5 de fevereiro de 2013

O rio, o rei e eu


Na página dupla, central, da revista "O Globo" deste último domingo, dia  3, foi publicada uma foto com vista parcial da cidade de Cachoeiro de Itapemirim.

Tirante a avenida que margeia o rio e um hotel que aparecem à direita da foto e não existiam quando lá me casei, em 1964, a cidade está na mesma. Assim como São Gonçalo, aqui no Estado do Rio, Cachoeiro de Itapemirim, no ES, também não evolui, não se desenvolve.

Nem falo em crescimento, pois São Gonçalo está entre um dos maiores municípios do Estado e já tem mais de 1 milhão de habitantes. Mas está anos luz atrasada em matéria de saneamento, calçamento de ruas, iluminação pública e rede escolar e de assistência a saúde.

Quem tem a revista pode observar que o rio está raso, pouco caudaloso. Mas nem sempre foi assim.

Foto de ângulo inverso ao publicado na revista
Nos limites da cidade de Cachoeiro de Itapemirim. Abro um parêntese, para chamar atenção para a grafia correta do nome da cidade – Cachoeiro de Itapemirim, e não do Itapemirim como muita gente imagina.

Alguns pios


Fechado o parêntese, dizia eu que nos limites da cidade o rio tem uma ilha, onde fica localizada a famosa fábrica de pios, que vende e exporta para o mundo todo. Quem tiver curiosidade de saber mais sobre esta fábrica, pode acessar o Google e pedir  “fábrica de pios em Cachoeiro”. Surgirão vários sites e blogs sobre a fábrica.




Acreditem que no rio Itapemirim era possível pescar lagostin e camarão sapateiro. Além de alguns peixes, como o piau, o cascudo e até robalo, que tinham naquele rio o bom local de reprodução.

Ora, meu sogro morava no rio; melhor explicando, numa das  margens do rio; explicando melhor ainda, o quintal da casa onde morava, era um pedaço da margem esquerda rio, que corre na direção do Oceano Atlântico, onde deságua perto da praia de Marataízes (que eu preferia à de Guarapari, mais famosa).
Munido de puçás e rede, vez ou outra comiam o lagostim, espécie de lagosta e camarão.

O inconveniente era a época de cheias do rio, quando o quintal sumia submerso e com ele a horta de verduras e tomateiros. O quintal era excelente para plantio, porque era um solo rico, fértil. As raízes de aipim eram inacreditavelmente grandes e grossas. Mas cozinhavam muito bem e ficavam macias e saborosas.

Bem, a casa, propriamente dita, ficava na cabeceira de uma das pontes, ao nível da rua, mas construída sobre pilares assentados na margem do rio. Hoje, onde ficava a casa é uma pracinha, na rua 25 de março, a principal da cidade.


Enquanto foi a residência de meu sogro e sua numerosa família, depois da cozinha, e colada a esta, foi construído um alpendre, em madeira, a partir do qual havia uma escada que levava ao “quintal”. Era uma escada com muitos degraus, também em madeira, construída de forma rustica mas bastante segura.

Há nos não vou à cidade, desde o falecimento de meu sogro, mas minha mulher com alguma frequência vai visitar irmãos e irmãs que ainda residem lá.

Pior faz o Roberto Carlos, que tendo nascido lá também raramente vai a cidade. Esteve em 2009, para comemorar seus 50 anos de carreira num show especial. E, pelo teor da reportagem, não liga a mínima para a espécie de museu localizado na casa em que morou e tampouco para a estátua  em tamanho natural, criada em mármore, uma das riquezas naturais da cidade e da região, por uma artista plástica que lá reside.

São muitas as histórias que teria para contar sobre Cachoeiro, mas certamente poucas as pessoas nelas interessadas. 

12 comentários:

  1. Sem contá-las não há como saber se as pessoas estão ou não interessadas. No mínimo, terá o prazer de fazê-lo.
    Ao menos assim é que me sinto ao produzir textos sobre aviões ou astronomia. Quem é que se interessa por isso? Mas adoro escrevê-los.

    Basta falar sobre futebol, tênis, superbowl, safadeza na política, e os comentários pululam. Se sua meta é amealhar comentários, achou o filão!

    Não sendo, mande brasa em sua descrição de Cachoeiro. Podemos até não fazer muito comentários, mas vamos lê-lo, com certeza!

    Grande abraço
    Freddy

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  2. Bom dia, Freddy:
    O que escrevi sobre pessoas interessadas é um truque comum. Amanhã já sairá outro post. Escrevi na sequência, mas lamento não haver esperado um pouco porque você teria me dado, com seu comentário, uma excelente deixa para uma nova abordagem sobre a cidade.
    Obrigado

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  3. Cá p'ra nós, vi a matéria na revista que tem a foto da tal estátua do RC.
    Ficou bem feinha e não é por outra razão que ele não deu importância, não é não?

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  4. Freddy,
    Volto para dizer que é muita ousadia pretender escrever sobre Cachoeiro, sendo aquela pequena cidade o berço natal de um dos maiores cronistas brasileiros de todos os tempos. Veja o que colhi, na internet, da lavra do mui justamente festejado escritor:
    “...Mergulho nesse mundo misterioso e doce e passeio nele como um rei arbitrário que desconhece o tempo....
    ...são dezenas, centenas de lembranças graves e pueris que desfilam sem ordem, como se eu sonhasse.
    Entretanto uma parte desse mundo perdido ainda existe e de modo tão natural e sereno que parece eterno; agora mesmo chupei um caju de 25 anos atrás...
    Rubem Braga (em "Cachoeiro” -escrito na década de 1940).

