Alessandra Tappes
Você conhece o efeito de um
anel descascado? Sabe seus malefícios?
Pois vou lhes explicar os
benefícios, porque de coisas más, estamos saturados.
Porque não é ouro nem prata.
É bijuteria mesmo que se agregam aos meus dedos. É o passo leve do dia a dia
que compõe meu caminho, é o vento leve que balança as folhas das árvores, é o
sorriso de um desconhecido para aquecer a alma...é a lembrança da conversa
anterior que embalam as noites de sono.
Endereço físico: Praça
Baltazar Silveira, s/n. Várzea, Teresópolis, Rj. Endereço do cidadão da cidade:
Coração de Teresópolis. Praça da Igreja Santa Teresa (Santa Teresa de Ávila, a
padroeira da cidade). Bem ali rodeadas de árvores que dançam com o vento, ao
seu lado as velas que choram com seus aflitos, bandeirolas que assoviam alto, com
seus bancos para seus ilustres curiosos, solitários e amistosos visitantes.
Bancos lotados disputam lugares entre uma pipoca sendo devorada pela senhora e
uma moça com seu gatinho para adoção. A árvore decorada para o Natal tem a
fisionomia das pessoas que por ali circulam: simplicidade, sem muito enfeites, sem
muita firula.
Seguindo o caminho que me
leva para qualquer lugar aprazível ao sair da praça, sigo em troca do anel
recém comprado, porém descascado.
Encontro uma vendedora
pronta a escutar minha paixão por livros. Do nada surgiu o assunto. Ela,
comovida com minha busca por um livro que li na adolescência, mareja seus olhos
de lágrimas ao escutar com detalhes a riqueza sobre o livro. Disse que
carregará consigo os conselhos sábios de Helene Hanff. Também os carrego...Assim
como o livro. Ficamos quase meia hora falando de livros e nem em livraria eu
estava.
Ao lado do Doces Húngaros, famosa
na cidade por seus doces e salgados mas perderam lugar para a péssima qualidade
no atendimento temos o Café SanTelmo que sofreu uma reforma para melhor agradar minhas
vistas. Mesas rusticas e aconchegantes para dois, sofás confortáveis para seis.
Várias tribos pairam ali. Eu ainda não.
Sigo em frente sentindo o
prazer em desfilar naquele pequeno percurso, quando sou abordada por outra
vendedora muito simpática que me convida para entrar em sua loja. Sou calorosamente
despedida com um abraço, esses de amigo, de alisar costas, de afagar choro
contido. Uma relação de cliente e vendedor que só se tem em cidade pequena.
Temperatura agradável se fez
na cidade. Sem chuva. Na frente do Mundo Verde (casa de produtos naturais),
faz-se de morada dois cães de rua já recolhidos em suas caixas com cobertas. Ao
lado direito, ainda na entrada do Mundo Verde, mas sem prejudicar a clientela,
encontra-se dois potes limpos de água e ração. Ali eles dormem sem se importarem
com o barulho da rua, a lista de compra de Natal da filha com mãe, a pressa
desajeitada do menino para a corrida pelo ônibus.
6 badaladas. Fico sem saber
como perpetuar aquele som em mim. Passa um filme na minha cabeça quando eu
escuto e tento memorizar cada detalhe: o gatinho a ser doado pela menina
tímida, as bandeirolas que enfeitam a frente da igreja e que assoviam, o
sorriso simpático das pessoas que passam por mim, os pombos voando...
Ainda no caminho de casa, me
detenho em mais uma vitrine. Entro por curiosidade e ganho novamente o prazer
da conversa jogada fora, a ponto de distrair e esquecer um mimo que ganhei de
minhas crianças especiais. Cerca de 30 metros adiante, dou conta da falta de
meu presente, um vasinho de suculentas, e, ao me virar para retornar à loja,
esbarro com “Daiana” a vendedora que nada me vendeu, mas que num gesto de
generosidade e um sorriso encantador, devolve meu presente. Pura satisfação em
seu olhar.
Ah praça abençoada!
Feita de sabores e aromas. De faces e cores. De pessoas simples e descuidadas
também. Com guardas multando quem para nas duas únicas vagas de deficientes.
Feita com a melhor torta de Limão as sextas e sábados, do jogo de cartas dos
aposentados. Dos meninos que matam aula e por ali ficam papeando. Praça de
encontros, praça de pombos, praça de praça. Praça de Teresópolis. A melhor.
Volto para casa
feliz, muito encantada pela vida, o sonho a alegria me dá, por aqui me
encontrar.
O anel? Foi trocado... e se descascar
novamente, volto com o maior prazer a trocar...
Bem-vinda de volta Alessandra.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar suas emoções, seus sentimentos e sua interpretação em face de Teresópolis.
Olá Jorge!
ResponderExcluirEssa cidade que tanto me recebeu de braços abertos, não poderia ter outra descrição menos sentimental. Não seria o centro de Teresópolis, não seria de mim me os sentimento.
Agradeço seu carinho de sempre aí né proporcionar esse espaço para aqui dar asas a mha imaginação.
Bjs em vc e Wanda! Aguardando sua visita!
Alessandra
Olá Alessandra, seja muito bem vinda de volta !
ResponderExcluirLendo sua excelente exposição de sentimentos, de percepções, fico pensando se você conseguiria sentir tudo isso (benefícios)em um outro ambiente, um outro local, para muitos perturbador, como apenas por exemplo, o ponto do ônibus 49 nas Barcas de Niterói, às 19h, depois de um dia de trabalho.
E vou responder : tenho certeza que sim, que conseguiria perceber e descrever benefícios de ali estar. Está em você, não está no ambiente em que você se infiltrou.
Eu estou numa espécie de fase contemplativa, mais sensível a "coisas despercebidas". Aquele lance que se descreve como " ando devagar porque já tive pressa".
E andando devagar, percebo muito mais intensamente os cheiros, os gestos, as intenções, a felicidade ou a tristeza no rosto das pessoas. Não sei se estou me fazendo entender ....
Enfim, hoje para mim, os benefícios da Praça Baltazar Silveira são exatamente os mesmos da Praça Araribóia, em Niterói. É olhar o copo meio cheio, ao invés de meio vazio. E a gente descobre a riqueza à nossa volta.
Bjs !
É uma lástima que a Alessandra não possa ser tão assídua quanto gostaríamos.
ResponderExcluirSeus texto sempre nos agradam. Você tem razão Riva, ela é sempre muito bem-vinda.