20 de abril de 2013

WEIHENSTEPHAN




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)














Abadia de Weihenstephan em Freising (Bavária, Alemanha)

A história da cervejaria mais antiga do mundo remonta ao ano de 768, quando monges que haviam se estabelecido numa colina da região bávara em 726 começaram a fazer cerveja para consumo próprio. Conta-se que inicialmente foi construído um mosteiro dedicado a São Estêvão e que a partir de 1021 a abadia foi assumida definitivamente por monges beneditinos. A fabricação de cerveja foi licenciada pelas autoridades reais da Cidade de Freising no ano de 1040, sendo essa a data que consta  oficialmente como a da fundação da Weihenstephan Brauerei.

Não cabe contar aqui o que aconteceu com a Abadia de Weihenstephan ao longo dos séculos, é um relato longo e complexo. É uma sucessão de eventos destrutivos e reconstruções em épocas e por motivos diversos, o que não impede a declaração de que em Freising (cidade pertencente ao hoje denominado Estado Livre da Bavária / sul da Alemanha) está instalada a cervejaria mais antiga que se conhece em pleno funcionamento em nosso planeta.

A cidade de Freising nos dias de hoje

Em Weltenburg, também no estado da Bavária, se encontra instalada a Weltenburger Kloster Brauerei, fundada em 1050 às margens do Rio Danúbio, assunto já abordado no Generalidades Especializadas. Foi um post em 3 partes, a primeira delas publicada em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/09/weltenburger-kloster-parte-1.html. As demais o foram nos dias subsequentes.

Rixas locais mantêm aceso o debate sobre quem é realmente a mais antiga cervejaria do mundo, dado que enquanto a Weihenstephan sofreu algumas descontinuidades por conta de sua conturbada história, a de Weltenburg não. Há acusações de que documentos falsos foram forjados na Idade Média para justificar a data de fundação da Weihenstephan 10 anos antes da Weltenburger, mas não consegui informação confiável.

Saudável discussão, que só me deixa apequenado. Como não admirar duas empresas que estão funcionando há quase 1.000 anos e atuando em seu negócio até hoje, mantendo-se rentáveis e com qualidade inquestionável?

O mais recente baque histórico sofrido pela Weihenstephaner Brauerei foi em 1803 quando, sob domínio de Napoleão Bonaparte, foi efetivada a secularização de propriedades eclesiásticas e dissolução de cidades livres imperiais, levando ao fim o Sacro Império Romano-Germânico.

A Abadia de Weihenstephan teve seus monges expulsos e todas as suas dependências transferidas para o governo do Estado da Bavária. Seus prédios vazios foram ocupados pela Escola Florestal de Munique, seus campos transformados numa fazenda modelo. Contudo, a cervejaria, agora sob administração laica, continuou a produzir.

Em meados do século XIX a atividade de agricultura voltou a Weihenstephan e em 1895 uma faculdade agrícola ali instalada acabou se tornando um núcleo do que mais tarde evoluiu para se tornar a Universidade Tecnológica de Munique (Technische Universität München - TUM), que atua em várias áreas do conhecimento científico.


Em 1923 a cervejaria passou a ser conhecida como Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan - Älteste Brauerei der Welt, seit 1040 (Cervejaria Estadual Bávara Weihenstephan - a mais antiga cervejaria do mundo, fundada em 1040), uma empresa estatal que hoje (assim afirmam) segue todos
os preceitos de uma empresa privada em seu modo de operar.

Os prédios da antiga Abadia estão ladeados pelo comparativamente novo Centro de Ciência Weihenstephan, ligado diretamente à citada Universidade Tecnológica de Munique. Seus elaborados cursos na arte da fabricação de cerveja (ministrados em alemão) têm projeção internacional e são realizados em instalações moderníssimas, tanto em equipamentos como em processos. Muitos mestres cervejeiros de marcas famosas mundo afora foram alunos da TUM.

Weihenstephan Brauerei e Centro de Ciência da TUM

Parte do complexo da Abadia no alto da colina de Weihenstephan abriga um Bräu-Stüberl, expressão alemã que se traduz essencialmente por restaurante-cervejaria, onde o público em geral pode saborear as cervejas harmonizadas com iguarias típicas da
culinária alemã.

