Por
AlessandraTappes
Embora minha época tenha sido dividida em duas etapas, acho que me saí bem dentro do esperado pela minha família.
1º etapa: RS - anos 70
No RS éramos criados “solto das patas” como dizem por lá. Principalmente
no interior do sul. Crescíamos entre cidades fronteiriças, brincando na rua, tomando
banho em rio, chupando bergamota no pé, comendo manga com casca, queimando a
boca com figo.
Mas fora isso, brincávamos com telefone sem fio (feito com potes de iogurte e um barbante
ligando-os) o vai-e-vem, aquele
amarelo laranja mesmo, com alça verde, as 5
marias, peteca. Dentro de casa podíamos chamar uma coleguinha por vez para
brincar de vareta, dominó, a palavra é
e até mesmo um quebra-cabeça.
Depois passamos para fase egoísta, onde um apenas
brinca um por vez: aquaplay, cubo mágico e elo maluco. No fim do ano, aquele que passava de ano e já
atingia os 8 anos podia então sonhar em encher a casa e os bolsos do pai com
bilhetinhos apelativos: “Pai, não
esqueça da minha Caloi” e ele nunca esqueceu...de nenhum dos filhos.
A vida era dividida também entre sonhos e realidade. Entre um
livro e outro, uma nota 9, lição de casa feito todo dia ao retorno da escola,
entrega de boletins somente com a presença dos pais, víamos na única TV que a
casa tinha O sítio do pica-pau amarelo.
Lá ia eu embarcar nos contos de Monteiro Lobato naquele trem que passava todos
os dias, as 5 da tarde. Quem não torcia
pelo herói japonês Ultraseven
derrotar aqueles monstros que apareciam para acabar com tudo? Ou quem nunca
sonhou em ir ao Elo Perdido e fazer
companhia para Tchaca? Ou
simplesmente balançar o cabelo e mexer o nariz como Sabrina a Feiticeiria e Jeannie
é o Gênio?
Quando nos foi
permitido, assistíamos ensandecidos uma das melhores senão a melhor minissérie
sobre beleza e vaidade feminina: As
Panteras! Ah, foi ali que descobri o poder da palavra “não!”, pois eu
queria muito ter um batom da Farrah Fawcett, por anos seguintes, elas ditaram a
moda entre cabelos, maquiagens e foram sinônimos da independência feminina. Mas
meu sonho não se resumia em ser uma das “panteras” não! Eu queria mais, queria
voar direto para Ilha da Fantasia e
desvendar antes mesmo de Ricardo Montalban e Tatu os crimes que rondavam aquela
ilha paradisíaca.
Nessa mesma época, os jingles comerciais incendiavam a TV e
entravam na mente da gente com maior facilidade. Não tinha como não sair
cantarolando “Apanho um sabonete pego um
canção e vou cantando sorridente. Duchas corona um banho de alegria num mundo
de água quente...” https://www.youtube.com/watch?v=UmeiRcZ7CvY
Ou “Roda, roda, roda
baleiro, atenção! Quando o baleiro parar ponha a mão! Pegue a bala mais gostosa
do planeta, não deixe que a sorte se intrometa...” https://www.youtube.com/watch?v=IptSDxS248c
Eu quase quebrava o
orçamento familiar querendo que minha mãe comprasse o café seleto. “... na hora de tomar café, é o café
seleto, que a mamãe prepara com todo o carinho...”e eu nem tomava café
puro.... https://www.youtube.com/watch?v=hs3kwgFCTPw
2º etapa- SP- anos 80.
Em 1981 deixei junto no sul o sonho do vestido de prenda, as
férias na fronteira, a bergamota no pé, o figo que queimava a boca, a banguela
de São Sebastião do Caí e fui cair em SP, meu estado natal. Conheci outros
costumes, provei outros gostos, outras brincadeiras.
Foi então que senti o que era paixão. Meu peito batia, não,
ele pulava toda vez que Macgiver
entrava em cena. Ah torcia tanto para que ele se salvasse no final e por sorte
ele sempre tinha tudo ali pra fazer uma bomba. Poxa!
Ficava
dividida entre ele e Bruce Willis em
seu papel de detetive na série “A gata e
o Rato”, outro ícone dos anos 80.
Mas
quem levou a melhor no quesito paixonite juvenil foi Vincent (Ron Perlman) do
seriado “A Bela e a Fera”. Não resta dúvida que a criatura nesse caso
era sem dúvida alguma melhor que seu criador. (no caso o ator.)
