Ana Maria Carrano
O administrador do blog
me convocou para falar sobre gastronomia.
Complicado para mim,
como relatarei a seguir.
Um dos meus sonhos
irrealizados (que deixarei para a próxima encarnação) é trabalhar na área de alimentação.
Gosto de alimentar, proporcionar as pessoas o prazer de degustar uma comida
feita com capricho e amor, mas não sou gourmet.
Incoerente talvez, mas
congruente com meu modo de sentir e pensar.
Já me manifestei neste
blog sobre minha falta de curiosidade e disposição para viagens. Esta mesma
tendência permanece em outras atividades. Não tenho o interesse necessário
sobre o tema, para discorrer sobre ele.
Tenho duas ou três especialidades que
me atrevo a cozinhar e um cardápio limitado para uso próprio. Portanto não sou
credenciada a discorrer sobre gastronomia, cujos princípios variam no tempo e
no espaço.
Tenho paladar de pobre
e enorme dificuldade de experimentar alimentos com ingredientes exóticos ou de
aparência desagradável.
Não critico o gosto
alheio, como não estranho que chineses se alimentem de cachorrinhos e comam
escorpiões. É natural como comer farofa de tanajura ou tatuí.
Cada terra tem seu
costume e estou livre destes, por ter nascido numa família pobre no Brasil pós-
guerra.
Assim como o sonho do
faraó, convivi com períodos de vacas gordas e magras. Não recordo a penúria da
primeira infância com os racionamentos impostos pelo desabastecimento, mas
lembro das dificuldades financeiras que atingiam não só a mesa, com também
vestuário, diversões etc.
Minha mãe era de origem
pobre e possuía parco conhecimento sobre gastronomia, mas era excelente
cozinheira. O menu se repetia com frequência tal como em todas famílias pobres.
Não podia faltar o feijão com arroz complementado com o que se pudesse comprar.
Podia ser um ovo como uma banana.
Legumes eram sempre os mesmos e a
especialidade francesa “restodontê” era servida constantemente.
Já declarei neste
espaço minha enorme admiração pelo meu pai, sem citar os defeitos. O velho era
imediatista e gourmand, o que aliado ao baixo salário e a família grande, nos trazia
fases de insolvência. Mas, nas vacas gordas, comia-se bem lá em casa. Nos
primeiros dias após o pagamento, usufruíamos do bom e do melhor que Niterói
oferecia.
Bolos confeitados sem
data especial, bandejas de salgados finos, jantares no Derby, petiscos aos
domingos no Miramar, sem falar nos passeios ao centro do Rio de Janeiro, a
língua defumada da Confeitaria Colombo e os almoços nos restaurantes
portugueses que não lembro o nome.
Como o Jorge já citou,
nossos antepassados europeus eram portugueses, italianos e espanhóis o que determinou as minhas preferencias culinárias.
Fora do âmbito familiar
conheci outros sabores que incorporei a minha lista de predileções.
Nos anos de 1974 e 1975
o trabalho me obrigava a constantes viagens pelo interior do Rio de Janeiro,
com duração mínima de 15 dias em cada localidade, o que permitia conhecer a
culinária local e descobrir “bibocas” como as já citadas em posts e
comentários.
Em Angra dos Reis comi
(sem saber o que havia sido servido) coelho assado. Gostei, mas não a ponto de
repetir. Em Sapucaia tive duas experiências gastronômicas inesquecíveis. Uma
bacalhoada num restaurante de caminhoneiros
em Anta, e um piau sem espinhas num estabelecimento no pátio de um Posto
de Combustíveis no distrito de Jamapará.
Comi barreado em
Morretes (PR), virado paulista em São
Paulo, tutu de feijão com torresmo Mariana (MG), moqueca em Vila Velha (ES) ,
sem que tenham marcado minha memória gustativa.
Há dias afirmei com
relação a filmes que gosto e pronto. O mesmo sucede com este assunto.
Virado paulista |
Nem ao menos devo
listar restaurantes, por não conhecê-los (vou sempre aos mesmos) e por
considerar que o sucesso da casa começa com a competência do “chef” e que nem
sempre sabemos quem está no comando da cozinha.
Para justificar minha
presença no blog vou contar para vocês quais são os meus pratos preferidos.
Gnocci (este não é o da Wanda, que é parecido) |
Amo massas, mas nada
melhor que nhoque. Se for o recheado, feito por minha cunhadinha Wanda, eu como
além da conta.
