A maioria de nós aprendeu que o sistema solar tinha 9 planetas, o mais afastado deles sendo Plutão. Além deles, havia um cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, com milhares de integrantes, a maioria pequenos. São tão espalhados entre si que as sondas espaciais cruzam o cinturão sem receio de colidir com um deles há décadas.
Avanços
galopantes em eletrônica e informática produzem a cada ano mais maravilhas
tecnológicas, de sorte que os astrônomos de hoje possuem muito mais recursos
que há apenas 30 anos atrás. Como subproduto, a partir da década de 90,
observações mais detalhadas dos confins do sistema solar começaram a dar
frutos.
Hoje
em dia a descrição do sistema solar inclui elementos como o Cinturão de Kuiper (Kuiper
Belt) e a Nuvem de Oort (Oort Cloud), que lhe estenderam os limites para além do
anteriormente imaginado.
Rapidamente,
pois não é o tema central, o Cinturão de Kuiper contém diversos pequenos objetos
(KBO, da sigla em inglês para Objeto do Cinturão Kuiper) além da órbita de
Netuno, o último dos grandes planetas conhecidos. Em 1992 foi descoberto o
primeiro deles e hoje em dia já os contamos aos milhares.
A
Nuvem de Oort começa além do Cinturão de Kuiper e seu limite é o espaço
interestelar, onde o Sol não tem mais influência sobre seus integrantes. Seria,
de acordo com a teoria, o berço da maioria dos cometas (milhões deles) que
eventualmente têm suas órbitas perturbadas e caem em direção ao Sol. Uns são
capturados e se tornam periódicos, outros são ejetados de volta ao espaço
interestelar. Alguns (muitos) se consomem ao se aproximar e simplesmente
desaparecem.
Voltando
aos KBOs, dezenas deles têm tamanhos respeitáveis (1.000km de diâmetro ou mais)
e um deles (Éris) tem cerca de 2.320km de diâmetro, tamanho similar ao de
Plutão, além de possuir uma lua (Disnomia). Orco, com estimados 917km de
diâmetro, e sua lua Varth circulam o Sol com uma órbita essencialmente igual à
de Plutão, apenas defasado de 180º. Quando Plutão se aproxima do Sol, Orco está
afastado. E vice-versa, portanto não há o risco de choque entre eles.
E
então? Éris é ou não o 10º planeta? Se tem o tamanho de Plutão, teria de ser
planeta também! E Orco, que apesar de ser menor se comporta exatamente como
Plutão em torno do Sol?
A
União Astronômica Internacional (UAI), pressionada por todas essas descobertas,
reviu em 2006 a definição de planeta e Plutão se viu rebaixado à categoria de
planeta-anão, reduzindo o sistema solar a 8 planetas principais.
Parêntesis:
por coincidência, essa decisão aconteceu pouco depois do primeiro astronauta
brasileiro ir ao espaço (Marcos Pontes, 30/03 a 08/04/2006) e alguém já jogou o
chiste na rede!
Junto
a Plutão, a UAI reclassificou em 2006 alguns dos KBOs (Éris, Haumea e Make
Make) e o maior dos asteroides (Ceres) como planetas-anões. A definição é
incerta, de modo que - versão 2015 - outros KBOs também estão na relação de
possíveis planetas-anões, o que diga-se de passagem não tem importância alguma
(rs rs)!
Comentei
no post inicial da série que a sonda Voyager 2 realizou o que a história astronômica passou a conhecer como
a Grand Tour, complementando nosso conhecimento anterior do sistema solar com
imagens únicas de Urano e Netuno.
Faltava
Plutão, que é tão pequeno e está tão longe que dele só temos imagens borradas e
nada nítidas. Tão longe que apenas em 1978 foi descoberta Charon, a primeira de
suas (posição de hoje) 5 luas.
Depois
de muita controvérsia e revisões orçamentárias, a NASA conseguiu lançar a sonda
New Horizons em 19/02/2006 com o objetivo único e específico de passar "lotado"
por Plutão em 14/07/2015 e estudá-lo.
Para
um planeta-anão até que Plutão tem muitos atrativos. Sua maior lua é Charon,
que tem cerca de metade de seu diâmetro (1.205 km contra 2.322 km), o que faz
de Plutão um planeta-anão-duplo, com o baricentro situado fora dele. Em outras
palavras, Plutão e Charon circulam em torno de um ponto hipotético situado
entre ambos, como um grande haltere irregular. Além dessa, foram descobertas
até hoje mais 4 luas menores: Nix, Hydra, Kerberos e Styx, as duas últimas
depois da sonda já ter sido lançada (2011 e 2012).