Já com sintomas de adolescente, numa cidade feita de concreto
puro que é São Paulo, largamos de lado as brincadeiras de criança e fomos
conhecer os famosos “Shoppings” que eram novidades lançados nas novelas e em
seriados também. Barrados no Baile
era prova real disso. Ah, elas ditavam sim as modas! E com o sentido de
consumistas, descobrimos que para ter o LP da novela “Ti, Ti, Ti” tínhamos que batalhar.
Se quiséssemos Os bailinhos da
época que podíamos fazer em casa, eram ao som de: Blitz, Metrô, RPM, Klayton e Kledir, The Manhattans, Peter Cetera,
Spandau ballet, Duran Duran e muitos outros por aí afora.
Passei boa parte dos meus dias de vida em São Paulo.
Conhecendo culturas diferentes, consumindo culturas diferentes. Adquirindo
hábitos diferentes. Na minha turma de escola tinha coreanos, chineses, árabes,
italianos, portugueses. Todos com seus sotaques presentes, hábitos, jeitos. E
mesmo entre tantas nações, falávamos a mesma língua quando se citava criação,
educação, família: falávamos em respeito. Bastava o professor entrar
na classe que a turma toda sentava. Cantávamos o hino Nacional e da cidade
todos os dias, enfileirados e com a mão no ombro do colega da frente.
Fazíamos
festa do folclore valendo nota em Português e História pelas pesquisas. Dessa
forma sabíamos exatamente o que era Bumba
meu Boi, ou quem era Curupira, Saci Pererê e outros mitos e lendas.
Nunca vi meu filho pesquisar a mando das escolas que ele já passou sobre isso e
olha que ele sempre passa por média...
Fazíamos trabalho em grupo na casa do colega ou na escola
consultando a biblioteca real. Essas forradas de livros, com cheiro de livros.
Tínhamos que ter carteirinha da biblioteca municipal e valia mais pontos se fôssemos
até uma para fazer o trabalho.
Minha mãe e as outras mães não nos rastreavam.
Ao contrário: confiavam em nossa palavra. Sabíamos onde estávamos com quem e
fazendo o que. Hoje, os filhos não se reúnem mais, não existem trabalhos em
grupos, idas a bibliotecas. Hoje existe internet.
As escolas aceitam trabalhos
copiados da internet desde que se de os devidos créditos da consulta (um
absurdo isso). Meu filho chegou até tirar um ponto a menos num trabalho escolar
simplesmente porque eu quis que ele redigisse a mão... a professora queria
digitado...que diferença fazia? O que vale não era a pesquisa? O trabalho não
era sobre informática... a matéria não era de informática.
3º etapa- SP- Anos 90
No fim dos anos 80 e já com os filhos tornando-se adultos,
meus pais rebolavam para manter um padrão familiar confortável. Não faltava
nada em casa. Tínhamos Freezer, máquina de lavar louça (meu irmão foi salvo
pelo Congo máquina... rsrs, sempre sobrava pra ele à louça), máquina de lava
roupa, forno microondas. 3x1(aqueles que eram toca
discos + toca-fitas + AM-Fm).
O nosso era da Sharp. Lembro com detalhes do Grilo Feliz o desenho propaganda da Sharp. Eu chegava a reproduzir na capa de meus cadernos. O famoso 3x1 fora substituído pelo aparelho de CD e antes mesmo deste fazer parte da nossa casa, comecei a colecionar os CDs de filmes que eu via nos cinemas.
O nosso era da Sharp. Lembro com detalhes do Grilo Feliz o desenho propaganda da Sharp. Eu chegava a reproduzir na capa de meus cadernos. O famoso 3x1 fora substituído pelo aparelho de CD e antes mesmo deste fazer parte da nossa casa, comecei a colecionar os CDs de filmes que eu via nos cinemas.
Não foi difícil para eu fazer uma coletânea maravilhosa dos
filmes que eu considerava um clássico na época: Perfume de Mulher, Cinema Paradiso, Era uma Vez na América. Fora
outros e mais outros e outros.
Os anos 90 também foram marcados pelo surgimento da TV a
cabo, fazendo com que eu ficasse um tanto dependente de cada episódio novo de Seinfeld, Friends e Baywatch.
