2 de dezembro de 2020

COISAS QUE FICARAM EM MINHA MEMÓRIA

 

Por  

RIVA                                      
                                                                                                                                                 

 



A sugestão de pauta é no sentido de expormos aquelas passagens marcantes, marcantes mesmo, de qualquer natureza, em nossas vidas, a qualquer época. Claro que vai de cada um querer expor ou não, mas essa troca deve ser bacana se houverem coincidências entre os relatos. 

Para exemplificar, lembro que quando li o livro O CAÇADOR DE PIPAS, cuja estória se passa no Afeganistão, fiquei impressionadíssimo constatando que muitas brincadeiras da minha infância eram exatamente as mesmas lá no Afeganistão, que acho nem sabia que existia na época. 

Se eu for relatar todas as coisas marcantes em minha vida, não termino hoje. Então vou começar com uma delas, e creio que cada um deva fazer o mesmo, para irmos desenvolvendo o tema. Convido as meninas a participarem !! Espero que compareçam. 

Coisa 1 – Minha primeira viagem aos EUA 

Foi um divisor de águas em minha vida. Eu simplesmente era fascinado pelos EUA, pelo que via e ouvia do dia a dia dos jovens, pela música dos anos 60, pelos aviões da Boeing e da Douglas, pelos jeans, pelos tênis, por NY, enfim, por tudo. 

Imaginem então um jovem de 16 anos desembarcando lá, em 1969, pela 1ª vez, depois de um longo voo num DC-8 colorido da Braniff, que tinha alguns passageiros ilustres : Mick Jagger e Keith Richard dos Rolling Stones, tocando violão durante umas 3 horas do voo !! Foi um choque anafilático ! 

A primeira coisa que fiz quando cheguei em Miami numa escala de horas, foi ir correndo numa loja comprar meu tênis Converse All Star branco, sonho de consumo no Brasil, e o LP do Steppenwolf que eu já sabia que tinha sido lançado, pelo programa do Big Boy. 

Vou tentar resumir as coisas impactantes que vi, vivi e senti nessa viagem maravilhosa :

- a TV colorida da casa onde me hospedei, em Baltimore.

- ver ao vivo as casas sem muro como via nos filmes, com aquela tradicional caixa de correio na entrada.

- neve, sim, a neve !!!! Fiz meu boneco de neve, que dei o nome de Walker. Cheguei a pegar 17º abaixo de zero !

- andar em carros hidramáticos.

- conversar com um jovem recém chegado do front no Vietnam.

- todos os “bailes” que fui lá, inclusive um com o Greatful Dead tocando ao vivo !!

- conhecer NY !!! Empire Estates, Estátua da Liberdade, ONU, Central Park, Greenwich Village (bairro hippie da época).

- comer um autêntico hotdog americano.

- comprar as fantásticas blusas e flâmulas de universidades americanas.

- comer milho nas refeições – não se comia no Brasil.

- as máquinas de cigarro … eu fumava na época.

- os tapetes que abriam as portas – fiquei brincando com um, até um guarda me chamar a atenção.

Esse tsunami de imagens e emoções me marcou profundamente, fui um privilegiado em poder vivenciar tudo isso numa época difícil para muitos. Foi também uma experiência de vida longe dos meus pais, num país distante, me virando com a língua inglesa. Uma ligação telefônica era através de telefonista, e demorava até 2 horas para se completar. 

18 comentários:

Jorge Carrano disse...


Das coisas elencadas a que mais gostei foi ter podido comer um cachorro quente original, um autêntico hotdog americano.

Jorge Carrano disse...


A eliminação do Flamengo ontem, em casa, tendo "o elenco mais forte da América Latina", teve requintes de crueldade.

Empatar no final, e reacender a esperança, e perder nas penalidades foi sofrer duas vezes.

Ouvi muitos fogos e buzinas comemorando a derrota porque a maior torcida do Brasil é dos que não toleram o time da urubuzada.

Calfilho disse...

Excelente texto, Riva. As experiências pessoais de cada um de nós são únicas e encaradas sob o ponto de vista individual de cada pessoa. Tudo nos influencia: época em que nascemos, o período de vida que estamos relatando, a educação familiar que tivemos, o que fstores externos contribuíram para determinada experiência.
Carrano: a derrota do Flamengo, para os botafoguenses, tem um gosto especial: quem perdeu o penalty decisivo foi o "traidor" Arão...

Jorge Carrano disse...


Sem esquecer do Vitinho, outro ex que desperdiçou um pênalti para o Flamengo contra o São Paulo, pelo segundo jogo das quartas de final da Copa do Brasil.

E ontem se fartou de perder gols.

Calfilho disse...

