Em quase todos os domingos - os segundos de agosto de cada ano - nos quais se comemora o "Dia dos Pais", coloco aqui uma letra de música, uma crônica, um aforismo, algo que preste homenagem aqueles que foram no passado nossos heróis, provedores, estacas e alicerces.
Alguns felizardos ainda os têm vivos e próximos.
Alguns felizardos ainda os têm vivos e próximos.
De meu pai até o momento em que passei a pai, muitas mudanças de hábitos e costumes. Quando tentei ser um pai como o meu quebrei a cara.
O mundo mudara. Não irei me estender sobre isto posto que não é o objetivo discutir sociologia, antropologia, psicologia infantil, revoluções culturais, queima de sutiãs, Beatles, Mary Quant, e outros personagens ou fenômenos sociais que mudaram o mundo.
Mas uma coisa posso asseverar: os pais por vezes são mal compreendidos, contestados e até por vezes desrespeitados, mas são importantíssimos nos papeis por vezes cumulativos de exemplo, espeque, conselheiro e, principalmente, AMIGO.
Riva e Carlinhos, últimos dos moicanos ainda presentes aqui neste espaço, tenho certeza no que irei agora firmar, tinham enorme amor e respeito por seus pais, e agora os têm como doces lembranças.
De minha parte lamento nunca haver dito ao meu pai que o amava. Entretanto já ouvi de meus filhos e já li em dedicatórias a explicitação de amor.
Fruto das tais mudanças havidas entre gerações.
Recorrente nesta data, uma vez mais republico crônica de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, mais conhecido como Artur da Távola, uma das mais belas homenagens, em língua portuguesa.
"Ser pai
De todas as minhas modestas dimensões humanas, a que mais me realiza é a de ser pai. Ser pai é, acima de tudo, não esperar recompensas. Mas ficar feliz caso e quando cheguem. É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão. É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros. Ser pai é aprender, errando, a hora de falar e de calar. É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois. Mas jamais falar no momento preciso. É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte. É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar. Ser pai é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez. É esperar. É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo. Portanto, é aguentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos. Ser pai é: saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir. Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar. É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói. Ser pai é ser bom sem ser fraco. É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão. Ser pai é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar. É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida. Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão. Mas ir às lágrimas quando chegam. Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição. É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho. É saber brincar e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber. Ser pai é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação. Ser pai é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio. O máximo de convivência no máximo de solidão. É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver. É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante." Este ano acrescento texto de Leo Aversa, publicado originalmente em "O Globo", em maio de 2018, e na Revista Prosa Verso e Arte". Links ao final. Para aumentar o corpo da letra do texto do Leo, basta clicar sobre o próprio texto. Roberto Carlos é um dos compositores, cronistas e poetas que prestaram homenagem aos pais através de seus versos. Links: https://www.revistaprosaversoearte.com/o-tempo-que-temos-na-mao-leo-aversa/ https://oglobo.globo.com/rio/o-tempo-que-temos-na-mao-22643744 https://www.youtube.com/watch?v=DK8jFwu0_GM |
ResponderExcluirBom dia, Luiz.
Fiz uma visita ao seu blog. A temática que inclui natureza, paisagens, turismo e assuntos correlatos é bem interessante.
Desejo-lhe sorte.
ResponderExcluirO texto do Leo Averso tem que ser lido. Se você conhece, releia.
No dia de hoje nada mais apropriado do que lembrar de nossos pais e suas prioridades, e de nosso papel de pais babões, orgulhosos, e sempre compartilhando com os filhos alegrias e tristezas.
Arthur da Távola escreveu outro sobre o PAI, acho que 1 ou 2 dias depois do falecimento do meu, em 1982.
ResponderExcluirEstá por aí, na internet e no blog.
Nada a acrescentar. Só saudade, gratidão e admiração.
ResponderExcluirAlmoço com os filhos. Produzido pela minha mulher. Voltei a ganhar livro, e para coroar o domingo CAM 1 X 0 Flamengo.
Tudo ótimo.
ResponderExcluirGalo! Galo! Galo!