4 de abril de 2022

O trote

 

Não, perdão se o induzi a erro, não vou falar de Bolsonaro. O trote a que me refiro, absolutamente inadmissível, foi o aplicado por veteranos nos calouros de medicina veterinária no Paraná.

Leiam a matéria em:

https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2022/03/31/calouros-sofrem-queimaduras-em-trote-da-ufpr-o-que-se-sabe-e-o-que-falta-esclarecer.ghtml

Durante minha fase estudantil fui vítima de trote por duas vezes.

A primeira delas foi quando de meu ingresso no Liceu Nilo Peçanha. Um veterano conhecido como Caguta, mais forte e mais idoso do que eu, resolveu que eu deveria fazer uma declaração de amor, tão verossímil quando eu pudesse.

Escolheu ninguém menos, do que Luana Catunda, para vítima de minha declaração. Ela era, se bem me lembro, uma das mais bela estudantes do Liceu, na época.

Isto foi bom para mim? Facilitou as coisas? Qual nada!!! Piorou e muito. 

Sem namorada, aos 15 anos, vi-me diante do seguinte dilema: cumpro a missão, com a maior dignidade possível, me desvencilho do castigo (que não sei qual seria) e pronto. Ou capitulo, e cedo à tentação de levar a sério a tarefa e tento conquistar a bela estudante?

Francamente não lembro como procedi. Sem amigos ou conhecidos na escola, diante de uma situação inédita,  tremendo e gaguejando, acho que paguei mico.

Mas a tarefa foi dada como satisfeita. UFA!!!

A segunda vez foi quando prestei exame para ingresso na Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Foi realizada na unidade localizada  em Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. 

Enquanto aguardávamos, estando no pátio,  fui abordado por um cadete veterano que me impôs raspar os primeiros pelos do bigode. Informou o número de seu armário, no alojamento, e esclareceu que na primeira prateleira eu encontraria um lâmina de barbear, velha e enferrujada, e deveria utilizá-la para a missão.

Assim fiz, com todo cuidado, e não me feri. Ficou ardendo um pouco, somente.

Outros candidatos tiveram tarefas menos arriscadas, como cederem suas sobremesas (faríamos refeição no local) para os antigos estudantes.

Quando do ingresso na Faculdade de Direito não fui vítima de trote. Nos últimos anos o que tenho visto são calouros pintados, como índios, ou com copinhos de plástico arrecadando moedas, junto aos transeuntes,  que seriam utilizadas em "chopadas" entre os veteranos no final do dia.

Na verdade a maioria dos calouros curte os trotes  e até fica feliz por poder exibir seu êxito para ingresso no ensino universitário.

Mas, cá para nós, jogar creolina nos futuros colegas de profissão é demais.




Um comentário:

RIVA Campeão disse...

Meu único foi quando entrei na faculdade, rasparam meu cabelo e pintaram meu couro cabeludo com zarcão .....

Alguns tiveram que desfilar nus no ginásio de esportes, e outros tiveram suas carteiras de identidade rasgadas !!!!

Só isso ..... tudo comandado por um débil mental, feio pra c........, nitidamente uma pessoa infeliz e recalcada, acompanhado por um bando de malucos.

A porrada comeu solta e deu até polícia ... isso em março de 1970.

A inimizade rendeu muitas brigas por alguns meses dentro da faculdade.