31 de março de 2020

BLUES


Não sei quanto a você, paciente leitor, mas para mim mesmo algumas coisas boas da vida têm hora e local certos para desfrute.

É o caso do blues. E como ouço pouco tenho a maior mão-de-obra para poder alcança-los e por para tocar. Falo, claro, dos LPs antigos que agora estão sendo resgatados e voltaram ao mercado.

Os meus, umas três dezenas (só de blues), foram basicamente adquiridos na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, quando lá residi num flat próximo. Aos domingos a feira oferecia de um tudo. Usados, mas em bom estado.

Algumas relíquias, inclusive no terreno da música, eram encontradas na feira. Por vezes me perguntava o que levaria as pessoas a se desfazerem (não estava na moda falar em desapego) de alguns álbuns de grande valor artístico, raridades mesmo.

Vejam a trabalheira. Tirar de cima do pequeno baú o aparelho três em um, com a função toca discos.



Neste baú estão guardados, livres de poeira e umidade, os LPs supramencionados. Com um escovinha tipo de unhas, mas que ao invés de pelos ou fios de plástico tem um revestimento de veludo, dou uma passadinha dos dois lados e coloco para tocar.

As guitarras emitem sons plangentes, e os vocalistas liberam seus lamentos, expõem suas almas. 



Claro que isto é muito pessoal. Tem quem prefira o funk, que para minha aflição teria derivado do blues.



Amanhã os coloco de volta no baú, que não é o do Silvio Santos, infelizmente. E volto aos CDs de jazz.

O blues é sim coisa de negro, americano e descendente de escravos.

Mas tem um branco, inglês, que se aproxima da alma e espírito daquele negros americanos, trabalhadores das lavouras  de fumo e algodão.

Ouçam, mas no YouTube tem vários outros tracks:


30 de março de 2020

REFLEXÃO


O texto da imagem é irônico, sarcástico, e nos leva a uma reflexão.

Estamos, eu e você que me lê, realmente passando por uma quarentena insuportável?

Tirante as perdas financeiras, materiais, que certamente terei, que outros constrangimentos, dor ou sofrimento terei que suportar se eu e meus familiares ficarmos imunes ao contágio?



Ressalvas


Nossa imprensa, na média, é despreparada, inculta mesmo, voltada apara o sensacionalismo, e também partidarizada.

E o Grupo Globo (tv aberta, canais por assinatura e jornais), faz terrorismo. Um nojo de jornalismo.

Querem o Bolsonaro fora? Eu também, mas no momento certo, pelos meios constitucionais.

Contam como gracejo, mas pensa bem a respeito. É voz corrente, volto a repetir, embora como blague, que quando os médicos não podem ou não sabem diagnosticar com precisão, dizem que estamos acometidos de uma virose.

Será que agora, na esteira da pandemia, não tem médico e/ou hospital classificando como óbito decorrente da Covid-19 alguns que tiveram origem em outras causas?

Por que não, se é uma virose ? Só que esta tem nome e apelido: coronavírus ou Covid-19.

Outra coisa que a imprensa não faz, até para nos injetar ânimo, esperança, é noticiar com destaque quantas pessoas, testada positivo, se recuperaram?

E no rumo das recomendações enfatizar que se restabeleceram porque fizeram isto ou aquilo. Seguiram as prescrições sensatas e científicas.

Assim como em conflitos regionais ou guerras mais abrangentes aparecem nas TVs  especialistas em armamentos e estratégias militares,  tipo Fulano é especialista em mísseis balísticos; Beltrano é especialista em tanques; um Ciclano sabe tudo sobre os tomahawks, e assim por diante, também agora aparecem e ganham espaço na mídia, especialistas nisto e naquilo dando seus recados e fazendo recomendações: médicos, fisioterapeutas, pais de santo, síndicos, advogados, epidemiologistas, dentistas, veterinários, infectologistas, cartomantes, professores, putas velhas, nutricionistas, videntes, políticos, governadores prefeitos, secretários, ministros, padres, ambulantes, enfermeiras, flanelinhas, e o escambau a quatro, todos têm conselhos e opiniões no dar.

O Riva diz estar zonzo, poderia dizer atônito ou confuso, mas o estilo dele é direto, claro e objetivo.

Eu estou pasmo, desorientado, assombrado, estupefato, com tudo isso.

