30 de junho de 2016

Vinhos da língua inglesa

A Inglaterra não produz vinho. Ou, para não laborar em erro, visto que não conheço todo o país, corrijo para dizer que a Inglaterra não produz bons vinhos. Não tem o terroir, solo e clima não ajudam. Mas os ingleses são responsáveis pela criação de um tipo que acabou por se consagrar, o vinho fortificado, especialmente o Vinho do Porto; e pelo aperfeiçoamento – melhoria de qualidade – dos festejados Bordeaux.


Os habitantes  do outro lado do Canal da Mancha, eram os maiores consumidores do claret (de clarait –clarinho em francês), mas exigiam qualidade dos vinhos bordaleses. Os tempos do clarete ficaram para trás e hoje Bordeaux se transformou na mais famosa e importante  região vinícola de nosso planeta.

Mas embora não sejam produzidos bons vinhos no Reino Unido, existem bons vinhos produzidos em países de língua inglesa. E São considerados, estes países, o Novo Mundo vinícola. São eles: Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e, claro, Estados Unidos.

A vinícola norte-americana sofreu um debâcle com a Lei Seca, embora ninguém, que eu saiba, tome vinho para se embebedar (para isso existem coisas mais fortes e baratas),  os vinhos foram banidos como as demais bebidas alcoólicas.

Com isso a incipiente produção de vinhos no continente recém-colonizado, fruto das missões jesuítas,  perdeu mercado e sucumbiu à crise.

Mas alguns produtores, principalmente imigrantes europeus, com a revogação da lei, perseveraram e reergueram  a produção de vinho no país, em especial na Califórnia e mais especificamente no Vale do Napa.

Não se envergonhe se nunca ouviu falar, pois confesso que também eu não conhecia o termo, mas consta que um húngaro, radicado nos USA, idealizou um projeto e partiu para a Europa em busca de sarmentos (eis a palavra que desconhecia e não me envergonho), que vêm a ser galhos férteis que servem como mudas de variedades viníferas (da Espanha, Italia, França e Alemanha), para iniciar a produção de vinhos na Califórnia.

Hoje os vinhos californianos são muito apreciados. Em especial os brancos.


A Austrália terra do talvez mais famoso marsupial,  fabrica ótimos vinhos brancos (especialmente da casta Chardonnay), mas também bons espumantes e tintos. O país está certamente entre os 10 maiores produtores e exportadores do mundo. 

Apenas uma parte do território da ilha/país/continente é apropriado para cultivo de uva vinífera.

A Nova Zelândia, formada basicamente por duas grandes ilhas, entrou mais recentemente no universo de produtores de vinhos.

Antes de conhecer o vinho neozelandês, conheci uma das frutas mais características do país, o kiwi, quando morei em São Paulo. Já quanto aos vinhos fui apresentado a eles ha cerca de 20 anos, quando fui fazer um curso básico na ABS e eles - assim como os sul-africanos - eram considerados exóticos.

O país, de clima frio, favorece mais ao cultivo de uvas brancas. E a Sauvignon Blanc é  mais representativa.


A África do Sul, para minha surpresa, faz bons vinhos. Vez ou outra encontro no mercado de Niterói um ou outro rótulo de preço acessível, com bom nariz  e bem equilibrados.

Cultivam muitas variedades brancas, como  a Chardonnay, a Sauvignon Blanc, a Riesling, mas é uma tinta que mais se destaca no país, uma casta que resultou do cruzamento da Pinot Noir com a Hermitage (?), e por isso se chama Pinotage.

As restrições feitas ao país, durante muito tempo, por causa de sua política de apartheid, atrapalharam seu comércio internacional. 

29 de junho de 2016

Tratamentos com benza e uso de ervas

A impingem é uma micose que atinge a pele e geralmente é causada por um  fungo. Mais ou menos comum nas décadas de 40 e 50, entre crianças e adultos.


Imagem  obtida via Google
Hoje, se você for a um médico dermatologista, preocupado com a mancha que apareceu em seu rosto, ele vai pedir um exame micológico cultural, ou seja, faz a raspagem e envia para análise em laboratório.

Minha mãe, assessorada por uma benzedeira que morava no Morro da Penha, aplicou tinta sobre a parte afetada em meu rosto, na testa, próximo do olho direito. Tinta de escrita mesmo, provavelmente a Parker Quink.


Mas poderia ter sido  azul de metileno ou violeta genciana. Qualquer coisa com efeitos antissépticos, na cor escura.


 Só que a tinta já tínhamos em casa pois era usada na caneta Parker-51 de meu pai, caneta esta que herdei e repassei para meu primogênito.

Sim, a aplicação da tinta era seguida de uma reza com um ramo de erva-de-santa-maria. Curava a impingem.

