3 de março de 2015

Papo de Astronomia - Novidades em 2015 (3) Sonda Rosetta e o cometa 67P



Por
Carlos Frederico March
(Freddy)






Na história os cometas já foram mensageiros dos deuses, trazendo benesses ou principalmente tragédias às nações. Quantos astrólogos perderam a cabeça por terem se enganado em suas predições aos reis e poderosos de antanho?

Ainda no início do século XX (1910), a passagem do Halley com a Terra cruzando sua cauda foi motivo para muitas sandices. A população se imaginava envenenada pelos supostos gases tóxicos, muitos se esbaldaram como se fossem os derradeiros dias de suas existências. Um ou outro se matou de fato!

Eis que em 1986 a sonda europeia Giotto (lançada pela European Space Agency - ESA) se aproximou do cometa de Halley e tirou belas fotos de seu núcleo. Cometa já não era mais um mensageiro do além, e sim um objeto astronômico corriqueiro, quem sabe uma bola de gelo e poeira vinda dos confins do sistema solar?
 
Cometa 1P/ Halley, foto pela Giotto
Aos poucos foram sendo lançadas sondas para o estudo de cometas (além de outras para asteroides e planetas), a ciência em geral se restringindo à observação em passagens próximas a seus núcleos. A Stardust (lançada pela NASA em fevereiro/1999) aproximou-se do cometa 81P/Wild2 em janeiro/2004, retornando à Terra em janeiro/2006 com amostras de sua poeira recolhida numa cápsula.

Outra missão interessante foi a Deep Impact, também da NASA. Lançada em janeiro/2005, seu objetivo foi aproximar-se do cometa 9P/Tempel 1 e jogar sobre ele um módulo de 364kg para que fossem feitas observações do resultado da colisão, tanto a partir da sonda como por observatórios em Terra. A missão foi bem sucedida e o impacto ocorreu em 9/7/2005, tendo produzido ciência com efeito desprezível sobre a órbita do mesmo.

Em vez de encerrar a missão, como projetado inicialmente, a NASA aproveitou que a sonda ainda se encontrava em bom estado operacional e a redirecionou para outro cometa, o 103P/Hartley 2, na missão estendida chamada de EPOXI. Em 4/11/2010 a Deep Impact fez o sobrevoo com imagens impressionantes do Hartley 2, que parece uma rolha de champanha.

Cometa 103P/Hartley 2, foto pela Deep Impact
Parêntese para comentar sobre a nomenclatura de cometas. É bastante complicado. Tem sites tentando explicar mas depois de ler tudo você ainda fica com dúvidas. De momento posso dizer que os cometas citados nesse texto têm todos o "privilégio" de receberem um número que indica sua ordem na sequência de descobertas, seguidos da letra P que significa periódico (volta de tempos em tempos bem determinados). Uma barra / separa a denominação genérica do seu nome próprio, em geral o do astrônomo que primeiro o estudou.

Por exemplo: 1P/Halley significa que é o 1º cometa identificado como periódico, por Edmund Halley. Só para formalizar, a designação oficial do cometa de Halley é 1P/1682 Q1, significando que é o 1º cometa periódico identificado e foi o 1º (no caso o único) encontrado na quinzena Q do ano de 1682. Cada mês tem 2 quinzenas, começando com janeiro (quinzenas A e B). Q seria a 1ª quinzena de setembro.

Deixemos de lado essa verborragia astronômica e vamos ao que interessa! A sonda Rosetta foi lançada pela Agência Espacial Europeia (ESA) em 2/3/2004 tendo a ambiciosa missão de alcançar o cometa periódico 67P/Churyumov-Gerasimenko, 67P para os íntimos, entrar em órbita e nele lançar o módulo Philae, que teria o objetivo específico de pousar em sua superfície e dele tirar fotos in loco.

Até o presente  momento a missão transcorre bem sucedida, "pero no mucho". De fato ela chegou ao 67P e começou a orbitá-lo em 6/8/2014 - por si só um feito magnífico. Até então isso só tinha sido tentado e conseguido com asteroides e planetas. Sempre houve receio de que a intensa emissão de partículas pelos cometas viesse a danificar as sondas espaciais.

Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, foto pela Rosetta

 Aliás, é digno de nota que a própria Rosetta fez um "fly-by" de um asteroide, o 21 Lutetia, em sua rota da Terra até o 67P. O sobrevoo se deu em 10/7/2010 a cerca de 3160km de distância.

O próximo passo da missão seria lançar o módulo Philae, que pousaria num ponto que foi cuidadosamente escolhido durante as órbitas iniciais da Rosetta em torno do 67P.

Por um azar comum em experimentos científicos (a chamada Lei de Murphy: se algo pode dar errado, dará!), o Philae não se ancorou corretamente quando chegou à superfície do cometa, por defeito nos arpões que seriam lançados de suas 3 patas. Com isso, devido à baixa gravidade do 67P, ele bateu e voltou ao espaço. Repicou 2 vezes antes de ficar, por fim, pousado meio que de lado numa "encosta". Era o histórico dia 24/11/2014.

