Carlos Frederico March
(Freddy)
Gostaria de fazer um protesto
que se dirige especialmente à classe jornalística. Hoje em dia vive-se a era do
sensacionalismo, do Ibope, das notícias bombásticas que rendem manchetes. Para
tal, passa-se por cima da realidade dos fatos (substância) e insere-se
fotografias e ilustrações apenas para chamar atenção, mesmo que (ou
principalmente) maquiadas. Foi-se a era da total veracidade jornalística.
Não sou contra a imprensa, consideradas todas as suas atuais formatações. Por causa
dela, diversos escândalos são trazidos à luz do dia, somos chamados a dar atenção
a atividades prejudiciais à população, fatos e fotos (lembram dessa revista?) mantêm-nos
antenados diariamente em âmbito global. Em resumo: a imprensa continua sendo um
instrumento democrático de inquestionável valor.
Percebo, contudo, que não
raro a necessidade de criar manchete se sobrepõe ao conteúdo. Assim, depois do
impacto inicial, muitos dos fatos levantados, que continuam importantes de per
si mas que perderam o status de apelo popular, começam frequentar colunas
internas e acabam por fim no esquecimento.
Autocrítica: estaria eu
fazendo o mesmo postando essa capa da finada revista Fatos & Fotos no meio
do post? Continuando...
Em outras ocasiões pode
ocorrer justo o inverso: constatar que determinado assunto tem potencial
sensacionalista e criar a notícia, mesmo que à custa do ridículo. Insere-se
neste caso o acompanhamento das chuvas em Nova Friburgo-RJ, onde desde a
calamidade de 12/01/2011 os "corvos" vêm pairando sobre a cidade,
transformando qualquer esquina alagada em catástrofe municipal.
No entanto, em 19/12/2012 a
foto de um ônibus boiando num subúrbio carioca, com resgate de passageiros por
barco, não recebeu destaque sensacionalista algum, já que se trata de fato corriqueiro
na cidade.
O Globo, 19/12/2012 |
Isso posto, o que me
estimulou a escrever este post foi recente nota apocalíptica acerca da passagem
do asteroide Apophis "próximo à Terra". Conferir em http://oglobo.globo.com/ciencia/asteroide-apophis-passara-proximo-terra-esta-quarta-feira-7231484.
Eu admito que as
considerações feitas nessa matéria publicada no Globo Ciência e no Extra têm
fundamento científico mas critico a tentativa patética de criar sensacionalismo
barato à custa de manchete e foto anexa, tanto assim que no próprio corpo do
texto o articulista se explica. Vamos aos fatos.
Apophis tem cerca de 300
metros (eu repito: metros) de diâmetro. É uma pedra, ou quem sabe um
ajuntamento de pedregulhos, do tamanho aproximado de um Maracanã. Se entrasse
na atmosfera terrestre causaria um bom estrago e se chegasse ao solo ainda
inteiro, ou mesmo se explodisse a baixa altitude, poderia destruir uma cidade e
seus arredores, ou causar uma tsunami que provavelmente causaria algumas devastações
costeiras.
Só que Apophis passou a 14,45
milhões de quilômetros da Terra, que é cerca de 37 vezes a distância média da
Terra à Lua. Usando de comparativo carioca, se a Terra fosse o Pão de Açúcar e
a Lua estivesse na Barra da Tijuca, na altura do Barra Shopping, o Apophis
seria uma pedra passando lá perto de Pindamonhangaba-SP. Simples assim.
Quem escreveu a matéria sabe,
está no texto, mas havia o requisito de criar expectativa, a manchete. O Globo e
o Extra postaram um recorte da ilustração mostrada a seguir, usada amiúde nas
matérias científicas sobre quedas de asteroides. Observem a
foto publicada em ambos os veículos de comunicação citados e observem que no
rodapé da mesma consta: "Ilustração da quase impossível colisão entre o Apophis e a Terra em 2036"
Pelos tamanhos relativos usados na referida
ilustração, o astro que estaria se chocando com a Terra em 2036 tem pelo menos
uns 500km (eu escrevi quilômetros e não metros) de diâmetro, ou seja, mais de
1.500 vezes o diâmetro e bilhões de vezes mais massa (portanto energia
destrutiva) que o pequeno Apophis!