Mas, o Vitinho não é "traidor". Foi vendido para o exterior e seguiu sua carreira. Já o Arão, não. Estava encostado no Corinthians, veio para o Botafogo, fez um bom campeonato na 2a. Divisão, havia uma cláusula de que bastava o Botafogo depositar 400 mil e o empréstimo automaticamente seria renovado. O clube fez o depósito, mas o olho grande do Flamengo cresceu e aliciou o jogador. O problema foi parar na Justiça, parece que o Botafogo ganhou, não sei como está atualmente. Bem feito para o Botafogo, que está virando vitrine para jogador. Bem feito também para o Ceni... o Fortaleza está te esperando mais uma vez... Bem feito também para o Arão..."você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão..."... Só rindo...

Riva disse...

Na 1ª foto está Jorge Roberto Silveira, ex-prefeito de Nikity. Viajamos juntos. Na época ele era guitarrista da banda Os Corsários, que tocava nos bailes do Central, Regatas, Pioneiros.

Tivemos uma "aventura" inesquecível em NY, porque ele queria comprar um pedal Wah-Wah para sua guitarra, e fomos parar nós dois, à noite, em Greenwich Village comprando LPs e o pedal.

Para quem não é dessa "praia", nessa época (governo militar) as músicas e os LPs que escutávamos no programa do BIG BOY, só chegavam nas lojas do Brasil 6 meses depois de lançados no exterior.
Então vcs podem imaginar como nos sentimos entrando numa loja de discos em NY !!!!! E podendo comprar tudo - não existia cota.

Os LPs eram muito pesados, bolachões mesmo. Trouxe uns 20 para o Brasil, dentre eles as novidades do Led Zeppelin, Steppenwolf, Doors, Bee Gees, Vanilla Fudge, Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who, Stones, Beatles, e tantos outros. Acho que Jorge Roberto trouxe quase 60 !!!!



RIVA disse...

Complementando com futebol ....

Tenho uma estranha aversão por algumas personagens do futebol, dentre eles o Mânus Mefezes (apelido dele no Twitter), o Arão por sua petulância dando entrevistas quando foi para Aquele Time do Mal, e o Ceni por sua postura ética e falta de humildade em NUNCA aceitar seus erros.

Então, me diverti MUITO ontem.

Hoje tem jogão : M.United x PSG.

Jorge Carrano disse...


Riva,
No Rio de Janeiro, a Casa Palermo, de discos, por trás da Galeria Cruzeiro, e o imponente Hotel Avenida, que desde 1960 virou o Edifício Avenida Central, no nº 156 da Av. Rio Branco era onde comprávamos os lançamentos musicais.

Nesta referida Loja Palermo era possível comprar todas as novidades fonográficas lançadas no mercado mundial, em especial no norte-americano.

Aqui no blog discutimos muito sobre esta loja e inclusive a lenda de que no chafariz que tinha na frente do estabelecimento havia um jacaré.

Para rememorar o assunto, acessar:

https://jorgecarrano.blogspot.com/2018/06/bons-tempos-parte-ii.html

(selecionar o endereço e colar na barra do navegador).


Riva disse...

Minha geração só tinha 2 opções para aquisição de LPs na época do governo militar : a Gramophone e a Modern Sound, ambas em Copacabana. E os discos levavam meses para aparecerem para venda.

Também em Copacabana tinha um bar que vendia cigarros importados - Philip Morris, Marlboro, Camel, Benson & Hedges, Parliement, entre outros. Eu cheguei a ter uma grande coleção de maços de cigarros importados. Íamos lá apenas para comprá-los !

Nessa época - maravilhosa - também íamos nos navios de guerra americanos quando eles atracavam na Praça Mauá, para comprar calças jeans dos marinheiros !!!!

Fui ali chorar de emoção ... volto depois .....



Jorge Carrano disse...


Nos anos 1960 eu trabalhava na Cia. Fiat Lux, cuja sede ficava na R. Visconde de Inhaúma.

A diretoria tinha um "contrabandista de confiança" e eu aproveitava para comprar cigarros e whiskies.

Ha ha ha ha

Riva disse...

Posso pontuar mais algumas coisas marcantes dessa viagem sensacional que ganhei numa época e numa idade maravilhosas.

Por exemplo, os carros hidramáticos. Eu comecei a dirigir com 14 anos no Simca Chambord do meu pai. Um dos caras que saíamos nos EUA já tinha carteira, lá tiravam com 16 anos ...imagina a minha inveja,rsrsrsrs,ainda ia esperar 2 anos ! E nunca tinha entrado num carro que "não passava as marchas". Pra mim era uma hiper novidade estar dentro de um.

Parece coisa boba, mas não é, na época era marcante qqer novidade, como as tais máquinas de maços de cigarro.

Olhem essa : quando cheguei em Baltimore, a família americana me recebeu no aeroporto, e no trajeto para casa, eles colocaram minha mala no bagageiro do teto da Station Wagon deles. Pois bem, a mala caiu no caminho e foi estraçalhada pelo carro que vinha atrás do nosso.

Sintam o cenário .... eu com 16 anos, num país de lingua estrangeira que não dominava muito bem, longe de casa e de tudo, e sem sequer uma cueca para vestir !! Me levaram numa grande loja, chamada TWO GUYS, onde simplesmente gastei uma grana comprando roupas de frio, era janeiro !!