Na foto tirada pelo Philae pousado (abaixo) aparece parte de uma de suas 3 patas, que se encontra elevada, fora do solo. Ainda não foi feito contato visual com o módulo pousado, porque não se sabe exatamente onde ele finalmente parou de quicar. Uma tentativa remota foi feita para que ele ficasse em melhor posição para recarga das baterias solares, mas com pequena efetividade. Ele finalmente silenciou.

Sítio de pouso do Philae no 67P, foto pelo próprio

Mesmo com falhas, o pouso foi um marco científico! De nefastos mensageiros inesperados do além, os cometas se transformaram em pequenos objetos sólidos, com composição complexa (não apenas gelo e poeira), que ao orbitarem o Sol de maneira geralmente bastante excêntrica, sublimam gases de sua superfície quando muito próximos. Eventualmente são inteiramente consumidos e desaparecem - muitas vezes na primeira aproximação!

=> Qual a expectativa para o restante de 2015?

Que as baterias do Philae se recarreguem de maneira a permitir que ele mande mais informações diretamente do solo do cometa. Inicialmente projetadas para recarga com a luz solar, pela posição incômoda em que o Philae acabou se alojando elas recebem pouca luz. À medida que o cometa for se aproximando do Sol, a equipe científica tem esperanças de que as baterias recebam por fim carga suficiente para que o Philae saia de seu sono e realize mais experimentos.

Se isso não ocorrer, o restante da missão continua e a Rosetta, mantendo-se em órbita do 67P, transmitirá em tempo real o processo de sublimação de seus gases, que irão constituir sua costumeira pequena coma e cauda. É experimento inédito e constituirá outro marco científico da sonda. Está no portfolio de ações o paulatino afastamento do cometa para que os instrumentos não sejam danificados pelos gases e poeira emanados durante o período "ativo" do mesmo.

Uma hipótese não descartada é testemunhar a quebra do núcleo do 67P em 2, fato bastante comum em cometas. Já foi detectada uma rachadura de grandes dimensões (0,5km) entre a cabeça (4,1km x 3,2km x 1,3km) e o corpo (2,5km x 2,5km x 2,0km) do cometa, que tem o formato parecido com o de um pato. Como as primeiras emissões de gases detectadas estão acontecendo na região do "pescoço", a quebra é possível pela drenagem de material no processo.

Rachadura no pescoço do cometa 67P, foto pela Rosetta

O periélio, ou ponto de máxima aproximação do Sol - e provável máxima atividade do cometa - vai se dar em meados de agosto/2015. Há, portanto, muito que observar no 67P/Churyumov-Geramisenko em mais uma de suas jornadas periódicas, que se repetem a cada 6,45 anos.


Créditos das imagens:

Cometa 1P/Halley, foto pela Giotto
Halley Multicolor Camera Team, Giotto Projetct, ESA

Cometa 103P/Hartley 2, foto pela Deep Impact
NASA/JPL-Caltech

Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, foto pela Rosetta
ESA / Rosetta / Philae

Sítio de pouso do Philae no 67P, pelo próprio
ESA / Rosetta / Philae

Rachadura no pescoço do cometa 67P, foto pela Rosetta
ESA/Rosetta/MPS for OSIRIS Team


Nota do editor:
Para acompanhar a série:
Parte 1 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-1.html

Parte 2 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-2.html


6 comentários:

  1. Vou enfiar um assunto estranho aqui, mas acho que se justifica plenamente. Senão teria que fazer um post em edição extraordinária.
    A notícia é alvissareira, finalmente o Battisti vai pro diabo que o carregue.
    Além do Sergio Moro, agora temos uma juíza federal sensata, corajosa e independente.
    Leiam:
    http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/03/justica-federal-no-df-determina-deportacao-de-cesare-battisti.html

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  2. Já enviei carta cumprimentando a Juiza, através de jornais e revistas, conforme abaixo:

    Veja
    Resposta - Prezado leitor (a), O departamento de Atendimento ao Leitor de VEJA recebeu seu e-mail. Sua mensagem
    15:51

    Forum de Leitores
    Resposta automática: Battisti - ATENÇÃO: O NOVO E-MAIL DO FÓRUM DOS LEITORES É forum@estadao.com O jornal O Estado de S. Paulo
    15:50

    Cartas OGlobo
    Resposta Automática Re: Battisti - Prezado leitor, esta é uma resposta automática que confirma o recebimento de seu e-mail por nossos

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  3. Esta repercutindo:

    http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/03/03/justica-federal-determina-deportacao-de-cesare-battisti.htm

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  4. Novidades 2016:

    http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/01/04/o-que-vem-por-ai-em-2016/

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