Ilustração da queda de grande asteroide sobre um planeta |
Não aprovo essa prática
jornalística. No caso relatado fiquei
particularmente agastado porque os astrônomos (como leitores desse espaço devem
já saber, sou astrônomo amador) e a NASA, associada a outras organizações mundo
afora, tratam o assunto de possibilidade de queda de asteroides e cometas de
uma maneira bem profissional, com grandes verbas alocadas aos programas de
detecção.
É uma possibilidade real e
pode, efetivamente, causar catástrofes de proporções planetárias. Cabe mais
informação e menos sensacionalismo para tratar a matéria com a seriedade que
ela merece.
Só para dar mais um exemplo, no dia 13 p.p. Cristina Mortágua foi pega numa ação da Lei Seca no Rio de Janeiro. A versão impressa de O Globo apresentou a matéria com uma foto dela sendo detida pela polícia em fevereiro do ano passado por causa de uma briga.
ResponderExcluirUma vista d’olhos na manchete e na foto levariam à conclusão de que ela havia sido presa pela Lei Seca. Dos 5 parágrafos do texto, apenas os 2 primeiros falavam na blitz (ela se recusou ao bafômetro, foi multada e teve a carteira apreendida por 12 meses). Os 3 últimos dissertavam sobre a tal prisão há quase um ano.
=8-/
Freddy
Por falar em enchente ser fato corriqueiro na cidade, eis que hoje o fato se repete com grandes inundações em diversos bairros, incluindo Niterói.
ResponderExcluirNão é que é corriqueiro mesmo?
<:o)
Freddy
Caro Freddy,
ResponderExcluirEu vejo a coisa do seguinte modo, no caso da Cristina. A matéria, em si, mencionar o episódio mais recente, no caso a barreira da lei seca e, mais adiante, reportar o fato passado relativo a briga, não tem nenhuma violação de norma jornalística ou ética. Acho que o relacionamento de fatos, presentes e passados acabam por dar ao leitor um perfil da pessoa. Ficamos sabendo se tem, ou não, antecedentes de transgressão da lei ou cometimento de outros delitos. Ou seja, no caso enfocado, ficamos sabendo que a Cristina já não é primária em envolvimentos com casos policiais.
O mesmo ocorre quando no telejornalismo a matéria versa sobre alguém (mesmo não sendo celebridade)é acusado de certo delito e o repórter exibe uma imensa folha corrida (estendida no piso)para mostrar o caráter delinquente do acusado.
Quanto as fotos, desde que na legenda esteja indicado que são de arquivo e se referem a outro momento, também não vejo leviandade.
Agora tem o seguinte, na imprensa, como em outras atividades profissionais (médicos, advogados, contadores) tem os maus e tem os bons, os que atuam de boa-fé e os de má-fé.Existem os tabloides sensacionalistas (em todo o mundo) e existem os jornais (e revistas) sérios que prestam enormes serviços a sociedade.
Não é?
Ah! Quanto ao pedregulho espacial, o Apophis, não tinha informação sobre ele. Nada soube antes de seu post. E olha que sou leitor atento de jornais e revistas.
ResponderExcluirAcho que a possibilidade do fim do mundo, pelo calendário Maia, ofuscou os pequenos asteroides, cometas e meteoritos.
Bem, desse susto não morri (rs).
Também não sabia desse risco, mesmo que remoto como afirmou o Freddy.
ResponderExcluirDeveriam criar um sistema de sirenes pra alertar a gente, como fizeram para os casos de ricos de queda de barreira ou inundação. (risos)
Abraços
Carrano, sobre a Mortágua eu não discordo de você. Discordo sim da falsidade implícita no conjunto manchete/foto da notícia atual.
ResponderExcluirNo Apophis, o texto está até bem claro, mas a manchete/foto postada criam uma impressão no leitor de que o cara se cair destrói o planeta, o que é falso.
Voltando ao cerne do que procurei opinar: minha reação é contra a manipulação de manchetes/fotos de maneira a criar sensacionalismo, mesmo que no texto tudo seja corretamente explicado.
Tem a ver com propaganda, onde se procura enganar o leitor acerca de vantagens do produto anunciado, mas com asteriscos que referenciam explicações em tipo minúsculo e cor inadequada nos rodapés. Teoricamente a lei é cumprida porque a verdade está dita, mas o impacto psicológico da foto/preço já penetrou no subconsciente do incauto possível cliente.
