Retomo a narrativa do ponto onde terminei a postagem que está
em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2016/07/jubileu-de-ouro.html
Dizia eu que eram melhores os tempos em que os juízes (falo
do cível) liam as petições, e despachavam, eles mesmos, assim como prolatavam
as sentenças.
Alguém que não conheça os bastidores do judiciário de primeiro grau há pensar que enlouqueci.
Alguém que não conheça os bastidores do judiciário de primeiro grau há pensar que enlouqueci.
Como assim os juízes, eles mesmos, pessoalmente, liam as
petições, exaravam despachos interlocutórios e decidiam o mérito das demandas?
Não é este o papel de um magistrado? Eles não fazem isso?
A resposta é: nem todos. Um grande número de magistrados
delega as tarefas de leitura e preparação de minutas de despachos e sentenças a
alguns dos serventuários ou secretárias lotados em seus gabinetes.
Limitam-se, alguns, a assinar estes atos. Ou por outra, agora
com a implantação do processo eletrônico, nem isso será necessário, bastando
informar sua senha para certificação e assinatura digitais.
Presidir as audiências de conciliação desde há muito eles não
o fazem, delegando este seu múnus a despreparados conciliadores do juízo, que o
mais das vezes não têm habilidade e conhecimentos jurídicos para conduzir e incentivar
uma composição amigável, limitando-se a digitar, reduzindo a termo, as
manifestações dos advogados das partes. Uma perda de tempo.
E não sabem escrever. Algumas assentadas são risíveis, tendo
em vista as barbaridades perpetradas.
As partes se queixam da morosidade na tramitação dos
processos de seu interesse, mas ignoram as dificuldades que os advogados
encontram para bem executar suas obrigações profissionais.
Uma destas dificuldades é ter acesso, o mínimo que se pode
pretender, aos processos de sua responsabilidade. Nos balcões das serventias
são atendidos em geral por estagiários que nada sabem informar e não encontram
os processos dentro do Cartório.
A juntada de uma petição (que é protocolada num setor especial
e depois encaminhada ao cartório da vara cível ou de família ) pode levar,
pasmem, dois meses ou mais. E quando é juntada aos autos, até ser aberta conclusão para encaminhamento ao Juiz, pode levar mais alguns meses.
Processos físicos. É assim ou pior, em todas as serventias |
Fácil localizar seu processo |
Qual é o seu? |
O processo eletrônico não resolveu e nem resolverá, tão cedo,
este e outros entraves na celeridade do
processo. A começar pelo fato de que as petições, enviadas eletronicamente, via
internet, não são anexadas ao processo
em tempo real. Acreditem!
Quando tenho saudade do passado, do tempo em que juízes conheciam
os processos sob sua jurisdição, é porque nós – advogados – levávamos as petições
para despacho e entregávamos de volta ao escrevente no Cartório, e este, no ato, fazia a
juntada da petição já despachada.
Antes da malsinada banca única, em cada cartório das diferentes
serventias cíveis, os escreventes eram responsáveis por determinado número de
processos. O critério de distribuição interno variava. Tanto podia ser pelo
número final do processo (exemplo: um pegava os finais 1 e 2, outro os 3 e 4,
e assim por diante), ou pela natureza da causa: despejos para um, inventários
para outro, cobranças de condomínios par um terceiro, etc.
Cansei de protocolar (e tenho as cópias) petições endereçadas
ao Juízo competente, indicando abaixo do número do processo, o nome do
escrevente responsável por ele no cartório. Este mesmo escrevente anexava ao processo
e dava andamento.
Para ter vista deste processo, éramos atendidos pelo
escrevente que era o responsável por sua tramitação. Se o caso era de juntada
de algum documentos exigido pelo juiz, entregávamos em mãos deste dito
escrevente e estava resolvido.
Agora, para juntar ao processo uma cópia xerox de um
documento, é necessário peticionar e levar ao protocolo geral. De lá a petição
com o documento é encaminhado ao Cartório da vara cível/família correspondente, onde repousará
por alguns dias numa caixa, até que um dos funcionários ali lotados faça a
juntada ao processo.
Vejam o absurdo, para juntar um substabelecimento, é preciso
fazer petição a protocolar. Por isso os processos são inchados com tantas folhas.
Fora o tempo dispendido pelo advogado e pelo serventuário, as filas no PROGER (Protocolo Geral), e os custos com
papel e tinta de impressora.
Dúvidas eram esclarecidas pelo escrevente que cuidava do
processo. Explico: se era um inventário, em fase final, bastava perguntar ao escrevente
vinculado que páginas deveriam ser fotocopiadas ou xerografadas
para instruir o formal de partilha, e ele indicava dependendo das circunstâncias
do caso.
