Na contramão do estilo a que nos acostumamos e o consagrou, nesta obra - Tutameia (Terceiras Estórias) - Guimarães Rosa apresenta 40 pequenos contos, histórias extremamente curtas que revelam capacidade de síntese.
Guimarães Rosa é tarja preta, ou seja, não é indicado para
muitos, assim como não o é José Saramago,
sem que eu esteja insinuando semelhança de estilos. Nada a ver um com o outro.
Dois geniais autores e ponto.
Rosa nos desafia a partir do título: Tutameia. O que raios significa a palavra?
Poupo a você, caro leitor, o trabalho de ir ao dicionário do Houaiss. De acordo com o outro consagrado dicionarista da língua portuguesa, Aurélio, “tuta-e-meia” (o mesmo que “tutaméia”) é um substantivo feminino que significa “ninharia, insignificância, bagatela, quase nada./ Pouco dinheiro”.
Entenda como quiser. Parece ser uma metáfora.
Outra, digamos, curiosidade é que o livro contém 4 prefácios, dele para ele.
Terceiras estórias seria um subtítulo.
Um aperitivo da obra:
“... tudo, para mim, é viagem de volta...”
“... a vida não fica quieta...”
“... o pior cego é o que quer ver...”
“... amava-a com toda a fraqueza de seu coração...”
“... Deus é curvo e lento...”
“... felicidade se acha é só em horinhas de descuido...”
“... porque amar não é verbo; é luz lembrada...”
“... todo fim é exato...”
7 comentários:
Tutameia é a última obra publicada em vida, pelo autor de Grande Sertão: Veredas.
"Amava-a com toda a fraqueza de seu coração...” é uma frase que precisa ser medida e pesada, antes de ser deglutida.
Regionalismos, jagunços e coronéis; a vida nos sertões, a linguagem inculta (pitoresca), as disputas políticas, são ingredientes de excelentes obras da literatura brasileira.
No mesmo ano de 1956, João Guimarães Rosa lança Grande Sertão: Veredas, e Mário Palmério se apresenta com Vila dos Confins entrando no mundo literário em alto estilo. Todavia, do Palmério, o que mais me fascinou foi Chapadão do bugre, publicado anos depois.
Encerro esta digressão a guisa de comentário, mencionando o livro O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho, sobre e contida neste universo.
Alguém poderá pensar que resolvi perder o pudor e me exibir como leitor assíduo de festejadas obras da literatura nacional.
Mas não é o caso. Fui instigado pelo Riva que me indagou se e o que tenho lido já que ele anda um pouco afastado da leitura.
Bem, pode ser e é até provável que ele tenha lido os livros citados, mas se não, poderá procurar no "sebo" mais próximo e vai se divertir ... garanto.
Estudante do Liceu Nilo Peçanha, num certo período escolar, convivi com a elite intelectual e social da cidade. Intelectual porque havia prova de seleção para ingresso, o que peneirava bastante. Todos liam, uns mais outros menos.
Mas foi durante os estudos para a o vestibular de Direito que me aproximei da literatura em língua portuguesa.
A prova de "português" tinha no programa: literatura brasileira e literatura portuguesa. Português era disciplina eliminatória e a nota mínima seria 6 (seis). Tive que estudar, não? E ler ...
Fiz prova de seleção para entrar no ABEL no 1º Ano Ginasial, e quase não passei porque nunca tinha estudado Geografia, e tinha prova de Geografia.
Acreditem, o que me salvou foi que eu era viciado em Atlas Mundi, devorava vários tipos de atlas em casa, e com isso consegui passar raspando nessa prova.
Em relação à leitura de livros, comecei muito tarde, mas muito mesmo. Até meus vinte e tal anos, estava reduzido a Robinson Crusoé, O diário de Anne Frank e as enciclopédias da vida - lá em casa era a Delta Larousse.
Devorava revistas em quadrinhos e de sacanagem ... kkkkk.
De repente, depois de casado, comecei a gostar de livros, não sei o porque .... iniciei com Gabriel García Márquez ... e nunca mais parei ... até me tornar escravo do meu telefone celular.
Você pode ter se iniciado, por assim dizer, um pouco atrás, mas largou em alto estilo porque o Gabo, conhecido como pai do realismo mágico, alavancou a literatura latina das Américas e é um de seus grandes nomes. Levou um Nobel.
Ao lado de outros nomes mui justamente festejados, que marcaram uma época. Mário Vargas Llosa, por exemplo, escreveu um livro divertidíssimo (adorei), chamado “Pantaleão e as visitadoras”. Como Gabo também levou um Nobel.
Júlio Cortázar, nasceu em Bruxelas, na Bélgica, mas de pais argentinos, e não negava sua ascendência e a nacionalidade argentina. Entretanto, em protesto e decepcionado com a ditadura militar argentina naturalizou-se francês.
Jorge Luís Borges, meu xará, me pegou por duas razões básicas: a primeira é que se jactava do que havia lido e não do que havia escrito; a segunda foi a leitura de uma frase dele que classifico de filosófica (aforismo): “Então plante seus próprios jardins e decore sua própria alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores”. Ela arremete a outra mais conhecida: “Queres um amigo? Compra um cão”. Tão amarga quanto.
Não acrescento Pablo Neruda, aplaudido e reverenciado, que oficializou seu pseudônimo, porque ele esteve muito próximo da poesia e eu, parafraseando outro escritor, acho que a poesia não é necessária. Também conquistou o Nobel.
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