Muitas vezes a infecção de garganta era curada com pinceladas, feitas com pena de alguma ave, com um produto chamado Columbiazol, hoje existente na versão spray. Sem uso de antibiótico. Violeta genciana também resolvia, se a infecção não estava em estágio avançado.

Você alguma vez teve o desconforto de um cisco que caiu no olho, e resolveu com uma simpatia? Minha avó fazia o sinal da cruz,  três vezes, sobre a vista afetada, dizendo: “Santa Luzia passou por aqui com seu cavalinho comendo capim”. Pronto! Resolvido.

Nem vou me referir aos inúmeros chás e xaropes, caseiros, que resolveram alguns problemas de tosse e rouquidão. O agora até industrializado xarope de mel com agrião tomávamos sempre que precisávamos expectorar. Minha mãe adicionava folhas de guaco.

Ainda hoje fazemos em casa aos primeiros sinais de resfriado. E fica agradável ao paladar. Não fui só eu que tomei bastante em criança, também meus filhos tomaram. Ou seja, passou de geração.

Mas o caso real mais significativo de reza, feito por uma benzedeira espírita, aconteceu comigo nos anos 1970.

Minha atividade profissional era muito angustiante, estressante e mexia significativamente com o emocional. Era "Gerente de Recursos Humanos" de uma multinacional, e responsável por carreiras, salários, empregos de muita gente.

Decidir sobre a admissão de um candidato a emprego é muita responsabilidade. Pode ser um chefe de família aflito porque está desempregado, pode ser um jovem começando sua vida profissional e precisa de uma chance (exigem experiência dele, mas ninguém dá a primeira oportunidade).

Claro que os testes psicotécnicos, então muito em moda, ajudavam. Outros recursos como dinâmica de grupo, testes práticos, etc., permitiam fazer uma avaliação e tornar menos pessoal a decisão, o que ocorria na entrevista final.

Mas e nos momentos de redução do quadro para aliviar despesas? Quem demitir? Vocês não avaliam o que é chamar um empregado, seu colega no dia-dia, e comunicar que ele está sendo demitido.

Ele, com dificuldade de contar as lágrimas, olha fixo para você,  e diz: “foram dezoito anos dedicados a esta companhia, não sei fazer outra coisa, estou chegando aos 40 anos, como vou me virar? E como vou chegar em casa e dizer para minha mulher que fiquei desempregado?”

Naquele momento você passa a ser a pessoa mais odiada do mundo. E era duro, quando se tem um mínimo de sentimentos,  não se emocionar com a situação. Estamos falando das décadas de 1960 e 1970 do século passado.

Tive todos os problemas de fundo emocional que a literatura médica elenca. De um lado o dever profissional e de outro ter em mãos decisões quanto a premiações, promoções de cargo e de salários, avaliação de desempenho, punições, todas estas coisas envolvendo seres humanos, gente como eu.

Bem, em resumo, uma das coisas mais desagradáveis  pelas quais passei foi uma colite. Médicos, exames, remédios, chás, o escambau a quatro, e nada de ficar curado.

Um colega de empresa, também morador de Niterói, com o qual tinha também relacionamento social, me falou de um irmão, médico, gastroenterologista, e sugeriu uma consulta com ele.

Fez mais, levou-me num sábado, a casa do tal irmão médico. Conversamos, fez perguntas e como certamente já tinha algumas informações dadas pelo meu amigo (irmão dele), fez o seguinte comentário: “Olha, isso não vai ter cura. Uma saída é você mudar de emprego, para minimizar os efeitos da colite.”

Caramba! Mudar de emprego, depois de promovido ao nível gerencial, aos trinta anos de idade, com dois filhos pequenos, trabalhando numa empresa séria?

Fora de questão. Foi aí que este tal amigo, ao sairmos da casa de seu irmão, comentou: “ O Bobby (o médico chamava-se Robert) não sabe nada, mamãe vai resolver isto”.

A mãe, uma senhora septuagenária, elegante, hígida, morava num apartamento na Av. Roberto Silveira, que se chamava Estácio de Sá. Fomos lá num domingo, num final de tarde. Ela me pegou pelas duas mãos, estremeceu um pouco. Fez umas rezas silenciosas, sacudiu meus braços e deu por encerrado.

Recomendou que eu voltasse no domingo seguinte, independentemente de ser levado pelo seu filho. Assim fiz e o ritual se repetiu, com a diferença que desta feita ele não estremeceu tanto. Recomendou que eu agradecesse a entidade (espírito de luz) responsável pela cura, com vela e preces. Mencionou o nome, que aqui vou omitir porque não sei se devo mencionar (sou ignorante nestas coisas).

