Em sua concepção moderna, o corporativismo é uma prática de
organização social, baseada em entidades representativas dos interesses de
categorias profissionais.
Para não correr risco adoto aqui, acima, o conceito que encontrei no Aurélio velho de
guerra, disponível agora na versão digital.
Sei um pouquinho, porque estudei o assunto, que o conceito de
corporativismo mudou em função do
período histórico, a depender de época e local.
Ferreiros |
Aquelas corporações
regulavam quase tudo em relação ao ofício e à atividade de seus
associados. Assim, os preços, o controle
da qualidade, a quantidade produzida e até mesmo a margem de lucro era
controlada e disciplinada pela corporação.
Com isso, suponho, era evitada a concorrência predatória, preservada a imagem dos exercentes dos referidos
ofícios, ou artesãos, por causa do
controle de qualidade, ou seja, valorizava-se a reputação, e era coibida a ganância.
Quanta diferença em relação ao que hoje se verifica. As entidades
representativas que hoje são os alicerces das organizações profissionais
viraram um balcão de negócios, um trampolim político.
E em nome do corporativismo quantas leviandades, quantas
injustiças e quantas irregularidades são encobertas. O corporativismo é um
escudo protetor para os desqualificados, para os incompetentes, para os sem
dignidade profissional.
Penso eu que ao proteger os levianos, os desqualificados as
entidades de classe acabam por comprometer a imagem de toda a categoria
profissional.
O foco deveria estar na depuração dos quadros associativos,
na exclusão dos incompetentes, dos inescrupulosos. Mas não é bem assim que a
banda toca.
Quando a OAB (advogados), ou o CRM (médicos), ou o CRO
(odontólogos) ou o CREA (engenheiros), em nome do espírito de corpo protege e acoberta
o mau profissional está comprometendo toda a classe.
Quando a gente diz que por solidariedade as entidades não punem
devidamente os que transgridem as normas legais ou a ética profissional, eles
mostram estatísticas de repreensões, suspensões e advertências. Mas onde as
exclusões por exercício temerário, por negligência, por despreparo?
Experimente ajuizar uma ação de reparação por erro médico em
ato cirúrgico. Erro decorrente da falta de atenção, do descuido, ou até mesmo
da falta de qualificação para a prática do ato, e veja se consegue um laudo que
afirme que houve negligência ou prática equivocada ou utilização de meios inadequados.
Um juiz não pode, ou não deve, decidir casos de erro médico
sem estar louvado num laudo de profissional da medicina. E são pouquíssimos os
médicos que se dispõem a analisar o caso, as circunstâncias e os meios empregados
para elaborar um laudo corajoso, isento, imparcial.
Isto é uma lástima, porque a impunidade vai gerando mais descaso,
mais incúria, e mais falta de ética de alguns médicos.
O rigor na aferição da qualificação profissional do médico,
do advogado, do engenheiro, e todas as outras ocupações profissionais regulamentadas
e que têm suas entidades de classe deveria ser a tônica quando do registro de
diplomas e habilitação para o exercício profissional.
A OAB criou, há algum tempo, em boa hora, um exame de admissibilidade
de bacharéis nos quadros da entidade. Mas é pouco. Falta fiscalização no exercício
da profissão, sobretudo no que concerne a ética.
Honra, caráter e dignidade não são aferidos num exame escrito.
É preciso fiscalizar o profissional ao longo de sua atividade.
Manter com registro na entidade um advogado inescrupuloso só
faz engrossar o coro, já retumbante, dos que acham que advogado é um perigo. É
preciso ter cuidado com eles.
Quantas práticas ilegais, se confrontadas com os estatutos da
entidade, são acobertadas em nome da amizade pessoal com o integrante do grupo
político no poder.
Sim, porque tem este lado também. A vinculação política.
É inimaginável o que é gasto em campanhas nas eleições para a
gestão destas entidades de classe. E as disputas são acirradas, com ofensas e
agressões verbais entre as chapas competidoras.
Você, leitor, já deve ter visto bandinhas de música, muitas
faixas e distribuição de folhetos. Folders feitos com papel de alta qualidade, e custo elevado, são enviado aos associados.
Quando um candidato a cargo eletivo (câmaras municipais, assembleias legislativas ou congresso nacional) gasta fortunas em propaganda eleitoral nós sabemos como ele pretende se ressarcir, se reembolsar. Mas qual é a contrapartida de um dirigente eleito para conduzir uma entidade de classe?
Quando um candidato a cargo eletivo (câmaras municipais, assembleias legislativas ou congresso nacional) gasta fortunas em propaganda eleitoral nós sabemos como ele pretende se ressarcir, se reembolsar. Mas qual é a contrapartida de um dirigente eleito para conduzir uma entidade de classe?
Eu duvido e faço pouco de tanto espírito público, de
dedicação, e de desprendimento, apenas para defender os interesses de uma
classe profissional.
As atividades de uma diretoria, que seja zelosa e comprometida com as tarefas que lhes são acometidas, devem tomar um grande tempo. Onde arranjar este tempo para dedicação à entidade e ao seu próprio trabalho profissional? Alguma coisa há de ficar comprometida.
As atividades de uma diretoria, que seja zelosa e comprometida com as tarefas que lhes são acometidas, devem tomar um grande tempo. Onde arranjar este tempo para dedicação à entidade e ao seu próprio trabalho profissional? Alguma coisa há de ficar comprometida.
Nunca cogitei, e muito menos agora considero a hipótese de
dedicar tempo à entidade profissional a qual por força de lei sou obrigado a me
filiar.
Foi sempre a duras penas que, individualmente, sem sócios ou
parceiros, dei conta de minhas responsabilidades profissionais.
Acompanhar os processos, estudar via leitura da doutrina,
manter-se atualizado com a jurisprudência e principalmente com a legislação, um
verdadeiro cipoal de normas legais aplicáveis aos mais diferentes casos, toma
todo o tempo e um pouco mais. Por vezes subtrai horas de sono.
Então onde conseguir tempo para ser dirigente de entidade profissional?
E quando arranja não espera contrapartida? É só abnegação, amor à classe?
Como diziam meus filhos, há anos, ainda pequenos, “é ruim
hein!”
Notas do editor/autor: imagens disponíveis na rede, via Google
Notas do editor/autor: imagens disponíveis na rede, via Google
Parece que neste caso a Corregedoria agiu, mas vocês sabem qual a pior condenação para um juiz num caso destes? Se fosse aplicada, e não será?
ResponderExcluirAposentadoria com vencimentos integrais (faz-me rir). Não há corporativismo, mas direitos absurdos.
http://extra.globo.com/casos-de-policia/juiz-federal-flagrado-ao-volante-de-porsche-cayenne-de-eike-batista-15422712.html
Engrosso o coro, já retumbante, dos que acham que advogado é um perigo. É preciso ter cuidado com eles!
ResponderExcluir<:o)
Mas veja bem: estamos, de certa maneira, na mão dos juízes e advogados, todos nós no Brasil. Dependendo das forças (do mal ou do bem) que atuarem nos processos ora em andamento sobre propinas e roubalheira generalizada, teremos ou não esperança do Brasil voltar a trilhar o caminho do crescimento econômico e social.
Se estamos nas mãos deles e duvidamos da imparcialidade da Justiça, como não temê-los?
=8-/
Freddy
Prioridade ZERO : fazer um acordo entre as partes. Um acordo ruim é melhor do que uma ação julgada na "justiça" brasileira.
ResponderExcluirUma ação na "justiça" daqui = perda do seu valioso tempo no Planeta Azul, desgaste emocional e físico, perda de $$, e muito provavelmente, injustiça ...