Por
Carlos Frederico March
(Freddy)
Na
história os cometas já foram mensageiros dos deuses, trazendo benesses ou
principalmente tragédias às nações. Quantos astrólogos perderam a cabeça por
terem se enganado em suas predições aos reis e poderosos de antanho?
Ainda
no início do século XX (1910), a passagem do Halley com a Terra cruzando sua
cauda foi motivo para muitas sandices. A população se imaginava envenenada
pelos supostos gases tóxicos, muitos se esbaldaram como se fossem os
derradeiros dias de suas existências. Um ou outro se matou de fato!
Eis
que em 1986 a sonda europeia Giotto (lançada pela European Space Agency - ESA) se
aproximou do cometa de Halley e tirou belas fotos de seu núcleo. Cometa já não
era mais um mensageiro do além, e sim um objeto astronômico corriqueiro, quem
sabe uma bola de gelo e poeira vinda dos confins do sistema solar?
Aos
poucos foram sendo lançadas sondas para o estudo de cometas (além de outras
para asteroides e planetas), a ciência em geral se restringindo à observação em
passagens próximas a seus núcleos. A Stardust (lançada pela NASA em
fevereiro/1999) aproximou-se do cometa 81P/Wild2 em janeiro/2004, retornando à
Terra em janeiro/2006 com amostras de sua poeira recolhida numa cápsula.
Outra
missão interessante foi a Deep Impact, também da NASA. Lançada em janeiro/2005,
seu objetivo foi aproximar-se do cometa 9P/Tempel 1 e jogar sobre ele um módulo
de 364kg para que fossem feitas observações do resultado da colisão, tanto a
partir da sonda como por observatórios em Terra. A missão foi bem sucedida e o
impacto ocorreu em 9/7/2005, tendo produzido ciência com efeito desprezível
sobre a órbita do mesmo.
Em
vez de encerrar a missão, como projetado inicialmente, a NASA aproveitou que a
sonda ainda se encontrava em bom estado operacional e a redirecionou para outro
cometa, o 103P/Hartley 2, na missão estendida chamada de EPOXI. Em 4/11/2010 a
Deep Impact fez o sobrevoo com imagens impressionantes do Hartley 2, que parece
uma rolha de champanha.
Cometa 103P/Hartley 2, foto pela Deep Impact |
Parêntese
para comentar sobre a nomenclatura de cometas. É bastante complicado. Tem sites
tentando explicar mas depois de ler tudo você ainda fica com dúvidas. De
momento posso dizer que os cometas citados nesse texto têm todos o
"privilégio" de receberem um número que indica sua ordem na sequência
de descobertas, seguidos da letra P que significa periódico (volta de tempos em
tempos bem determinados). Uma barra / separa a denominação genérica do seu nome
próprio, em geral o do astrônomo que primeiro o estudou.
Por
exemplo: 1P/Halley significa que é o 1º cometa identificado como periódico, por
Edmund Halley. Só para formalizar, a designação oficial do cometa de Halley é
1P/1682 Q1, significando que é o 1º cometa periódico identificado e foi o 1º
(no caso o único) encontrado na quinzena Q do ano de 1682. Cada mês tem 2
quinzenas, começando com janeiro (quinzenas A e B). Q seria a 1ª quinzena de
setembro.
Deixemos
de lado essa verborragia astronômica e vamos ao que interessa! A sonda Rosetta
foi lançada pela Agência Espacial Europeia (ESA) em 2/3/2004 tendo a ambiciosa missão
de alcançar o cometa periódico 67P/Churyumov-Gerasimenko, 67P para os íntimos, entrar
em órbita e nele lançar o módulo Philae, que teria o objetivo específico de
pousar em sua superfície e dele tirar fotos in loco.
Até
o presente momento a missão transcorre
bem sucedida, "pero no mucho". De fato ela chegou ao 67P e começou a
orbitá-lo em 6/8/2014 - por si só um feito magnífico. Até então isso só tinha
sido tentado e conseguido com asteroides e planetas. Sempre houve receio de que
a intensa emissão de partículas pelos cometas viesse a danificar as sondas
espaciais.
Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, foto pela Rosetta |
Aliás,
é digno de nota que a própria Rosetta fez um "fly-by" de um
asteroide, o 21 Lutetia, em sua rota da Terra até o 67P. O sobrevoo se deu em
10/7/2010 a cerca de 3160km de distância.
O
próximo passo da missão seria lançar o módulo Philae, que pousaria num ponto que
foi cuidadosamente escolhido durante as órbitas iniciais da Rosetta em torno do
67P.
Por
um azar comum em experimentos científicos (a chamada Lei de Murphy: se algo
pode dar errado, dará!), o Philae não se ancorou corretamente quando chegou à
superfície do cometa, por defeito nos arpões que seriam lançados de suas 3
patas. Com isso, devido à baixa gravidade do 67P, ele bateu e voltou ao espaço.
Repicou 2 vezes antes de ficar, por fim, pousado meio que de lado numa "encosta".