O que fazer ou deixar de fazer? Se fosse uma antiga ação cominatória até saberia o rito, a competência jurisdicional, estas bobagens com as quais ganho a vida, e até daria minhas cacetadas também.

Mas qual o quê. Sou uma estatística, colocaram-me num grupo de risco, privado de ir as ruas.

Isto é um perigo pois com tempo ocioso fico perpetrando estas bobagens aqui publicadas, despudoradamente. Nem fico rubro.



Mais uma boa piada que circula na rede


29 de março de 2020

Solidariedade em tempos de crise


Postagem de Ana Maria Carrano, repassando matéria jornalística - obtida pelos meios eletrônicos - que intercambiou nas redes sociais com a Alessandra Tappes, que anda meio sumida do blog.

"Para não sair do tema do momento, trago uma reportagem do Jornal Zero Hora de Porto Alegre, que relata o efeito positivo do vírus Covid 19 no relacionamento dos condôminos de alguns edifícios da cidade.


E por que "pesco" uma notícia dos Pampas? 

Porque uma das protagonistas é Odete Tappes, mãe da Alessandra, colaboradora do Blog, de quem sentimos tanta falta seja nos textos, seja nos comentários.

A própria Alessandra teria enviado, se não estivesse sobrecarregada de trabalho, estudo e cuidados domésticos.


Sendo assim, segue a matéria jornalística que por si só expõe o tema."






















28 de março de 2020

UM SEXAGENÁRIO EM QUARENTENA




Por
RIVA  







Pois é, cá estamos numa situação simplesmente inimaginável por qualquer um de nós, só vista em filmes de ficção científica. O impacto é tipo aquele no dia 11 de setembro de 2001, quando até o locutor da CNN não tinha certeza do que estava assistindo ao vivo.

Estou completamente zonzo em relação ao que é certo ou errado. Tem o isolamento social para achatar a curva de contágio, e tem o caos econômico e social que pode vir devido a esse isolamento. Indústria, comércio e serviços não faturam, então desempregam, e a população não tem dinheiro para adquirir o básico.


Criatividade obtida na internet

Em países mais desenvolvidos socialmente existem mecanismos prontos para enfrentar ou mitigar um problema dessa magnitude.

A Bélgica, por exemplo, tem o que se chama “ Temporary Economical Unemployement”, onde uma empresa com problemas econômicos comprovados ativa esse mecanismo, e o governo belga arca com 60% de qualquer funcionário “disponibilizado” durante 3 meses, findo esse período a empresa tem que decidir se o demite ou reintegra. E esse salário, nesse período, é mais baixo um determinado percentual.

O que vem por aí? Uma coisa é certa, caro Anônimo(a) ... com esse desalinhamento político existente, quem vai perder somos nós. Não é o momento para picuinhas, desavenças, cobrança de posicionamentos políticos, etc. Mas isso é para os “grandes”, não é?


A "Matriarca Vascaína", em Bruges, Capital da província de Flandres Ocidental,
na Bélgica,  antes da Covid-19
Well, meu objetivo mesmo não é nada disso. É descrever um dia qualquer de um sexagenário enclausurado há 10 dias, com sua preciosa Matriarca Vascaína. Então, cronologicamente é assim nossa realidade, resumidamente :