Nunca mais tive problema com a colite. Se não fiquei curado, pelo menos nunca mais tive os inconvenientes da tal inflamação do cólon. E olha que eram muitas as dores, um enorme desconforto, além da dificuldade para me alimentar. Era comer e ter cólicas terríveis.

Assim, através de mulheres simples, eventualmente incultas, de pouco saber e muita sabedoria, resolvi alguns problemas de saúde e bem estar.

Foram a fé, as ervas, e as coisas que assim foram definidas por Shakespeare: “Há mais coisas entre os céus e a terra do que supõe vossa vã filosofia”.


O autor e o amigo citado, no restaurante da empresa nos anos 1970



Notas do editor:
1) Esta postagem é, de certo modo, uma contunuação da publicada em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2016/06/medicos-curandeiros-rezadeiras-e.html

2) A empresa era a Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança. O amigo citado trabalhava na área de marketing, de nome Mauricio Francis Millar (de origem escocesa).


28 de junho de 2016

CANTO DO RIO FOOT-BALL CLUB





CANTO
 DO RIO FOOT-BALL CLUB


                  

Calfilho


              Quando minha família decidiu morar em Niterói, em 1949, fixamos residência no prédio situado na esquina da Av. Amaral Peixoto (ex-Duque de Caxias) com a rua Visconde do Uruguai. Era um edifício de dez andares, um dos primeiros da nova avenida, que seria a mais importante da cidade. Fora construído pelo banco mineiro “Ribeiro Junqueira”, sendo utilizado até o quinto andar por repartições públicas como a LBA e o SESI, segundo me recordo.

           Do sexto andar para cima era destinado a residências, quatro por andar. Meus avós maternos já haviam adquirido o apartamento de número 701, onde viemos morar depois que voltamos da breve temporada em Fortaleza. Como não nos adaptamos à capital cearense meu pai decidiu voltar para o Rio de Janeiro, onde trabalhava no Ministério da Saúde e na Legião Brasileira de Assistência, médico pediatra que era.

