Em meio às recentes visitas de
cetáceos a Arraial do Cabo, pelas prateleiras das lojas nas redondezas também
se nota a presença destas criaturas envernizada com toque hollywoodiano: mas
não se empolguem... Pois é... UMA PENA.
É o que tenho a dizer sobre “No Coração do Mar”; e é lógico que me refiro à
versão cinematográfica, pois o romance, que li há uns 16 anos, é um triunfo.
Não foi à toa que é desde esta época que venho aguardando ansiosamente por uma
adaptação às telas... mas que fosse à altura da obra de Nathaniel Philbrick -
historiador e cronista de Nantucket, a cidade onde tudo começa. Mas não é isso
que se constata no filme de Ron Howard, por incrível que pareça.
E, qual motivo para tamanho
desastre?? Ora, qualidades técnicas à parte, o filme parece se preocupar demais
com nossos tempos politicamente corretos e, onde deveria entrar a crueza e
realismo que terminaram por fazer desta uma das mais incríveis histórias reais
que já chegaram até nós, apenas nos lembra uma canção de ninar sobre algo
terrível que nossos avós nos contaram... mas, ainda assim, uma canção de ninar.
Passagens que tinham tudo para
render cenas épicas ao longa, inexplicavelmente, foram ignoradas. Um exemplo é
o ataque da orca com o pessoal já à deriva em botes; ou os problemas que os
náufragos tiveram na tentativa de descer nas Ilhas Marquesas na Polinésia
Francesa, região esta infestadas de canibais.
Do contrário disso, é tudo
digerido ao expectador como uma papinha delicadamente servida ao bebê da
família. Philbrick - o autor do livro - não poupa o leitor de como a sociedade
novaiorquina era implacável, injusta e má - apesar de todo puritanismo protestante
vigente - com negros, índios (que também compunham a tripulação) e... o
ecossistema.
O filme chega, mesmo, a
comprometer dados factuais revelados na pesquisa histórica de Philbrick, como
na hora em que o baleeiro Chase Owen (o bonitão da vez, Chris Hemsworth)
explica por que o canibalismo vai ajudá-los a sobreviver naquela situação... “...tira-se
as partes boas a serem comidas do morto e, no final, costura-se a pele com os
restos dentro para, aí, entregá-lo ao mar’. Bobagem: praticamente tudo era
aproveitado de quem morria ou era morto numa situação daquela... inclusive os
ossos. A fome é perversa.
Também tive vontade de rir na
cena em que o mesmo Chase, ainda à deriva e com arpão em punho, mira a baleia
que passa tranquila pelo mesmo, sem que nada aconteça. Súbito sentimento
ecológico?? Respeito à honra do inimigo??.. Sim, parece um filme da Disney onde
só faltou a cachalote começar a cantarolar nos 40 primeiros segundos, seguido
do coro dos náufragos no bote. Aliás, no livro nada é dito sobre a baleia ter
reaparecido após a destruição do baleeiro Essex, assim como mal quer saber das
ligações de Hermann Melville com toda a epopéia. Lembrando que Melville é o
autor do romance que popularizou aqueles momentos desesperadores no clássico
“Moby Dick” e que, Howard, de forma mais que manjada, empurra dentro da trama.
Trazida às telas pela Warner, a ideia apenas fez somar-se a uma série de
clichezaços que permeou os 120 minutos de projeção.
É... pelo visto, ainda se terá
que aguardar mais uns 15 anos, no mínimo...
Notas do editor:
1)Átila Soares da Costa Filho é designer, autor de ‘A Jovem Mona Lisa’ e ‘Leonardo e o Sudário’. Também é professor de Filosofia, Sociologia e História da Arte.
2) Esta é a segunda oportunidade em que o Átila nos privilegia com texto de sua lavra. O que nos deixa contentes e agradecidos. Desta feita em forma de crítica cinematográfica. Sua primeira aparição aqui neste pequeno espaço virtual, ocorreu em outubro do ano passado e está em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/10/malaquias-e-petrus-
romanus-o-fim-da.html
3) A imagem ilustrativa original foi substituída por motivos técnicos.
1)Átila Soares da Costa Filho é designer, autor de ‘A Jovem Mona Lisa’ e ‘Leonardo e o Sudário’. Também é professor de Filosofia, Sociologia e História da Arte.
2) Esta é a segunda oportunidade em que o Átila nos privilegia com texto de sua lavra. O que nos deixa contentes e agradecidos. Desta feita em forma de crítica cinematográfica. Sua primeira aparição aqui neste pequeno espaço virtual, ocorreu em outubro do ano passado e está em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/10/malaquias-e-petrus-
romanus-o-fim-da.html
3) A imagem ilustrativa original foi substituída por motivos técnicos.
Como regra geral, os livros são melhores dos que os filmes deles decorrentes. Mesmo quando o roteiro cinematográfico é do autor da obra original impressa.
ResponderExcluirA meu juízo, há uma exceção, trata-se de “Apocalypse Now”, filme realizado em 1979, com direção de Francis Ford Coppola e roteiro de John Milius. O roteiro do filme é inspirado no romance “Heart of Darkness”, de Joseph Conrad, que é dos primórdios do século XX.