 - acordamos às 9h. Sim, estou acordando tarde, porque fico vendo TV/Filmes até 2/3h da manhã.
- fazer o número um.
- tomar remédio para pressão, mandatório.
- ajudo a fazer o café, tirar a louça da máquina, fazer as torradas e fritar os ovos.
- escovar os dentes e fazer o número dois.
- chuveirada matinal, para ficar esperto.
- abrir o Home Office da sala, ou seja, abrir os e-mails do trabalho.
- receber o Fluxo de Caixa mais ou menos às 11 horas, e fazer vídeo conferência pelo WhatsApp para definir o que pode ser pago no dia, checar recebimentos, projetar situação financeira por 15 dias futuros.
- descer na Portaria do prédio e pegar as marmitas de almoço encomendadas – cuidado para não conversar com ninguém e não tocar diretamente maçanetas, botões do elevador, etc. Sempre levar um papel toalha para esses toques. Ao retornar, sempre deixar os chinelos do lado de fora do apartamento.
- higienizar as mãos e braços ao retornar, bem como TODO o material recebido – marmitas, sacos plásticos.
- almoçar
- TVs ligadas full time. MV sempre fica atenta às notícias, e eu vendo Animal Planet ou Travel Channel.
- tarde dedicada a programas de TV, papo com filhos distantes, Home Office ativo. A MV sempre tem tarefas caseiras a fazer, inevitáveis. Estamos sem faxineira, sem a passadeira de roupas, sem tudo. Ajudo quando requisitado, porque invadir o mundo dela não é muito recomendável, se é que me entendem.
- 17h um pequeno lanche, que pode ser um sanduba com café, ou fatias de pizza descongeladas, que sempre quebram um puta galho.
- tipo 18h banhos !
- 19h desligo o Home Office.
- MV na cozinha preparando a janta, geralmente restos do almoço, ou inventando alguma coisa, como hoje, omeletes.
- dou uma bicada no meu whisky enquanto isso, jiboiando – sacanagem .....
- jantamos tipo entre 21 e 22h. Colocar louça na máquina e ligar a dita cuja.
- jiboiar em frente a TV e celulares até muito tarde. The Good Doctor, filmes, show de música ou YouTube em viagens.
- dormir com ar condicionado ou somente com ventilador.

Sexo ? Hoje não teve, obrigado, de nada !



Nota do blog manager: a Matriarca Vascaína, citada, é esposa do autor, tricolor como revela a foto em epígrafe de um "guerreiro tricolor".
  

27 de março de 2020

Tipos inesquecíveis : Ricardo Campanha Carrano





Ricardo Campanha Carrano é Coordenador Geral do Núcleo de Estudos de Tecnologias Avançadas da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, membro do Conselho Universitário e do Comitê de Ètica da UFF e professor adjunto do Departamento de Engenharia de Telecomunicações, do qual é o atual chefe.

É professor e orientador de teses no Mestrado em Engenharia Elétrica e de Telecomunicações. Possui os títulos de Engenheiro de Telecomunicações (1995), Mestre em Engenharia de Telecomunicações (2009) e Doutor em Computação (2013), todos pela UFF. Seus interesses de pesquisa incluem Telessaúde, Internet das Coisas e Redes de Sensores sem Fio, já tendo atuado em diversos projetos de pesquisa relacionados a esses temas, financiados por órgãos de fomento como Faperj, RNP e Aneel.

É coordenador da Rede Aberta de Cibernética e Humanidades (REACH) que, juntamente a colegas das outras áreas da engenharia e da saúde, está trabalhando na produção de próteses miocontroladas de baixo custo para membro superior.

Antes de se tornar professor, atuou em diversos segmentos da indústria de telecomunicações, e foi engenheiro de redes da ONG OLPC (One Laptop Per Child), sediada em Boston, EUA, tendo contribuído no desenvolvimento de seus protocolos para comunicação em malha.

Em 2018, foi agraciado com a Medalha do Exército por sua atuação, como coordenador do NETAv, no desenvolvimento do Sistema de Saúde Holográfico.

(Informações coletadas do Lattes em 01/02/2020)

Nota do blog manager:
Estes dados foram extraídos do sitio abaixo:
Modéstia a parte, é meu filho caçula.



26 de março de 2020

Tipos inesquecíveis: Mario Castelar

O irmão biológico que gostaria de ter e tive por afinidade e escolha.

Mais novo e "mais" em outras muitas coisas mais. No brilho intelectual. Na memória prodigiosa. Na facilidade de expressão e comunicação. 

Conhecemo-nos numa viagem  a Juiz de Fora, a convite e um amigo comum - João Jorge Elias Bazhuni - que foi fazer compras para a loja da família.

Identificamos, de pronto, vários pontos de afinidade: afilhados de Ogum, vascaínos, vestibular para Direito, militância na política estudantil secundarista, gosto pela MPB.

Nunca mais deixamos de ser amigos, mesmo quando as atividades profissionais de um e outro nos separavam.

Morou anos em Niterói, mudou-se para São Paulo, retornando para residir no Rio de Janeiro algum tempo. Finalmente retornou para São Paulo. Tudo em razão de desafios profissionais.

A síntese de sua vida abaixo publicada foi colhida na internet. Faltou informar, no âmbito profissional, que foi professor na Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo, onde foi professor da Bruna Lombardi entre outras figuras conhecidas dos meios publicitários.

