O papel da imprensa nas manifestações populares

Nem vou tangenciar a discussão sobre a importância de uma imprensa livre, atuante e independente, para conservação ou conquista da democracia.

A imprensa exerce um papel de extrema relevância nas sociedades ditas civilizadas. Isso é inquestionável.

Mas, acima do objetivo de vender informação, a imprensa precisa exercer um papel social, que nem sempre combinará com recorde de venda e lucro.

Já nem vou defender a tese de que entre um bom flagrante fotográfico de um assaltante atirando numa vitima indefesa, e a possibilidade de  intervir, deveria o fotógrafo  tentar evitar o assalto e o disparo da arma de fogo.

Não, não proponho o surgimento de heróis.

No mundo animal os cinegrafistas defendem suas posições favoráveis a que não se deve interferir nas coisas da natureza, e é normal um tigre pegar e matar uma lebre, ou a leoa pegar uma zebra.

Eles documentam, filmando, e ainda ganham dinheiro com a cena. Vá lá que é a lei da sobrevivência em seu estado mais puro, instintivo e o homem não deve interferir.

Mas e entre seres humanos (ou que deveriam agir como tais), esta regra é defensável? O policial dispara contra um homem indefeso, já rendido, e o fotógrafo sequer dá um grito para tentar evitar o assassinato. Prefere a foto chocante. É correto? É ético? Tem amparo moral?

Bem, eu escrevi que não iria enveredar por este tema. Já saio dele e coloco o seguinte.

Por que a imprensa, ou melhor, os meios de comunicação em geral, com imagem (TV, internet), não dão destaque ao vândalo, ao saqueador, filmando ou fotografando seus rostos e colocando em close nas telas, com imagem congelada, para que todos possamos identificá-los. Quando digo todos, falo da polícia para cumprir seu papel de prendê-los; falo dos vizinhos que precisam saber que tipo de gente mora a seu lado na rua ou no bairro; falo dos patrões que precisam conhecer o caráter destruidor, irresponsável e até criminoso de seus empregados.

Sim, é George Orwell mesmo, é “dedodurismo” mesmo, mas é válido porque é uma legítima defesa putativa para a sociedade e é um meio válido de identificação para a polícia.

Mas os jornais e TV preferem dar destaque aos policiais que se excedem (claro que devem ser expostos), do que mostrar os bandidos em ação, com detalhes. A polícia batendo vende mais jornal?