Pedindo licença ao festejado dramaturgo, cronista e
jornalista Nelson Rodrigues, diria que até as pedras que compõem o calçadão de
Icaraí já sabem e se acostumaram com minhas caminhadas.
Por vezes sozinho, mas geralmente acompanhado. Nesta cujo
episódio vou narrar, estava acompanhado de meu filho Ricardo.
Paramos para a água de coco. Ouço
o dono, mal-humorado, o de folhas e alguns pedúnculos de flores das amendoeiras sobre
a cobertura do quiosque: “amendoeiras aqui são um absurdo, deveriam plantar
coqueiros como no nordeste. Todo dia cai alguma coisa e tenho que limpar.”
Ora vejam só, ao invés de ser
grato pela localização de seu quiosque ser debaixo da amendoeira, o que lhe
garante sombra e frescor, fica maldizendo a árvore.
Árvore que já estava ali muito
antes dele pensar em ter ali um ponto de venda de água de coco, o que por si já
é uma privilégio, negado a muitos outros. Ademais disto as amendoeiras conferem
à orla um charme especial, com o qual nós moradores nos acostumamos e
valorizamos.
Ignora por completo o “quiosqueiro”
que as praias do nordeste, e outras paradisíacas mundo afora, têm coqueiros por
obra e graça da natureza. As correntes marítimas se encarregam do trabalho.
Contestei a opinião dele por
força do hábito, mas tinha assuntos mais relevantes a conversar com meu filho e
atalhei o assunto indo sentar para beber em paz a água do coco, geladinha e
refrescante. Além de absolutamente saudável.
E como um assunto em geral puxa
outro, por falar em natureza, uma das minhas muitas idiossincrasias é o respeito
e o amor a natureza.
Ateu não praticante, se fosse o caso de escolher uma
divindade para adorar, seria a natureza.
Se o Deus bíblico é onipresente, a natureza também é. Suas regras são tão ininteligíveis quanto as de Deus. Afinal se Ele escreve certo por linhas tortas, a natureza destrói com vulcões, tsunamis e outras manifestações incontroláveis, mas que também conduzem à evolução, de um modo ou outro.
Se o Deus bíblico é onipresente, a natureza também é. Suas regras são tão ininteligíveis quanto as de Deus. Afinal se Ele escreve certo por linhas tortas, a natureza destrói com vulcões, tsunamis e outras manifestações incontroláveis, mas que também conduzem à evolução, de um modo ou outro.
Suas regras são engenhosas, com mutações e adaptações/evoluções frequentes que estão em sua essência, para não escrever em sua natureza.
E não é que um ambientalista
destes xiítas faz um comentário e pede uma providência contra um ato espontâneo
(perdão pela redundância) da natureza? Escrevo ambientalista por não lembrar
exatamente o que o faz na vida o inconformado com manifestações da natureza.
Seria botânico, engenheiro
florestal, geólogo, ou o quê? Algo do gênero para se outorgar o direito de
fazer recomendações à administração municipal. Poderia ser um mero palpiteiro,
mas se bem me lembro da matéria publicada, trata-se de alguém com um canudo de
papel.
Pedra de Itapuca, com Icarai ao fundo |
Mas vamos aos fatos. Sabemos
todos que as pedras de Itapuca e do Índio, entre Icaraí e Flexas (sic), eram
referências, símbolos da cidade, antes da inauguração do MAC, na Boa Viagem.
Não é que nasceu e vem se
desenvolvendo um arbusto da pedra de Itapuca. Ora, brotar e crescer sobre uma pedra, não é
coisa para qualquer espécie vegetal.
Arbusto na pedra de Itapuca, visto de frente |
O mencionado “profissional” acha
que são necessárias providências porque o tipo de rocha, assim ou assado,
poderá sofrer fratura, comprometendo sua integridade.
Não é muita falta do que fazer
não? E ainda exigir da municipalidade que deixe de lado outras intervenções, estas sim importantes, para agir na disputa
entre uma rocha (pedra) e um arbusto?
E aí chego ao seguinte ponto: cabe valorizar se a preservação da pedra é mais importante do que a vida do arbusto? Ele quer que seja cortada a pequena árvore, um ser vivo, em prol da pedra inanimada?
E por derradeiro, será que ele tem uma sugestão para evitar a erosão provocada pela ação mecânica do movimento do mar (ondas) e do vento (eólica)?
Este desgaste natural, a erosão provocada pelos fatores mencionados - ventos e ondas do mar - foi responsável pela descaracterização da vizinha Pedra do Índio, que hoje não nos remete à imagem do perfil de um índio, como no passado mais remoto, quando foi batizada.
E aí chego ao seguinte ponto: cabe valorizar se a preservação da pedra é mais importante do que a vida do arbusto? Ele quer que seja cortada a pequena árvore, um ser vivo, em prol da pedra inanimada?
E por derradeiro, será que ele tem uma sugestão para evitar a erosão provocada pela ação mecânica do movimento do mar (ondas) e do vento (eólica)?
Este desgaste natural, a erosão provocada pelos fatores mencionados - ventos e ondas do mar - foi responsável pela descaracterização da vizinha Pedra do Índio, que hoje não nos remete à imagem do perfil de um índio, como no passado mais remoto, quando foi batizada.
Nota do autor: Icaraí, Flexas e
Boa Viagem são praias contíguas em Niterói. E MAC é o Museu de Arte Contemporânea.
É pau, é pedra, são as palavras iniciais da antológica "Água de março", do Tom Jobim. Apropriadas no caso colocado no texto.
É pau, é pedra, são as palavras iniciais da antológica "Água de março", do Tom Jobim. Apropriadas no caso colocado no texto.
Um comentário:
Dilma pensou em estocar vento.
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