Os cursos de especialização que fez no exterior e mencionados na biografia, foram da área de propaganda e marketing.

Quase realizou o sonho de ter um colégio. Em sociedade com Hermes Santos (advogado, formado em psicologia e pedagogia), adquiriu o falido Ginásio São Paulo, em São Gonçalo - RJ.

A palavra falido é muito vaga para definir a situação. Devia a todo mundo: professores, concessionárias de água e energia, tudo...

Os dois não tinham dinheiro e por mais que tivessem tentado não conseguiram equacionar os débitos e saldá-los. Encerrado o ano letivo fecharam as portas.

Na vida privada, foi casado três vezes resultando das uniões 4 filhos (dois casais). Três netos, e um bisneto.

Quando esteve em Niterói, em 2010, para me visitar pois acabara de fazer um AVC, cumprimentei-o pelo nascimento do bisneto. Respondeu-me, calma e objetivamente que o fato o preocupava muito, posto que quanto maior a família maiores ficam as probabilidades de alguém não dar certo.

Faleceu aos 71 nos de idade, em julho de 2014.

Ver a respeito em:

https://pt-br.facebook.com/mariocastelar



Mario Castelar

Nascido em 22 de junho de 1943, Mario Castelar da Silva formou-se Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense, com cursos de aperfeiçoamento profissional nos Estados Unidos e na França.
Castelar começou sua carreira na Marplan - Marketing Planning Corporation (empresa de pesquisa do Grupo Interpublic) em 1967 como Redator - Analista. Ocupou posições de gerência em Pesquisa de Mercado e Comunicação de Marketing em companhias como: Cigarros Souza Cruz, Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, Novociclo de Propaganda, Rhodia Indústrias Químicas e Têxteis, TV Bandeirantes e foi especialista em Consumer Insights, na Young & Rubicam.
Em 1972 ingressou na Norton Propaganda, como Chefe de Pesquisa de Mercado e foi sucessivamente promovido a Diretor de Serviços de Marketing, Vice Presidente de Planejamento, Gerente Geral do escritório do Rio de Janeiro. A agência foi depois vendida à Publicis, onde Castelar ficou até 2002.
Trabalhou na Nestlé de 2002 a 2009, chegando a Diretor de Marketing e a Diretor de Inovação. De lá, teve de 2009 a 2011 a empresa Ponto Parágrafo e, em seguida, a BaNTu - Inovação em Negócios, até falecer.
Foi Presidente do Capítulo Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado, diretor da seção Rio de Janeiro da Associação Brasileira das Agências de Propaganda (ABAP), membro do Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária (CONAR) e vice-presidente da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA).
Em 2003, ganhou o Prêmio Caboré na categoria Profissional de Marketing e foi eleito Profissional de Marketing de 2005 pela Associação Paulista de Supermercados (APAS). Em 2007 foi eleito o Profissional de cliente - Contribuição Profissional pela APP.
Em 2008 lançou o livro "Marketing da Nova Geração", pela Campus/Elsevir Editora.
Castelar faleceu em 26 de julho de 2014, vítima de câncer.


25 de março de 2020

Intervalo comercial


Vira e mexe veiculo aqui publicidade de um espaço de meditação e yoga.  Se me perguntarem o que ganho, responderei que vocês - leitores - é que ganham.

Como agora. Aqueles que tiverem vontade, curiosidade, desejo, de fazer em suas casas uma aula, basta em comentários manifestara esta vontade. Se não for um interlocutor frequente, informa o endereço de e-mail e enviaremos o link com o vídeo da sessão.

Nos primeiros domingos de cada mês a aula é ministrada ao ar livre, na praia pequena por detrás do MAC, na Boa Viagem.

Vejam imagens de uma delas:




Se você nada estressado e gora muito preocupado com a situação de saúde pública, reclamando da vida, pratique um ensinamento simples, que funciona se você acreditar e levar a sério:



https://www.youtube.com/watch?v=BBv2jtTrLSc



O "Espaço Dharma Bhumi", por razões óbvias suspendeu as aulas presenciais, que serão retomadas em seu endereço tão logo restabelecidas as condições normais na cidade, no estado e no país.


Rua Gavião Peixoto, 182 sala 713, em Icaraí.
Edifício Center IV, defronte ao Campo de São Bento.



