Problema X Oportunidade

Quando uma porta se fecha há sempre uma janela que se abre.

O eventual problema causado pela insensibilidade, oportunismo, populismo e mau-caratismo de nossos parlamentares, na extensão dos direitos da CLT aos empregados domésticos, se de um lado poderá criar problemas, de outra gerará oportunidades.

Ninguém  aqui é contra a proteção jurídica/econômica/socail que se pretende dar aos empregados domésticos. Não irei ficar aqui repetindo o que vem sendo dito por gente bem informada, até mesmo membros do judiciário, como o recém-eleito presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Carlos Alberto Reis de Paula.

É aquele patati-patatá conhecido. O absurdo é impor aos empregadores domésticos, que não visam lucro, as mesmas obrigações impostas às empresas comerciais que, ao contrário, têm o lucro como fim.

Se atentarmos bem, o encarecimento do trabalho doméstico abrirá oportunidades em outros campos.

Bem, para início de conversa as empregadas domésticas que venham a ser dispensadas, poderão migrar para uma atividade bem próxima e afim: o trabalho como diarista.

Com isso poderão, até mesmo, ter um upgrade em sua renda. É bem de  ver que o encarecimento para os empregadores não representará, em contrapartida, necessariamente, ganhos nos bolsos dos trabalhadores. Pelo menos de forma direta. Tirante férias e 13º salário, que já eram assegurados,  a partir de agora os domésticos ganharão apenas o FGTS que só poderá ser movimentado em circunstâncias especiais, e  horas extras e adicional noturno que somente receberiam em caráter excepcional, trabalhando mais e mais penosamente.

Portanto, em linha gerais, encarece para o empregador mas não engorda, pelo menos não à princípio, os bolsos dos trabalhadores.

A diarista, que anteriormente fora empregada mensalista, não terá direito a férias, 13º salário e FGTS, mas terá um enorme universo de trabalho posto que a demanda por este tipo de serviço deverá aumentar muito. Com uma procura maior, o valor da diária certamente aumentará. Então é questão de administrar melhor sua renda de sorte a fazer uma pequena poupança mensal para cobrir o 13º e as férias.

Sob o ponto de vista do tomador do serviço, mesmo tendo que pagar uma diária maior, ainda assim sairá mais barato do que manter a mensalista com carteira assinada, tantas são as obrigações e riscos envolvidos na relação de emprego contínua.

Outras oportunidade surgirão para empreendedores. Os ramos de fabricação de máquinas apropriadas para serviços domésticos deverão crescer, tais como máquinas de lavar louças e aspiradores de pó. As que existem tentarão aperfeiçoar seus equipamentos, o que implica investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Quem sabe crescerá o ramo de descartáveis: lençóis e fronhas, por exemplo.

As lavanderias deverão ter um público cativo maior. E necessitarão de novos empregados. E mais máquinas e mais sabão em pó e amaciante.

As passadeiras (diaristas)  que já têm um bom mercado, muito provavelmente ampliarão o número de clientes, quem sabe criando pequenas firmas e contratando auxiliares. Mesmo indo fazer o serviço na casa da cliente, como é praxe. Cobrando por hora ou por peça.

Nessa mesma linha de raciocínio, se a empregada era basicamente cozinheira, poderá, quem sabe, passar a fornecer quentinhas, em sociedade com uma cunhada ou vizinha; e o negócio se expandir.

Firmas de limpeza poderão prestar serviços domésticos. Você contrataria, por exemplo, 4 horas de trabalho,  duas ou três vezes por semana, e a firma de terceirização mandaria para sua casa, uma arrumadeira, uma passadeira e um cozinheira, por exemplo.

Um bom freezer e um micro-ondas cobrirão suas necessidades de alimentação.  Congelados e pré-cozidos serão mais consumidos. E pode ser ressuscitada a velha e boa pensão entregue em marmitas, com comida caseira.

Com isso esses eletrodomésticos - freezeres e fornos de micro-ondas - serão mais necessários e venderão mais. E máquinas de fazer café.

Enfim, acho que outras portas se abrirão. Para as duas partes envolvidas: patroas e empregadas.