28 de fevereiro de 2014

ÁRVORE-DA-PREGUIÇA

Preâmbulo

Estou com muita preguiça. Pensei no animal que carrega este nome que pode ser injurioso. A cara dele é até simpática, embora seja feio no conjunto, com corpo coberto por longos pelos, uma espécie de Tony Ramos, e tenha garras igualmente grandes e afiadas. Alimenta-se, basicamente, dos frutos da embaúma, também conhecida como árvore-da-preguiça, exatamente por isso.

Quem conhece as estradas que ligam o Rio de Janeiro às cidades serranas de Petrópolis e Teresópolis já deve ter percebido, porque se destaca em meio a vegetação verde, uma árvore de folhas prateadas. Esta é a embaúma prata, uma das 37 espécies existentes na mata atlântica. Vejam a foto abaixo.
Se tem embaúma  pode ter preguiça pois a alimentação desta estaria garantida.

Lembranças da infância

Terminado o preâmbulo informativo, passo a escrever, numa associação de ideias, sobre a embaúma e as folganças quando éramos crianças.
Na minha infância, na Rua São Diogo,  o Danilson e o Décio, seu irmão, mais eu e o Sidney, fizemos de um tudo  no quaradouro diante de nossas casas. Sim, a função precípua daquele pedaço de terreno baldio era servir de quaradouro para nossas mães, que ali colocavam a secar os lençóis e fronha e toalhas de banho lavados com anil.
As roupas ficavam alvejadas e cheirosas. Ainda existe e tem que utilize anil? Preciso perguntar a Wanda.
Não era gramado mas tinha capim em toda extensão. Algumas touceiras aqui e ali, que roçávamos utilizando uma foice que pertencia ao pai dos irmãos citados. Só assim, quando sem roupas expostas  ao sol, podíamos jogar uma espécie de futebol soçaite, sem este nome, que só surgiu mais recentemente. E nós estamos nas décadas de 1940 e 1950.
Uma vez por ano, no mesmo espaço, organizávamos o “Arraiá” da vila, pois este terreno ficava na vila de casas que tinha início no número 21 da Rua São Diogo, no bairro da Ponta D’Areia. Alguns bambus e bandeirinhas compunham a decoração. A fogueira era o ponto alto. E assávamos batas doce, mandioca (aipim) e inhame. Para comer com melado de Campos.
De outras duas feitas o terreno se transformou em circo. Tentávamos fazer para um público composto de nossos pais, irmãos e irmãs,  e poucos  vizinhos, alguns malabarismos utilizando bolas de meia. E acrobacias numa trave que fazia as vezes de baliza no futebol. Das palhaçadas só nós mesmos ríamos. Era pura pantomima.
Fizemos também um parquinho, em outra ocasião, com gangorra, balanço e uma gangorra giratória, que alguém batizou de zorra (?). O vídeo encontrável através do link a seguir mostra exatamente do que se trata: http://www.youtube.com/watch?v=BrB4steXCFQ
Só que fazíamos de uma maneira tosca, improvisada, utilizando a embaúba.
A embaúba, ou árvore-da-preguiça, cortamos, à duras penas, no morro da Penha, no lado deste voltado para a Rua São Diogo. E por que a dificuldade em cortar a árvore? Porque embora oca, como o bambu por exemplo, ela tem uma casca fibrosa muito resistente.
Ela - a árvore -  tem um tronco reto e longo. Para nós bastavam três metros de comprimento. No meio fazíamos um furo, sem vazar para o outro lado. Este pedaço de embaúba, com furo no meio (lembrem que é oca), era espetado num tronco de goiabeira, de cerca de um metro, que fincávamos no solo de sorte a ficar bem firme.  Virava um gangorra.
Completávamos o brinquedo com pedaços de ripa presos de forma atravessada próximo as duas extremidades da embaúba, para podermos segurar e não cair. Esta gangorra girava, pois como mencionei a casca da árvore é muito resistente e o lado não perfurado resistia aos  nossos pesos com tranquilidade.
A vila tinha a conformação de um “T” , ou seja, ela tem  (ainda existe)  uma travessa de poucos metros, que se abria à direita e à esquerda. E nestas pernas havia casas. Na perna da direita, onde morávamos, havia casas apenas de um lado, do outro, defronte, ficava o tal espaço não construído. Na perna da esquerda havia casas dos dois lados.
Esse sou eu nestes dias de folga de carnaval

12 comentários:

  1. Realmente não sabia que árvore era essa, nem sobre sua relação com a preguiça. Muitas delas na serra para Nova Friburgo.

    Uma curiosidade : de quem era esse terreno usado como quaradouro por suas mães ? Era ou é público ?

