1 de novembro de 2018

Filosofia caseira


Muitas das “receitas caseiras” da minha infância, da infância de minha mãe, de minha avó e assim por diante, quase todas originárias da sabedoria popular, nascidas e desenvolvidas entre tribos africanas ou nações indígenas da pré-história brasileira, acabaram por ser validadas cientificamente, aprovadas pela ANVISA e estão hoje no mercado como produtos industrializados.


A filosofia mundial nasceu meio que assim, penso eu. Ou seja, ninguém nasceu filósofo e nem se propôs a fazer filosofia ao longo da vida. Foram a vivência, a experiência acumulada, o habitat, seus relacionamentos interpessoais, conquistas e decepções, alegrias e tristezas, seu senso de observação, sua perspicácia, tudo somado, é que levaram um ou outro indivíduo, da antiguidade clássica, da idade média, do renascimento e nos tempos modernos,  a serem tachados de filósofos.

Alguns como justo e merecido título; para outros uma deferência imerecida.

Também sou filósofo. Desenvolvo minha “filosofia caseira”, para uso doméstico.

Assim é que no terreno religioso, por exemplo, criei conceitos, crenças, fé e hábitos o mais das vezes controversos e questionáveis. Até por falta de coerência.

Nascido em família cristã, fui batizado e fiz primeira comunhão. Fui coroinha na paróquia local de minha infância. E quando o sacerdote proclamava “Dominus vobiscum” respondia mecanicamente “Et cum spiritu tuo”.

Imagem pinçada na internet

Decoreba eis que àquele tempo não havia nem estudado rudimentos do latim, o que só veio a ocorrer no curso ginasial, algum tempo depois.

Ainda assim tendo casado na igreja católica e tendo um santo de devoção, não creio em Deus. Ou tenho razões para duvidar da existência de um, tal e qual os homens o criamos. Sim porque o homem não foi criado por Deus, os homens criamos Deus.

Santo de devoção é um capítulo a parte em minha filosofia. Tenho enorme fé e confiança em São Jorge. Com justas razões, sob minha ótica estreita e apertada.

Fui, em muitas oportunidades, alvo de sua proteção, ajuda ou inspiração. Você poderá dizer que foram meras coincidências. Tendo pedido ou não, e confiado na ajuda que receberia, as situações se resolveriam da mesma forma porque estava escrito que assim seria. Será?

Não peço a torto e a direito, da mesma forma como o reizinho do minúsculo planeta não pedia a seus generais que voassem de flor em flor tal qual borboletas (licença Saint-Exupéry).  Ou que o sol se pusesse às 14 horas. É preciso senso comum, de realidade, de medida.

Tendo em mente – e tenho sempre – que em nem tudo serei atendido e portando não posso ficar decepcionado e me sentindo abandonado, caso não seja atendido ou não aconteça tal e qual pretendia,  não custa apelar para uma entidade, força da natureza, energia ou anjo da guarda.

Pedirei se necessário ajuda para curar uma doença grave. Mas não me permitirei pedir a imortalidade. Então o que ocorre?  Se estiver determinado no meu chip que morrerei daquela doença nenhum santo, orixá, ou energia irá me curar dela.

Entretanto eu não sei se deverei morrer daquela moléstia, naquele momento. Então porque não pedir proteção e ajuda, desde que não sendo atendido me revolte com o santo de fé. Haverá um momento em que ele nada poderá afazer. Nem ele e nem ninguém.

Todos estamos programados para morrer. Todos os seres vivos. E assim será queira ou não o próprio Deus, se ele existir. Porque somente ele seria imortal.

Por enquanto sou agnóstico. E me comovo com cenas como a que presenciei num filme nacional. De um casebre humilde sai um nordestino com uma criança recém-nascida no colo. A criança estava desnutrida em alto grau, parecia pele e osso, esquálida.

Logo adiante de sua casa, havia um pregador rodeado por alguns moradores igualmente maltrapilhos, descalços. O homem com a criança morta ao colo indaga em voz alta para o pregador: - Seu Deus mata criancinhas? Fica a pergunta.

Tal ocorrência, a morte de crianças inocentes, remete-me a uma crença dos espíritas. A reencarnação.

Muitos sustentam que na reencarnação voltamos a uma vida material para expiar pecados ou acabar de cumprir missões que ficaram inacabadas, mas que eram importantes para nosso crescimento espiritual.

E o natimorto, aquela vítima do cordão umbilical que nem respirou por vias próprias, autonomamente? Pior, e os abortos espontâneos, indesejados?

O que o feto teria a ver com desenvolvimento  e aperfeiçoamento de seu espirito. AH! Não havia ainda um espirito incorporado?

E quando é que um espirito desce do poleiro das almas (licença Ubaldo) e assume um corpo físico? Na concepção ou no parto com o corte do cordão?

O espirito decide unilateralmente? Escolhe um ser prestes a ter vida e se incorpora?  Poderia ser em outro animal que não o homem?

Amanhã irei me dedicar a raciocinar, pensar melhor dizendo, como seria se tivéssemos evoluído de um réptil ao invés de um primata.

Mas irei poupa-los da leitura. Prometo.

3 comentários:

Paulo Bouhid disse...

Bom dia, Jorge... com respeito à sua assertiva no penúltimo parágrafo: já que os primatas evoluíram dos répteis, thus all we did!!!

Jorge Carrano disse...


Paulo, bom dia!

Seria melhor se você não me tivesse outorgado um diploma de burro logo pela manhã.
O que estava fadado ser uma pilhéria transformou-se numa tese antropológica, com apoio da teoria do naturalista Charles Robert Darwin.
Abortou minha ideia de iniciar o post sequencial sobre filosofia exatamente pela assustadora pergunta.
Agora, com um atento seguidor, culto e inteligente, deverei me abster das considerações perfunctórias, sem um espeque científico, e purificar, tanto quanto possível, o que vou colocar para compartilhamento.

Para quem chegou agora, vale transcrever o lecionado na Wikipedia:

"Os répteis surgiram há cerca de 300 milhões de anos, tendo provavelmente evoluído de certos anfíbios. Foram os primeiros vertebrados efetivamente adaptados à vida em lugares secos, embora alguns animais deste grupo, como as tartarugas, sejam aquáticos. A Terra já abrigou formas gigantescas de répteis, como os dinossauros."

Terei que revisar o post que estava em incubação para adequá-lo ao nível de leitores como o Paulo. Esqueci de um ensinamento sobre oratória, aplicável à comunicação escrita: dirija-se à plateia, geralmente heterogênea, como se estivesse falando com um intelectual. Ou com o mais inteligente dos presentes.

Paulo, a sério, meus agradecimentos. A uma por me distinguir com suas visitas e comentários sempre pertinentes. A duas por não ter ainda aforado ação de cobrança ou obrigação de fazer, em face da inadimplência relativa ao pagamento de uma água de coco, no calçadão.
Abraço.

Paulo Bouhid disse...

Vc sabe que sou um admirador incondicional do Sagan. A banda islandesa "Nightwish", que esteve há pouco tempo no Brasil, tem uma música dedicada a ele, "Sagan". E p q estou falando isso? Veja um dos vídeos dessa música (não é dito quem o produziu), especialmente o trecho a partir de 2:45 a 3:40. A letra da canção é irretocável: "Ousando ver além dos feitos do Homem...".

https://www.youtube.com/watch?v=LlJHWCP4oaY

Quanto ao coco, minhas chances aumentam com a chegada do verão...

Abs.