  Como chegamos no meio do ano de 1949, foi minha mãe a encarregada de me alfabetizar, pois não consegui matrícula em nenhum colégio. Já em 1950, quando completei oito anos em março, fui matriculado no Grupo Escolar Getúlio Vargas, no bairro de São Domingos. Ali também funcionava o Instituto de Educação, que formava professoras primárias. Fui matriculado na terceira série primária, graças ao bom aprendizado que tivera de minha mãe.
  Naquele ano era disputada a Copa do Mundo no Brasil, a primeira depois do fim da Segunda Grande Guerra Mundial. Já sabendo ler e escrever, comecei a acompanhar com interesse as notícias sobre futebol no jornal que meu pai trazia diariamente para casa.
    Com meus irmãos, ainda bem novos, ensaiava os primeiros chutes numa bola de borracha, no hall do andar em que morávamos. Meu pai acabou comprando o apartamento 901, do mesmo prédio, a ser pago em suaves prestações mensais pela antiga tabela Price. No colégio, na hora do recreio, além da bola de gude, conseguia vaga numa pelada ou outra, jogada com bola de meia.
  Ainda não torcia por nenhum time de futebol, mas já fora ao Maracanã por algumas vezes, levado por meu pai. Vi alguns jogos do Vasco, então o melhor time do Brasil, o “Expresso da Vitória”, base da seleção brasileira que acabara de perder a Copa do Mundo para o Uruguai, em pleno Maracanã. Vi o Flamengo, o Fluminense, o São Cristóvão, o Madureira, o Bonsucesso, sem me definir por algum deles como torcedor. Meu pai, apesar de gostar muito de futebol, não era fanático como eu viria a ser no futuro. Para dizer a verdade, não cheguei a saber realmente para qual time ele torcia. Gostava muito do Vasco, mas também se empolgava num jogo do São Cristóvão.
Daquela época, lembro-me bem de ter visto jogar: Barbosa, Augusto, Eli, Danilo, Friaça, Maneca, Ademir, Jair da Rosa Pinto e Chico (pelo Vasco); Castilho, Píndaro e Pinheiro; Vítor, Lafayete, Telê, Orlando, Rodrigues (pelo Fluminense); Garcia, Biguá, Pavão, Jordan, Dequinha, Rubens, Benitez, Esquerdinha (pelo Flamengo); Gílson, Bob, Richard, Ruarinho, Dino da Costa, Vinícius (pelo Botafogo); Irezê, Bitum e Weber (o último, muito tempo depois, meu colega na magistratura – pelo Madureira); Santo Cristo (pelo São Cristóvão) e Zizinho (pelo Bangu, transferido do Flamengo depois da derrota na Copa do Mundo).
O Vasco foi o campeão carioca de 1950 (O Expresso da Vitória). O Fluminense conquistou o título de 1951, voltando o Vasco a ser o campeão em 1952.
Nesse ano, eu e um colega de primário, Lizardo, tentando encontrar um lugar para praticar esportes, entramos para o quadro social do Canto do Rio Foot-ball Clube, que ficava situado relativamente perto de nossas residências: a minha, na Av. Amaral Peixoto, a dele, na rua General Andrade Neves. A sede do clube ficava na rua da Praia, após o Valonguinho, antes da esquina com a rua Visconde de Moraes hoje Ernane de Melo.
Era um terreno grande, com uma casa branca no centro do mesmo. Na frente, cercando todo o terreno, um muro baixo pintado de branco, com um grande portão de madeira de cor azul escuro. Do lado esquerdo de quem entrava havia um salão comprido, onde ficavam duas mesas de sinuca. Depois desse salão, ainda do lado esquerdo, estava uma quadra descoberta, onde eram realizados treinos de basquete, vôlei e da novidade da época, o futebol de salão. Na casa funcionava a secretaria e, atrás da mesma, outro grande salão coberto, onde eram realizados os bailes de Carnaval e as sessões de cinema, todas as terças-feiras. Do lado direito, paralela à secretaria, uma outra pequena construção coberta, onde eram preparadas as equipes de tênis de mesa.
Eu e Lizardo tentamos praticar todos os esportes oferecidos aos sócios: futebol de salão, vôlei, basquete e tênis de mesa. Acabamos nos fixando no primeiro e no último.
Com a frequência diária no clube, ficamos sabendo um pouco mais sobre o mesmo. Era um dos mais antigos de Niterói, fundado em 1913. Os clubes da Zona Sul niteroiense eram tidos como mais elitizados, como o Central e o Regatas. O Canto do Rio era considerado como um clube mais popular, voltado para as camadas mais humildes da população. Outros clubes, de menor expressão eram o Gragoatá, o Humaitá, o Fonseca e o Fluminensinho da Ponta d’Areia.
O Canto do Rio, por influência do antigo interventor e então governador do Estado, Ernani do Amaral Peixoto, genro do presidente Getúlio Vargas, disputava, desde a década de 40, o Campeonato Carioca como convidado, apesar de pertencer a um outro Estado. Lembro-me que uma das camisas que seus jogadores usavam era de cores azul e branco, em pequenos quadrados, semelhantes àquelas hoje utilizadas pela seleção da Croácia, só que estas em quadrados branco e vermelho.
Em 1953, meu pai levou-me ao Maracanã para assistir o Torneio Início, que abria a temporada daquele ano. Pena que esse torneio não mais existe, perdido na memória de quem viveu a década de 50 do século passado. Era a oportunidade que os clubes cariocas tinham de apresentar as novas contratações, seus novos craques. Verdadeira festa do futebol. Numa mesma tarde de domingo, começando às 12 horas, os times se enfrentavam em partidas eliminatórias de 10 minutos cada tempo. E, nesse ano, vi o Canto do Rio ser campeão, para surpresa de todos, pois era considerado uma equipe pequena, de menor expressão.
Continuei a viver de modo mais intenso o dia a dia do clube, já agora passando a acompanhar os jogos do time de futebol no Estádio Caio Martins. Quando o Canto do Rio era o mandante, as partidas de aspirantes (começavam às 13horas e 15 minutos) e principal (começavam às 15 horas e 15 minutos). E, na sede do clube, tive a oportunidade conversar com vários dos jogadores que faziam parte do elenco cantorriense, que lá iam receber seus ordenados. Fizeram nome no clube: Zequinha, Osmar, Dodoca, Ary Marron. O jogador-simbolo era Jairo, um ponta direita baixinho, negro, cabeça raspada, que acho que só jogou pelo Canto do Rio. Zequinha, centro avante habilidoso, pretendido por vários clubes cariocas, preferiu ficar no time e em São Gonçalo, onde exercia a profissão de pedreiro. Já me considerando parte integrante do clube, passei a assistir até alguns treinos do time de futebol.
A partir de 1953, o Flamengo passou a reinar no futebol do Rio, ganhando os campeonatos de 53, 54 e 55. O time era muito bom: Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Zagallo. Mas, não me entusiasmei com o time, preferindo torcer timidamente pelo Canto do Rio, mesmo sabendo que o time nunca ganharia um Campeonato Carioca.
Em 1955, o clube contratou jogadores que já estavam em fim de carreira em grandes clubes do Rio. Assim vieram do Fluminense Vitor, Lafayete e Veludo (goleiro reserva de Castilho na Copa do mundo de 1954); do Botafogo, veio Floriano. Em 1956, veio Garcia, que havia acabado de se sagrar tricampeão pelo Flamengo. Eli do Amparo, também encerrou a carreira no clube. Até que o time teve uma boa participação no Campeonato daquele ano. O lateral esquerdo Lafayete, quando parou de jogar, passou a treinar o time.