Gosto muito de me lembrar da época em que eu enchia os bolsos
do meu pai com bilhetinhos para que ele não se esquecesse da minha caloi. Onde
eu sonhava em ter o batom da Farrah ou até mesmo em me encontrar numa noite
qualquer com Vincent e ser salva por ele...mas prefiro os dias de hoje. Se eu
não tivesse visto tudo que eu vi, vivido todas essas emoções, sentido todos
esses gostos, sonhado com tantos beijos cinematográficos, certamente não teria
memória para aqui descrever. E nem teria motivo para cobrar, de meu filho os
valores da vida.
O passado pertence a todos nós, cada um a sua forma, com suas
doces lembranças. Mas o que é presente que se faz futuro amanhã senão a semente
que plantamos no ontem e colhemos no hoje? Somos feitos de lembranças sim,
lembranças passadas, mas com uma alma carregada na esperança de melhores dias,
dias que estão por vir.
E que venham então!
E que venham então!
Cara Alessandra,
ResponderExcluirPercebe-se que seu gosto musical e interesse por séries televisivas é bastante eclético e de amplo espectro.
Bagagem cultural e experiência de vida não lhe faltam.
Como já observado por alguém em comentário em outro post sobre o mesmo tema, as diferenças de moda e costumes entre nossas gerações não foi tão significativa, quanto à ocorrida entre a dos meus filhos e a de meus netos.
Seu otimismo, pensamento positivo sobre um futuro melhor, é o ponto alto do post. Não poderia encerrar melhor.
ResponderExcluirParabéns!
É nítido que existe um padrão para a "parede das memórias", aqui mencionada em outro post ...foi a Alessandra mesmo, não foi ?
ResponderExcluirPara relembrar, os marcos são as brincadeiras, as músicas, as manias com comidas, a escola, os programas de TV, filmes, etc.
Muito legal suas sweet memories.Estão defasadas uns 10 anos das minhas, da mesma forma que as minhas stão também uns 10 anos do Carrano.
Mas o caule dessa árvore chamada Relembranças parece ser igual para todos ... mudam as folhas, os frutos e as flores, mas a colheita parece ser a mesma : nos formamos bem como seres humanos,com personalidade, caráter, bondade, fraternidade, sensibilidade, e acho que criamos uma sombra bem legal para por nossos filhos embaixo. Tenho essa certeza.
Não sei quantos posts ainda faltam sobre a matéria, mas com certeza, Carrano, o objetivo foi alcançado. Está sendo muito legal, prazeiroso, rico, ler essas lembranças todas.
Estamos quase chegando ao fim da série, caro Riva.
ResponderExcluirFaltam dois posts. Um deles, em especial, trará novidades porque escrito pelo João, que tem apenas 16 anos. Isto significa geração atual.
ERRO NOSSO:
ResponderExcluirEstou sendo alertado que informei a idade do João equivocadamente. Ele tem, apenas, 14 anos e, não, os 16 informados anteriormente.
Sorry, João!
Ah! A juventude!!! Lembro de todas as séries, músicas e filmes...depois que a Alessandra os citou. Minha memória precisa ser garimpada no meio dos entulhos de arquivos que tenho na minha caixa preta. Mas conforme os colaboradores relatam e citam, afloram com clareza, independentemente da distância de décadas.
ResponderExcluirIsso vem comprovar que as mudanças foram sutis até o surgimento da Net, Celulares, IPhone, Ipod e outros.
Abre essa Black Box, Ana Maria, rsrs .... comenta mais, com esse "estímulo" da Alessandra.
ResponderExcluirEu já escrevi, há tempos por aqui, das minhas lembranças olfativas, que são muito interessantes, e realmente me transportam de vez em quando, principalmente em Friburgo.
Não sei se isso é bom ou ruim, mas não me faz mal nenhum ...ouço muito as músicas dos Anos 60, porque gosto das melodias, de muitas letras, mas principalmente pelas lembranças de uma adolescência muito legal.
Estou nesse exato momento vendo o programa SEM CENSURA, e uma entrevistada sobre a música brasileira fez um comentário interessante : que a geração que vivenciou os anos 60 e 70 com certeza tem uma ou algumas músicas que marcaram profundamente as suas vidas, em função da ditadura militar, em função da riqueza musical que existia na época, enfim, e que ela não vê isso nas gerações atuais, onde o foco da música é quase puramente hedonista, sem harmonia musical.
ResponderExcluirEntão estou curioso pra ver o que o João, com 14 anos, vai escrever. Será um paradigma a ser quebrado aqui no blog !
