10 de novembro de 2024

GR é prolixo?

 


Na contramão do estilo a que nos acostumamos e o consagrou, nesta obra - Tutameia (Terceiras Estórias) - Guimarães Rosa apresenta 40  pequenos contos, histórias extremamente curtas que revelam capacidade de síntese. 

Guimarães Rosa é tarja preta, ou seja, não é indicado para muitos, assim como não o é José  Saramago, sem que eu esteja insinuando semelhança de estilos. Nada a ver um com o outro. Dois geniais autores e ponto.

Rosa nos desafia a partir do título: Tutameia. O que raios significa a palavra?

Poupo a você, caro leitor, o trabalho de ir ao dicionário do Houaiss. De acordo com o outro consagrado dicionarista da língua portuguesa, Aurélio, “tuta-e-meia” (o mesmo que “tutaméia”) é um substantivo feminino que significa “ninharia, insignificância, bagatela, quase nada./ Pouco dinheiro”.

Entenda como quiser. Parece ser uma metáfora.

Outra, digamos, curiosidade é que o livro contém 4 prefácios, dele para ele.


Terceiras estórias seria um subtítulo.

Um aperitivo da obra:

“... tudo, para mim, é viagem de volta...”

“... a vida não fica quieta...”

“... o pior cego é o que quer ver...”

“... amava-a com toda a fraqueza de seu coração...”

“... Deus é curvo e lento...”

“... felicidade se acha é só em horinhas de descuido...”

“... porque amar não é verbo; é luz lembrada...”

“... todo fim é exato...”


7 comentários:

Jorge Carrano disse...

Tutameia é a última obra publicada em vida, pelo autor de Grande Sertão: Veredas.

Jorge Carrano disse...

"Amava-a com toda a fraqueza de seu coração...” é uma frase que precisa ser medida e pesada, antes de ser deglutida.

Jorge Carrano disse...

Regionalismos, jagunços e coronéis; a vida nos sertões, a linguagem inculta (pitoresca), as disputas políticas, são ingredientes de excelentes obras da literatura brasileira.
No mesmo ano de 1956, João Guimarães Rosa lança Grande Sertão: Veredas, e Mário Palmério se apresenta com Vila dos Confins entrando no mundo literário em alto estilo. Todavia, do Palmério, o que mais me fascinou foi Chapadão do bugre, publicado anos depois.
Encerro esta digressão a guisa de comentário, mencionando o livro O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho, sobre e contida neste universo.

Jorge Carrano disse...

Alguém poderá pensar que resolvi perder o pudor e me exibir como leitor assíduo de festejadas obras da literatura nacional.
Mas não é o caso. Fui instigado pelo Riva que me indagou se e o que tenho lido já que ele anda um pouco afastado da leitura.
Bem, pode ser e é até provável que ele tenha lido os livros citados, mas se não, poderá procurar no "sebo" mais próximo e vai se divertir ... garanto.

Jorge Carrano disse...

Estudante do Liceu Nilo Peçanha, num certo período escolar, convivi com a elite intelectual e social da cidade. Intelectual porque havia prova de seleção para ingresso, o que peneirava bastante. Todos liam, uns mais outros menos.
Mas foi durante os estudos para a o vestibular de Direito que me aproximei da literatura em língua portuguesa.
A prova de "português" tinha no programa: literatura brasileira e literatura portuguesa. Português era disciplina eliminatória e a nota mínima seria 6 (seis). Tive que estudar, não? E ler ...

RIVA batendo na trave do Z4 disse...

Fiz prova de seleção para entrar no ABEL no 1º Ano Ginasial, e quase não passei porque nunca tinha estudado Geografia, e tinha prova de Geografia.
Acreditem, o que me salvou foi que eu era viciado em Atlas Mundi, devorava vários tipos de atlas em casa, e com isso consegui passar raspando nessa prova.

Em relação à leitura de livros, comecei muito tarde, mas muito mesmo. Até meus vinte e tal anos, estava reduzido a Robinson Crusoé, O diário de Anne Frank e as enciclopédias da vida - lá em casa era a Delta Larousse.
Devorava revistas em quadrinhos e de sacanagem ... kkkkk.

De repente, depois de casado, comecei a gostar de livros, não sei o porque .... iniciei com Gabriel García Márquez ... e nunca mais parei ... até me tornar escravo do meu telefone celular.

Jorge Carrano disse...


Você pode ter se iniciado, por assim dizer, um pouco atrás, mas largou em alto estilo porque o Gabo, conhecido como pai do realismo mágico, alavancou a literatura latina das Américas e é um de seus grandes nomes. Levou um Nobel.
Ao lado de outros nomes mui justamente festejados, que marcaram uma época. Mário Vargas Llosa, por exemplo, escreveu um livro divertidíssimo (adorei), chamado “Pantaleão e as visitadoras”. Como Gabo também levou um Nobel.
Júlio Cortázar, nasceu em Bruxelas, na Bélgica, mas de pais argentinos, e não negava sua ascendência e a nacionalidade argentina. Entretanto, em protesto e decepcionado com a ditadura militar argentina naturalizou-se francês.
Jorge Luís Borges, meu xará, me pegou por duas razões básicas: a primeira é que se jactava do que havia lido e não do que havia escrito; a segunda foi a leitura de uma frase dele que classifico de filosófica (aforismo): “Então plante seus próprios jardins e decore sua própria alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores”. Ela arremete a outra mais conhecida: “Queres um amigo? Compra um cão”. Tão amarga quanto.
Não acrescento Pablo Neruda, aplaudido e reverenciado, que oficializou seu pseudônimo, porque ele esteve muito próximo da poesia e eu, parafraseando outro escritor, acho que a poesia não é necessária. Também conquistou o Nobel.