Como
curiosidade, há quem classifique Charon como planeta-anão. No entanto, ela não
cumpre alguns dos critérios da UAI, que não se resumem a tamanho e composição.
Senão, como enquadrar Titã, a maior lua de Saturno, com atmosfera, lagos de
metano e um tamanho maior que o do planeta Mercúrio? E por que Ceres, que é
menor que Charon, é considerado planeta-anão? Critérios...
=>
Qual a nossa expectativa para 2015?
Depois
de mais de 9 anos viajando a uma velocidade alucinante (chegou a mais de
81.000km/h em determinado momento do percurso), esperamos que a New Horizons, já
a partir de junho/2015, nos brinde pela primeira vez na história com imagens
nítidas de Plutão, Charon e suas demais luas, culminando com o sobrevoo em
14/7/2015.
A
expectativa do projeto é que as imagens obtidas no sobrevoo sejam depois
enviadas lentamente para a Terra durante cerca de 1 ano (!). A razão é um transmissor lento (cerca de 1
kbps) aliado a uma latência (retardo unidirecional) de mais de 4 horas e meia
devido à distância entre a nave e a Terra, dificultando a "conversa"
com o centro de operações.
Considerações
finais da série
2015
fechará um ciclo de conhecimento que começou, para mim, em 1963. Terei a
oportunidade de conhecer "de perto" e em detalhe todos os grandes (e
alguns pequenos) astros do Sistema Solar que me foram ensinados quando eu tinha
12 anos e que à época eram apenas pontos em imagens pouco nítidas.
Cometas
não são mais bolas de neve suja que deixam um rastro de luz refletida no céu.
Têm superfície e pode-se pousar neles.
Saturno não tem 3 grandes anéis, e sim milhares deles numa configuração
maravilhosa entremeada de luas pastoras. Júpiter tem anel e mais de 60 luas,
não apenas 7 ou 8. Urano e Netuno também têm anéis e seus séquitos de luas.
Plutão é duplo e tem pelo menos 5 luas.
Ceres
e Vesta, antes os 2 maiores asteroides, são diferentes como água e vinho. Um é
equilibrado, com um grande oceano submerso, a ponto de ser considerado
planeta-anão. O outro é rochoso e amassado por uma gigantesca colisão no
passado remoto.
Conseguimos
detectar milhares de KBOs (alguns deles com dimensões planetárias), que
aumentaram consideravelmente o portfolio do nosso Sistema Solar, além de uma
nuvem com milhões de cometas mais além.
Conforme
testemunhamos em filmes continuamente produzidos pela sonda SDO (Solar Dynamic
Observatory), o Sol é um turbilhão assustador, produzindo línguas de fogo que
engoliriam diversas Terras em tamanho, além de ejetar eventualmente imensas nuvens
de partículas que, lançadas em nossa direção, podem cozinhar a eletrônica de
satélites desprotegidos e desbalancear nossas quilométricas redes de
distribuição de energia.
A
Lua foi mapeada à exaustão. Tem o lado oposto bem mais craterizado que o que
nós conseguimos ver, do solo. Fruto, talvez, de sua maior exposição ao espaço
interplanetário.
E
a Terra é azul!
Créditos das imagens:
Esquema do Sistema Solar com KO e OC:
Google (www.nature.com)
Charge:
Google (www.kibeloco.com.br)
Imagem da Terra c/ Lua ao fundo: Google
(NASA)
Nota do editor:
Para acompanhar a série:
Parte 1 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-1.html
Parte 2 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-2.html
Parte 3 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-3.html
Nota do editor:
Para acompanhar a série:
Parte 1 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-1.html
Parte 2 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-2.html
Parte 3 - http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/papo-de-astronomia-novidades-em-2015-3.html
Para quem acha que esta temática da série que hoje termina é complexa ou maçante, ameaço com a volta dos temas de caráter político que provocam náuseas e depressões. Trocaremos ciência cultura por vulgaridade e corrupção.
ResponderExcluirAssim como foi quando o Freddy abordou o aparecimento e popularização dos drones, que muita agente desconhecia do que se tratava (inclusive o blogueiro), estou certo de que os acontecimentos previstos para este ano e abordados nos posts ganharão as manchetes dos jornais ao longo de 2015.
Esse parágrafo do Freddy é emblemático :
ResponderExcluir2015 fechará um ciclo de conhecimento que começou, para mim, em 1963. Terei a oportunidade de conhecer "de perto" e em detalhe todos os grandes (e alguns pequenos) astros do Sistema Solar que me foram ensinados quando eu tinha 12 anos e que à época eram apenas pontos em imagens pouco nítidas.
