29 de dezembro de 2016

Quem se beneficiava?

Antigamente as grandes indústrias construíam Vilas Operárias nas proximidades de seus parques fabris,  e nas casas abrigavam preferencialmente os mestres e alguns profissionais que pela especialização (eletricistas, encanadores, etc.) precisavam estar por perto para atender emergências.

Com efeito tendo em vista  precariedade dos meios de transportes e considerando que os trabalhadores moravam longe do local de trabalho e a jornada em geral começava muito cedo, tipo 6:00 horas da manhã (os turnos eram das 6 às 14 e das 14 às 22 horas, para fugir do trabalho noturno, que era remunerado com acréscimo nos salários), ter os empregados nas proximidades era tranquilizador.


Ora, morar numa boa casa, bem construída, com rede de água e esgoto, em local urbanizado, com  ruas calçadas e bem iluminadas, era um benefício e tanto. Porque nem mesmo era dispendido dinheiro com condução. E estes empregados, ocupantes das casas da vila operária, poderiam almoçar em casa dispensando a marmita.

Em algumas destas vilas ainda existia um grêmio ou um clube social onde era possível a prática de jogos de salão (sinuca, bilhar, xadrez, etc.). E eram realizados bailes em épocas festivas.


Dou meu testemunho porque conheci alguns casos. O que conheci mais de perto foi o da Cia Fiat Lux, em São Gonçalo.

Na Siderúrgica Fi-El, em São José dos Campos, havia não uma vila operária, mas uma destinada às gerências.

Quando fui trabalhar lá, durante algum tempo residi numa das casas desta vila. Casas boas, amplas com quintais, numa rua fechada, sem saída.

Eram cerca de cinco casas. Logo na entrada da rua (fechada com grande portão), havia um quiosque para uso comum dos ocupantes das casas, com uma churrasqueira.

Minha mulher e meus filhos nunca chegaram a morar na tal casa, porque era uma fase em que eles não poderiam trocar de escola. Mas havia uma razão secundária: as casas estavam todas desocupadas. Nenhum gerente queria residir lá. No período em que lá morei, talvez seis meses, era uma solidão só.

Assim, mudei-me logo para um flat, na cidade, do outro lado da Dutra.

Quero direcionar o foco desta narrativa para a interrogação na indagação do título.

Quem se beneficiava mais com as vilas operárias? As empresas porque tinham por perto empregados especializados, mestres e supervisores, que assim não tinham desculpas ao perderem  o horário de trabalho, além de estarem por perto para emergências a qualquer tempo, ou os ocupantes destas casas, relativamente confortáveis?

Na verdade estas vilas não passavam de guetos?

O mesmo ocorria com os apartamentos destinados ao Zelador, em alguns condomínios. Por que era interessante o Zelador estará sempre presente no edifício?

O síndico não era molestado pelo interfone para atender reclamação de condômino sobre barulho no apartamento de cima, pequeno problemas elétricos ou hidráulicos eram resolvidos pelo zelador, que geralmente era alguém com habilidades especiais.

Ainda tinham a missão de substituir um porteiro que faltasse ou chegasse atrasado.

A maioria dos condomínios atualmente dispensa a figura do Zelador e seus imóveis, localizados normalmente no terraço junto da casa de máquinas dos elevadores, hoje são alugados para fazer receita para o Condomínio.

Este imóvel destinado a residência do Zelador, era um benefício social, ou era conveniência dos condôminos?

Era vantagem morar na praia de Icaraí, de frente para o mar, mas ficando praticamente full time a disposição do condomínio?

E os denominados fringe benefits? Eles efetivamente eram uma vantagem para a gerência? No caso dos empregados em geral, os planos de assistência médica e/ou odontológica sempre foram benefícios.

Mas a remuneração indireta, rotulada de benefícios extras ou indiretos, eram realmente de interesse dos beneficiários ou serviam apenas para as empresas que pretendiam na verdade aliviar a folha de pagamento?

Muitos empregados prefeririam ter suas remunerações aumentadas pelo custo equivalente aos benefícios que recebiam. Principalmente depois que passaram a ser alcançados pela tributação.

Imagens: Google
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