Time do Canto do Rio F.C. em 1956

   No Caio Martins, a social ficava na arquibancada coberta, lado direito da tribuna de honra, com entrada pela rua Presidente Backer. A pequena torcida entusiasmada gritava “Cantucha”, “Cantucha”. Depois, um jornalista carioca, não entendendo direito o grito da torcida alviceleste escreveu que o grito era “Cantusca”, que acabou pegando.
Já agora eu fazia parte da equipe de tênis de mesa do clube e ainda tentava um lugar no time de futebol de salão. O ano era 1955. Vieram os “Jogos Infantís”, competição patrocinada pelo “Jornal dos Sports”, reunindo clubes e colégios do Rio e outras cidades, para atletas até 13 e até 15 anos. Eram as duas categorias em disputa, divididos os atletas por idade, observados aqueles limites. Consegui vaga na equipe até 13 anos de tênis de mesa.
Equipe de tênis de mesa do Canto do Rio F.C.,
categorias até 13 e 15 anos, 1955

       Os jogos foram disputados na sede antiga do Flamengo, na praia do mesmo nome. Não fomos bem, perdendo para o Boqueirão  do Passeio.
  Lamentei não ter insistido em disputar vaga no time de futebol de salão. Achei que era mais fácil ser escolhido para a equipe de tênis de mesa.
  No futebol de salão a equipe até 13 anos foi relativamente bem. A outra, aquela até 15 anos, tinha simplesmente na linha, atletas do porte de Jardel e Gerson, mais tarde jogadores profissionais de futebol. Jardel jogou pelo Internacional, Fluminense e terminou a carreira no Canto do Rio, enquanto Gerson jogou pelo Flamengo, Botafogo, São Paulo e Fluminense, tendo sido campeão do mundo em 1970.
  Os carnavais do clube eram famosos e os mais animados da cidade. Havia um baile na quinta feira que antecedia o Carnaval e outro no sábado, exclusivamente para os sócios, Depois, nos bailes noturnos de domingo, segunda e terça até os sócios tinham que comprar um ticket. Havia matinés nos domingos e terças.
  O salão ficava lotado, o pessoal se divertia muito, o lança perfume rolava à vontade. Muitos namoros, algumas brigas. Havia a turma dos “mais velhos”, os “Dragões”, fantasiados de preto, que faziam uma espécie de polícia interna do salão, mas que adorava uma briga. Um bloco do clube percorria o centro da cidade nas manhãs de domingo.
  O cineminha também era muito concorrido, enchendo o salão de associados que, pretextando ver um bom filme, procuravam a namorada ou o namorado. Terças às 20 horas.
  Voltando ao futebol, eu e meu amigo Antonio Matheus, nos anos finais da década de 50, acompanhamos os jogos do Canto do Rio em diversos estádios do Rio de Janeiro, como General Severiano, Laranjeiras, São Januário, Bariri e, claro, Maracanã.
  O Canto do Rio, no início dos anos 60, contratou uma firma incorporadora, que começou a vender títulos de sócio patrimonial, extinguindo as antigas categorias de sócios atletas, contribuintes  e efetivos. Demoliram a sede antiga e demoraram vários anos para construir outra. O time de futebol deixou de disputar o Campeonato Carioca em 1964.
  Depois que fui trabalhar no Banco do Brasil, na cidade de Cantagalo, deixei de frequentar o clube. Nele só voltei por volta de 1975, quando fui levar minha filha, então com nove anos, para aprender a nadar na escolinha do clube.
  A sede estava totalmente modificada. A velha casa branca, onde ficava a secretaria, fora demolida. Duas enormes piscinas ocupavam seu lugar. Onde havia o salão com mesas de sinuca, agora era ocupado por uma piscina menor. A quadra de esportes fora substituída por outra de tênis. O salão de bailes e cinema agora era uma quadra coberta de múltiplas funções.


       

  Meus filhos ali aprenderam a nadar e dois deles jogaram futebol de salão pelo clube.

Paulo Afranio, o “Guguinha”
campeão niteroiense de futebol de salão em 1983.
  
  Alguns dizem que o clube ficou mais bonito, mais moderno...
  Até pode ser...
 Mas, perdeu aquele romantismo, aquele ar de importância que tinha nos anos 50... 