Depois da implantação da banca única, que diluiu a responsabilidade
nas serventias, porque todos os escreventes lidam com todos os processos, no
caso daquela consulta sobre as cópias necessárias, a resposta poderá ser: “Se
for eu a processar, as páginas serão as de números tais e tais. Agora, se for
outro não sei.”
Se pensam que acabei minha retaliação, minha catarse, minha lavagem d’alma, estão enganados. Voltarei ao tema, para
continuar a apontar causas da degradação do judiciário e porque os processos
tramitam a passos de tartaruga paraplégica.
Também pode ser, que fique por aqui, não esticando este assunto, por razões supervenientes.
Nota do autor: nas serventias cíveis, em Niterói, os processos estão em armários/estantes (prateleiras), em pilhas volumosas, mais ou menos organizadas. Mas também em carrinhos e sobre as mesas.
Imagens: Google
Também pode ser, que fique por aqui, não esticando este assunto, por razões supervenientes.
Nota do autor: nas serventias cíveis, em Niterói, os processos estão em armários/estantes (prateleiras), em pilhas volumosas, mais ou menos organizadas. Mas também em carrinhos e sobre as mesas.
Imagens: Google
10 comentários:
Eu não entro nesta rouba de comentar estas coisas. Vai que o Sergio Moro manda me prender?
O só fato de ter entrado no blog já te compromete. Vai ser chamado pela PF para se explicar porque frequenta certos ambientes virtuais.
Como este blog que não respeieta as autoridades constituídas.
Eu não fiz nada. Nem sei ler. Ashuashuashua.
A troca do K pelo C e a troca do y pelo i, não evitarão sua identificação, cara Kayla.
O Ashusashuaashua foi suficiente para sua identificação.
Faz delação e entrega o Riva, o Freddy, e a Ana Maria, que são os frequentadores mais presentes.
No Twitter se comenta que vem aí a LAVA TOGA ....
Fui ali .....
Riva,
Acho que precisa mesmo lavar toga, capelo, beca, balança, martelo, a estatua de Têmis, o Palácio da Justiça ...
Antes de me incriminar, tem que processar este médico. Leia o que ele escreveu:
http://falandodebrasil.com.br/
Carrano, li hoje sua matéria sobre o assunto acima. Fiquei espantado. Como vc. sabe, aposentei-me em julho de 1990, não me revalidei minha inscrição na OAB, o único contato que ainda mantive com o Direito foi tentando ajudar meus filhos que se preparavam para concursos públicos. Como também não se interessaram muito, abandonei completamente o Direito. Naquela época, o computador ensaiava os primeiros passos para entrar no Judiciário. Você deve ter lido o meu pequeno conto "O JUIZ... ESSE", escrito pouco tempo após minha aposentadoria. Nele, sugiro algumas medidas que visavam aperfeiçoar o sistema judiciário do Brasil. No Juri, por exemplo, a extinção da longa série de quesitos que só serviam para confundir os jurados (parece que foi atendida). Também, que se gravassem em fita as audiências para que o juiz que fosse julgar o processo (se não fosse o mesmo que presidiu as audiências) tivesse uma noção melhor do que acusado e testemunhas disseram, inclusive, suas reações fisionômicas. Você me relata agora que os advogados não podem mais despachar com os juízes, que existe uma tal de banca eletrônica que centraliza tudo. É lamentável. Quando eu já estava perto de me aposentar, soube que numa comarca do interior, uma juíza recém empossada ia para o forum com a mãe a tiracolo e a colocava na ante sala do gabinete. Era a mãe quem recebia as petições dos advogados, não permitindo que os mesmos fossem despachar diretamente com a juíza. Isso demonstra apenas a insegurança de certos juízes, que têm receio de debater e conversar com os advogados. Bem diferente do meu tempo, quando após sair de um julgamento no tribunal do Juri, passava no Chamego do Papai, em frente ao forum, e lá estavam os advogados da causa, o promotor e eu batendo papo normalmente. Acho que as causas, no futuro, serão decididas pelo computador: colocam-se as petições das partes no sistema e deixem o computador resolver. Para que juízes? Promotores? Advogados? Serventuários?
Meu amigo,
Obrigado pela visita virtual e pelo depoimento que corrobora, de certo modo, o enfoque que dei ao texto.
A degradação do Judiciário é lamentável sob todos os aspectos. É com muita tristeza que venho testemunhando este aviltamento, que coloca o poder na vala comum com o legislativo e o executivo, estes desde há muito corrompidos e assaltados por incompetentes, oportunistas e delinquentes.
Juiza condenada.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1800111-tribunal-manda-prender-juiza-por-venda-de-sentencas.shtml
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