O blog teve a felicidade única de encontrar alguém que não
tem nada a dizer. Como perder a oportunidade de entrevistar tão rara figura?
Num mundo em que todos têm opinião e dão entrevistas nos
meios de comunicação (rádio, TV e
jornais), com ar doutoral, aparência compenetrada,
tom didático e fazendo afirmativas definitivas, como se fossem donos da
verdade, encontrar alguém que não tem o que dizer, tem consciência de sua pouca
importância, sem opinião firmada sobre tudo é, no mínimo, para usar um chavão,
uma ave rara.
Foi difícil convence-lo, mas sob o juramento de que não
perguntaríamos nada, ele se dispôs a dar esta entrevista exclusiva, inócua,
inodoro, incolor e insípida.
Blogueiro: Não queremos saber, mas é interessante que nem seu
nome você divulga.
Entrevistado: É porque vocês
da mídia têm mania de rotular todo mundo. Veja só, Roberto Carlos é o
Rei; Xuxa é rainha dos baixinhos; Ronaldo é o fenômeno e assim por diante. Não
quero virar Fulano, o Lula!
Blogueiro: O Lula?
Entrevistado: Sim, o que não sabe de nada, não viu nada, não
ouviu nada.
Blogueiro: Na verdade ele é um apedeuta.
Entrevistado: Pois é, e mentiroso, e falso, mas o que sei, ou penso saber, guardo
para mim. É diferente.
Blogueiro: Mas você não forma uma opinião sobre coisa alguma?
Nem nos casos mais rumorosos, como o atentado a bomba em Boston?
Entrevistado: Para que opinar? Daqui a dois anos, ou um pouco
mais, sairá a versão cinematográfica do acontecimento. Nesta hora os direitos
de filmagem já estão sendo adquiridos, roteiristas já trabalham no tema. Então
é melhor esperar o filme. O que o filme mostrar será a verdade. Mesmo não
sendo.
Blogueiro: Mas nem em casa, entre familiares, você expressa
uma opinião?
Entrevistado: Parei há anos. Meu filho me cutucava e
pigarreava quando na frente de terceiros eu dava um palpite. Por exemplo. Você
deve ter visto cenas mostradas no noticiário de uns homens agredindo uma
mulher. Chutavam e batiam, mesmo com ela caída e indefesa. Não satisfeito, um
dos agressores voltou com enormes pedras nas mãos e apedrejou a mulher, na
cabeça.
Blogueiro: Vi e fiquei chocado.
Entrevistado: Este é o ponto. Não adianta ficar chocado ou
indignado. Só isso não adianta nada, este e outros fatos semelhantes irão se
repetir. E cada vez mais, porque tudo fica por isso mesmo. Só com indignação.
Blogueiro: Não é uma pergunta, porque prometi não perguntar,
mas só pensando em voz alta, será que você não sente nada diante de uma
situação desta?
Entrevistado: Não é uma resposta, porque minha opinião não
tem qualquer importância, força ou capacidade de formar outras opiniões, mas o
fato é que meu sentimento é de raiva por ter que sustentar estes marginais e
outros que tais, nas cadeias.
Blogueiro: Estou acompanhando, continue.
Entrevistado: Ressocialização, na maioria das vezes é pura
hipocrisia. Faça as contas quanto nos custam alguns bandidos criminosos frios,
destituídos de qualquer sentimento, e sem qualquer chance de recuperação. São
presídios, agentes penitenciários, juízes que têm que julgar, promotores que
têm que acusar, alimentação, assistência médica, o diabo. Custam-nos muito
caro. Sem contar as rebeliões, quando queimam colchões, depredam as instalações
e nós temos que pagar a reconstrução e reposição. Isso tudo custa os impostos
que eu pago que você paga (você paga?), e este dinheiro poderia estar sendo
empregado em escolas, creches, para que as futuras gerações não sejam tão
pervertidas, sejam melhores cidadãos.
Blogueiro: Obrigado. Posso publicar?
Entrevistado: Bobagem, não vai acrescentar coisa alguma, não vai
alterar nada.
X - X
Pensando bem o entrevistado tem razão, além dos que se levam a sério, psicólogos, críticos de arte, economistas e outros, donos da verdade, doutrinando sobre suas especializações, tem aqueles mais populares que trazem textos prontos, chavões, na ponta da língua. Vocês querem coisa mais ridícula do que entrevista com ator/atriz de TV e/ou jogador de futebol?
Atrizes repetem o mesmo texto:
- Este papel foi um presente do Manoel Carlos para mim.
- Eu sou pé no chão, sei que o sucesso é o momento e não me abala.
- Este papel é um desafio muito grande. Viver antagonista é muito diferente de tudo que fiz até hoje.
- Teatro, cinema ou TV, o importante é ter um bom papel.
E jogadores de futebol, no intervalo do jogo ou logo após tem discurso pronto:
- Nosso time teve mais oportunidade mas o gol não saiu.
- Vamos ouvir o que o professor (técnico) tem a nos dizer e vamos voltar e virar este jogo.
- Não, agora é trabalhar e pensar no próximo jogo.
- Tomamos um gol que não podíamos tomar, de bola parada. Faltou atenção.
- O resultado não foi justo, nós tivemos mais oportunidades, mais volume de jogo e a bola não entrou. Mérito para o goleiro deles.
X - X
Pensando bem o entrevistado tem razão, além dos que se levam a sério, psicólogos, críticos de arte, economistas e outros, donos da verdade, doutrinando sobre suas especializações, tem aqueles mais populares que trazem textos prontos, chavões, na ponta da língua. Vocês querem coisa mais ridícula do que entrevista com ator/atriz de TV e/ou jogador de futebol?
Atrizes repetem o mesmo texto:
- Este papel foi um presente do Manoel Carlos para mim.
- Eu sou pé no chão, sei que o sucesso é o momento e não me abala.
- Este papel é um desafio muito grande. Viver antagonista é muito diferente de tudo que fiz até hoje.
- Teatro, cinema ou TV, o importante é ter um bom papel.
E jogadores de futebol, no intervalo do jogo ou logo após tem discurso pronto:
- Nosso time teve mais oportunidade mas o gol não saiu.
- Vamos ouvir o que o professor (técnico) tem a nos dizer e vamos voltar e virar este jogo.
- Não, agora é trabalhar e pensar no próximo jogo.
- Tomamos um gol que não podíamos tomar, de bola parada. Faltou atenção.
- O resultado não foi justo, nós tivemos mais oportunidades, mais volume de jogo e a bola não entrou. Mérito para o goleiro deles.
Sou um internauta sem opinião. Nada tenho a dizer sobre esta entrevista (risos)
ResponderExcluirAbraços
#$% @@ (&*#@ HR@!
ResponderExcluirTFGnn &&$% ?
Sds
Riva,
ResponderExcluirPor seu comentário percebe-se que você entendeu a mensagem de nosso entrevistado.
Eu brinquei mas tenho de comentar que achei o texto ótimo! Tem verdadeiras pérolas!
ResponderExcluir;-)
Freddy