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  5. Há alguns anos, a caminho de Vitória desviei o percurso em Safra, para entrar em Cachoeiro e conhecer a terra do Rei.
    Cidade pequena e pacata, aparentemente. Mas simpática. Estive na fábrica de requeijão, na fábrica de pios (comprei 2) e depois segui viagem. No caminho conheci a fábrica bombons.
    Helga

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  6. Eu tb estive nesta cidade tem us 20 anos quando vinha de Vitoria para o Rio, na epoca eu trabalhava num projeto da Vale. Apesar do problema ambiental que voce falou, pois o rio ja nao e' como a algumas decadas, acho que em muitas cidades do interior a propria populacao adota uma uma postura mais conservadora com respeito a desenvolvimento o que nao esta' errado. Pergunto que tipo de problema que tipo de interferencia teria afetado o Rio Itapemirim. Quanto a Sao Goncalo, cidade onde morei na infancia acho que a questao e' que o povo, sempre preferiu buscar oportunidade e melhor qualidade de vida fora da cidade, o faz com que nao se tenha evolucao por decadas.
    Abracao! Rick

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  7. Ricardo,
    Não sou sociólogo e nem cientista social, seja lá o que isto signifique.
    Mas quando passei a frequentar a cidade, dois fenômenos eram palpáveis. O primeiro era que os jovens (homens) deixavam a cidade logo após a conclusão do 2º grau, para fazer universidade no Rio, em Vitória e em Niterói. As moças ficavam e faziam lá mesmo o curso normal, porque os pais temiam deixa-las sair da cidade sozinhas.
    Outra coisa clara era que o município, e quase todo o Estado, estava em transição da economia rural agrícola, para a economia rural pecuária. O solo onde durante anos foi plantada cana de açúcar e, depois, café, empobreceu e virou pasto. Ao virar pasto as erosões aumentaram assoriando o rio. Isto somado a poluição provocada pela população ribeirinha, dos inúmeros municípios banhados pelo Itapemirim, levou ao estado atual de degradação do rio (mas nem tanto, há salvação.
    Acho que o quadro de emigração dos jovens mudou. Mas a economia está estagnada há anos. Não há geração de emprego fora das áreas de comércio (vendedores) e serviço (bancários).
    Se não é isso é quase isso, Ricardo.
    Quanto a São Gonçalo você conhece muito mais do que eu e já deu uma pincelada no problema.
    Abração.

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  8. Eu acho que uma cidade como Cachoeiro, pode por iniciativa da propria populacao, recuperar seus preciosos recursos naturais com iniciativas que possam preservar e recuparar o rio, mas isso deve partir dos moradores e por eles ser controlado o que pode paracer utopia, mas e' possivel. Outro fato interessante e' que na atualidade, existe muita gente (mundo afora) que esta' optando por nao viver em uma metropole o que para uma cidade como Cachoeiro seria bom pois receberia imigrantes exclusivamnente interssados na qualidade de vida. Eu mesmo considero a possibilidade de um dia viver numa cidade como Cachoeiro ou Teresopolis ou alguma cidade nao turistica do interior da Florida ou alguma outra do Sul dos EUA nao como a que vivo que esta' virando uma grande area metropolitana. Quanto a Sao Goncalo, acho que e' coisa dos anos 40 e da ditadura Vargas (Estado Novo) quando se falava que Sao Goncalo seria a "Manchester" fluminense, tipo de comparacao que nao suporto pois e' caracteristica do "complexo de vira-lata", mas inda assim sempre observei que a cidade por sua posicao geografica poderia ser um polo industrial mas acho tb que seguidos erros de suas administracoes foram responsaveis pelo situcao atual. Quando eu fui ao Brasil em 2010, passei pro Sao Goncalo, e parace tb que tempo nao passou. Abracao, Rick.

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  9. Eu tive um sonho... E era morar, quando me aposentasse, só com minha esposa numa pequena cidade de interior, pacata, boa qualidade de vida...
    Empenhei a grana de minha aposentadoria numa boa casa em Friburgo, diria que a mais bem montada moradia que já tive.

    6 anos depois ela está à venda... Minha esposa não aguentou a vida pacata, ainda mais longe das filhas. Eu até gosto de lá, mas tive de me render. E olha que éramos veranistas em Friburgo desde 1980... Quem nasceu e viveu em cidade grande tem uma dificuldade imensa em fazer downsizing.

    Eu tive um sonho, mas ele desmoronou...
    =8-(
    Freddy

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  10. Freddy,
    História mais ou menos parecida já relatei no blog.
    Está em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/05/vida-na-roca.html

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  11. Eu lembro, pois li.
    Comentando um pouco mais além:
    Nos países desenvolvidos existe o movimento de downsizing, mas lá os parâmetros são diferentes. Quando o cara (ou a família ou o que resta dela) se isola em lugares menores, nem se compara ao que aqui chamamos de roça...
    Abraços
    Freddy

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  12. Vale dos Elefantes ..... estou fora dessa ....

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