Não sei se acontece com vocês, mas toda vez que me disponho a
fazer limpeza nos arquivos, descarto não mais do que meia dúzia de papeis.
E, invariavelmente, depois me arrependo de ter jogado fora ou
queimado aquela meia dúzia.
Tenho muito “lixo”, segundo conceituação da Wanda. Ela sugere que eu me desfaça da papelada e
ameaça: “quando você morrer não vou nem examinar, queimarei tudo”. E arremata: "seus filhos também não quererão saber disso".
Lamento, apenas, não ter tempo para classificar e
catalogar tudo o que tenho, entre
recortes, fotos, postais, cartas, etc. E também condições adequadas para guarda e
conservação. O espaço é muito limitado.
Assim, os papeis vão amarelando nos arquivos, o cheiro de velho acontece, e acabo por dar razão a Wanda. Quanto lixo!
Mas quanta riqueza. Quantas história, quantos casos, aventuras
e desventuras.
Vou lhes dar dois exemplos de casos recentes.
Um dos meus mais antigos amigos de infância sumiu na poeira.
Nas esquinas da vida, dobrou para um lado e para o outro, subiu e desceu
ladeiras e agora que atingiu a planície de uma vida calma, ao lado da mulher,
filhos, netos e bisnetos, acabou por me achar na internet, alertado por um
genro que leu o nome dele num post aqui publicado.
Falo de Doraly José do Canto, que me surpreendeu com um
e-mail, agora no final de janeiro, depois de, sei lá, mais de cinquenta anos.
As aventuras por ele vividas e relatadas neste email a que me refiro dariam um
ótimo roteiro cinematográfico, um romance rocambolesco, uma crônica, ou pelo um
post.
Estou seguro que o surpreendi, mandando para ele, em resposta
as suas mensagens eletrônicas, uma carta que me enviou em 1962, de Mato Grosso,
para onde mudou logo depois de casar, e um cartão postal do México datado de
1969.
Vocês dirão, mas se ele era amigo você tinha mais é que
guardar a carta que ele mandou e também o cartão postal Aí direi que guardar
uma carta, que não era de ex-namorada, de um filho, por mais de 50 anos, de uma pessoa que,
imaginava eu, jamais voltaria a encontrar? Vale ressaltar que os encontros
virtuais, via internet, são fenômeno mais ou menos recente e estavam fora de cogitação quando nos perdemos nas brumas do tempo.
Fiquei contente por poder surpreende-lo mandando a cópia escaneada da carta de 1962.
Também não faz muito tempo, cerca de dois meses, foi Geraldo
Moreira Barbosa, que, estudante de Direito, estagiou no Departamento Legal da
Cia. Fiat Lux, onde eu trabalhava.
Também me achou e mandou mensagem eletrônica. Pude, em
resposta, mencionar fatos e situações que vivemos e, também, fotos da época.
Bem, quem acompanha o blog ha mais tempo, ha de lembrar que
já publiquei cartas e bilhetes recebidos por meu pai, então diretor do Diário
Oficial do Estado do Rio (décadas de 50 e 60), contendo pedidos de emprego.
Ditos pedidos são assinados por deputados federais, estaduais,
vice-governador e vereadores de Niterói. Ele, meu pai, como eu, também era um
guardador inveterado de papeis.
Como o cavaco não cai longe do pau, sigo pelo mesmo caminho.
Um comentário:
Eu também tenho problema similar. Minha esposa quer que eu jogue tudo fora e faz as mesmas ameaças, de que depois de minha morte nada mais restará. Não sou chegado a recortes e cartas, mas dezenas de milhares de fotos estão entre os ameaçados de extinção imediata. Dezenas de livros já foram doados e outras dezenas estão a caminho. Menos mal que a maioria tem informações hoje facilmente obteníveis na Internet, a perda seria mais sentimental que prática. Junte a isso os CDs e DVDs.
De tudo que perderei, algumas fotos e textos estão entre os mais sentidos. Sim, porque foto, mal ou bem, é uma expressão individual, a leitura pessoal de um local ou fato. Minha luta atual é pela digitalização das melhores ou mais significativas, ao menos poderei guardá-las em formatos menos volumosos que catálogos ou pastinhas.
E isso me traz aos textos... Quem foi Carlos Frederico? O que ele deixou? Tive 2 filhas, plantei árvores e escrevi livros. Livros?? Bem, impublicáveis. Escrever estórias contendo tabus sexuais é tido por diversas culturas como crime grave. Qualquer dia a simples revelação de que volta e meia pensamos nisso será motivo de prisão perpétua.
Brincadeiras à parte, meus livros não são tão perigosos assim, e ao menos eu tenho como legado meus textos publicados neste blog. Espero que gerações futuras saibam quem fui eu através dessas pequenas pérolas, umas boas, outras mal ajambradas, mas todas nascidas de minha mente. Talvez por isso eu goste tanto desse pequeno espaço cultural.
Abraço
Freddy
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