Não é hora de falar (escrever) sobre Brexit; da possível reeleição de Trump ou de seu improvável impeachment*; da incontinência verbal do presidente Bolsonaro, ou de seus pimpolhos; da euforia rubro-negra (argh!); da cotação do dólar ou da novela "prisão em segunda instância".
Estes temas são inapropriados para o presente momento, quando nossas atenções estão voltadas para o preço das nozes e das castanhas, para a busca por um vinho português capaz de enfrentar o bacalhau, mas com baixa adstringência - com taninos equilibrados - de sorte a não me deixar a boca com a sensação de ressecamento.
Preguiça mental conjugada com pouca inspiração, obrigam-me a um recurso mais ou menos comum entre cronistas: republicar ou dar nova roupagem a texto já publicado.
É o que estou fazendo, com a ressalva que não me intitulo cronista. Sou um blogueiro sobrevivente, graças a generosidade de alguns parentes e amigos fieis.
A postagem a seguir é de julho de 2012, quando o blog tinha apenas três anos de existência. Está no link a seguir, com os comentários da época.
https://jorgecarrano.blogspot.com/2012/07/confusao-mental.html
9 de julho de 2012
Confusão mental
Quase todo mundo já ouviu falar do “Samba do Crioulo Doido”, sátira por vezes mal interpretada como sendo preconceituosa, de autoria do jornalista, cronista do cotidiano, escritor e mulherólogo Sergio Porto, há muito falecido, e que assinava suas matérias como Stanislaw Ponte Preta.
Pois muito bem. Neste samba o autor aborda a confusão que se instala na cabeça dos compositores de sambas de enredo, pelo fato de terem, a cada carnaval, que escrever letras de sambas sobre personagens e fatos da história do Brasil.
Em geral, estes compositores tinham pouca cultura formal, possuindo apenas a sabedoria da vida e inspiração poética congênita (inata).
O tal samba do Stanislaw retrata exatamente a mistura de personagens, datas e eventos.
Num determinado momento da minha vida, por coincidência, vi-me às voltas com atividades novas para mim, em termos mais aprofundados.
Assim é que, usuário de recursos de informática, ainda ao tempo do CP500 que tínhamos na empresa, e bebedor de vinho ocasional (degustador mais tarde), precisei comprar um cachorro.
Estava mudando para São José de Imbassaí e ter um cão era importante sob os aspectos de segurança e companhia para nós.
Antes de me decidir por esta mudança de residência, havia concluído um curso de informática e programação (Basic).
Na mesma época meu filho Jorge me convida para participar, com ele, de um curso de Sommelier que era ministrado na ABS, no Rio de Janeiro. A ideia era que aprendêssemos o básico, para evitarmos gafes grosseiras.
De repente, não mais que de repente (isto dá poema)**, vi-me às voltas com muito vocabulário estrangeiro, francês, inglês, etc, que não fazia parte de meu dia-a-dia. Na área de informática, de castas viníferas e cachorros.
Lembrei do Samba do Crioulo Doido e escrevi uma croniqueta que não sei onde foi parar (provavelmente se perdeu com um HD corrompido), coisa mais ou menos corriqueira em minha vida de uns tempos a esta parte.
E porque lembrei? Fiquei imaginando meu vizinho, já mencionado aqui no blog, novo rico, mas inculto e semialfabetizado tendo que conversar sobre raças caninas, vinhos e processamento de dados, com todos os termos e nomes, novos para ele que, se não manejava bem o português, em inglês ou qualquer outro idioma era mudo de pai e mãe.
A confusão mental instalada nos neurônios resultaria em coisas risíveis.
A confusão mental instalada nos neurônios resultaria em coisas risíveis.
Uma frase sairia, mais ou menos, assim: “Levei meu gewürztraminer para vacinar e aproveitei para ir ao supermercado para comprar vinho feito com a uva schnauzer, que dizem ser bem encorpado.”
