Ouvindo o conselho de Dorival Caymmi, fui a Bahia.
"Você já foi à Bahia, nêga?
Não?
Então vá!
Quem vai ao "Bonfim", minha nêga,
Nunca mais quer voltar"
Corria o ano de 1974. Morava em São Paulo e iria tirar férias. Comprara há pouco uma Brasília 0KM.
Onde ir? Avaliadas as possibilidades, ponderados os desejos, a decisão, na época, parecia óbvia. Vamos para Salvador?
Tínhamos que estabelecer uma estratégia porque nossos dois filhos eram ainda pequenos e não queríamos leva-los. Como estávamos no mês de julho, estavam em férias escolares.
Então bolamos o seguinte plano. Faríamos escala em Niterói, onde morava minha mãe e com ela deixaríamos o filho mais velho.
A segunda escala seria em Cachoeiro de Itapemirim, onde moravam meus sogros e com eles deixaríamos o mais novo.
Achei que seria uma longa e cansativa viagem (1.993 Km) pois minha mulher não dirigia e teria que enfrentar ida e volta em 10 dias. Afinal seriam, por estimativa, 27 horas na estrada. E teria a volta. Telefonei para um amigo, em Niterói, e falei: - Estamos indo para a Bahia, topa ir conosco? Ele não pensou muito, fez apenas alguns questionamentos sobre dinheiro.
Também eu não tinha muita grana, então ponderei que sendo apenas os dois casais poderíamos arriscar uma ventura barata, com hospedagens e refeições alternativas.
Ele topou e combinamos sair no dia seguinte de Niterói. Peguei a Dutra e vim para Niterói onde deixei um filho. Saímos de Niterói, os dois casais e meu filho caçula (4 anos) e fomos numa só etapa até Cachoeiro de Itapemirim, onde deixamos meu filho. Pernoitamos e no dia seguinte partimos em direção à Bahia.
Tudo precisava correr como planejado pois em Salvador teria que fazer a revisão dom 10.000 KM, numa concessionária local. Antecipo que fiz a revisão em Salvador, como previsto.
Ele topou e combinamos sair no dia seguinte de Niterói. Peguei a Dutra e vim para Niterói onde deixei um filho. Saímos de Niterói, os dois casais e meu filho caçula (4 anos) e fomos numa só etapa até Cachoeiro de Itapemirim, onde deixamos meu filho. Pernoitamos e no dia seguinte partimos em direção à Bahia.
Tudo precisava correr como planejado pois em Salvador teria que fazer a revisão dom 10.000 KM, numa concessionária local. Antecipo que fiz a revisão em Salvador, como previsto.
Minha mulher registrou em seu diário de bordo, algumas das cidades pelas quais passamos no caminho. Só na Bahia foram um pouco mais de 5 dezenas: Conceição da Feira, Cachoeira, Muritiba, Cruz das Almas, Sapeaçu, Castro Alves, Nazaré, Amargosa, Itabaina, Ituberá, Guandu, Itacaré, Ilhéus, Itajuípe, ufa!!! Menciono apenas mais Itabuna, onde efetivamente entramos porque precisava comprar filmes para a máquina fotográfica.
Uma parada em Linhares, no norte do Espírito Santo, para almoço , e voltamos à BR 101. Em São Mateus, ainda no ES, abasteci enchendo o tanque e seguimos em frente. A ideia era fazer uma parada para descanso. Pernoite com jantar. Passamos por Itamaraju e chegamos por volta da 20 horas em Eunápolis.
Um daqueles meninos que fazem papel de guias turísticos nos sugeriu uma churrascaria e um motel. Aceitamos e ele nos conduziu até ao motel "Costa do Sul", onde era muito conhecido. Tomamos banho e fomos levados até a churrascaria, chamada "Porto Velho do Cabral". Propus que o menino comesse conosco mas ele preferiu ganhar uns trocadinhos e partir, cerificando-se de que saberíamos regressar ao motel.
O nome dele, do menino cicerone, era Jânio Carlos, isso mesmo Jânio Carlos.
No dia seguinte, tomamos um café frugal e voltamos para a estrada, pois queríamos chegar a Salvador antes do anoitecer.
Esqueci de um pormenor importante: era julho, mês de férias e não tínhamos reservas de hotel em Salvador. Conclusão, quando chegamos a cidade saímos em buscas de hotéis pouco estrelados e nenhum tinha vaga. Num deles o recepcionista deu uma dica.
