Gostei da ideia de repetecos. O blog nem engatinhava, em 11 de dezembro de 2009, portanto há dez anos, publiquei este post, que é encontrável em:
O post teve poucos acessos e apenas dois comentários. Dos irmãos March. Não, não me enganei, foram os March mesmo.
Os irmãos Marx eram o Chico, Harpo, Zeppo e Gummo, grupo de comediantes que fez teatro e cinema, não tiveram oportunidade de conhecer este blog.
O elogio do Carlos Frederico (que seu espírito siga em paz o seu caminho), na época afagou meu ego.
Leiam abaixo a postagem:
11 de dezembro de 2009
Os animais
Nossa afinidade e dependência com e em relação a outros animais remonta ao paraíso. Afinal, sem a serpente, talvez Adão tivesse morrido virgem. Aceito as razões de quem afirma que a maçã teve mais importância, mas estou falando de animais e não de frutas. Ademais, é possível que Adão estivesse de olho na maçã da Eva, mas faltava incentivo para prova-la. Havia o desejo, mas faltava a coragem. Daí a importância da serpente, que fez um belo marketing e convenceu Adão de que deveria, pelo menos, dar uma mordida. Sim, procede o reparo, aquela ave do glu-glu-glu deve ter feito algum movimento a favor, mas isto confirma a assertiva pois o que é uma ave senão um animal de penas.
Passado algum tempo, Rômulo e Remo, à deriva numa canoa, salvos e amamentados por uma loba, deram origem a um dos maiores impérios do planeta. De dar inveja ao Bush. O fato de ter sido uma loba, e não qualquer outro bicho a alimenta-los, talvez explique o porquê do cachorro acreditar nos homens. Tem sentido, não consta que já crescidos tenham os irmãos comido a loba. Ficou registrado nos genes, afinal são os lobos da família canidae, que o homem é confiável. Desde que não seja chinês, claro.
Em certas circunstâncias, o valor intrínseco do animal, decorrente de sua natureza, supera em muito seu valor corrente de mercado, como bem fungível. Houve Rei, está aí o Shakspeare, com toda sua credibilidade, que não me deixa mentir, que trocaria seu reino por um cavalo. E proclamou isto aos quatro ventos.
No estábulo, em Belém, não fora a generosidade do burro, da vaca e dos carneiros, cedendo a manjedoura, e teríamos Jesus deitado no chão. Ficamos devendo aos citados bichos a deferência para com o homem que veio para nos salvar. Uma referência muito especial ao jumento, que permitiu a fuga dele das garras de Heródes. Sem o jumento, adeus cristianismo. Ou à Deus cristianismo.
A teoria da dúvida não teria a menor graça se não houvesse galinhas, a nos deixar sem saber se estas precedem aos ovos, ou se vieram depois. Está certo, sempre se poderia utilizar outro ovíparo, como a tartaruga. E perguntaríamos, quem nasceu primeiro, a tartaruga ou o ovo? Mas tal fato confirma nossa tese da importância dos outros animais na vida dos homens.
A mitologia greco-romana fazia muita justiça, mas também injustiça, a vários animais. O minotauro e o centauro, deixam no ar a questão de quem era ativo ou passivo na relação. Se tivessemos um bicho com cara de cervo e corpo de homem, seria ainda mais complicado. Alguns filmes pornôs disponíveis não ajudam em nada.
O galo, quem diria, mesmo assado e já servido aos comensais, em Barcelos, salvou da morte o peregrino, provando sua inocência. Em outro lugar, dois deles - galos - decidiram numa corrida* o que os diplomatas não tinham como solucionar, na disputa territorial entre Florença e Siena. Acataram o resultado, embora o galo de Florença talvez fosse apanhado no antidoping se já fizessem o tal exame.
A águia está em muitos estandartes e brasões. Está no jogo do bicho e na bandeira da Portela. Já o Gavião é símbolo do Corintians e da Escola de Samba que tem origem naquele clube. A ave símbolo do Flamengo é o urubú. E, acrediem, nem foi a torcida do Vasco que escolheu.
Não fossem os outros animais, quantos adjetivos nos fariam falta. - Que cachorrada você fez comigo. E os comparativos? - Sabe a Luiza, aquela, que potranca, hein!!. João tem a memória de um elefante, mas é teimoso como um burro.
Agora que já paguei o meu mico, o adjetivo que me assusta é: que porcaria!
* Existe controvérsia a respeito da lenda sobre a fixação dos limites territoriais das cidades de Siena e Firenze. A disputa, numa versão, não foi diretamente entre os galos. O combinado seria que dois cavaleiros, um de cada cidade, na alvorada, assim que o galo cantasse, partiriam em direção a outra. A fronteira seria o ponto onde eles se encontrassem. Consta que o povo de Siena escolheu um galo bem nutrido, jovem, enquanto que a população de Firenze elegeu um galo negro, mal alimentado. Óbviamente o galo de Firenze, porque tinha fome, despertou e cantou primeiro, dando ao cavaleiro de Firenze uma enorme vantagem.
Pela mesma disputa, coube a Firenze a denominação Chianti (DOC) para um tipo de vinho característico da Toscana. Os Chianti têm na garrafa um galo negro.