SOU CONTRA.
Abraços
Freddy
Com relação ao posto pelo Gusmão, já abordei o tema no post “Papo de Astronomia - O medo dos Gauleses”, publicado em 09.04.2012. Faltou, entretanto, exemplificar com um dos programas existentes e que têm exatamente a intenção de dar o alarme (e que acabei de postar na respectiva área de comentários, para ficar mais fácil para eventuais leituras recorrentes):
ResponderExcluir“O projecto Lincoln Near-Earth Asteroid Research (LINEAR) é um projeto colaborativo entre a Força Aérea dos Estados Unidos, a NASA e o Laboratório Lincoln do MIT que visa a descoberta sistemática de asteroides próximos da Terra. O projecto LINEAR tem sido responsável pela maioria de detecções de asteroides desde 1998. A 21 de Outubro de 2004, o projecto LINEAR tinha já detectado 211 849 novos objetos, dos quais 1622 eram asteroides próximos da Terra (NEA) e 142 eram cometas (NEC). Todas as descobertas do LINEAR foram feitas através de telescópios robotizados.” (texto extraído da Wikipedia, a Enciclopédia Livre)
Infelizmente, como chamo a atenção no referido texto, há grande probabilidade do alarme (=sirene)ser dado sem tempo hábil para nos protegermos, apenas para termos ciência da nossa morte iminente.
=8-/ Freddy
Se eu fosse listar aqui as aberrações jornalísticas que percebo todos os dias !
ResponderExcluirMuito mais grave são as aberrações da "justiça" ..... da aviação comercial, da prática da medicina, etc ....
Estou finalizando a leitura de um livro arrasador : DIGNIDADE. Nove escritores vivenciam e relatam seu trabalho junto à organização MSF Médicos sem Fronteiras.
Numa boa : não leiam ......o ser humano é inviável !
Sds
Riva,
ResponderExcluirPara esta hipótese da colisão com asteroides, a sua sugestão de subir a montanha não resolve(rs).
O post "Papo de astronomia - o medo dos gauleses" a que se referiu o Freddy, está em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/04/papo-de-astronomia-o-medo-dos-gauleses.html?showComment=1358345333529#c9050493589384146833
ResponderExcluirNo filme catástrofe Asteróide ou Meteoro, não lembro o título certo, subir a montanha foi a salvação para milhões de pessoas, pois o tsunami adentrou a costa mais de 1.000 km. E claro, salvou-se o presidente dos EUA (rsrs).
ResponderExcluirFriburgo, por exemplo, seria uma boa .... 120 km de distância e 800 m de altitude rsrsrs.
Meu caro Riva, só que o risco do caso relatado pelo Freddy é de bombardeio. Vem do alto. E se o asteroide resolve cair na montanha ou cercanias? Apertamos o botão "F"?
ResponderExcluirAí vc desce a montanha ......kkkkk Ôpa, KaKá no FLU ?
ResponderExcluirA possibilidade de colisão com um meteoro gigante ou asteróide é uma das teorias do Fim do mundo. Hollywood já utilizou o tema em pelo menos duas produções. Aliás, não é de todo improvável .
ResponderExcluirO jornalismo vende notícias como um comerciante vende tomates. Tem que dar uma valorizada pra ganhar da concorrência. É diferente do sensacionalismo que busca difamar, expor detalhes sórdidos de uma pessoa ou situação.
Usar algumas notícias como isca é válido, desde que não cause pânico na população. As manchetes citadas no post, ao que me parece, passaram despercebidas pelos seguidores do blog, quiçá, pela maioria da população.
Uma de minhas fantasias é poder legislar sobre propaganda e marketing. Ainda bem que é fantasia, porque acho que seria morto pelos lobbies e trusts.
ResponderExcluir<:o) Freddy
Ainda bem. rs
ResponderExcluirE Freddy, um dos seus ídolos é para mim o autor do estado da arte em Marketing no planeta Terra : EURICO MIRANDA, que surpreendeu a GROBO fazendo o Vasco entrar em campo numa final no Maraca, com um mega escudo do SBT nas camisas do time ! Nem o Silvio Santos foi consultado, mas adorou !!! quaquaqua !!!
ResponderExcluirLembro deste episódio. O Silvio Santos adorou.
ResponderExcluirMas nesta queda de braço com a Globo, o Vasco perdeu midia.