Já que vocês estão em busca de local simples, sem luxo, porque não tentam o Retiro de São Francisco? Nesta época do ano as freiras aceitam alguns hóspedes, para fazer refeita.
Fomos até lá e depois de muita conversa a freira ouviu nossa história resolveu nos acolher e nos cedeu dois quartos muito pequenos. Efetivamente muito simples. Cheirando a limpo, os lençóis e fronhas pareciam feitos com sacos de farinha. E o cafe matinal era de fato de uma pobreza franciscana. Café, leite e um pão francês (50gr) com manteiga.
Mas o preço era "prá lá de bom". Barato mesmo. O local, a edificação e o jardim muito bem cuidados. E tinha espaço para estacionar o automóvel. Inconveniente? Depois das 22 horas o grande portão de acesso para veículos era fechado.
Teríamos que fazer alguns programas a pé ou de ônibus. Ou voltar cedo para o retiro. Entretanto os programas que não queríamos perder eram diurnos: Mercado Modelo, Lagoa de Abaeté, Farol da Barra, Elevador Lacerda, Igreja do Bonfim, Feira de Água de Meninos, e algumas praias.
Já que mencionei o Mercado Modelo, cabe registrar que fomos aos dois principais restaurantes do local: Camafeu de Oxossi e Maria de São Pedro. Comemos moquecas de siri molhe e de siri catado, muito peixe e, claro, vatapá.
Já que mencionei o Mercado Modelo, cabe registrar que fomos aos dois principais restaurantes do local: Camafeu de Oxossi e Maria de São Pedro. Comemos moquecas de siri molhe e de siri catado, muito peixe e, claro, vatapá.
Ficamos em Salvador, no retiro, durante três dias e em todos os dias fomos ao Modelo. Também para compras como veremos adiante.
Chegou o dia de voltarmos ao trabalho e as crianças às aulas. O carro estava abarrotado. Eram dois berimbaus (uma para cada casal), um atabaque para mim, una enorme estátua de Santa, em madeira (80 cm), comprada pelos amigos muito devotos, e ainda, também comprados por eles na feira de Água de Meninos - que vende de um tudo - um mico e um papagaio. JURO!!!
Em Cachoeiro de Itapemirim, paramos para repouso e pegar meu filho caçula. Isso significa dizer que se já estávamos apertados, tudo piorou com mais uma pessoa dentro do automóvel.
No dia seguinte, logo cedo, viajamos em direção a Niterói, onde o casal de amigos e companheiros de viagem ficariam. E embarcaria meu filho mais velho.
E voltamos para a fria e cinza cidade de São Paulo, ni inverno de 1974.
Notas:
1) Esta viagem já foi abordada em postagem antiga. Está em:
Em Cachoeiro de Itapemirim, paramos para repouso e pegar meu filho caçula. Isso significa dizer que se já estávamos apertados, tudo piorou com mais uma pessoa dentro do automóvel.
No dia seguinte, logo cedo, viajamos em direção a Niterói, onde o casal de amigos e companheiros de viagem ficariam. E embarcaria meu filho mais velho.
E voltamos para a fria e cinza cidade de São Paulo, ni inverno de 1974.
Notas:
1) Esta viagem já foi abordada em postagem antiga. Está em:
https://jorgecarrano.blogspot.com/2010/02/salvador-ba.html
2) Este post é um revide, uma represaria, um desagravo a série de postagens do amigo Riva, que narrou em 9 episódios sua incursão a Alemanha, Bélgica e Holanda.
A parte I está em https://jorgecarrano.blogspot.com/2018/05/uma-incursao-na-alemanha-belgica-e.html
3) Naquela época animais silvestres eram vendidos às claras na feira de Água de Meninos.
4) A feira em imagens mais recentes, posto que obtidas via YouTube. Para quem não conhece:
https://www.youtube.com/watch?v=ULIWyPuoiyg
2) Este post é um revide, uma represaria, um desagravo a série de postagens do amigo Riva, que narrou em 9 episódios sua incursão a Alemanha, Bélgica e Holanda.
A parte I está em https://jorgecarrano.blogspot.com/2018/05/uma-incursao-na-alemanha-belgica-e.html
3) Naquela época animais silvestres eram vendidos às claras na feira de Água de Meninos.
