Não, nunca cogitei, sequer sonhei, em aprender a tocar piano.
Sem desmerecer os clássicos, sejam as peças compostas, sejam seus autores ou executores, e o Brasil tem alguns festejados concertistas, foi o jazz que me acendeu a vontade de aprender a executar piano.
Os responsáveis, muitos, são McCoy Tyner, Bill Evans, Oscar Peterson, Earl Hines, Ahmad Jamal, Duke Ellington, Teddy Wilson, Tommy Flanagan, Ramsey Lewis, Thelonious Monk, e vários outros. Todos presentes em CDs e outras mídias em minha estante.
Na infância, se tivesse tido este desejo seria surreal porque minha família era de posses modestíssimas. O máximo que conseguiria seria provocar em meus pais alguma tristeza e dor por não poderem me propiciar alcançar tal vontade.
Sem nenhuma ordem cronológica de relevância, seria esta uma das minhas frustações.
Outra, mais significativa e doída, foi não ter dado ao estudo do latim a importância que teria em minha vida, não só profissional.
Corria, a boca pequena, nos corredores das escolas e até em alguns lares, que se tratava de língua morta, portanto inútil. Santa ignorância.
Agora, atingida a idade da razão, invejava o João Ubaldo Ribeiro por dominar não só o latim, como também o grego.
Duas erradas concepções do passado: homens (meninos) tocarem piano era coisa de viado. Meu amigo Ney Gonçalves era tido não como de educação esmerada, como justo e correto, mas efeminado. A outra era que estudar o latim era perda de tempo.
Não ter viajado para o Oriente, quando talvez pudesse, também me trás certo arrependimento. A cultura oriental é foco de meu interesse e respeito. O valor da honra e a reverência e respeito aos mais idosos, são princípios básicos.
O rol de arrependimentos é imenso e não para de crescer. Por casos como o da eleição de Bolsonaro, em 2018, para a qual contribuí juro que de boa-fé.
Nunca votei no PT ou em Lula, mas o que fazer agora? Não comparecer (nem um, nem outro?) poderá gerar um arrependimento que levarei para o túmulo, sem sublima-lo. Não daria nem para racionalizar.
Arrependo-me de ter sido relapso nos bancos escolares secundaristas. Envolvido em política estudantil, como presidente do Grêmio do Liceu Nilo Peçanha, por dois mandatos, e Diretor da FESN (Federação dos Estudantes Secundários de Niterói) por três anos.
E, porque não confessar, preguiça, falta de foco.
Perdi dois preciosos anos de formação e aprendizado formal. As causas defendidas eram justas e de alcance social, como por exemplo o combate aos arbitrários aumentos das anuidades escolares; a concessão de passes para transporte público dos estudantes (que pagavam tarifa diferenciada), e até lutas pelo preços dos ingressos nos cinemas.
A mais visível destas atividades extra classe, na época dos "tubarões do ensino" foi a ocupação, pelos estudantes, do Ginásio Jairo Malafaia, na Rua Gavião Peixoto, por causa da mensalidade considerada exorbitante.
A causa foi abraçada, também, por dirigentes da UFE (entidade dos universitários), tendo a frente Claudio Moacyr de Azevedo. Vide matéria da época em http://memoria.bn.br/pdf/386030/per386030_1961_00630.pdf
Mas estas experiências resultaram em perdas, ou sem proveito prático, porque não ingressei na política séria, na vida pública, como o fizeram o citado Claudio Moacyr de Azevedo, que veio a se eleger deputado e prefeito de Macaé, e João Kiffer Neto, deputado, por exemplo.
Ainda bem, se analisado por outro ângulo.