Assisti ao (muito bom) filme e li o livro, na tradução de Sergio Flaksman, publicado com o títiulo “O Coração das Trevas”.
O filme é mais impactante.
Na linha do comentário acima, do BM, e já que o assunto é oceano, digo que gostei muito mais do livro Tubarão, do que do filme do mesmo nome, mesmo sendo o filme do Spielberg.
ResponderExcluirO livro é mais rico nos detalhes e estimula nossa imaginação.
Quanto às obras objeto do texto do Átila nada posso comentar: não li e não vi.
"No coração do mar", com certeza um dos melhores livros que li em minha vida. Guardado nas prateleiras da minha mini biblioteca de Friburgo, para releitura.
ResponderExcluirNão sabia do filme. Não veria de qualquer maneira, pois filmes raramente ou nunca espelham o rico conteúdo de um livro.
A prática do canibalismo no bote é extremamente impactante no livro. A fome os leva a sortear quem vai morrer. O sorteado coloca a cabeça na beira do bote para levar uma pancada com o remo, e depois, servir de alimento para os demais. Chocante !
PS1: tenho a impressão de já ter escrito por aqui sobre esse livro, há muito tempo. Não sei em que contexto.
PS2: França 3x0 Portugal. Forças internas me corroem ... torço para Portugal e torço contra o escroto do Cristiano Ronaldo, incapaz de comemorar gols dos companheiros.
PS3: Se você é de Nikity, prepare-se para 30 dias de extrema insegurança na cidade, com a nossa força policial deslocada para o Rio de Janeiro. Reveja seus procedimentos, e boa sorte.
PS4: Vocês já ouviram a gravação da presidanta na REDE BRASIL, falando que não entende esse negócio de "nuvem" ? É de rolar de rir .... e chorar. Imperdível ! Capturem o audio e ouçam.
PS5: uma vergonha o gramado do estádio mais caro da Copa, em Brasília. Lamentável. 7x1 sem fim ...
Assim como Gusmão, não li o livro nem assisti o filme.
ResponderExcluirNo texto porém identifiquei situações que identifiquei em outras produções. Realmente existe a tendência de lançamentos cor de rosa com bolinhas azuis, com o óbvio objetivo comercial. É chocante , em alguns casos, a glamuralização do elenco. Personagens históricos e ficcionais têm sua fealdade ignoradas com escalação de atores belíssimos. Isso quando não reescrevem fatos e livros em nome da livre adaptação.
Mas no caso específico, analisando os detalhes sórdidos relatados por Átila e Riva, confesso que me bastaria saber que houve canibalismo, sem acompanhar descrição da cena.
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ExcluirNa cauda (no Twitter se escreve calda) do cometa desse maravilhoso livro, leiam também o ALÉM DO FIM DO MUNDO, sobre a histórica circunavegação de Fernão de Magalhães, baseado nas escritas do seu scrivão Pigafetta :
ResponderExcluirhttp://www.saraiva.com.br/alem-do-fim-do-mundo-150133.html
É outro para releitura !! Demais !!
PS1: e Aquele Time do Mal jogou bem e depenou o Galo : 2x0.
Portugal campeão.
ResponderExcluirPor incrível que pareça, a saída de Cristiano Ronaldo parece ter sido fator determinante para o andamento do jogo, que até então estava à feição da França.
Gostei do resultado.
Caro Átila,
ResponderExcluirEsta blog, que é de generalidades, está mais para sururu no galinheiro, como você deve ter percebido.
Comentam-se várias coisas, mesmo sem relação com a temática ou mote do post.
Reitero meus agradecimentos por permitir a publicação de sua análise crítica, lamentando não poder dar meu pitaco sobre as obras impressas em papel e celulose porque não as conheço.
Estou seguro que ao longo do tempo outras pessoas, além do Riva que leu o livro "No coração do mar", ou assistiram ao filme, acabarão por dar suas opiniões.
Acontece com frequência em pesquisas por assunto, ou autor, ou mídia/veículo.
Se e quando acontecer, sendo relevante, pedirei a Ana Maria para alerta-lo.
Volte sempre!
Lamento não poder contribuir para debater o livro citado.
ResponderExcluirCom relação a livro ser melhor que filme, há exceções que reforçam a regra.
2001 Odisseia no Espaço foi baseado num conto de Arthur Clark: A Sentinela. Depois do sucesso do filme resolveram fazer um livro com o mesmo nome mas ficou ruim.
Já havia mencionado, no primeiro comentário, uma exceção. Por absoluta opinião pessoal, “Apocalypse Now”, filme de Francis Ford Coppola, é melhor do que o livro que serviu de inspiração para o roteiro cinematográfico, que vem a ser “Heart of Darkness”, de Joseph Conrad.
ResponderExcluirA lamentar, no filme, as cenas de devastação da natureza exuberante.
Achei essa crítica pesquisando no google sobre o livro. Li o livro, muito bom mesmo, e vi o filme também. Excelente análise, perfeita. Concordo totalmente.
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