24 de março de 2020

Guerra é guerra?




Noutro dia o confrade Riva mencionou não ter tido experiência de viver período de guerra. Ainda bem!

Nasci em 1940 e até que as manchetes de jornais e estações de rádio anunciassem “The war is over” passaram-se cinco anos.


Sim, eu era uma criança, mas lembro dos racionamentos. Do pão de miolo escuro em face das misturas de farináceos por causa da escassez de trigo.

Meu pai, e já contei isto aqui em algum momento, chegava algumas noites com um embrulho disfarçado: os pães eram cortados para não denunciar o conteúdo. Onde ele conseguia não tenho ideia.

Menino, ia para a fila de compra de leite e trazia um litro na leiteira, que era a cota individual. Isto ainda durante um bom tempo após o fim do conflito.

Muito provavelmente passaremos por algo semelhante agora. Mesmo com a superação da pandemia e controle do vírus, ainda viveremos sobre escombros econômicos e sociais.


Com racionamento e falta de um ou outro produto. E teremos que ser muito solidários uns com os outros.

Meu colega de trabalho, no Laboratório Hepacholan, em São Paulo, de nome Lorenzo Petrucci viu a guerra mais de perto ainda, porque ainda vivia numa comuna na Itália.

Viu e sofreu com efeitos. Atingido no quintal de sua casa por estilhaços de granada, trazia numa das pernas as cicatrizes e limitação de movimentos.

Lembro em nossas conversas sobre tempos difíceis dele me contar que o mais doloroso era que a família tinha algumas posses, tinham liras, o que não havia era o que comprar e onde comprar.

Passar fome é uma experiência muito amarga que não queremos para nós e para ninguém.

23 de março de 2020

SEGUNDA-FEIRA


Coitada, nem mesmo a sorte de ter seu nome atribuído a um selvagem que fosse, como o "Sexta-Feira", ainda é rejeitada, xingada e vilipendiada pela maioria das pessoas.

Crusoé bem que poderia chamar de "Segunda-Feira" o selvagem  a quem salvou e pelo qual foi depois ajudado a sobreviver na ilha inóspita e habitada por antropófagos.

Se fosse brasileiro, e não inglês, Crusoé chamaria de Sexta-Feira um nativo prestes a ser devorado por tribo rival? Deixo a questão para o paciente leitor.

Já mencionei e elogiei (muito) neste espaço virtual o Antoine de Saint-Exupéry, mas não o Daniel Defoe.

E por que agora? Porque assusta-me ter que ficar 90 ou até 120 dias confinado em meu apartamento.

Imagina 28 anos, numa ilha sem internet, smartphone, net flix e outros parangolés ou outras piscoletas, e tendo que conviver com um selvagem inculto?

O livro tem uma dimensão moral e deixa à evidência como é importante o autoconhecimento.

Crusoé nunca se retratou como herói e sim como um homem comum, com boa dose de sensatez. Defoe atribui-lhe traços de caráter que merecem aprovação, mas outros nem tanto.

O personagem é generoso mas não enxerga no indígena um igual e, antes pelo contrário, exercita o espírito colonizador dos europeus civilizados de então.

Se escrevo mais tangencio o spoiler. Se você já leu a história reflita, se não leu é uma boa opção de lazer construtivo. Não é, exatamente, um livro de aventura ou história de um aventureiro.

Ah!!! Se não leu "A história de Fernão Capelo Gaivota", do Richard Bach, vai gostar de aprender sobre limites. Li já adulto e pai, porque comprei para meu filho mais velho quando ele era pré-adolescente (está com 55 anos).

Hoje é segunda-feira, dia da preguiça, adequado para ficar em casa quando, mais do que se pode, deve-se! Nesta e possivelmente outras mais.

21 de março de 2020

Ensaio sobre a cegueira, revelador e assustador




Foi meu primogênito que me apresentou ao José Saramago. O livro sugerido foi “A jangada de pedra”. Já lá se vão muitos anos.


Apaixonei-me pelo autor. A partir dali li todos ou quase todos os seus livros, os mais antigos e os publicados após “A jangada de pedra”.

Em língua portuguesa, a meu juízo, poucos se aproximam de sua verve, e nenhum ao estilo.