Nota do blogueiro/editor: O Calfilho que assina esta postagem é o Juiz de Direito aposentado Carlos Lopes Filho. Conheci o Carlinhos, como o tratávamos na época,  no Liceu Nilo Peçanha, de Niterói. Fizemos uma boa camaradagem e vivemos algumas aventuras, por ele relatadas num livro de titulo "Lembranças do Meu Liceu  - 1953  1959". 
Tive o privilégio de ser convidado para a comemoração de seu aniversário de emancipação, ocorrida no apartamento da Av. Amaral Peixoto, citado no texto, onde ele morava.
Esta emancipação, outorgada pelo pai, ocorreu num ritual interessante, que me surpreendeu e encantou, pelo ineditismo. O simbolismo foi o corte do cordão que o prendia pelo polegar.
Tempos depois, já na acasa em São Francisco, onde ele foi morar, quando seu pai, uma figura respeitável, culta e educada, comprou o primeiro carro da família, lá estava eu dando com eles a primeira voltinha no automóvel.
Já disse aqui no blog, e repito, as amizades sinceras, sólidas, são feitas na infância/adolescência. Com raríssimas exceções.

27 de junho de 2016

A vergonha seguida de dor

Em 1950, foi Danilo, nosso "príncipe", excelente centre-half, como então era chamado o volante de armação, ou centro-médio, chora a perda do título mundial, no Maracanã.

Danilo deixa o gramado amparo por um locutor esportivo

Em 2016, o jogador eleito o melhor do mundo por cinco vezes, com toda justiça, diga-se, goleador indiscutível, chora a perda do tiro livre da marca do pênalti, e com ele a possibilidade do título, que nunca conquistou pelo seu país.

Vergonha, dor ou somente raiva?
Isto lembra o Vasco, por alguma razão? Será pelos três vices?


26 de junho de 2016

Médicos, curandeiros, rezadeiras e parteiras

Quando eu era menino, e morava na Ponta D’Areia, bairro de pescadores e de colônia portuguesa na cidade de Niterói, a família era pobre. Eu continuei pobre mesmo depois de crescido.


Cais no bairro, hoje chamado de Portugal Pequeno
Por essa razão, todos (pai, mãe, irmãs), quando ficávamos doentes (infecção de garganta e ouvido, gripe, virose, estas coisas), éramos atendidos por um mesmo médico, que clinicava nos fundos de uma farmácia na Rua Silva Jardim, bem próximo de nossa casa, na Rua São Diogo.


Bonde que atendia ao bairro
Vejam que havia um médico de família, antes do governo, em tempos mais recentes, instituir este programa oficialmente.

Não posso render minhas homenagens à memória deste médico, e dar-lhe o crédito merecido, pois não lembro como se escreveria corretamente seu sobrenome (Chedi, Chedy ou Ched), mas seu nome era Dair. A farmácia mencionada era a mais próxima da Rua Visconde do Rio Branco, pois havia outra (do Demerval), mais pertinho da Rua Visconde de Itaboraí, ao lado da barbearia do Dirceu.

Munido de estetoscópio, mandava que disséssemos “trinta e três” enquanto auscultava nossos pulmões. Sim, claro, usava termômetro de mercúrio e uma espátula para prender nossa língua enquanto examinava a garganta.

Receitava antibiótico ou anti-inflamatório se necessário, antitérmico, Melhoral infantil, se era resfriado e acertava o diagnóstico na maioria das vezes.

Se o caso fosse mais complicado, pedia exames laboratoriais de sangue, urina e fezes. Exame de imagem só mesmo o RX torácico e olhe lá.

Hoje os médicos dispõem de uma enorme gama de exames que lhes permitem diagnosticar até doenças raras.

Todos estes exames têm inconvenientes para os pacientes, nós outros pobres mortais, ou são muito desagradáveis.

Experimente fazer uma colonoscopia, tendo que tomar antes um negócio com gosto de limonada, mas que nos faz evacuar até as tripas. É melhor mudar para o banheiro, colocar uns três livros ao lado do vaso e depois conviver com assadura até o horário do exame, que é feito sob sedação.

E o exame de fundo de olho? Colocam um colírio que nos deixa com a pupila dilatada ao ponto de ao final sairmos da clínica quase cegos, precisando se um guia ou um cachorro amestrado.

O exame de ultrassom, por exemplo do abdome, exige a ingestão de litros de água, até encher a bexiga, e não é possível urinar antes do exame. E como é desagradável e sofrido controlar a vontade.

E a tal de tomografia, com contraste, um composto químico que é injetado e põe em risco o paciente se este tiver alergia  as substâncias nele contidas?

Já fizeram exame de ouvido, para constatar labirintite? É melhor conviver com a doença, garanto.

Tem um exame que te colocam deitado, e a cama desliza para dentro de uma câmera, chama-se ressonância magnética, que parece algo de ficção científica. O ruído é de lascar (acho que ondas de rádio). Fiz este exame no cranio, quando do AVC.