Carácoles, perdi o rumo da conversa...
ResponderExcluirNo início, Carrano nos chamou a escrever sobre MODA, sobre como nos vestíamos nos anos de nossa infância. Suspensórios, uniformes de escola, sapatos de couros pesado, gumex na cabeça, "cabelos longos, ideias curtas" (lembram dessa música?)...
E cá estamos nós relembrando fatos inteiros, que obviamente se ligam indiretamente à lembrança das indumentárias, mas... moda?
Espero que o novo tema já lançado tenha espaço, porque por pouco nada mais restará a comentar do passado, não restará pedra sobre pedra! (rs rs)
<:o) Freddy
Falando especificamente do post da Alessandra, renovo meu comentário anterior de como foram diferentes os mundos dos meninos e das meninas, em suas tenras fases do crescimento. Já não sei se foi fruto de uma educação pasteurizada da qual hoje em dia se tenta mudar, seguindo a nova tendência unissex.
ResponderExcluirJá ouvi falar que nossos comportamentos atuais são fruto da educação totalmente diversa que nossos pais davam quando se tratava de educar uma menina ou menino. Depois a sociedade nos defronta com essa guerra dos sexos, as moças bradando por igualdade. Mas como, tendo sido criados tão desiguais?
Decerto veremos que quem foi criado já a partir da década de 80, ou melhor ainda nas posteriores, não perceberá tanta diferença quando perguntar a Maria ou João do que se lembra de quando era guri(a). O unissex sairá das vestimentas e produtos e se desdobrará também no modo de ser, de ver o mundo, de trabalhar.
Mais uma vez me reportando ao post da Alessandra, o que me assustou mesmo foi a reação da professora rejeitando um trabalho de seu filho realizado a mão livre.
Cavernoso... Já fiz até post sobre isso, quem lembra? 05.03.2012 - O futuro da caligrafia.
Estou curioso com o relato de adolescente atual. Como será sua visão da infância?
<:o) Freddy
De fato, não há muita diferença entre as épocas, tirando apenas o uso das indumentárias, concordo bastante quando Riva diz “ mudam as folhas, os frutos e as flores, mas a colheita parece ser a mesma: nos formamos bem como seres humanos,com personalidade, caráter, bondade, fraternidade, sensibilidade”. As gerações foram sim uma influenciando a outra.
ResponderExcluirRecebi o mesmo email que vocês e acho que até mais, pois demorei a entregar o meu post por questões particulares. E em um dos emails juro ter lido Costumes (Hábito comum aos membros de um grupo social. Resulta da prática de preservar as ideias e ações, de geração a geração. Os costumes variam muito de um lugar para outro e de um grupo para outro. Variam também através da história de um mesmo grupo). Até fui relê-lo. E, por mais que tenha visto os posts anteriores ao meu, já havia enviado sobre o assunto.
Claro, me fixei mais nos meus
costumes do que em moda, embora tenha deixado claro a influencia dela pelos meios de comunicação.
Peço desculpas ao Freddy se eu me detive mais num ponto do que em outro. Prometo equilibrar a coisa fazendo um comentário sobre a moda em seu post.
Estamos ansiosos mesmo, para ver a leitura dele sobre esse tema.
ResponderExcluirNão acho que desvirtuamos o assunto .... está sendo um desdobramento sensacional, pelo menos para mim !
Pensando até em pedir ao meu neto de coração a escrever também, mas não sei se ele topa ! Tem 15 anos ...
... desculpe, mas complementando o choque do Freddy sobre a reação da professora do filho da Alessandra ....
ResponderExcluirA GLOBO não permitiu banda de rock CAMISA de VÊNUS, do Marcelo Nova, tocar no CHACRINHA, por causa desse nome da banda.
Exigiu a mudança do nome, e ele recusou, claro. E nunca tocou no programa !!
E hoje há propaganda veiculada em TV aberta estimulando o uso da camisinha.
ResponderExcluirVeja que neste caso a mudança de hábito, de costume, teve origem na propagação de uma doença que era incurável e se alastrava pelo planeta.
O preservativo tem dupla função:é protetor de contágio, evitando doenças sexualmente transmissíveis, e evita gravidez indesejável ou inoportuna.
Caro Riva,
ResponderExcluirEstimule mesmo seu "neto do coração" a escrever um texto para nós. Não precisa engessa-lo num tema. Deixe-o a vontade para falar do que preferir.