Não sou carnívora,
abrindo exceção para os filés de frango ou vaca à parmegiana e um boi ralado
bem temperado.
Batata em todas as
formas de preparo, seja um purê
acompanhado de ovo frito, ou rostie”, me agradam ao paladar.
Empadas, empadões,
quiches e pastéis de forno desde que feitos com a massa “podre”.
Dito isso, fica também
explicado o porquê da dieta que citei anteriormente.
Tudo que eu gosto é
ilegal, é imoral ou engorda.
Imagens: Google
Amanhã a Confeitaria Colombo completará 120 anos de existência.
ResponderExcluirNo post a ser publicado estarei fazendo uma alusão ao fato.
A primeira infância, entre 1940 e 1950 foi bastante pobre mesmo.
ResponderExcluirA partir daí ingressamos na antiga classe média, pois em 1955 já tínhamos geladeira importada (Admiral), televisão (Emerson) e um Buick 1938 (rsrsrs), substituído pouco depois por um Austin A70, ano 1952.
Ao nosso pai faltava previsão, preocupação com o futuro. Daí que oscilávamos os momentos mais folgados com os mais apertados.
O saldo foi positivo.
O nhoque que wanda faz foi inspirado num dos pratos da "Sagrada Família", um dos restaurantes que fecharam em Niterói. A massa era com espinafre e ricota. Ela faz, também, recheados com muzzarela.
ResponderExcluirPor falar em restaurante fechado, em Niterói, vejamos quantos já foram citados aqui além do "Sagrada Família", que já não existem: Lido, Monteiro, Derby, além dos bares Miramar e Municipal.
Outros restaurantes não citados nos últimos posts também cerraram suas portas: Tratoria Torna e Tantra são exemplos.
ResponderExcluirO Sagrada Família abriu em Niterói com a mesma proposta do original do Rio, mas infelizmente o olho do dono cresceu ... aumentaram os preços, e pior, diminuíram a quantidade de comida no prato, que por sinal eram ótimos. Eu fui um dos que abandonou o restaurante por causa disso. Gostava muito de um talharim com camarões.
ResponderExcluirNão lembro do Derby ... onde era ? Lembro do City, na esquina da rua da Conceição, sobreloja, que gostávamos muito. E claro, a cozinha da Leiteria Brasil, excelente.
O Tantra fechou ? Estivemos lá há uns 10 meses, pela 1ª vez, e experimentamos alguns pratos da casa, exóticos, e também aquela montagem do prato que vc mesmo faz. Lembro que resolvemos não voltar mais - atendimento ruim, e a comida não era essas coisas.
A Trattoria Torna infelizmente fechou, mas segundo Freddy, o Torna Pub (dos mesmos donos) mantém algumas coisas do cardápio.
Antes de fechar, a Trattoria fez uma reforma interna lamentável, descaracterizando completamente o bonito ambiente italiano existente.
O mesmo erro cometeu a Leiteria Brasil, numa reforma acho que na década de 80, que descaracterizou o layout original da casa, com aquela minimercearia na entrada, e a visão do salão interno possível da entrada.
Ana Maria mencionou seu "paladar de pobre", que se entendi bem, carrego no meu DNA, e portanto aprecio demais até hoje, embora não tenhamos passado necessidades lá em casa na infância, que eu me lembre.
E se me permitem, vou listar alguns exemplos para ver se estamos falando da mesma coisa (rsrs) :
- arroz com ovo
- pão com ovo (adoro)
- pão francês com .... goiabada
- feijão com purê de batatas
- caldo de feijão com pão e farinha (adoro !!!)
- feijão com arroz e banana
- feijão com arroz e farinha
- pão dormido passado no fogo com manteiga
- macarrão com salsichas cozidas
Minha colaboração a informações dadas:
ResponderExcluirLa Sagrada Família
Foi uma mal intencionada tentativa dos donos da matriz à R. Rosário, 98 - sobreloja (centro do Rio) de se aproveitarem dos niteroienses e servirem os mesmos (deliciosos) pratos a preços mais elevados. Quem come aqui come lá, sabe dos preços e tiveram de cerrar as portas.
Destaco no cardápio o citado gnocchi ripieno, mais o Venice Beach (peito de frango grelhado e fatiado ladeado por uma panqueca de espinafre e outra de palmito ao pomodoro) e o filé Sausalito, um pequeno medalhão grelhado sobre incomparável taglarini fino ao molho Café de Paris.
