19 de agosto de 2024

COMOÇÃO POPULAR

 

 

Comoção, se bem entendi o verbete no dicionário, é uma manifestação de sentimento coletivo, provocado pela morte de personalidade artística, política ou esportiva, de viés popular.

Manifestação popular, verdadeira comoção de que participei involuntariamente, foi a do sepultamento de Ayrton Senna, no dia 5 de maio de 1994.

Eu morava em um flat, em Pinheiros, São Paulo, e estava de mudança para um apartamento no Campo Belo, também na capital paulista.

O trajeto, que deveria ser percorrido em alguns minutos, levou duas horas. Era muito povo nas ruas.

O fenômeno Senna, como personalidade de nível mundial, veio a me impressionar mesmo alguns poucos anos mais tarde, quando comparecendo ao sepultamento da esposa do presidente de empresa onde trabalha, acompanhei a chegada, ao cemitério, de um ônibus de turismo lotado de ... alemães que tinham ido exclusivamente para visitar o túmulo do festejado piloto de automóveis.

Cemitério Parque Morumby


Neste último sábado faleceu o comunicador Silvio Santos, e não assisti manifestação nas ruas. Seu sepultamento foi uma cerimônia discreta, ritualística, sem participação popular, embora fosse uma figura amada pelo povo.

O óbito monopolizou a programação de todas as demais emissoras de TV, nos telenoticiários, em documentários e homenagens especiais nos programas tradicionais das respectivas grades. Mas foi isso, todas as homenagens limitadas às mídias. Nada nas ruas, coletivamente.

Em 1952, quando eu contava 12 anos de idade, faleceu (num desastre) o cantor Francisco Alves, cognominado o “Rei da Voz”.

A cobertura, no rádio, foi grandiloquente. E o noticiário continha como fundo musical um de seus maiores sucessos, a canção “Adeus”.

Quem se lembra? – “Adeus, adeus, adeus, cinco letras que choram, num soluço de dor ...”

Menino, fiquei comovido muito embora ele nem fosse um artista de minha admiração.

Seu sepultamento levou muita gente às ruas:


Féretro de Francisco Alves, em 1952



Dois anos mais tarde - em 1954 - foi Getúlio Vargas, então presidente eleito, que levou às ruas uma multidão.

Seu suicídio chocou e surpreendeu o país. Guardo na memória trecho de sua carta-testamento, que reputo notável construção literária, digna de estadista: “... saio da vida para entrar na história.”

Agosto de 1954 - morte de Vargas


Dito isto, quero registrar que foi o óbito de Tom Jobim, em 1994,  que me comoveu e levou-me às lágrimas.

Gravei, em fita VHS, todos os noticiários, todos os documentários e entrevistas feitas por todos os canais de TV. Anos mais tarde contratei os serviços para colocar em DVD as imagens, e qual não foi minha surpresa ao ser informado que a fita estava colada e mofada, levando-me a perder todo material. Uma lástima!

Tom foi um gênio, admirado pela intelectualidade, pela crítica elitizada, mas pouco reconhecido pelo público em geral, senão por suas músicas de sucesso internacional.

Tom Jobim dá nome ao nosso aeroporto internacional no Rio de Janeiro.

Placa no interior do aeroporto.

5 comentários:

Jorge Carrano disse...

Antes de ser eleito pelo voto popular, em 1950, Getúlio governou o Brasil durante o Governo Provisório (1930-1934), depois como Presidente do Governo Constitucional (1934-1937), seguidamente como Presidente-Ditador durante o Estado Novo (1937-1945), totalizando 15 anos de governo sem interrupções.

RIVA Z4 disse...

De tudo que já vivi/vivenciei nesse tema de passagem de pessoas públicas de toda natureza, a que me balançou foi a do Ayrton Senna. Assisti em Friburgo o acidente na TV, saímos para almoçar e não consegui comer. A pancada foi grande, como se alguém da família tivesse falecido.
Na época (94) meus filhos estudavam no Instituto Abel, e eu fazia parte da APAMAIA associação de Pais e Mestres da escola, e escrevi no jornal da instituição um artigo (que infelizmente não guardei) intitulado "O Ivanhoé dos cavalos de aço".
Foi horrível aquele domingo.....

Quanto à comoção, procure na web o funeral do meu bisavô Dr. Guilherme Taylor March, em Niterói, em 1922.

" O sepultamento dos seus restos mortais foi uma apoteose. O povo em massa acorreu e carregou-lhe o féretro nos braços, até o cemitério, onde foi sepultado com Page 3 flores e lágrimas. A Prefeitura Municipa1 de Niterói custeou- lhe os funerais e mandou que fosse hasteado, por 48 horas, o pavilhão municipal."



Jorge Carrano disse...

Mais sobre o comentário do Riva, em chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Guilherme-Taylor-March.pdf

Inclusive o trecho:
"No dia 21 de junho de 1922, com a avançada idade de 84 anos, dos quais 63 dedicados ao exercício de atividades profissionais, desencarnou o velho apóstolo do bem. O sepultamento dos seus restos mortais foi uma apoteose. O povo em massa acorreu e carregou-lhe o féretro nos braços, até o cemitério, onde foi sepultado com flores e lágrimas. A Prefeitura Municipa1 de Niterói custeou- lhe os funerais e mandou que fosse hasteado, por 48 horas, o pavilhão municipal."

RIVA Z4 disse...

Olha a minha situação ...estou aki de plantão pra daki a pouco secar o Vitória no mega jogo deles contra o Cruzeiro ......

Fui ali !

Jorge Carrano disse...

Pelo visto suas preces foram ouvidas. O 2x2 quase foi pior.