Estou tentando - e não estou conseguindo - ter a mesma euforia que o Freddy, mas em relação a algum tema ou fato que fuço e pesquiso e estudo desde criança, e que hoje, graças à tecnologia, estaria às vésperas de conhecer mais. Deu pra entender ?
Adoro os programas do History Channel, Discovery e NatGeo, que mostram uma nova leitura de fatos históricos, em função do nível de pesquisa e tecnologia aplicada de hoje. Nossos livros de História já foram rasgados há muito tempo ! rsrsrs
Recordo apenas um fato marcante para mim: sempre fui fascinado, desde criança, pelo naufrágio do Titanic. Vcs não imaginam a quantidade de livros, revistas e filmes que tenho sobre o assunto.
E foi um baque para mim - e muitos - a descoberta do navio em 1986, pelo Ballard, em sua missão de pesquisa. A grande novidade e surpresa na descoberta foi encontrarem a popa a 800 metros de distância do restante do navio, ou seja, ele se partiu em 2 pedaços, no naufrágio. Nenhuma testemunha conseguiu perceber isso no dia do naufrágio. Todos ouviram um grande estrondo, mas não perceberam a quebra do navio.
Sensacional !
Freddy deve estar "em pulgas", como dizem os paulistanos, aguardando as novidades.
O blog ainda se chama Generalidades Especializadas. Se tenho de me desculpar por algo, é por ser um tanto prolixo e com isso, um tema que poderia ter sido tratado em 1 ou 2 posts acabou com 4 dissertações. E isso porque me segurei (rs rs).
ResponderExcluirTenho sempre de agradecer ao Carrano a paciência de aceitar meus posts, editá-los e publicá-los. Nem sempre é fácil, porque por hábito sempre coloco algumas fotos no corpo do texto.
Maçante ou não maçante qualquer tema é para quem por ele se interesse ou não. Se não interessar, basta desprezar a leitura naquele dia e bola pra frente.
Caro Carlos Frederico,
ResponderExcluirSe alguém tivesse que agradecer, este alguém seria eu. Seus posts são sempre bem-vindos porque enriquecem o blog.
Principalmente em casos como desta série, de conteúdo diferenciado.
A edição com fotos dá um pouco mais de trabalho, mas admito que por vezes elas são fundamentais para ilustrar o texto.
Colabore sempre.
Vcs vão ficar trocando carícias até quando ? kkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirEu não tive muito frisson pelo Titanic. Minha "praia" sempre foram navios e aviões de guerra, sem entrar em detalhes sobre conflitos, perda de vidas, essas coisas. Restrinjo-me apenas às máquinas em si.
ResponderExcluirApenas para fazer uma comparação com o Titanic, fiquei muito mais empolgado com a descoberta dos restos dos couraçados Bismarck (alemão), Yamato e agora Musashi (japoneses).
Está com ciúmes, Riva?
ResponderExcluirFicaremos até o orgasmo. Espero que o Freddy seja rápido, tipo coelho (KKKKKK)
A missão New Horizons terminou a primeira fase e hoje (04/04/2015) inicia a AP2 - Approach Phase 2 (Fase de Aproximação 2), que se estenderá até 23/06/2015.
ResponderExcluirNessa segunda fase, o objetivo será calibrar o caminho da sonda até Plutão e ao mesmo tempo ir tirando fotos cada vez mais nítidas dele e de seu séquito. Através da observação, mesmo que ainda tosca, dos arredores de Plutão, a NASA cuidará que a sonda não vá inadvertidamente se chocar com algum elemento desconhecido que esteja em seu caminho, evitando o final prematuro da missão.
Em termos de nitidez, a expectativa é que apenas em meados de maio a New Horizons irá ultrapassar a qualidade das imagens já obtidas através do telescópio espacial Hubble. Contudo, o Hubble só muito de vez em quando observa Plutão, ao passo que a câmera da New Horizons estará permanentemente alerta ao trajeto até o planeta-anão, com objetivos mais amplos que simples fotos.
Só a partir da AP3, que se inicia em 24/06/2015, é que as imagens voltarão a ser o foco maior da missão.
Mais plutão:
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/observatorio/post/mais-plutao.html
(selecione e cole)
Novas imagens de Plutão.
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/09/novas-imagens-de-plutao-mostram-complexidade-de-sua-superficie.html
Marte.
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/10/nasa-divulga-fotos-reais-de-locacoes-citadas-no-filme-perdido-em-marte.html
Leiam sobre visibilidade dos planetas:
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/observatorio/post/planetas-na-fila.html