Trattoria Torna
A tradicional casa niteroiense sucumbiu aos desmandos da Secretaria de Trânsito de Niterói, que resolveu criar a faixa exclusiva de ônibus na R. Gavião Peixoto e proibir a parada (isso é mais que proibir estacionamento) na calçada da Trattoria. Como um restaurante vai funcionar sem que haja como seus frequentadores saltem de um táxi, que seja?
Alguns de seus quitutes sobrevivem no cardápio do Torna Pub, dos mesmos donos, na R. 5 de Julho. Incluindo os famosos bolinhos do couvert.
=8-) Freddy
É verdade, já estive no Torna Pub... uma vez.
ResponderExcluirRiva,
E a sopa com a sobra do feijão, enriquecido com goela de pato, uma cebola inteira e um ovo cozido? No inverno vai bem?
Bem lembrado o sopão de feijão ! kkkkk
ResponderExcluirNas últimas vezes que fui a Tratoria Torna (ainda morava em Niterói), lá pelos anos 90, havia o serviço de manobrista.
ResponderExcluirO restaurante Derby ficava ao lado do Cinema Central, quase esquina da Rua José Clemente. Fechou antes de 1970.
Frequentei durante algum tempo o restaurante Sacada, anexo ao barzinho do mesmo nome em Charitas. Se fui mais de 3 vezes, é por que gostava da qualidade e do atendimento.
Vamos sofisticar isso!
ResponderExcluirUma das sopas favoritas de quem não gosta de sopas (eu) é a pasta & fagioli, conhecida de velhos de tempos de restaurante Falconi de Petrópolis, também encerrado.
Tem bastante a ver com o que falaram do sopão de feijão. Senão vejamos...
Faz-se o feijão manteiga com algumas carnes como lombinho, carne seca e paio (pouco de cada). Tem de ficar no ponto de sopa, ou seja, não deixar engrossar. Desfia-se a carne para quase sumir no caldo.
Frite um pouco de bacon picadinho. Rale uma boa porção de queijo parmesão. Bata um molho de cheiro verde (salsa e cebolinha). Reserve tudo separadamente em potinhos, que serão servidos à parte.
Faz-se uma porção de penette (penne miúdo) no feijão já pronto, de modo que ele complementa o caldo sem saturá-lo. Pode ser parafuso, padre-nosso, etc.
Chegou a hora de servir! Deixe a cargo dos comensais se servir do feijão com o penne, e cada um coloca a quantidade que desejar de bacon, cheiro verde e queijo ralado.
Pronto! Eis uma deliciosa "pasta & fagioli".
;-) Freddy
É bem por aí, Riva. Troco o tal de estrogonofe por um escondidinho de carne moída. rs
ResponderExcluirEu troco a maioria das refeições do cotidiano (à exceção daquelas que adoro) por um sanduíche do McDonald's. Pode isso, Arnaldo?
ResponderExcluir<:o)
Freddy
Serve do Burger King?
ResponderExcluirO novo endereço tem tradição de boa comida: ali funcionava a tão festejada Trattoria Torna.
Não, tem de ser do McDonald's, aquele mesmo da relação de amor e ódio!
ResponderExcluir<:o)
Freddy
Freddy, comparar Pasta & Fagioli com o sopão das sobras é sacanagem .... rsrsrs. Nada a ver.
ResponderExcluirVc não curtia o tradicional sopão de feijão ? Tinha batatas cozidas, cenouras, macarrão, alguns pedaços de carne cozida às vezes .... tudo isso acompanhado de um pão francês !!! Demais !!
Ana Maria, seu escondidinho de boi ralado me lembrou outro prato lá de casa : purê de batatas cobrindo uma grossa camada de boi ralado temperado, e ia ao forno com queijo ralado em cima.
O SACADA foi um dos melhores restaurantes de Nikity, nos anos 70. Fechou misteriosamente, mesmo tendo casa cheia todos os fins de semana. Ali eu pedia sempre um delicioso linguado a belle munier.
Segundo o Trip Advisor (http://www.tripadvisor.com/), o Rio de janeiro, e muito menos Niterói, não tem nenhum restaurante entre os mais bem avaliados no mundo.
ResponderExcluirLeiam:
ResponderExcluirhttp://calfilho.blogspot.com.br/2015/02/alguns-bares-de-niteroi-dos-anos-50-e.html