A prova irrefutável de minha admiração por Saramago está nas vezes em que foi citado neste diminuto espaço virtual.

Esta digressão, talvez desnecessária, foi para me permitir escrever sobre uma de suas obras mais impactantes: “Ensaio sobre a cegueira”.

Esqueçam se assistiram ao filme homônimo, baseado no romance. Não assisti, mas duvido e faço pouco que o filme entregue a mesma carga assustadora sobre a miséria, a baixeza, a inveja, e o egoísmo humanos.

A epidemia de cegueira branca, na designação do autor, que muito rapidamente atinge os moradores de uma cidade a qual  Saramago não dá nome, faz-nos temer por nossa humanidade, equiparando-nos a animais irracionais.

Assim como não deu nome à cidade, não atribui nomes aos personagens que são identificados apenas por características físicas ou de indumentária ou de parentesco. Isso ajuda a tornar universal o comportamento  das pessoas.

Espero, e espero muito, que não cheguemos a situação narrada no livro. Sobretudo que não tenhamos que ficar confinados em hospitais de campanha improvisados.

Foi neste tipo de ambiente, no caso um manicômio, imposto como segregação pelas autoridades da localidade onde se abateu a epidemia, que as relações pessoais e sociais dos personagens se revelam assustadoras.

Difícil, tendo lido o livro e verificando a cada momento a velocidade de propagação do vírus, sua letalidade e inexistência de vacinas e medicação próprias, associados  a escassez de recursos como respiradores mecânicos e vagas em unidades de tratamento intensivo, não se preocupar com o que poderemos viver adiante.

Depende fundamentalmente de nós mesmos, criarmos as barreiras contra a disseminação da doença: ficando em nossas casas para que não sejamos contaminados e nem sejamos vetores de propagação.

Saramago é de difícil leitura, concordo com a avaliação de alguns. A falta de pontuação, senão vírgulas, nos impede de respirar. Somos atropelados pelos acontecimentos, exatamente como estamos sendo com o crescimento de vítimas do coronavírus diariamente, mundo afora.

Não obstante esta característica do festejado autor português, na forma narrativa, sugiro que aproveitem a folga forçada pela falta de futebol, cinemas e teatros, que leiam Saramago. Qualquer de suas obras.

Estas duas abaixo são deliciosas: “Caim” e “A vigem do elefante”

 






20 de março de 2020

OUTONO ou Equinócio de Outono


Quando falamos que entramos no outono da vida, significa o início do envelhecimento, do amadurecimento.

O outono de 2020 tem início hoje, exatamente às 00:50h,  e irá se estender até o dia 20 de junho, quando terá início o inverno.

Este outono, em tempos de coronavírus (Covid-2019), praga disseminada em todo o planeta, tende a ser uma estação sombria e muitas vidas terão fim, tombando como as folhas das amendoeiras e dos maples.

Em 2014, o saudoso confrade Freddy, nos bridou com uma postagem intitulada "O outono lá e cá" comparando os efeitos da estação nos dois hemisférios.

Leiam e vejam as imagens por ele selecionadas em:




Aprecio muito, todos os anos, o despencar das folhas das amendoeiras em minhas caminhadas no calçadão de Icaraí. Amareladas, alaranjadas ou avermelhadas elas flutuam um pouco, oscilando até a queda sobre o piso.

É fato que os empregados da Clin terão mais trabalho na limpeza diária, mas não muito mais do que no verão que se findou, quando as calçadas ficam mesmo coalhadas dos frutos, as amêndoas.

Selecionei duas imagens que simbolizam as manifestações da natureza, com sua leis implacáveis, para encerrar esta postagem e deixa-los apenas com a releitura do texto do Freddy.

Bordo e bambú, no Japão

Maple, na Europa

19 de março de 2020

Não sei o que postar


E não é por falta de assuntos, porque estes abundam. E nem de tempo, agora mais disponível.


Vou começar pela "visita guiada" em nossas residências, sugerida nas redes sociais. Já que temos que ficar confinados pode ser uma medida interessante. Ou não, a conferir.

O roteiro, que teria início  por volta das 07:00 h, no quarto de dormir, prevê caminhada em direção ao banheiro para as medidas de higiene de praxe, com mais vagar.

Tomado o banho ruma-se em direção a copa/cozinha para o dejejum. 

