30 de novembro de 2017

Os limites da fé

Antes de coisa alguma devo corrigir o equivocado título. A fé tem sempre que ser ilimitada. Caso contrário não seria fé.

O que tem limite é o resultado esperado. Não se pode, mesmo com fé cega e forte, esperar mais do que seja contrário à natureza.

Sejam suas preces endereçadas a um santo católico, ou a um orixá, aos Devas, a Jeová, a Buda  ou ao próprio Deus diretamente, não há como esperar ser atendido em qualquer hipótese.

E já me apreço em explicar. Podemos pedir a cura de uma pneumonia e, tomando as medicações e seguindo as demais prescrições médicas, confiar na cura.

Mas não podemos, por exemplo, pedir que nos livremos da morte eminente em face de uma metástase avançada.

Ainda trago na memória a visita do principezinho à região dos asteroides de números 325 a 330. Num deles havia um rei, sem súditos. Logo, a chegada do príncipe deixou o rei muito orgulhoso eis que significava que passaria a ter um súdito.

O planeta era minúsculo. O rei era absolutista e não tolerava desobediência. Arrostava seu poder e direito de em tudo mandar.

Estabelecido o diálogo entre eles, o principezinho, com toda reverência e humildade, pergunta: - Majestade eu vos peço perdão por ousar interrogar-vos, mas sobre quem reinas? O rei responde simplesmente que reinava sobre tudo.

O príncipe quer confirmação: - Sobre tudo mesmo? E o rei reafirma: - Sobre tudo isso. - As estrelas vos obedecem? - Sim, não tolero indisciplina.

Não, não vou ficar aqui narrando parte do livro que era leitura obrigatória das misses no Brasil. Darei um salto para chegar ao ponto que pretendo.

Se o rei era atendido em tudo, governava sobre tudo, poderia atender um pedido do principezinho que queria ver um pôr de sol.  - Ordenai ao sol que se ponha, pediu.

E o rei: - Se eu ordenasse a um general que voasse de flor em flor como borboleta ou se transformasse em uma gaivota, quem estaria errado, eu o ele?
- Seria vossa majestade. - Pois então; só se pode exigir de cada um o que cada um pode dar. Eu tenho direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis.

A conversa entre eles prossegue e o rei explica que o principezinho terá o por de sol que desejava, no horário adequado e de praxe, por volta das sete e quarenta.

Falando de mim, assim é que enxergo meu santo protetor, a quem peço que me proteja do mal e não me deixe cair em tentação, como contido na oração do Pai Nosso.

Ele me ajudara em tudo que seja razoável. E ainda assim se eu esgotar o que me caberia fazer também. Desistir da luta, e "entregar para Deus", como fazem alguns não é a melhor solução.

Pedir para não morrer seria absurdo. A imortalidade da matéria, do corpo, não é da natureza humana. Logo, imagino, não é falta  de fé não pedir o absurdo, o irrazoável.

Devo me contentar com a imortalidade da alma, se como suspeito, sem convicção mas com grande respeito, o espírito é imortal.

Mas não enveredarei por esse caminho. Não hoje; este tema ficará para uma próxima oportunidade. 

6 comentários:

Jorge Carrano disse...

Tenho o bom senso de não pedir e nem esperar coisas não razoáveis.

Perder ou diminuir a fé porque não foi atendido em um pedido, significa que não havia fé verdadeira.

A fé ajuda, mas não resolve todas as situações. É preciso ter juízo, ser racional e senso de medida.

Ana Maria disse...




Também considero que deve haver o bom senso nos pedidos aos santos ou outras manifestações. Porém acredito em milagres, ainda que com limites razoáveis.
Em casos de dor intensa ou iminente desenlace próprio ou de alguém amado, perdemos a razão e ousamos implorar por cura de casos terminais. Como creio firmemente em Deus e conheço as regras do jogo, rogo para que os médicos tenham se enganado sobre a gravidade ou para que surja uma droga potente que "cure até defunto" como dizia uma música antiga ao citar a penicilina.
Nessas situações oramos confiando no atendimento do pedido mas conservando um plano B. Que seja feita a vontade do Pai, mas que o doente seja poupado da dor.




Jorge Carrano disse...

Ana Maria é uma pessoa idosa (rsrsrs). Por isso devo informar aos mais novos que ela se referiu a uma marchinha de 1953 (vejam só!), de autoria de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, e gravada apor Linda Batista.
Vejam a letra.


Marcha Da Penicilina
Linda Batista

“Ai!
Penicilina cura até defunto!
Ai!
Petróleo bruto faz nascer cabelo!
Mas ainda está pra nascer o doutor
Que cure a dor de cotovelo!
Ai, ai, ai!
(bis)

Vem desde os tempos de Adão
Esta dorzinha infernal.
Foi comer maçã,
Logo que mordeu,
O cotovelo doeu!”

Jorge Carrano disse...

Não consegui ver muita relação entre o texto da postagem e a letra da marchinha.

Aproveito para perguntar a Ana Maria, que afirmou crer firmemente em Deus, porque alguns pedidos são atendidos e outros não?

Todos nós não seríamos filhos d'Ele?

Ou seria porque vale o que está escrito, como no jogo do bicho? Ou seja, há um roteiro, um script, um destino traçado e dele não conseguimos nos arredar, com ou sem preces e fé?

Ana Maria disse...

Todos têm direito, mas aqueles que se aproximam do Pai recebem o apoio da fé. Já está provado científicamente que a oração ajuda na cura.
Fiz referência à marchinha pois a letra afirma que a penicilina cura até quem já morreu. Conseguiu captar a relação com o texto?

Jorge Carrano disse...

Já que informei sobre a marchinha, vale facilitar para quem não leu "O Pequeno Príncipe".

O link abaixo levará ao capítulo X, onde se encontra a visita do prícipezinho ao minúsculo planeta.

http://opequenoprincipe.xpg.uol.com.br/11.html

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