Imagem do Google - ressonância
Outros exames hoje disponíveis, e nem dolorosos ou inconvenientes, como eletrocardiograma, eletroencefalograma, teste ergométrico (de esforço), ecocardiograma, com Doppler, e outros, facilitam a vida dos médicos. Até operação à laser, de cálculo renal, já fiz. Mas neste caso, a dor, o sofrimento, é antes da operação, com o maldito se deslocando. 

Quanto ao respeito pelo Dr. Dair, que apalpando nosso ventre, e medindo temperatura, pressão arterial e batimentos cardíacos, descobria as doenças e nos mandava embora com prescrição de algumas poucas drogas, num receituário de impressão modesta, fico na intenção.

Ah! Para comprar os medicamentos não precisávamos parcelar no cartão de crédito.

Minhas avós, ambas, morreram octogenárias, sem moléstias graves. E não frequentaram hospitais. Uma por queda, batendo a cabeça, a outra por desgosto pela perda do companheiro e de um filho.

Tendo falado de médicos, faltou falar de benzedeiras (espíritas ou não) e parteiras.

Nasci amparado por uma parteira e já resolvi problema insolúvel, no meu caso especial (dito por médicos), por meio de recursos alternativos, mas eficazes.

Contarei outro dia.
  

25 de junho de 2016

Reino Unido versus União Europeia




O titulo poderia ser STRIKE. Todos os pinos que representariam os países do planeta foram derrubados, direta ou indiretamente.

Quando propus, numa brincadeira, apostas obre a permanência ou a saída do Reino Unido da União Europeia, estava muito longe de imaginar as consequências  que o resultado do plebiscito provocaria no mundo todo, em todas as áreas: econômica, financeira, social, desportiva e conexas.

A julgar por algumas entrevistas que assisti,  feitas junto a população em Londres, onde a propósito a maioria votou pela permanência do UK no bloco, muita agente está arrependida pelo voto dado.

Isto significa que, depois do anúncio do resultado, das reações em todo o mundo, das providências que serão necessárias, das intrincadas relações comerciais, da situação de imigrantes, e das perdas que todos sofrerão num primeiro momento, é que as pessoas, mesmo os britânicos, se deram conta de que não era uma decisão simples, puramente emocional, com análise perfunctória.

Levei um susto quando ouvi, no noticiário, diretamente do Japão, o repórter informar que cerca de mil empresas japonesas com sede no Reino Unido terão doravante  maiores dificuldades para vender aos demais 27 países da UE.

Não por outro motivo a bolsa de Tóquio teve uma queda de mais de 7% em seu índice.

O que mais me deixou apreensivo foi que esta decisão, pelo visto pouco pensada e avaliada em suas reais consequências, poderá levar a mais desuniões, nos dois lados.

Por mais irônico que pareça, posto que União Europeia e Reino Unido encerram, em suas denominações, a mesma ideia e conceito, ou seja, união ou unido, a decisão levará provavelmente a mais desunião.

A Irlanda do Norte, por exemplo, um dos quatro países que integram o Reino Unido, pelo visto preferirá manter-se no bloco europeu e buscar independência do Reino Unido. Como esta integração foi dolorosa e deixou cicatrizes entre os irlandeses do norte, este rompimento com o UK parece coisa muito provável.

No lado da UE é possível que outros países sigam o mesmo caminho do UK. Sem contar os movimentos separatistas regionais/nacionais, como o dos Catalães.

A unificação da Europa, pretendida no passado por Carlos Magno, através de conquistas militares, que resultaram na formação do Império Carolíngio, veio a ser alcançada por razões comerciais, sem sangue e sem guerra, resultando, em 1957, na formação da Comunidade Econômica Europeia (CEE), que mais tarde, com seu alargamento e novos tratados, transformou-se na atual União Europeia.

A propósito, diga-se que o Reino Unido não foi signatário do primeiro acordo que resultou na CEE, só aderindo muitos anos depois. E preservando sua moeda, a libra esterlina.

Registro aqui e agora que se fosse cidadão do UK, teria votado pela saída do bloco. Mas depois de saber das consequências e reflexos no mundo todo talvez viesse a me arrepender, como alguns já se arrependeram em tão curto espaço de tempo: menos de 24 horas.

Eu teria votado sim porque favorável a imposição de  barreiras aos refugiados. Acho que não faz sentido ver seu país invadido por hordas de imigrantes, a maioria sem qualificação, que seriam dependentes de serviços públicos, como assistência médica, e disputariam emprego com cidadãos do Reino Unido.

Mas existem outras soluções para o problema dos refugiados. Ou não? Lembro de uma frase do Paulo Francis, justificando que era a favor da causa dos pobres e necessitados, mas os  queria longe dele. É mais ou menos isso o que penso, você pode ajudar, na medida do possível, sem ter que trazer para dentro de sua casa.

