Os detalhes, dados quase imensuráveis, imagens manipuladas, palavras ditas de forma impensada, definem um resultado esportivo, e tisnam uma biografia, dão voz a imbecis, visibilidade a idiotas.
No jogo de tênis, ou no volleyball, se a bola trisca a linha, mesmo que não a sobrepondo, é considerada válida, boa para pontuação.
No futebol há ainda uma outra variável, ainda não aferida pela tecnologia virtual, que é a seguinte: a base da bola de jogo pode não estar sobre o quarto de circulo que limita a cobrança de escanteios, mas se vista do alto um pentelhésimo de seu diamêtro sobrepõe a linha demarcadora, está perfeita para a cobrança. E é conferido pelo olho humano.
Nas corridas de cavalos, ou de cachorros, nas cidades que têm tal competição, a eletrônica, o photochart define um vencedor, por absurdos milímetros. A ponta de um focinho.
Photochart |
Com o Video Assistant Referee (VAR), ou arbitro de vídeo, a ponta de um nariz, o bico de uma chuteira decidem um offside.
Mas se for colocado na tela um "frame" anterior da filmagem, a situação pode se inverter.
Como o chefão da arbitragem disse numa entrevista que é o árbitro de vídeo que define que imagens são mostradas ao árbitro de campo, quando este é chamado para decidir, fico imaginando as fraudes que podem ocorrer.
O pior é que antes dos recursos tecnológicos a arbitragem errava, intencionalmente ou não, nós os chamávamos de filho-da-puta e, em casos extremos, eles saiam de campo protegidos pelo policiamento e ficavam horas presos no vestiário, até poderem sair em segurança, sem linchamento.
Agora, se houver fraude, e há, é um sistema, ou programa, que mal manipulado comete injustiças.
E tudo por causa de frações irrisórias de medida, desprezíveis porque não identificadas a olho nu.
Num laboratório, imagens de bactérias, vírus e coisas que tais (serem microscópicos), podem salvar vidas. Mas numa partida de futebol, sobretudo pelo componente subjetivo, uma marcação de penalidade, por exemplo, com toque intencional ou não, pode decidir uma partida.
Coisas menores, pequenas diferenças, miudezas, minudências, decidem, com ou sem recurso do VAR.
Uma decisão de 6 X 5, no STF, faz diferença. Um voto pode decidir a eleição de um vereador, numa pequena cidade. Sempre detalhes no senso comum.
Termino esta digressão com um caso verídico, que acompanhei circunstancialmente, há anos. Num concurso público de provas e títulos, a nota de corte de uma disciplina era 5.
Meu amigo, ficou com míseros 4,8 aferidos subjetivamente, pois se tratava de prova de Direito.
Pois bem, ele recorreu, fundamentando seu pleito no princípio da aproximação, do arredondamento, buscando normas legais do Brasil e do exterior, normas consuetudinárias, e tudo quanto o mais pudesse servir de espeque às suas pretensões.
Hoje é aposentado do serviço público onde prestou ótimos serviços, com responsabilidade, competência e dedicação exemplares.
Era bem qualificado; culto e inteligente, formado na PUC, dominando inglês e francês.
Ia ficar fora do serviço público por centésimos na pontuação.