Divagar devagar

Nos primórdios da década de 1970 trabalhei no Banco Português do Brasil, em sua sede, que ficava na esquina de Bela Cintra com a Av. Paulista.

Retornava para casa, na verdade um hotel, na Av. São João, pertinho da chamada Boca do Lixo, caminhando pela Frei Caneca, que é uma paralela da Augusta e da própria Bela Cintra.

Residi no tal hotel por 13 meses. Pagava por mês, um valor fixo, e não diárias, como se fosse uma locação convencional.

Nesta citada rua Bela Cintra morava meu amigo Mário Castelar que foi quem me indicou para o banco. Uma rápida entrevista e me vi contratado.

A Augusta tinha bares badalados, como parece que até hoje, mas na Frei Caneca havia um, modesto, tranquilo, onde se podia jogar conversa fora, como dizem alguns cronistas, molhando as palavras.

Lembrava um pouco o Manel's, aqui em Niterói, fraquentado pelos amigos Carlinhos e Irapuam.

O bar da Frei Caneca era frequentado por jovens executivos em ascensão e jovens talentos da publicidade.

Num destes encontros de final de tarde, hoje chamados de happy hour, a conversa derivou para um assunto recorrente na época, os prêmios da loteria esportiva.

O que cada um faria se ganhasse um prêmio sozinho? Devaneio total.

O primeiro a falar colocou um viés humorístico dizendo que compraria uma bela casa, com jardim gramado defronte, onde colocaria duas cadeiras tipo long chair. 

Então contrataria Pelé para ficar fazendo embaixadinhas para ele e seu filho. Alguns sorrisos, pela espirituosidade, mas só.

Por falar em Pelé, assistam, no YouTube ao gol de bicicleta mais perfeito do Rei. Basta clicar na imagem.

Já o segundo evocou Vera Fischer. Para você que é jovem e não sabe de quem se trata, e porque nós a chamávamos de deusa, vou fazer uma digressão.

O saudoso escritor João Ubaldo Ribeiro, em uma de suas crônicas bem humoradas imaginou um teste de macheza, de virilidade, que consistiria no seguinte: o cara está em seu quarto quando a Vera Fischer entra nuinha, inteiramente pelada.

Se o cara não tremesse, se os joelhos não ficassem batendo um no outro, então era cabra macho.

Sim, você pergunta, e daí? Por que a Vera Fischer foi citada? Porque quem estava com a palavra mencionou que gostaria de dormir uma noite com a Vera.

Então foi uma sonora gargalhada, estrepitosa e solta gargalhada, porque outro participante do encontro emendou: dormir com a Vera? Você passaria a noite com ela dormindo?