Trump, que prega a mesma rejeição nos USA, está rindo a toa. 

23 de junho de 2016

APOSTAS

Aqui não é Las Vegas e nem uma das centenas de casas de apostas da Inglaterra. Uma pena que o jogo, em cassinos, não seja permitido no Brasil.

Fizeram sucesso e renderam impostos, gerando emprego e renda, os da Urca, Quitandinha, Atlântico, Icaraí, entre outros. Muitos artista nacionais e estrangeiros apresentavam bons espetáculos.


Icarai

Urca

Quitandinha

Atlântico

Eu frequentaria, talvez, para assistir a um ou outro show, não mais do que isso e para conhecer. Como fiz em países vizinhos: Argentina, Chile e Uruguai.

O blog está abrindo apostas, que não concederão prêmios aos acertadores. Será algo como jogar poker sem cacife e valendo, a cada rodada,  caroços de feijão apostados.

Estamos aceitando as seguintes apostas:

1) Dilma retoma  o poder? 
2) O Vasco retorna à primeira divisão nacional?
3) Lula será preso e condenado?
4) Quem ganha nos USA, Hillary ou Trump?
5) A Inglaterra sai ou permanece no UE?
6) O Botafogo vai cair para  segunda divisão?
7) Outras a livre escolha, façam suas apostas!

22 de junho de 2016

CAVALOS

Começo explicando o que motivou esta postagem sobre um dos mais belos, mais úteis e mais competitivos  animais, que está presente na história, nas lendas, na religião, no horóscopo, nas histórias em quadrinhos, nos filmes, na política,  em logotipos e em trabalhos duros, penosos.

Meu filho comentou que finalmente recebeu os ingressos que adquiriu pela internet, para algumas competições olímpicas. Uma delas será a equitação, na prova de adestramento. Daí me ocorreu que tive oportunidade de assistir numa das escolas mais afamadas, em Viena, na Áustria.


Como dito tive a felicidade de assistir a uma demonstração de cavalos andaluzes, em Viena, especialmente para turistas, e sei o quanto é interessante esta prova. Tomara que venham bons  bons conjuntos (cavalo e cavaleiro) competidores.


Começo a dissertar sobre o tema,  pelo cavalo do meu santo de devoção, para puxar o saco dele. Alguém criou a imagem de que na lua cheia é possível divisar a imagem do santo guerreiro e padroeiro de vários países.


Em seguida falo de cavalos que marcaram presença na história universal. O mais badalado foi o Incitatus, feito senador pelo imperador Calígula.

Outro bem conhecido, foi o Bucéfalo, cavalo de guerra de Alexandre, o Grande, da Macedônia.


Um outro animal, lenda ou não, construído pelo homem,  portanto não um ser vivo, mas de suma importância em episódio de guerra, foi a Cavalo de Troia, que acabou por virar  simbolismo  e conceito, sempre mencionado nos casos em que um presente pode não ser exatamente o que se acredita. Pode ser presente de grego.


Nas histórias infantis, de heróis, assim como no cinema, são inúmeros os cavalos que ficaram famosos e ligados aos heróis. Os dois Zorros, por exemplo, seja o que tinha o índio Tonto como amigo, seja o perseguido pelo Sargento Garcia, que possuíam o Silver e o Tornado.   



O cowboy/cantor Roy Rogers, cavalgava o Trigger, assim como tinhe o cachorro Bullet.


O Fantasma, que habitava uma caverna, namorado da Diana Palmer, e que tinha o Capeto - seu lobo fiel - montava o fogoso Herói.



A logomarca de uma das mais afamadas montadoras, a Ferrarri, exibe um belo exemplar deste animal.


No horóscopo chinês ele é um dos signos, com as características abaixo.


Em minha primeira ida ao Jockey Club Brasileiro, no Hipódromo da Gávea,  assisti a um Grande Prêmio Brasil, no ano de 1960, evento chic, que reunia a sociedade carioca, belas mulheres enchapeladas e sobrenomes famosos na política e nos negócios.


Ganhou um cavalo de nome  Farwell, não lembro se conduzido pelo Luis Rigoni, o jockey mais famoso na época.

Mas a história deste grande prêmio, revela a proeza de uma égua, agora lendária, de nome Tirolesa, vencedora da prova em 1950.

Tirolesa - 1950


Certamente vocês lembrarão de outras histórias, com e sobre cavalos. 

Notas do autor: nos esportes, lembro do hipismo, das corridas, do polo, da equitação. Competem por si ou puxando bigas como na Roma antiga ou charretes como no velho oeste. Puxaram bondes e diligências. São fundamentais para os boiadeiros, na pecuária.