Estou com muita preguiça. Pensei no animal que
carrega este nome que pode ser injurioso. A cara dele é até simpática, embora
seja feio no conjunto, com corpo coberto por longos pelos, uma espécie de Tony
Ramos, e tenha garras igualmente grandes e afiadas. Alimenta-se, basicamente,
dos frutos da embaúma, também conhecida como árvore-da-preguiça, exatamente por
isso.
Quem conhece as estradas que ligam o Rio de Janeiro às
cidades serranas de Petrópolis e Teresópolis já deve ter percebido, porque se
destaca em meio a vegetação verde, uma árvore de folhas prateadas. Esta é a
embaúma prata, uma das 37 espécies existentes na mata atlântica. Vejam a foto
abaixo.
Se tem embaúma pode
ter preguiça pois a alimentação desta estaria garantida.
Lembranças da infância
Terminado o preâmbulo informativo, passo a escrever, numa associação
de ideias, sobre a embaúma e as folganças quando éramos crianças.
Na minha infância, na Rua São Diogo, o Danilson e o Décio, seu irmão, mais eu e o
Sidney, fizemos de um tudo no quaradouro
diante de nossas casas. Sim, a função precípua daquele pedaço de terreno baldio
era servir de quaradouro para nossas mães, que ali colocavam a secar os lençóis
e fronha e toalhas de banho lavados com anil.
As roupas ficavam alvejadas e cheirosas. Ainda existe e tem
que utilize anil? Preciso perguntar a Wanda.
Não era gramado mas tinha capim em toda extensão. Algumas touceiras
aqui e ali, que roçávamos utilizando uma foice que pertencia ao pai dos irmãos
citados. Só assim, quando sem roupas expostas
ao sol, podíamos jogar uma espécie de futebol soçaite, sem este nome,
que só surgiu mais recentemente. E nós estamos nas décadas de 1940 e 1950.
Uma vez por ano, no mesmo espaço, organizávamos o “Arraiá” da
vila, pois este terreno ficava na vila de casas que tinha início no número 21
da Rua São Diogo, no bairro da Ponta D’Areia. Alguns bambus e bandeirinhas
compunham a decoração. A fogueira era o ponto alto. E assávamos batas doce, mandioca (aipim) e inhame. Para comer com melado de Campos.
De outras duas feitas o terreno se transformou em circo. Tentávamos
fazer para um público composto de nossos pais, irmãos e irmãs, e poucos vizinhos, alguns malabarismos utilizando bolas
de meia. E acrobacias numa trave que fazia as vezes de baliza no futebol. Das palhaçadas só nós mesmos ríamos. Era pura pantomima.
Fizemos também um parquinho, em outra ocasião, com gangorra, balanço e uma
gangorra giratória, que alguém batizou de zorra (?). O vídeo encontrável através do
link a seguir mostra exatamente do que se trata: http://www.youtube.com/watch?v=BrB4steXCFQ
Só que fazíamos de uma maneira tosca, improvisada, utilizando
a embaúba.
A embaúba, ou árvore-da-preguiça, cortamos, à duras penas, no
morro da Penha, no lado deste voltado para a Rua São Diogo. E por que a
dificuldade em cortar a árvore? Porque embora oca, como o bambu por exemplo, ela
tem uma casca fibrosa muito resistente.
Ela - a árvore - tem um tronco reto e longo. Para nós bastavam três metros
de comprimento. No meio fazíamos um furo, sem vazar para o outro lado. Este
pedaço de embaúba, com furo no meio (lembrem que é oca), era espetado num tronco de goiabeira, de
cerca de um metro, que fincávamos no solo de sorte a ficar bem firme. Virava um gangorra.
Completávamos o brinquedo com pedaços de ripa presos de forma
atravessada próximo as duas extremidades da embaúba, para podermos segurar e não
cair. Esta gangorra girava, pois como mencionei a casca da árvore é muito
resistente e o lado não perfurado resistia aos nossos pesos com tranquilidade.
A vila tinha a conformação de um “T” , ou seja, ela tem (ainda existe) uma
travessa de poucos metros, que se abria à direita e à esquerda. E nestas pernas
havia casas. Na perna da direita, onde morávamos, havia casas apenas de um lado,
do outro, defronte, ficava o tal espaço não construído. Na perna da esquerda havia
casas dos dois lados.
Esse sou eu nestes dias de folga de carnaval |