Nesta data, para uns houve um golpe militar; para outros uma revolução, liderada por militares mas com respaldo popular.
As duas correntes têm razão, em momentos distintos.
Se é verdade que grande parte da população apoiou a iniciativa dos militares, não é menos verdade que esta mesma população não pretendia que os militares ficassem encastelados no poder. E muito menos que chegassem aos extremos a que chegaram.
Não vou entrar no mérito das mortes, torturas, sequestros, porque os dois lados se excederam. A tortura é um ato ignóbil? Claro que é. Mas o cárcere privado (sequestro) também o é. Não existiram heróis ou vilões. Cada lado errou a seu tempo e modo.
Não vou entrar no mérito das mortes, torturas, sequestros, porque os dois lados se excederam. A tortura é um ato ignóbil? Claro que é. Mas o cárcere privado (sequestro) também o é. Não existiram heróis ou vilões. Cada lado errou a seu tempo e modo.
Deveriam os militares, depois da bem sucedida tomada do poder, diga-se que com poucos e isolados atos de força, te-lo devolvido aos civis, ou quem sabe a um militar, legitimamente eleito pelo voto secreto e direto do povo.
Não foi o que sucedeu e os militares se imiscuíram nos órgãos públicos e até mesmos nas empresas privadas, assumindo cargos diretivos mas com função policialesca.
Aconteceu na empresa onde eu trabalhava, que contratou um coronel para criar e assumir a área de comunicação empresarial e editar uma revista interna (house organ).
Até na faculdade, lembro bem, durante uma prova de Direito do Trabalho, em 1966, um vice-almirante que era estudante, questionou o professor, que era também o diretor da faculdade na época - Geraldo Bezerra de Menezes (que já fôra ministro do TST) - sobre a presença, como fiscais durante a prova, de pessoas estranhas ao quadro docente da instituição. É uma longa história que não cabe aqui. Mas vale salientar que os militares se achavam com direito a tudo.
Rendeu até a piada das freiras, largamente difundida, que era a seguinte: faleceu a madre superiora; duas freiras caminhavam pelo patio interno no convento quando uma delas indaga se a colega sabia quem seria a nova madre superiora; ao que a outra responde: não sei não, só sei que é um coronel.
Fazia todo o sentido. Como uma praga os militares se espalharam em todos os segmentos do tecido social. Foi um erro crasso.
Vai daí que virou golpe militar mesmo.
Mas é tênue a linha que separa uma coisa da outra. Querem exemplo? A Proclamação da República foi um golpe de estado contra a monarquia ? Havia um poder legitimo e os militares o derrubaram e se mantiveram no comando. Sou republicano mas devo admitir que de certo modo houve um golpe militar, apoiado ou não por civis, não vem ao caso. Este golpe militar valeu e é reverenciado. Feriado nacional.
E a conspiração em Minas Gerais, abortada pela coroa portuguesa, que levou à forca o alferes Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes? Alguns militares, padres e poetas pretendiam realizar uma revolução e libertar a capitania de Minas Gerais do dominio português. Como foram derrotados, virou uma conjuração; se tivessem sido vitoriosos teria sido uma revolução, que certamente se espalharia e levaria à independência de toda a colonia brasileira.
Mas é tênue a linha que separa uma coisa da outra. Querem exemplo? A Proclamação da República foi um golpe de estado contra a monarquia ? Havia um poder legitimo e os militares o derrubaram e se mantiveram no comando. Sou republicano mas devo admitir que de certo modo houve um golpe militar, apoiado ou não por civis, não vem ao caso. Este golpe militar valeu e é reverenciado. Feriado nacional.
E a conspiração em Minas Gerais, abortada pela coroa portuguesa, que levou à forca o alferes Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes? Alguns militares, padres e poetas pretendiam realizar uma revolução e libertar a capitania de Minas Gerais do dominio português. Como foram derrotados, virou uma conjuração; se tivessem sido vitoriosos teria sido uma revolução, que certamente se espalharia e levaria à independência de toda a colonia brasileira.
Todo este intróito tem uma razão de ser. Tenho feito uma revisão nos arquivos deixados por meu pai. Deparando com uma foto, que coloco para ilustrar este post, fiquei matutando que posição ele teria tomado frente aquele movimento dos militares? Bem, acho necessário informar que ele falecera em junho do ano anterior (1963).
Não cheguei a uma conclusão. Isto porque ele era acima de tudo legalista. Para ele o comando maior era do império da lei.
Entretanto, tinha ótimo trânsito entre militares (de todas as patentes) e tão bom quanto entre alguns políticos, alguns dos quais vieram até mesmo a ser cassados.
Fernando Carrano, mais alto e grisalho civil ao centro. Os outros paisanos eram militares sem seus uniformes. |
Era legalista, mas era extremamente leal (leal, não fiel, que é diferente) aos amigos. E tinha, claro, convicções.
Se o poder tivesse sido devolvido aos civis, como era a expectativa e teria sido o correto, acho que teria votado no Juscelino, que certamente seria um candidato. O outro candidato, provavelmente Carlos Lacerda, ele admirava pela oratória, pela combatividade.
SE assim tivesse sido (vele repetir SE), pela primeira vez eu e ele estaríamos no mesmo barco. Não que divergíssemos muito, não, afinal ele me moldou a sua imagem e semelhança nos terrenos da ética e da moral. Mas divergíamos no varejo: ele flamenguista, eu vascaíno. Ele tenentino (filiado à Grande Sociedade Tenentes do Diabo), eu democrata, porque torcedor e até frequentador do baile carnavalesco da Grande Sociedade Democráticos, na Rua Riachuelo, no Rio de Janeiero.
Nota explicativa: foto tirada numa das dependências do Palácio do Ingá, onde funcionava a Secretaria Estadual de Governo, com Fernando Carrano recebendo um grupo de sargentos e suboficiais do exército, como interlocutor do governo Miguel Couto Filho. Os sargentos pleiteavam a doação de um terreno do Estado para construção de uma sede para seu Clube Social. (1960).