Breakfast da internet
Satisfeito com seu breakfast especial, planejado com cuidado por sua companheira amada, amante, esposa ou fruto de relação estável, é hora de se dirigir ao aposento onde repousam suas traquitanas eletrônicas: smartphone, tablet, notebook, para ler as notícias do dia, baixar mensagens, piadas e memes.

Siga em direção a varanda, ou sacada, se tiver uma, e olhe ao redor. O movimento na rua deve estar pequeno, seja de pedestres seja de veículos. Muito silêncio incomum neste horário.

Rume de volta em direção a copa para o almoço. Trivial variado, provavelmente congelados porque é o que cabe estocar.

É quase certo que o corpo pedirá uma soneca, uma pausa, no sofá da sala, local que há muito você não frequentava. 

Depois passeie pelos corredores e vá tomar seu chá com torradas e biscoitos amanteigados. 

Estamos quase no final do passeio por sua casa. Gostou da excursão? Curtiu seu lar? É bom estar em casa em férias compulsórias?

Esta ideia e roteiro recebi via ZAP.  Achou sem graça? Com todo respeito ao autor desconhecido também achei. Já pensou no terceiro dia desta rotina?

Salvo engano de leigo, que para felicidade geral da nação não tem poderes de gestão e não coloca em risco e pânico a população, usar álcool gel em casa, quando se tem a disposição água e sabão é um desperdício de dinheiro e do produto que anda escasso, e será útil estando da rua.

Outra coisa, a meu juízo sem sentido, é usar máscara se não apresentamos sintomas. Elas serão úteis, desejáveis e até obrigatórias, para os que testaram positivo ou apresentam  os sintomas anunciados como mais comuns (tosse, febre baixa, dificuldade respiratória). Para que não disseminem o vírus.

A máscara não nos protegerá, por si mesma, isoladamente, de contrairmos a doença. O vírus poderá ficar em nossas mãos, olhos, cabelos, roupa,  e na primeira distração  nossa, pimba! 

As polêmicas, paradoxos e palpites são por vezes bizarros e por vezes preocupantes, Qual seria a medida mais acertada?

A maioria defende a suspensão total das aulas nas escolas públicas desde o ensino fundamental. Parece sensato. Mas alguém suscita a tese de que para muitas destas crianças de escola pública, a refeição oferecida por elas  - escolas - é  para elas - crianças - a única do dia. Como fazer?

E se as crianças devem ficar em casa ficarão com quem? Os pais, em tese, precisam trabalhar, Ficam disponíveis avós e vizinhos idosos, isto é recomendável tendo em vista a vulnerabilidade dos idosos e a maior propensão a contrair o doença pela baixa imunidade?

E as cozinheiras que preparam as refeições nas escolas, e os motoristas dos transportes público que as transportam até o local de trabalho? Estes têm que correr os riscos inerentes. E os bombeiros, policiais e médicos e enfermeiros, ficam em casa? 

As farmácias podem fachar? E os postos de combustíveis?  É muita coisa para ser pensada, analisada em todos os seus aspectos, para decisões sensatas, objetivas.

Neste momento de crise constato, com tristeza, que não é só de vacina e medicamentos adequados que precisamos. Mas também de cabeças pensantes, com experiência, discernimento, cultura geral, equilíbrio emocional e modéstia, para conduzir os destinos do país nesta quadra turbulenta.

A China, onde se originou a doença que se espalhou pelo mundo, construiu vários hospitais em 10 dias. Aparelhou-os.


E já anuncia testes com vacinas. Até mesmo o sucesso obtido em humanos.



Os USA também anunciam testes com uma vacina.


O mundo todo deseja sucesso a estes pesquisadores, cientistas que trabalham incansavelmente na busca de vacina protetora e medicação eficaz para o tratamento.

Inclusive os brasileiros que seguramente, sem fanfarronice, bravatas, em estilo low profile, trabalham com sobriedade e objetividade.

Diferentemente de certas "autoridades" que se aproveitam de refletores e câmeras, para nos inundar com sua incontinências verbais.

Enxerga-se luz no fim do túnel, tudo levar a crer que precisamos resistir durante alguns poucos meses, evitando ao máximo a propagação do Covid-19. Numa comparação esdrúxula, como  se fossemos um time pequeno que vai jogar para o empate, cair na defesa. E resistir o quanto seja possível.