Ou ainda:
“Comprei um computador e mandei instalar o beagle para poder ter acesso na internet”. Sabe que meu cachorro, aquele maior, o zinfandel quase mordeu o técnico que veio instalar?”
E eu diria que achei um ótimo vinho com boa relação custo-benefício, um corte de setter com shar-pei, mais frutado do que o ripping.” (juro que não diria, é só licença poética).
“Ou que o grenache é um sistema operacional melhor do que o carmenere ou o bedlington.”
A apache é uma uva e o grenache é um servidor web livre? Meu deus!!!
Rottweiler é uma casta que resulta em bons vinhos e gewürztraminer é uma raça de cachorro, de porte maior do que a viognier. E mais feroz do que a firewall.
* https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/12/13/comite-da-camara-aprova-denuncias-formais-que-serao-votadas-em-impeachment-de-trump.ghtml
Você não achou graça porque é culto e fluente em vários idiomas. Eu achei graça da minha ideia porque estava bem próximo de um paroxismo tal de pânico, que pensei em trocar o cão por um gato, o vinho pela caipirinha e a internet pelo sinal de fumaça.
** Versos de soneto de Vinicius de Moraes
.... repeteco, ok, então comemos bacalhau, eu e a Matriarca Vascaína, na CASA DAS NATAS, na galeria do Trade Center, em Icaraí. Repeteco, ora, que não sei porque repetimos sempre em épocas natalinas.
ResponderExcluirPedimos um a Gomes Sá e um em Lascas, claro com um tinto lusitano que esqueci o nome maluco. E salada simples de alface e tomate.
Ainda sobre repeteco, não sei porque, o verão ainda não chegou. E isso não é repeteco - ainda bem, porque em dezembro passado quase morremos tostados pelo calor insuportável. Que não venha !
E de repeteco, estou aqui sentado no tapete da sala, teclando as always, vendo futebol, em companhia do meu amigo Johnnie, o Walker.
PS: hoje saí com a camisa do FLU por aí, e um engraçadinho falou que é o 2º time de todos nós. Não mandei TNC em respeito a (tem crase?) sua muleta, porque era perneta (é bullying?), mas falei esportivamente que sou da geração AMERICA como 2º time.
Tô aki pensando como vai ser quando sair com a do Liverpool campeão mundial. Acho que vou levar minha 7.65 comigo. Depois meu advogado me salva, afinal, serei réu primário com curso superior (que não adianta nada).
ResponderExcluirGewürztraminer, software, schnauzer, rottweiler, golden retriever, tannat, firewall, viognier, beagle, cabernet, bedlington.
Agora eu sei (será?) distinguir uma cepa de um termo cibernético ou de uma raça canina.
ResponderExcluirRiva,
Tentei localizar a professora Rachel. Entretanto malgrado meus esforços não logrei êxito. Foi infrutífera minha busca.
Contudo, recorrendo aos meus alfarrábios encontrei lição da professora Celeste dando conta de que antes dos possessivos não há crase.
Agora a dúvida: "sua" é pronome possessivo? rsrsrs
No caso o pernalta estava de posse de uma muleta, ou seja, a muleta era SUA, donde concluo que sim, o SUA é pronome possessivo kkkkkkkkk.
ResponderExcluirNa hora pensei em desfazê-lo dessa posse, pela SUA petulância e ousadia, mas ... relevei, citando o America do meu saudoso pai.
Fui sacanear o verão, olha no que deu ....... fornalha hoje !!!
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ResponderExcluirÉ desumano. Em Guaratiba, hoje, chegou a 41 graus.
ResponderExcluirAbri o texto falando no improvável impeachment do Trump. Claro que me referia a aprovação no senado, de composição majoritariamente republicana, porque na câmara dos deputados, de maioria democrata,até as pedras das pirâmides sabiam que seria aprovado.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/12/18/camara-dos-eua-aprova-impeachment-de-trump.ghtml