e equilibrada da minha família. Os motivos não cabem aqui serem explicados, mas é a pura verdade!
Saudades.
Freddy

Jorge Carrano disse...

Repreenderam-me pela grafia de vosinha, pois o correto seria avozinha.
É que naquela época eu ainda era semialfabetizado (rsrsrs).