Um fato que me espantou na época era o horário de jantar deles .... tipo 18 horas ! E iam se deitar às 21h. Eu estava acostumado no Brasil a jantar às 20h e dormir tarde. Resultado, toda noite invadia a cozinha umas 23h pra traçar um sanduíche e uma Coca-Cola !

Não tinha um irmão americano na casa onde fiquei. Fui colocado numa família que tinha 5 filhas ! Isso mesmo, 5 meninas dos 3 aos 15 anos. E um gato ...

Meu dia a dia durante a semana era High School das 7:30 às 14:30h, ouvir e gravar muitas músicas com o gravadoe stereo que comprei logo, sair à noite para visitar amigos da família e amigos brasileiros que estavam por lá, festinhas/bailes, e passeios de fim de semana, muitos.

Fui à Academia Naval de Anapolis, fui visitar tudo em Washington e fiquei muito estranhamente impactado no túmulo do Kennedy (com a chama eterna), fui a Gettysburg onde foi travada a última batalha entre o Norte e o Sul, NY passei fins de semana, enfim .... enfim ......



Calfilho disse...

Aqui, em Niterói, a loja de discos mais badalada, era a "Sabiá Discos", na rua José Clemente, quase em frente à Pastelaria Imbuhy. Ali comprei, em 1958, o LP "King Creole", com Elvis Presley, com as músicas do filme do mesmo nome. Mas, também Nat King Cole em Español, Frank Sinatra (All the way), Maysa (Meu mundo caiu), Marisa gata mansa, Sylvinha Telles, João Gilberto, Neil Sedaka, Paul Anka, Agostinho dos Santos, Ray Coniff. E, já na década de 60, em algumas idas ao Beco das Garrafas, em Copacabana, comprei discos de Nara Leão, Marcos Valle, Tom Jobim, Orlan Divo, Sérgio Mendes (que morava em Niterói). E, na década de 80, nuns finais de noite no dancing Avenida, vários LPs de Jamelão.

Calfilho disse...

Essa experiência de intercâmbio, de viver algum tempo com uma família estrangeira, na nossa época não existia, não é Carrano? Acho isso extraordinário para o desenvolvimento do adolescente:além de aprender uma nova língua, convive com outra cultura, com outros costumes. Apesar de eu ter ido à Europa com 14 anos, não vivi essa experiência de ter morado com uma família europeia, de ter estudado numa escola de outro país. Mas, aquela viagem, feita em 1957, marcou-me muito para o resto da vida. Hoje, isso é corriqueiro...

Jorge Carrano disse...


Hoje, pela UEFA Europa League, o Arsenal venceu o Rapid Wien pelo placar de 4X1, jugando no Emirates.

Vale como destaque a presença de público depois de 9 meses de proibição. Foram 2.000 torcedores.

Riva disse...

Então, Carlos, conte-nos mais sobre esses detalhes da sua viagem, o que representaram pra vc, o que foi marcante.

A experiência que tive foi espetacular, até pela época que foi, existia uma diferença abissal entre os 2 países.

Lembro que numa aula de Geografia, fui chamado à frente da turma onde tinha uma Mapa Mundi no quadro negro.
Desafiei os "colegas" a me apontarem onde era o Brasil. Não é sacanagem, NENHUM dos alunos soube dizer !!

Mas sabiam exatamente onde era o Vietnam, e o RUSSO era matéria obrigatória na escola !

Um detalhe : na visita à Casa Branca, apertei a mão do Spiro Agnew ! Tenho a foto !!!


PS: kd elas ??


Jorge Carrano disse...


Não, Carlinhos, na nossa época acho que não havia este tipo de intercâmbio, tínhamos apenas o epistolar, na época do Liceu.

Tive uma correspondente em Santa Fé, na Argentina e uma em Lyon, na França. Conservei as cartas até alguns poucos anos, quando uma mudança de casa, cidade e até de Estado, levou-me a desapegar.

O maior arrependimento foi não haver conservado as 352 cartas que trocamos - eu e Wanda - durante o período de namoro e noivado.

Ana Maria disse...

Achei mais emocionante a viagem no mesmo avião com seus ídolos, ainda mais dando "canja".
Faço ideia da excitação da viagem em si, somada a esse tremendo bônus.

RIVA disse...

Ana Maria, vc não imagina o susto !

Nosso voo era Rio - Campinas - Lima - Miami - Baltimore. Nessa época não havia fingers, claro.

Na escala em Campinas, descemos do avião, lembro que no bar só tomei uma Coca-Cola, e na hora de caminhar até a escada do avião, o susto !!!!!!

Juntos conosco, Mick Jagger num terno cor de rosa, Marianne Faithfull, Keith Richards com uma mulher que não sei até hoje quem era. Foram de 1ª classe até Lima, tocando violão, cantando, para raros e felizes fãs.

Somente há alguns anos soube porque estavam por aqui escondidos .... numa fazenda de um amigo brasileiro no Mato-Grosso. Na moita !

PS: e o Vasco ontem, hein ? Fiasco ....