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  2. Olá, Riva.
    Realmente citei apenas Petrópolis e Teresópolis, mas na serra de Friburgo também se encontra a embaúma.

    Quando criança e lá morei, não tinha nenhuma preocupação quanto à propriedade do terreno que tinha para nós múltiplas utilidades.
    Com sua pergunta, agora, imagino que por alguma razão o proprietário da área não construiu casas naquele terreno. Na outra perna da vila, como mencionei, havia casas dos dois lados.
    O fato é que para nós, mal comparando, virou um playground. Uma área de uso comum.
    Talvez atualmente tenha casa construída no terreno. Até 1952, quando mudamos de lá, o terreno era disponível.
    Uma informação adicional. Este terreno era limitado, de um lado, pela rua cimentada de acesso às casas, do outro por um paredão de pedras superpostas bem construído, utilizado em projetos arquitetônicos. Acima deste paredão fica o morro da Penha.
    Nas cabeceiras, os limites eram uma caixa d'água (enorme) de um lado e uma escarpa do morro do outro.
    Dos nossos leitores e participantes, o único que tenho certeza conheceu é o Ricardo dos Anjos, pois morou lá pertinho, na Vila Pereira Carneiro.

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  3. Lei-se embaúba. A proximidade do "b" com o "m", no teclado, levou-me ao engano.

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  4. Minha irmã, mais nova que eu cinco anos, e que está aqui em casa em visita, acaba de me informar que no tal terreno construíram um edifício e que as casas inclusive aquela em que moramos estão inteiramente descaracterizadas, com fachadas diferentes e cores também.
    Elas eram inteiramente iguais, no formato e na cor.

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  5. Boas lembranças.

    Minha infância/adolescência no Pé Pequeno/Sta Rosa foi principalmente nas ruas Itaocara - onde eu morava - e na rua Itaperuna.

    O bairro tinha nomes de municípios do RJ em suas ruas: Saquarema, Itaguaí, Araruama, Maricá, Macaé e Mangaratiba.

    O único terreno baldio que durou muitos anos era na rua Itaperuna, mas tinha um formato e uma topografia muito ruins, que não dava nem para um mini campo de futebol de gol com sandálias havaianas ou pedregulhos.Mas era principalmente por ali que acessávamos um dos morros que circunda o bairro, nas brincadeiras de escambida, que duravam horas e horas, para desespero dos nossos pais (rsrs).

    A rua Macaé era tão pequena, que nosso campo de futebol de rua ocupava quase seu comprimento todo. A rua foi abandonada como nosso "campo de futebol", depois que uma de nossas bolas entrou pela janela de um sobrado, e simplesmente estraçalhou a cristaleira da residência. Desaparecemos por semanas !!

    Na rua Itaguaí tinha uma horta em uma das suas extremidades, e foi nessa rua que uma certa época aconteceram aqueles cinemas de rua ... não me lembro detalhes de como era montada essa infraestrutura para passar os filmes. Você chegou a ir a essas projeções, Carrano ?

    É isso ... por hoje rsrs

    Abrs e bom Carnaval a todos !

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  6. Sim, Riva!
    Aproveitei muito o cinema de rua. Acho que já relatei aqui no blog. Divertíamos muito com "o Gordo e o Magro" (Stan Laurel & Oliver Hardy).
    Um dos patrocinadores era o Cicle São Bento e havia um jingle que lembro até hoje:
    "Pedalando, pedalando, a favor ou contra o vento, compre sua bicicleta compre no Cicle São Bento"
    Bons e saudosos tempos. Pelo menos uma vez por mês havia projeção na Rua São Diogo, ou na Visconde Uruguai, entre as ruas Silva Jardim e Feliciano Sodré.

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  7. Caro Riva,
    Fiz pesquisa no blog, por causa de sua pergunta e veja o que encontrei, postado em junho de 2011, ou seja, há mais de dois anos.
    Selecione e cole na barra do navegador:
    http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/06/infancia-quase-normal-na-decada-de-1940.html

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  8. Fui lá ver ... sensacional. Parece que reescrevemos algumas coisas kkkkkk

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  9. Pronto, Riva.
    Achei, postado em abril de 2011:
    http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/04/stan-laurel-oliver-hardy.html

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  10. E este outro acima? É específico sobre cinema de rua.
    Abraço

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  11. Se minha memória não falha, elegemos "Caroço", o menor e mais safado guri da turma, para ir até o tal apartamento e tentar resgatar a bola! Só então soubemos do estrago, que havíamos antecipado pelos ruídos ouvidos lá de baixo!

    Confesso não me lembrar do cinema de rua...
    Abraço
    Freddy

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  12. Leiam:

    https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/1466301ceee6ba73

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