Acesso ao Weihenstephaner Bräu-Stüberl

A cerveja Weihenstephaner é fabricada em inúmeros tipos e sabores, dos quais apenas alguns vêm sendo importados para o Brasil. Aliás isso é uma verdade para praticamente todas as cervejas existentes no mundo. Por razões de comercialização e mercado, as importadoras só trabalham com um limitado portfolio de cada marca. No site da Weihenstephan encontramos (teor alcoólico em %):
*Hefe Weissbier (de trigo, clara - 5,4%)
Hefe Weissbier Light (de trigo, clara e leve - 3,2%)
Hefe Weissbier alkoholfrei (de trigo, quase sem álcool - menos de 0,5%)
*Hefe Weissbier Dunkel (de trigo, escura - 5,3%)
Kristall Weissbier (de trigo, efervescente de alta perlage - 5,4%)
*Vitus (de trigo, clara, bock / forte - 7,7%)
Korbinian (escura dopple bock, muito forte - 7,4%)
*Original (clara, produzida segundo métodos ancestrais - 5,1%)
Original alkoholfrei (clara ligeiramente amarga, quase sem álcool - menos de 0,5%)
Pilsner (clara, pilsen - 5,1%)
Tradition (dunkel / escura - 5,2%)
Festbier (clara, especial para a Oktoberfest - 5,8%)
Natur Radler (clara e leve, com suco de limão - 2,8%)
Infinium (clara de alto teor, parceria com a Samuel Adams nos EUA - 10,5%)

Aquelas marcadas com (*) são as mais facilmente encontráveis em nosso mercado, o que não exclui a possibilidade de você dar de cara com alguma das demais.



Alguns dos rótulos Weihenstephaner


A Weihenstephan cruzou continentes. Em parceria com a The Boston Brewing Co, fabrica tanto em Freising (Alemanha) como nos EUA a Infinium, que leva os selos, Weihenstephaner e Samuel Adams. Clara, com alto teor alcoólico (10,5%), é uma cerveja para poucos. A relação de pratos salgados e doces que vão bem com Infiniumsegundo o site da Weihenstephan, é bastante extensa. Quem sabe um dia eu consigo encontrar em nosso mercado tupiniquim uma belezura dessas?

“The bottom line”, como diriam os americanos: eu não consigo degustar uma Weihenstephaner, quaisquer de seus rótulos, sem me lembrar que estou diante de uma especialidade elaborada por uma empresa com quase 1.000 anos em funcionamento. Dá-me uma sensação estranha de admiração, quase um enlevo.

PROSIT!


Créditos das fotos, extraídas via Google:
- Panorama da colina de Weihenstephan: Wikipedia, a enciclopédia livre
- Cidade de Freising: Wikipedia, a enciclopédia livre
- Weihenstephan logo: Google
- Abadia com campus da TUM: www.beeronomics2011. org
- Abadia com Bräu-Stüberl: www.reformatt.com
- 4 cervejas Weihenstephan: Wikipedia, a enciclopédia livre
- Cerveja Infinium: www.brejas.com.br

3 comentários:

  1. Atenção navegantes:
    No dia 2 de agosto, mais de três meses após a publicação deste post, seu Autor, nosso amigo Freddy, queixou-se da falta de participação, da inexistência de um comentário sequer nesta sua narrativa sobre a cervejaria mais antiga do mundo.
    Vejam em comentários no endereço http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2013/07/divirtam-se-vii.html

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  2. Obrigado, Carrano, por retirar o pneu de um de meus mais estimados posts. Não que seja melhor ou pior que tantos outros do Generalidades Especializadas, mas às vezes a gente fica sentido. Escrever um texto como este exige pesquisa para se falar o mínimo possível de bobagens. A gente vai e volta inúmeras vezes ao Google para tirar dúvidas e desfazer incoerências entre fontes de informação. Escolhe-se as fotos mais significativas dentre um monte existentes, e aí... Pneu!

    Decerto muita gente lê e não comenta, sei de amigos que o fazem. Dão ciência de terem lido o post através de notas no meu Facebook. Minha esposa jamais postou um comentário sobre meus posts (ou de outros colaboradores) e os lê com assiduidade.

    É a vida.
    Abraço, e obrigado por nos permitir usar seu blog para expressar algumas de nossas ideias e paixões.
    ;-) Freddy




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  3. Solidarizo com seu sentimento sobre a indiferença quanto aos comentários, e descobri que além dos causados pelos carboidratos tenho outro tipo de "pneuzinhos". heheheh

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