Era o histórico dia 24/11/2014.
Na
foto tirada pelo Philae pousado (abaixo) aparece parte de uma de suas 3 patas,
que se encontra elevada, fora do solo. Ainda não foi feito contato visual com o
módulo pousado, porque não se sabe exatamente onde ele finalmente parou de
quicar. Uma tentativa remota foi feita para que ele ficasse em melhor posição
para recarga das baterias solares, mas com pequena efetividade. Ele finalmente
silenciou.
Sítio de pouso do Philae no 67P, foto pelo
próprio
|
Mesmo
com falhas, o pouso foi um marco científico! De nefastos mensageiros
inesperados do além, os cometas se transformaram em pequenos objetos sólidos,
com composição complexa (não apenas gelo e poeira), que ao orbitarem o Sol de
maneira geralmente bastante excêntrica, sublimam gases de sua superfície quando
muito próximos. Eventualmente são inteiramente consumidos e desaparecem -
muitas vezes na primeira aproximação!
=>
Qual a expectativa para o restante de 2015?
Que
as baterias do Philae se recarreguem de maneira a permitir que ele mande mais
informações diretamente do solo do cometa. Inicialmente projetadas para recarga
com a luz solar, pela posição incômoda em que o Philae acabou se alojando elas recebem
pouca luz. À medida que o cometa for se aproximando do Sol, a equipe científica
tem esperanças de que as baterias recebam por fim carga suficiente para que o
Philae saia de seu sono e realize mais experimentos.
Se
isso não ocorrer, o restante da missão continua e a Rosetta, mantendo-se em
órbita do 67P, transmitirá em tempo real o processo de sublimação de seus
gases, que irão constituir sua costumeira pequena coma e cauda. É experimento
inédito e constituirá outro marco científico da sonda. Está no portfolio de
ações o paulatino afastamento do cometa para que os instrumentos não sejam
danificados pelos gases e poeira emanados durante o período "ativo"
do mesmo.
Uma
hipótese não descartada é testemunhar a quebra do núcleo do 67P em 2, fato
bastante comum em cometas. Já foi detectada uma rachadura de grandes dimensões (0,5km)
entre a cabeça (4,1km x 3,2km x 1,3km) e o corpo (2,5km x 2,5km x 2,0km) do
cometa, que tem o formato parecido com o de um pato. Como as primeiras emissões
de gases detectadas estão acontecendo na região do "pescoço", a
quebra é possível pela drenagem de material no processo.
Rachadura no pescoço do cometa 67P, foto pela Rosetta |
O
periélio, ou ponto de máxima aproximação do Sol - e provável máxima atividade
do cometa - vai se dar em meados de agosto/2015. Há, portanto, muito que
observar no 67P/Churyumov-Geramisenko em mais uma de suas jornadas periódicas,
que se repetem a cada 6,45 anos.
Créditos
das imagens:
Cometa 1P/Halley, foto pela Giotto
Halley Multicolor Camera Team, Giotto
Projetct, ESA
Cometa 103P/Hartley 2, foto pela Deep
Impact
NASA/JPL-Caltech
Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, foto pela
Rosetta
ESA / Rosetta / Philae
Sítio de pouso do Philae no 67P, pelo
próprio
ESA / Rosetta / Philae
Rachadura no pescoço do cometa 67P, foto
pela Rosetta
ESA/Rosetta/MPS
for OSIRIS Team
Nota do editor:
Para acompanhar a série:
Parte 1 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-1.html
Parte 2 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-2.html
Vou enfiar um assunto estranho aqui, mas acho que se justifica plenamente. Senão teria que fazer um post em edição extraordinária.
ResponderExcluirA notícia é alvissareira, finalmente o Battisti vai pro diabo que o carregue.
Além do Sergio Moro, agora temos uma juíza federal sensata, corajosa e independente.
Leiam:
http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/03/justica-federal-no-df-determina-deportacao-de-cesare-battisti.html
Já enviei carta cumprimentando a Juiza, através de jornais e revistas, conforme abaixo:
ResponderExcluirVeja
Resposta - Prezado leitor (a), O departamento de Atendimento ao Leitor de VEJA recebeu seu e-mail. Sua mensagem
15:51
Forum de Leitores
Resposta automática: Battisti - ATENÇÃO: O NOVO E-MAIL DO FÓRUM DOS LEITORES É forum@estadao.com O jornal O Estado de S. Paulo
15:50
Cartas OGlobo
Resposta Automática Re: Battisti - Prezado leitor, esta é uma resposta automática que confirma o recebimento de seu e-mail por nossos
Esta repercutindo:
ResponderExcluirhttp://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/03/03/justica-federal-determina-deportacao-de-cesare-battisti.htm
?????????????
ResponderExcluirPela manhã: Ahhhhhh!
ResponderExcluirNovidades 2016:
ResponderExcluirhttp://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/01/04/o-que-vem-por-ai-em-2016/