4) A feira em imagens mais recentes, posto que obtidas via YouTube. Para quem não conhece:
https://www.youtube.com/watch?v=ULIWyPuoiyg
Este texto é uma provocação. Uma brincadeirinha com o Riva. Para registrar que o Brasil também tem cultura, história, tradições, culinária e natureza exuberante em todas as regiões.
ResponderExcluirTambém eu sou empolgado com o Velho Continente.
Também gostei da Alemanha e escrevi bastante sobre o país.
https://jorgecarrano.blogspot.com/2016/05/danke-ou-bitte.html
https://jorgecarrano.blogspot.com/2016/03/sie-sprechen-deutsche.html
https://jorgecarrano.blogspot.com/2014/07/danke-deutschland.html
https://jorgecarrano.blogspot.com/2011/09/potsdam.html
Conheci e escrevi sobre Leipzig (Museu de Bach), Dresden, Mainz, Meissen (fábrica de porcelana)e outras. Claro Berlim.
E aí, Riva? Touché?
Caramba, não consigo imaginar uma viagem de carro a Salvador. No way !!
ResponderExcluirEssa "desova" de filhos pelo caminho foi muito engraçada ! rsrsrsrs.
Quanto à provocação, desculpe, mas não dá para comparar, né ? Conheço Salvador, fui lá várias vezes a trabalho, e para um fim de semana com minha esposa (HOJE É DIA DOS NAMORADOS, NÃO ESQUEÇAM !!!!!).
Quando fomos para o FDS, contratamos um taxista para mostrar os lugares mais badalados da cidade, fomos a bons restaurantes, e fim.
Muita história e cultura, mas para quem a conhece, ou se aprofunda um pouco antes de ir à cidade.
O que quero dizer é que não existe uma infraestrutura turística para mostrar e dar uma aula sobre a história da cidade. Não é privilégio de Salvador apenas.
A Europa é um massacre nesse aspecto. Os EUA também, sem falar na preservação dos locais.
Os restaurantes em Salvador - não vou há alguns anos - são muito bons. Esses do Mercado Modelo, são (ou eram)simples e excelentes. Também gostava de um no Dique Tororó, bonito, um varandão, onde comia peixes maravilhosos, bem como alguns restaurantes da Bahia Marina. Quando era 0800 então, melhor ainda !!rsrsrs
Não esquecemos - eu e Wanda - que somos "namorados" há 57 anos. Foram 2 de efetivo namoro, 2 de noivado e 53 de casamento.
ResponderExcluirPois é, Riva, e partindo de São Paulo, numa Brasília, que não era nenhuma Brastemp. Mas aos 37 anos tudo é possível.
Uma curiosidade. Comparando Salvador com Santiago de Compostela, por exemplo. Para poder melhor apreciar a beleza da igreja de São Francisco (toda dourada), em Salvador, e poder melhor fotografar seu interior, era preciso pagar uma taxa para que as luzes fossem acesas.
Em Compostela, na catedral, durante a missa do peregrino, para ter o incensário, com o braseiro, era preciso pagar. No dia em que lá esteve, uma operadora de turismo patrocinou todas as pompas e circunstâncias: coral de frades e freiras, incensário, um acontecimento inesquecível, para religiosos e ateus.
No Pelourinho, para tirar foto com duas baianas e seus tabuleiros sobre as cabeças, tive que dar uma "gratificação".
Não coloquei mais fotos para evitar constrangimentos, pois afinal o casal de amigos se separou há alguns anos.
No mais, a Europa é o meu destino favorito. Como conversamos com um casal de americanos, no lobby do nosso hotel em Paris. Ele me perguntou porque estávamos lá. Respondi que era de uma país jovem, de pouca história. Afinal tínhamos "apenas" 500 anos de história. Ele sorriu, e comentou que também eles, americanos, tinham muito a aprender e conhecer na Europa.
A diferença entre nós e os americanos nesse aspecto que vc comentou, é que eles vão lá, aprendem, e implementam em seu país - na verdade uma colcha de imigrantes, etnias diversas. Mas FAZEM ! E como fazem bem.
ResponderExcluirNós vamos lá, vemos, e não implementamos NADA ! Um mix de "desamor" com xenofobia e corrupção (usam a nossa grana para fazer turismo).
JAMAIS atingiremos tal grau de educação e preservação da nossa cultura - do que sobrou, claro ...Palácio Monroe que o diga ....